quinta-feira, agosto 25, 2005

Nota de Rodapé

A notícia vale cinco linhas nas "Curtas" do Expresso.

O ex. ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, pediu ao Estado o subsídio de reintegração a que têm direito os que deixaram de exercer cargos semelhantes.
Não se pode deixar de entender a necessidade de alargar os serviços de saúde aos privados, desde que para benefício de todos: cidadãos, estado e empresas. O que esse senhor fez durante a governação Durão/Santana foi salvaguardar os interesses do sector privado, com prejuízo para os cofres do erário público e sem nenhum melhoramento para as pessoas que verdadeiramente precisam.
Antes de exercer funções era administrador do Grupo Mello, justamente o que mais interesses tem nestas matérias. E saído do governo, voltou a desempenhar as suas funções, reconhecimento dos bons serviços prestados.

São 4 mil e 400 carapaus de bigode dos antigos (22.000 Euros), o que para muitos nem é dinheiro. Seriam úteis a muito boa gente que conheço até para que pudessem ter melhores cuidados básicos de saúde.

Os órgãos de comunicação, os comentadores e restante panóplia do reviralho nem toca no assunto, tão solícitos que foram nos casos Vara e Gomes.
Quer dizer: a lei está mal. O subsídio de reintegração não deveria existir uma vez que ninguém precisa verdadeiramente de ser recolocado depois de estar no poder. Pelo contrário, ir para o governo é adquirir um cartão vitalício de permanência nas altas esferas da guita.

Quanto a este rapaz há uma coisa que se pode pensar sem grande esforço: p#*$ que p?=&* a sua reintegração.

quinta-feira, agosto 18, 2005

Quem aposta?

Eu aposto que nem Miguel vai pedir desculpa, nem o Benfica vai deixar de encaixar os 7 milhões de carapaus de santola vendendo-o ao Valência, nem esse dinheiro vai reverter para a contratação de um jogador de jeito. Quem aposta?




PS- quando a salvação do futebol português é a redução de clubes (e falo de um máximo 8 no escalão principal e uma restruturação no secundário, que pode passar por campeonatos regionais, com play-off final), dois clubes comprovam-no (Alverca de Vieira e Felgueiras de Fátima). Eis que a secretaria decide a subida de outros dois (Chaves, por mero acaso e o Gongomar de Valentim). Chiça!

O jogo de beneficência e o jantar dos tristes

Ontem Portugal jogou nos Açores um particular com o Egipto. A ideia, marketeira como de costume, era promover Pauleta, a partir da sua terrinha, para todo o país.
Cinco suplentes (Quim, Alex, Carvalho, Tiago e Postiga), um jogador à procura de clube (Viana), três utilizáveis (Andrade, Ferreira e Petit) e Figo, tudo fizeram para que o Açor marcasse. Mas nem assim. Esta vontade de o pôr no cimo da tabela dos marcadores só tem comparação com aquela altura em que João Pinto (não o Vieira, mas o agarra a taça) tinha obrigatoriamente de ultrapassar as internacionalizações de Néné. Depois de um Euro onde foi o jogador mais contestado pela opinião pública, tendo terminado o torneio sem qualquer golo, a ideia foi recolocar Pauleta no coração dos portugueses. O resultado está à vista.

Manuel Alegre participou no chamado jantar dos tristes. Logo em directo para a RTP esclareceu que não se tratava de um lançamento de candidatura, porque se o quisesse fazer tinha muitas formas. Fez-me lembrar de quando disse, todo enfatuado à porta do Largo do Rato, que se quisesse ter sido Secretário Geral do PS, há muito que teria sido.
Alegre teve 16,6% (ao contrário dos 20% que por aí se apregoam) dos votos directos dos socialistas, tendo logo um ónus de derrotado. Era vice-presidente da Assembleia da República durante o ciclo de esquerda (de Guterres), do ciclo de direita e não conseguiu ser Presidente, perdendo para Gama, agora que o país voltou a mudar. Não tem o apoio do Secretário Geral do PS (o Sec. Geral com mais legitimidade da democracia portuguesa) nem de nenhuma Federação do partido, nem uma, a de Coimbra por exemplo e acha que é um homem abandonado, triste e traído.
Ontem aquele jantar de meia dúzia de gatos pingados revelou bem a base de apoio com que parte para este combate.

Anteontem Mário Soares explicou bem as coisas. Claro que os comentadores do costume vão esquecer o essencial: aquando das eleições para líder do PS, João Soares anunciou a sua candidatura antes de Alegre (aliás, foi mesmo o primeiro dos três). Pertencem à mesma área política, mas isso não demoveu o poeta. Porquê? Porque pensou que a sua base de apoiantes seria maior que a do actual candidato a Sintra. E borrifando-se na amizade por João e Mário Soares, avançou contra João Soares que é mais novo e simbolizaria a renovação da ala esquerda e do próprio partido. Alegre tinha razão: muita gente que se revê nele, não apoiava o outro candidato do mesmo espectro.
Não me interpretem mal, agora só faltava virem acusar Soares de vingança. O que está verdadeiramente em causa, com base neste exemplo, é: depois da sua própria prática de que se pode queixar Manuel Alegre? Apesar das coisas em comum, muitas pessoas que apoiam Mário Soares não se revêem de todo em Alegre. Eu sou um deles!

quarta-feira, agosto 17, 2005

Reparo

A campanha do PS para as autárquicas requer alguns cuidados. Efectivamente este site é um bom exemplo, mas a excepção que confirma a regra. Não encontro os endereços ou links para os sites das candidaturas. Nem no site do PS, nem no da FAUL.
Exemplo é o site da secção onde laboro (Fátima, Coração de Jesus e S. Sebastião). No fundo da página pode ver-se a data da última actualização: 22 de Novembro de 2002. Isto é que estes senhores se fartam de trabalhar em prol das três freguesias envolvidas. No final como sempre e após os resultados, o secretariado da secção lava as mãos na governação.

