Um almoço nunca é de graça
A frase aplicada nos círculos económicos (que penso ser de John E. Moles, mas agradeço a eventual rectificação), foi-me apresentada pelo título da tradução portuguesa de Nice Work (1988), de David Lodge.
Andei longos momentos a desejar e a fantasiar o almoço de hoje. Quando alguém passa um determinado tempo partido é natural que sobrevalorize certos aspectos simples e quotidianos (acho que é a isto que se chama hipersensibilidade). Porque durante muito tempo me privei destes devaneios, ansiei-os, recriei-os por antecipação, imaginei uma história com todos os pormenores.
Tinha decidido terminar a manhã de trabalho por volta da uma e assim fiz. Despachei-me da rapaziada e como o escritório é perto do Centro Comercial das Amoreiras, aí entrei espontânea e distraidamente. Pensando que estava a ser conduzido pelo acaso, entrei no Sushi Café e sentei-me ao balcão, mesmo em frente ao cozinheiro que prepara o acepipe.
Quando há semanas atrás descobrimos este restaurante, não fiquei com boa impressão: sushi num centro comercial? Todos os lugares ocupados? Não, não me satisfaz. Mas o atendimento e a concepção alteraram por completo a minha visão. No último caso fiquei mesmo a achar que é melhor que nos outros que já experimentei em Lisboa! Daí o meu desejo: à primeira oportunidade, escapar-me-ia à vidinha e voltaria lá.
Assim mantive a minha premonição. Entrada de ostras e suhi to sashimi como conduto. Uma taça de saké, embora frio ao contrário do que tinha imaginado, longa e detalhadamente.
Poderia o meu desejo por sushi ser adiado? Faz alguma diferença efectiva entrar no Sushi Café, amanhã, ou daqui a uma semana? Quem faz planos tão detalhados, quem deseja tanto, não consegue perder a oportunidade de os realizar.
É claro que este lonely urban lunch serve para me baldar a futuros desejos emocionais, resistir com unhas e dentes às tentações da carne, perdão, do peixinho e voltar a colocar a razão na ordem do dia. Porque como devem imaginar There is no such thing as a free lunch, ou melhor dito: Nice Work.
Ainda sobre as leituras
Fiquei estupefacto por um casal amigo, em consonância, defender que os escritos editados de pessoas com a Sra. Rebelo Pinto são importantes porque, sustentavam, ampliam os hábitos de ler das pessoas. Foi há meses, mas ainda cá está.
Não percebi o alcance dessa proposta. A professora de Introdução ao Estudo da Literatura perguntou numa das primeiras aulas o que é que os colegas gostavam de ler. Parvo não sou e calei-me (é bom que as pessoas imaginem o que e quando ando a ler, é o meu pequeno contributo para a Literatura). Tolkien, JK Rowling e afins eram os preferidos. A senhora dava pulos de desespero. Mais tarde quando instados a fazer um trabalho (uma pequena análise) lembro-me de a ver discutir com uma colega, rejeitando longa e assertivamente a hipótese de O Nome da Rosa ser o livro a trabalhar. A professora negava completamente essa hipótese, porque lhe cheirava a vício. Aí arrisquei e perguntei-lhe: e Lodge, posso fazer sobre Lodge? Ela estranhou, acenou afirmativamente e voltou à sua discussão.
O prazer de ler tem, para mim, um outro lado. É que gosto de me ver no espelho das páginas. Às vezes imagino que há textos que foram escritos para mim. Isso enternece-me e envergonha-me. É só fantasia, claro, como é que tipos tão diferentes como Garrett ou Ananta Toer escreviam para alguém especificamente?
Mas o prazer instantâneo de fantasiar, esse ninguém mo tira. È meu. É um segredo entre mim e o autor e não é o contrário. Não abdico desse direito, desse privilégio.
E esse prazer, na lógica literária da paixão, é também malévolo. É por isso que, quando estudo (parem de rir, às vezes estudo) não consigo ler as cábulas que as editoras arranjam para, dizem eles, facilitar a vida aos alunos. Refiro-me aos cadernos com resumos de obras literárias.
