segunda-feira, maio 29, 2006

Um almoço nunca é de graça

A frase aplicada nos círculos económicos (que penso ser de John E. Moles, mas agradeço a eventual rectificação), foi-me apresentada pelo título da tradução portuguesa de Nice Work (1988), de David Lodge.

Andei longos momentos a desejar e a fantasiar o almoço de hoje. Quando alguém passa um determinado tempo partido é natural que sobrevalorize certos aspectos simples e quotidianos (acho que é a isto que se chama hipersensibilidade). Porque durante muito tempo me privei destes devaneios, ansiei-os, recriei-os por antecipação, imaginei uma história com todos os pormenores.

Tinha decidido terminar a manhã de trabalho por volta da uma e assim fiz. Despachei-me da rapaziada e como o escritório é perto do Centro Comercial das Amoreiras, aí entrei espontânea e distraidamente. Pensando que estava a ser conduzido pelo acaso, entrei no Sushi Café e sentei-me ao balcão, mesmo em frente ao cozinheiro que prepara o acepipe.

Quando há semanas atrás descobrimos este restaurante, não fiquei com boa impressão: sushi num centro comercial? Todos os lugares ocupados? Não, não me satisfaz. Mas o atendimento e a concepção alteraram por completo a minha visão. No último caso fiquei mesmo a achar que é melhor que nos outros que já experimentei em Lisboa! Daí o meu desejo: à primeira oportunidade, escapar-me-ia à vidinha e voltaria lá.

Assim mantive a minha premonição. Entrada de ostras e suhi to sashimi como conduto. Uma taça de saké, embora frio ao contrário do que tinha imaginado, longa e detalhadamente.

Poderia o meu desejo por sushi ser adiado? Faz alguma diferença efectiva entrar no Sushi Café, amanhã, ou daqui a uma semana? Quem faz planos tão detalhados, quem deseja tanto, não consegue perder a oportunidade de os realizar.

É claro que este lonely urban lunch serve para me baldar a futuros desejos emocionais, resistir com unhas e dentes às tentações da carne, perdão, do peixinho e voltar a colocar a razão na ordem do dia. Porque como devem imaginar There is no such thing as a free lunch, ou melhor dito: Nice Work.

8 Comments:

At 12:39 da manhã, Anonymous Anónimo said...

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At 3:53 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Os desejos vivem-se no PRESENTE e querem-se satisfeitos no AGORA! No entanto, esperar (ou adiar) aumentará o desejo e a satisfação com que se frui a sua concretização! Certo?
E cuidado com o ?colocar a razão na ordem do dia?... muita razão, muita razão... por vezes funciona de forma inversa... é como uma bola de desejo, ops, digo, de neve!!... Lol...
Maria João... uma conhecida... desconhecida... *=)

 
At 6:52 da tarde, Blogger HB said...

Errado. É isso que nos distingue dos animais. Fantasiar não é concretizar. Adiar é viver saudavelmente com o desejo.

 
At 3:57 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Sim, os animais vivem de instintos... nós de intuição e racionalidade! Mas tens de concordar comigo... se vivermos somente da razão enlouquecemos!! Agir por instinto, de vez em quando, sabe tão beeemm...
Claro que fantasiar não é concretizar... mas ir fantasiando para mais tarde concretizar... pode ser positivo! Tal como dizes, adiar é viver saudavelmente com o desejo... e eu concordo!
Maria

 
At 5:13 da manhã, Blogger HB said...

Para uma "conhecida, desconhecida" esticas-te pouco, esticas... Eheheheeh! Beijos.

 
At 6:43 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Pois, pois... lol... estes comments foram deixados por instinto... lol... pela razão, acho que não os teria feito!!
lol lol ...
Beijinho... tudo de bom para ti!! e, quem sabe... até um dia!! **;))
Maria, a "conhecida desconhecida"... lol...

 
At 1:44 da manhã, Anonymous Anónimo said...

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