Para mim não serve: EU QUERO O LIVRO TODO!
Por exemplo (desta vez, mas só desta, denuncio-me):
"(...) Não creio que possa ajudar-me _ disse ele _, para me ajudar realmente seria preciso ter ligações com altos-funcionários. Mas apenas conhece certamente os pequenos funcionários que se arrastam por aqui aos milhares. A estes, conhece-os seguramente muito bem e poderia obter deles muitas coisas, não duvido; mas o máximo que poderia obter-se deles não teria o mínimo efeito sobre o desenrolar do processo. Em contrapartida, perderia com isto alguns amigos. Não o desejo. Conserve as mesmas relações que antes tinha com estas pessoas; parece-me, com efeito, que elas lhe são indispensáveis. Não digo isto sem mágoa, porque, para corresponder apesar de tudo um pouco ao seu cumprimento, também me agrada muito, sobretudo quando me olha com esse olhar tão triste, como agora, o que não tem aliás nenhuma razão para fazer. Pertence à sociedade que eu devo combater, mas encontra-se aí muito bem, até ama o estudante e, se não o ama, pelo menos prefere-o ao seu marido. Isto adivinha-se facilmente nas suas palavras.
_ Não! _ exclamou ela mantendo-se sentada e agarrando a mão de K., que este não retirou muito depressa.
_ O senhor não tem o direito de partir com um juízo errado acerca de mim! Conseguiria realmente partir agora? Valho assim tão pouco que nem sequer deseja dar-me o prazer de ficar aqui mais um pouco?(...)"
Kafka, Franz (2003) O Processo. Lisboa: Publicações Dom Quixote
Clube?
Hoje às 23.50h haverá um humorístico debate na :2 no chamado Clube de Jornalistas sobre a recente polémica lançada por Carrilho. Estão convidados os dois provedores dos leitores, o do Público e o do DN.
Nada contra. Acontece que o moderador é um senhor chamado Ribeiro Cardoso e não, não é uma personagem do Gato Fedorento. É um senhor que se apresenta como interessado em debater as questões éticas, técnicas e afins, obviamente relacionadas com o jornalismo.
Engraçado não deixa também ser que o debate de hoje surja, não de uma motivação ou percepção dos seus editores em relação a este problema de promiscuidade, mas porque alguém, que nem é jornalista, meteu a boca no trombone. Agora já se pode do ex. tabu que é saber se as notícias, coberturas, opinião são ou não verdade, como todos suspeitamos.
Muito divertido é também o facto do senhor Ribeiro Cardoso ter sido director da TV Guia. Ficamos assim descansados. Um sapateiro a tocar rabecão.
About a boy (Sobre um amigo)
Sexta-feira passada tínhamos previsto fazer um jantar com fados de modo a celebrar a mágica integração do grupo de carpinteiros de São Félix da Marinha no nosso bairro. Ao mesmo tempo agradecer o apoio às Óperas Curtas, sem o qual não teria sido possível realizar os cenários. Local: o Restaurante Lucimar (Rua Francisco Tomás da Costa), onde quase diariamente nos encontramos.
Uma pequena confusão de produção levou a que os fadistas não comparecessem. Em seu lugar a rapaziada decidiu convidar o nosso amigo e vizinho Chico Fininho (nick dos tempos de escola, como nos confidenciou) para jantar connosco.
Chico Fininho é um homem com 40 anos, sem nada que o diferencie dos demais. Tem características individuais que confirmam essa similaridade. Assim que cheguei estava a pedir um jarro de vinho e perante o meu olhar repressivo, justificou-se: "não é para mim é para eles. Eu estou a beber gasosa". E estava. Eu tenho alguns cuidados com essa situação porque o meu amigo contou-me que toma fármacos que são incompatíveis com a ingestão de bebidas alcoólicas e como essa situação é permanente, convém não o deixar distrair-se.
A noite das cantorias começou por ser incómoda para mim. Por estar a cantar à capela, por haver vinho a granel para os espectadores e pelo facto de Chico Fininho ser uma verdadeira enciclopédia de canções, que é um dos factores que parecendo que não o fragiliza (a malta faz muitas fantasias sobre pessoas que sabem muitas coisas de cor) e aceitar sugestões para entoar todo o tipo de músicas maioria das quais eu nunca tinha ouvido, que iam de uma certa matreirice Quim Barreiriana a coisas menos genuínas e mais destrutivas. Aquilo que era para ser uma noite de fraternidade começava a ser um descalabro de chacota. É verdade que tive de, humildemente, intervir de forma discreta e selectiva, junto de um ou dois mais afoitos. Escusado dizer que serviu de exemplo e etc.
A coisa foi mudando aos poucos e quando demos por nós já estávamos num ambiente de respeito, diversão e comunhão. Aí deu-se a primeira estocada. Chico Fininho tem um gosto especial por temas de Zeca Afonso, Sérgio, Populares, Fausto e afins. Só percebemos essa prenda porque passámos a permitir que fosse ele a comandar o espectáculo, por assim dizer. Depois de "Maria Faia" entoou "Traz outro amigo também".
Não sei porquê, ou por outra, imagino mas não vem a propósito, chorei. Mas no plano consciente a sua voz forte e destemida, a autenticidade com que se dedicou e a memória dos tempos em que eu também me entregava genuinamente e sem nenhuma pretensão àquelas palavras, às palavras do Zeca, inundaram-me de comoção. Esse foi o ponto de viragem naquele que viria a ser um serão de magia e afecto.
Chico Fininho, explicaram-me, é filho de um importante homem que testemunhou fotograficamente o 25 de Abril, desaparecido há poucos anos. É do pai que herdou uma sensibilidade e informação esclarecida sobre ser de esquerda, defender valores e saber coisas interessantes. O que no meu bairro se denomina por "ter uma ganda cultura. O chavalo é um crânio". Lindo. Fomos teletransportados.
Mas Chico Fininho é um rapaz igual a mim. É essa parecença que me comove. Ambos vivemos com a força da arte escondida numa falácia diária e quotidiana, na qual trabalhamos para o sustento sem a poder concretizar. Ambos renunciámos a cantar e a representar, ainda que esporadicamente com isso sonhemos. Ambos sentimos que é o peso da sociedade que nos esmaga porque não temos força para ver que é o peso de nós próprios que nos prende à vidinha. A fronteira entre mim e ele é tão ténue como a dos restantes companheiros e vizinhos. Será que eles sabem?
Quando entoou "Balada da Despedida" de Machado Soares, aquele tema "Coimbra tem mais encanto/na hora da despedida", voltei a vacilar, com a mesma comoção e pelos mesmos motivos. No final convidei-o para cantar nos meus anos. Aí não será à capela e teremos a companhia do Gonçalo para dar o cunho especial que pretendo.
O mote desta história? "Traz outro amigo também".
O clímax? ABRAÇO-TE.
"Traz outro amigo também
Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também
Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também
Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também"
José Afonso
ABRAÇO-TE outra vez.
Descuido
Entre os hinos de claque "Cuba Vencerá!", a Juventude Comunista Portuguesa teve o descaramento de ovacionar o Presidente da Câmara Municipal de Gaia, Luís Filipe Menezes.
Isto é como ter um descuido em plena reunião colectiva. Esse entendimento tácito nunca deve ser assumido e escarrapachado na opinião pública. A malta não é parva e percebe.
False Memories
"I could have called this book False Memories. Not because I want consciously to tell a lie but because the act of writing proves that there is no deep freeze in the brain were memories are stored intact. On the contrary, the brain seems to hold a reservoir of fragmentary signals that have neither colour, sound, nor taste, waiting for the power of imagination to bring them to life. In a way, this is a blessing. (...)
As I write, I do not feel a compusion to tell the whole truth. It is impossible, however hard one tries, to penetrate into the obscure areas of one's own hidden motivations. Indeed, there are taboos, hang-ups, and areas of obscurity behind this story that I am not exploring, and I certanly do not feel that ralantionships, indescretions, excesses, names of close friends, private angers, family adventures, or debts or gratitude - wich alone could fill a legder - can have a place here, any more than the well-known splendorous and miseries of first nights. (...)"
Brook, Peter (1999) Threads of time, A memoir. United Kingdom: Methuen.
Boleca
Bruxo
A rapaziada do meu bairro olha-me hoje de forma misto desconfiada e respeitadora. Isto porque passei uma semana inteira a dizer que o próximo treinador do Benfica seria Fernando Santos. Não se tratava de um desejo tão somente uma constatação lógica. Qual o perfil pretendido? Alguém suficientemente frágil para não se intrometer na lógica das contratações interesseiras, alguém disponível a 100% (ou seja já), alguém que se possa camuflar o facto de não ter tido um sucesso por aí além com a ideia que é um benfiquista. Eriksson falharia, Scolari seria a melhor opção, apesar de estar muito mal como seleccionador, a verdade é que o seu prestígio o colocaria num outro patamar em relação ao grupo e aos decisores e para todos os efeitos Humberto Coelho seria a vontade da maior parte da nação. Espero que Santos me surpreenda, mas temo o pior.
Vale a vinda do príncipe para me animar. Com Rui Costati vai ser um prazer enorme ver o Benfas.
Sugestão
Scolari depois de dizer sem se rir que estava perante a mais bela bandeira do mundo, eu próprio não consigo escrever esta ideia sem esboçar um sorriso, instigou a população a escrever o nome dos jogadores nas paredes das casas, muros e afins nas terras de onde são provenientes. Imagina-se uma corrida aos baldes de tinta e às trinchas. Prevê-se uma mega confusão com malta que cumpre o desígnio nacional a ser apedrejada por proprietários justamente incomodados. Esta sugestão do Sargentão revela um lado que ainda não conhecíamos: guerrilha urbana. A ver vamos se no final não aparecem mais piropos ao seleccionador nas paredes deste país que incentivos aos jogadores. E já agora: a sugestão também inclui Filipão? Será que a cidade do Passo Fundo, em Rio Grande do Sul vai responder à proposta, ou para eles a mais bela bandeira do mundo é outra?
De tirar o chapéu
A estratégia política deste senhor é de se tirar o chapéu. Digo-o sem nenhuma ironia.
Acontece que em Sintra a população activa, aquela que mexe com este país, que se desloca diariamente para Lisboa, que faz fluir a economia portuguesa, refiro-me a uma grande franja de pessoas da classe média baixa e que constituem a força das decisões da autarquia, está hoje confrontada com graves problemas: requalificação urbanística e ambiental, acessos, transportes, infra-estruturas.
Mas permitam-me que hoje aborde a problemática social. O concelho de Sintra está confrontado com um grande choque social. Muitas pessoas com muitas dificuldades imigraram para o concelho. Gente pobre, sem trabalho e sem ninguém que lhes dê a mão. Gente de múltiplas etnias com especial enfoque para os negros, mas também ciganos e pessoas do leste europeu.
A alteração da paisagem social é de tal ordem que temo a médio prazo uma situação idêntica à que ocorreu recentemente na periferia de Paris. Isto não é um desejo, é um alerta.
O que é que este senhor tem feito para minorar o problema? Pois bem, uma visita à web page da autarquia contém a resposta. SIC:
"Apoio aos imigrantes e minorias étnicas
O trabalho desenvolvido na área do apoio aos imigrantes e minorias étnicas pauta-se por dois grandes eixos de intervenção:
I - Acesso dos imigrantes e minorias étnicas ao exercício efectivo dos direitos e deveres nas diferentes dimensões da cidadania
II - Promoção dos valores da Diversidade junto dos munícipes em geral, prevenindo a emergência de atitudes racistas e xenófobas"
Ou seja, nada.
Agora vejam onde quero chegar: como é que um candidato do PS à Câmara Municipal de Sintra pode abordar este assunto? É aqui o eixo da estratégia do Sr. Fernando. Porque, tal como no resto do país, ao eleitor flutuante comum é muito difícil fazer chegar a mensagem da sólida integração social, que como sabemos é a única resposta séria à problemática. O eleitor flutuante e mesmo o de esquerda na hora da verdade teme sempre este tipo de caminho. Prefere que se acabe (deportando, prendendo, exilando em favelas) com a presença destas pessoas. Pensa que é mais prático e mais eficaz.
Portanto um regime de direita numa Câmara Municipal convive muito bem com a insatisfação da população em relação aos temores sociais. Não tem a culpa, é um mal nacional, não ajuda os que precisam porque só assim confortaria os que se sentem prejudicados e adia consientemente o problema. Porque um pouco astuto candidato de esquerda cairá direitinho na esparrela: colocará o dedo na ferida e assustará os que lhe podem garantir a eleição. Até à eleição esta questão tem de ser gerida com pinças, depois de eleito, aí é outra conversa...
É claro que falo no PS, porque na minha qualidade de eleitor em Sintra, nunca refiz essa condição, gostaria de ter um Presidente do meu partido à frente do concelho. Mas talvez fosse útil pensar na sempre adiada coligação de esquerda que se tivesse sido feita, neste e noutros concelhos, teria tido outro impacto nos resultados das últimas autárquicas e acima de tudo, nas presidenciais. Este é um problema para José Sócrates e Joaquim Raposo (Presidente da FAUL). Eu fico contente se o meu amigo Barbosa de Oliveira, presidente da Junta de Freguesia de Queluz, eleito pelo PS, tiver um Presidente que não o queira excluir de cerimónias como a da inauguração da Biblioteca Municipal no Pendão, Queluz. No entanto não esquecer que é sempre possível fazer mais e melhor. Não há impossíveis, malta.
Bandeirada
À incrível ideia de fazer um logotipo humano só com mulheres que recriaram a imagem gráfica da bandeira de Portugal juntou-se a face visível da problemática que se tem discutido nos últimos dias graças, honra lhe seja feita, a Manuel Maria Carrilho.
Em primeiro lugar uma palavra para as mulheres que participaram: pena.
Quando andava no sétimo ano lembro-me que gostava que a minha high school sweet heart me fosse ver a jogar. No Passos Manuel eu era Chalana. Mas o motivo pelo qual essa situação raramente se ter concretizado até acabar definitivamente, foi porque não compreendia reciprocidade. Não há nada mais chato que ir ver um jogo de futebol adolescente feminino. Portanto é machista e pouco dignificante fazer um discriminação que não tem nada de positivo. E estranho o silêncio das feministas deste país BES.
A SIC é associada do evento. Em directo, uma vasta rede de meios técnicos dá cobertura a dois tipos de profissionais: jornalistas e animadores de entretenimento. É claro que o resultado é chocante. Os serviços informativos da generalista e da SICN fazem reportagem e depois acontece um programa de entretenimento com entrevistados muitíssimo interessantes no que têm para dizer e como é habitual.
Vai-se ao extremo da pivô de entretenimento Rita Ferro Rodrigues, ex. jornalista, fazer reportagem para os serviços informativos da SICN.
As questões colocadas por Manuel Maria Carrilho sobre o papel das agências de comunicação são pertinentes e sérias. Não se limitam só à política, existem também nos grandes interesses. Mas se o Expresso referencia dois estudos assustadores sobre a dependência das redacções em marcar meios e jornalistas para dar antena a determinados eventos e/ou determinados indivíduos, ao mesmo tempo e num rasgo de humor sublime conclui que essa ligação suja não está directamente relacionada com campanhas negativas.
Pois é lógico. Trata-se é de PROMOVER gentalha e acontecimentos fascizóides.
Era só imaginar um qualquer presidente de Câmara, comentador semanal de futebol, casado com uma jornalista influente (e só refiro isto porque as revistas cor-de-rosa os mostram muito felizes), visita segura do camarote VIP da Luz, que quando confrontado com o facto das sugestões dele sobre arbitragem e os árbitros estarem erradas e enviesadas me respondeu simpaticamente: "Se eu não tivesse esta postura não tínhamos sido campeões o ano passado". Ao contrário dos livros o texto em cima (e não na página seguinte, como seria cronologicamente certo) complementa um pouco esta ideia.
Pequenas grandes missões
Acabo de chegar do Centro Comercial Colombo onde procurei em vão e em várias lojas comprar um céu estrelado.
Alguém sabe onde posso adquirir um simpático, não muito infantil e inspirador céu estrelado?
Dão-se alvíssaras.
Em grande!
Toquem os zé pereiras, mantas à janela, traçadinhos arrefinfados, fanfarras, purpurinas, lantejoulas e o discurso de inauguração.
Decepe-se o touro combalido, minutos depois do tal discurso, que pode até ser em flash interview. A televisão do estado envia os saloios de serviço para regurgitarem seborreia para uma dispendiosa e complexa cadeia de feixes hertzianos alugada um dia inteiro.
Não se trata de um parque de estacionamento, nem de mais um centro comercial para a falência dos dias próximos. Trata-se de uma feira de estética e valores engasgados. Trata-se de adornar, criar vectores de âncora para o discurso, sempre haverá esse momento.
De resto, cirugicamente até se evita falar muito da tourada. Choca algumas sensibilidades é verdade. Fala-se mais no senhor Lá Feria que no fundo, no fundo, proporciona aos que executam as suas ideias e aos que vêem e se "divertem" o mesmo tipo de humilhação a que um touro é sujeito, com diferenças físicas claras: Lá Feria grita com os actores e os heróis cavaleiros espetam ganchos no lombo do animal.
O dia de ontem, parece tirado de um livro antigo. Um povo na miséria dos seus valores, das suas prioridades e da sua cultura desata todo a cuspir para o céu. Ninguém detecta o problema e esta festa colectiva visceral é tida com um grande momento de união e celebração. O povo sacrifica animais. Mas são sacrifícios compreensíveis porque enquadrados semanticamente: a arte da tourada, a caça desportiva.
Esta decadência abismal não tem point of no return. Pôs a brilhar Marialvas, Duquesas e Valetes. A mediocridade venceu outra vez. Uma criança pode ficar triste ao ver estocadas. E a tradição, a tradição. Um copo de JB com gelo é que é tradição.
Queria falar de desligar a TV, de jamais usar o parque ou as lojas, de não contribuir para "animar" um edifício que deveria ter sido demolido e em seu lugar criado um jardim que arrefecesse o stress ambiental da Avenida da República. Por falar em República, claro que tenho tanta curiosidade como todos os outros em saber qual o chapéu que a Infanta, a senhora casada com Dom Duarte, nem sei se é Infanta que se diz, ou Rainha consorte, usou.
Mas isto depois degenera sempre. Eu queria falar do RiR e como se deve boicotar um evento de milhões só por apelar a "Um mundo melhor". Eu queria falar do mundo de pernas para o ar, mas não tem air play.
O deslumbramento colectivo ou individual cria barreiras ao compromisso. Estamos desligados uns dos outros, como a minha Televisão.
Desejam...
... os canhotos como eu que esta imagem seja mais que uma alegoria.
A despedida de Koeman
A médio prazo saberemos se o Benfica optou bem ao mal ao dispensar os serviços de Ronald Koeman.
A mim faz-me lembrar a pré-decidida opção dos sportinguistas em odiar e inviabilizar José Peseiro. Essa decisão da massa associativa na realidade precipitou uma grave crise no clube com a demissão de Dias da Cunha, a negação do projecto de alienação de património sustentado pelos seus seguidores, a real divisão dos decisores e consequentes eleições. Sempre disse aos meus amigos sportinguistas que um treinador que levasse o Benfica à final da Taça Uefa e lutasse pelo título até ao último dia, como foi o caso de Peseiro, seria para mim um homem que a todo o custo eu, como adepto entenda-se, valorizaria.
Aos meus amigos benfiquistas sempre dei conta que Koeman foi o melhor treinador desde Toni, o campeão, não Toni o politiqueiro ao serviço da Administração Vilarinho. Sempre defendi que Trapattoni foi campeão por demérito dos adversários e não por mérito próprio. Sempre sustentei que Camacho foi um verdadeiro bluff que fez um único jogo estrategicamente brilhante: a final da taça contra o super campeão (europeu inclusive), FC Porto. Sempre defendi que Ronald Koeman é o treinador desejado em Barcelona e veremos senão já no início da próxima época. Dependendendo do resultado da final da Champions e da entrada na Liga...
Tenho escrito aqui que as contratações de Dezembro foram escabrosas e a situação responsável pelos maus resultados internos da 2ª volta. Aqui Koeman tem culpas no cartório. Pareceu que a única imposição que fez valer foi o factor estatura física dos atletas contratados. Mas é bom entender que Moretto, Marco Ferreira, Manduca, Robert e Marcel foram um desastre. Nenhum deles tem lugar no Benfica. E mais extraordinário: os artigos de opinião unanimes, as peças, as entrevistas que referenciaram estes jogadores como grande estímulo e grande operação estratégica favorável. Nada mais errado. Alguém fez isto para se encher e aí Koeman ao dar cobertura como no caso Moretto, errou.
Terminou a liga com 67 pontos, mais dois que Trapattoni o ano passado (65), sustentando a tese de vitória por demérito. Objectivamente Koeman fez melhor campeonato que o seu antecessor.
Ao chegar aos quartos de final da Champions superou os resultados de grandes clubes europeus como Manchester, Real Madrid e Chelsea tendo inclusive melhor prestação que José Mourinho que como se recordam perdeu os dois jogos com o Barça. Acima de tudo o Benfica deve ter encaixado mais dinheiro com esta prestação que a soma dos últimos dez anos.
Assim corre-se um risco enorme ao aceitar a partida de Koeman. Eriksson terá dificuldades, Scolari seria uma boa escolha dado o factor disciplinador, mas nenhum destes nomes está certo. A direcção do Benfica está presa por um arame que é a possibilidade de contratação do próximo treinador. A ver vamos se me calam como espero.
A capa do Expresso
Pronto pessoal. Reinem lá um bocadinho com o cansaço e a sua interpretação subjectiva. Vá, façam lá esse exercício de pseudo liberdade e crítica.
Eu ando sempre com olho na preguiça. A preguiça tem marcado a minha vida recente. E não é um dos pecados capitais?
Assim o único senão é que a notícia mais importante da capa do Expresso ficou para segundo plano. "Papa abençoa Europa" (respectiva foto de Bento e Durão, a quem chamam Barroso).
Porra! Estava a ver que não! A partir daqui está encontrado o caminho para a resolução dos problemas europeus. Com uma simples benção, Bento resolveu: o projecto social, a crise económica, a missão ambiental e a temática da integração de novos países, ficando adiada a questão dos bárbaros turcos, obviamente.
Ao mesmo tempo Barroso teve o seu momento mais alto desde que assumiu funções. Nunca como agora o Presidente da União Europeia teve um acto tão importante, dignificante e politicamente construtivo. Só acho que se calhar precisávamos de uma bençãozita semanal, para acelerar alguns processos com os quais não temos tido sorte. Orçamento, Constituição e afins. Até, caso Bento esteja ocupado com afazeres divinos, pode ser um desses simpáticos e sinistros cardeais ligados à Congregação para a Doutrina da Fé, Opus Dei e Causas dos Santos.
Já agora: estreou no passado dia 3 de Maio a série de cartoons "Popetown", na MTV.
Apesar da celeuma que está a causar a série já foi abençoada por milhões de fãs em todo o mundo.
Parabéns Sr. Mendes
Mais do que pela vitória nestas emocionantes e disputadas primeiras eleições directas no PPD/PSD, pelo discurso de júbilo, no qual enalteceu os trinta e dois por cento que votaram, não se dirigindo aos sessenta e oito por cento de militantes que se borrifaram para o acto, porque nem sequer podem alegar estar na praia porque de uma sexta-feira, destas horríveis que não são feriado nem ponte, se tratava.
Mesmo assim a democracia funcionou em pleno. Ao alcançar noventa e um por cento dos votos, Mendes sai reforçado e em clara e inequívoca vantagem para o congresso. Aqui também haverá muito para comentar e muitos directos televisivos para preencher.
Aquilo que fica, ao contrário do que tem vindo a ser veiculado pela rapaziada com direito a emitir opinião, é que claramente Mendes disputará as eleições de 2009 com José Sócrates. A quem agora cabe puxar um pouco por Mendes, sob o risco de termos um acto muito idêntico ao de ontem.
Nacionalização petrolífera
Regozija a esquerda miudinha com a entrada das forças armadas bolivianas em dois poços de petróleo explorados por companhias estrangeiras tendo como consequência a nacionalização da sua exploração.
Mas esta é uma péssima notícia. Em primeiro lugar as recentes vitórias da esquerda na América do Sul poderiam representar uma aragem, uma nova esperança para o sistema político, não só do continente mas também do mundo em geral. Lula, Bachelet e Morales simbolizam a possibilidade de viragem à esquerda. Democrática, evoluída e construtiva. Com esta atitude Evo Morales compromete esse sonho transformando-se num radical à imagem do ditador Fidel e seu mordomo Chávez.
Como é evidente compete a um presidente de um estado de direito democrático respeitar os compromissos assumidos por esse mesmo estado. Em nenhuma circunstância pode recorrer às armas para tomar o que quer que seja. E a seguir? Manda prender, torturar e matar quem não concorde com a iniciativa militarista?
Para mais a utópica razão apresentada por Morales: com o controlo desta fonte de rendimento resolverá os problemas económicos e sociais da Bolívia. Como veremos daqui a dez anos não só nada estará resolvido como se poderá agravar a situação se a moda pegar neste e outros países da região, que já estão a afiar a moca.
É também uma ilusão achar que um estado tem capacidade de gestão para criar e rentabilizar uma empresa pública que extrai e vende petróleo. Mais facilmente aparecerão casos de corrupção e tráfico de influências que o contrário, ou seja uma solução que seja mais justa por um lado para os trabalhadores, por outro para povo.
Talvez saia daqui uma solução na qual as próprias empresas petrolíferas tendam a valorizar a sua gestão de recursos humanos e a ajustar os seus acordos de princípio com os estados explorados. Talvez consigam reposicionar a sua missão de modo a terem uma actuação mais justa e mais sensível aos problemas globais.
Mas a via militar, como recentemente se viu na desastrada Intervenção no Iraque, nunca é um bom princípio para mudar o mundo. Apesar de aparentar o contrário, temo que esta acção de Morales e dos Generais provoque uma onda de crise e desconfiança financeira que conduza a um agravamento dos problemas sociais. Perderam aqueles que, como eu, acreditam que é preciso utilizar uma só arma para a globalização humanizada que todos desejamos: a palavra. Que neste contexto significa negociação, diplomacia e combate jurídico e político.
C'est la vie
Prossegue o campeonato do mundo de snooker, no The Crucible Theater em Sheffield. Disputa-se a final entre dois jogadores banais, sem o encanto de outros de anos anteriores. Efectivamente Graeme Dott e Peter Ebdon jogam toda a sua estratégia sem magia nem génio. Valem-se da rigidez tacticista e da frieza permanente o que os faz cometer erros em demasia e logicamente a favor do adversário.
Dott eliminou o campeoníssimo e meu preferido Ronnie O'Sullivan que afastara o meu segundo preferido Mark Williams nos quartos. O mundo dos adeptos, ainda que circunstanciais como é o caso do humilde (não há ironia no termo) escriba, aguarda por uma final O'Sullivan/Williams, mas não foi o caso.
Vou passar o serão a ver a cena, porque assim como assim já fiz tudo o que tinha a fazer... Dott vence por 9-5. Torço por Ebdon.