O mais ridículo é este: nem uma palavra sobre a candidatura à câmara e um extremo mau gosto na concepção do conteúdo e da forma. Parece um endereço de venda de flores para casamentos e funerais. Mudem depressa, nem que seja de Presidente Concelhio!

Já a campanha de Manuel Maria Carrilho tarda em apresentar o seu sítio. Seria prioritário para quem quer afirmar uma candidatura cosmopolita.

Vamos embora rapaziada. Toca a dar ao dedo e a vincular os projectos e os candidatos. O aparelho não pode estar tão desligado da missão de Outubro.

terça-feira, agosto 16, 2005

Zé Beiga

Podemos, nós benfiquistas, finalmente dormir descansados. O ex. Presidente da casa do FC Porto do Luxemburgo, está no auge no que à defesa dos nosso interesses diz respeito.

Não que tenha conseguido controlar o balneário, todas as semanas se sabem pormenores delicados, como o caso Fyssas. Não que tenha assegurado um contrato com Miguel, ou a sua renovação, de forma indiscutível, para os interesses do clube. Não que tenha conseguido uma, uma só contratação de peso para o Benfica. Não que tenha correspondido às expectativas do treinador Ronald Koeman para fortalecer o ataque e o plantel.

A Bola, órgão oficial do glorioso, explica neste artigo que o nosso Zé Beiga se vai queixar à Liga e à FPF porque Olegário Benquerença se terá recusado a cumprimentá-lo antes do jogo da Supertaça. É muito estranho que o árbitro não tivesse querido dar-lhe um tradicional e caloroso passou-bem ou inclusivamente três beijinhos, como os russos. Um outro árbitro, há muitos anos, dava a outra face sempre que era esbofeteado, embora não fosse propriamente ligado ao futebol.

Mas o mistério é, para mim, maior. É que segundo A Bola o árbitro voltou a não querer cumprimentar o dirigente quando este a ele se dirigiu para assinar a ficha de jogo. Calma lá. Isso não é função do Secretário Técnico, que no Benfica, todos sabemos, é Shéu Han?
Agradecia que explicassem bem esta situação, porque ninguém iria acreditar que Zé Beiga substituísse Shéu, ainda por cima num jogo apitado por Benquerença. Cheiraria a provocação gratuita e a dolo na tentativa de arranjar mais uma polémica.

O vazio


Cavaco junto de Carlos Tavares o super ministro da Economia de Durão e Santana.

Tem-se ouvido vezes sem conta que há um vazio à esquerda, no que diz respeito a candidatos presidenciais. Eu acho precisamente que é à direita que esse vazio se verifica.

À esquerda três homens poderiam lutar pela vitória: António Guterres, António Vitorino e Mário Soares. O primeiro optou por aquilo que sempre desejou, um cargo internacional relacionado com causas humanitárias. O segundo não se candidatou por motivos pessoais e está no seu direito. O terceiro é Mário Soares cuja aguardada candidatura deverá ser anunciada no início de Setembro.

À direita apenas um homem pode tentar a vitória final. Pois que nem Marcelo, nem Freitas, nem Santana, nem ninguém representaria uma candidatura forte. Cavaco está só no deserto da direita portuguesa.

sexta-feira, agosto 12, 2005

Peter e Dana

Passavam dois dias sobre o falecimento de Peter Jenning (07-08-2005), vítima de cancro no pulmão, pivô do noticiário da ABC, líder de audiências durante 20 anos e a América ficava de novo em choque: Dana Reeve, mulher de Cristopher Reeve, que durante 9 anos, lutou lado a lado com o seu companheiro contra a fatalidade de que foi vítima, emitiu um comunicado a confirmar que lhe foi diagnosticada a mesma doença.

As estações de televisão não falam de outra coisa, uns melhor, outros pior. Aaron Brown da CNN, por exemplo, procura realçar estes exemplos, como representantes das milhares de vítimas anónimas.

Efectivamente a situação de Dana Reeve é comovente. Lembro-me também eu de achar que pior não me podia acontecer e acontecer. Os cientistas vêem uma ligação directa entre as mulheres na pré menopausa e o cancro no pulmão. 80% dos doentes são fumadores e 17% nunca tocaram em cigarros. Destes, 80% são mulheres (números dos EUA).

Conforta alguns, revolta outros, que estes exemplos nem serão as pessoas que sofrem mais. O cidadão comum não dispõe de meios que lhe permitam ter uma morte o mais descansada possível. E se é assim na América, imaginem nos países de terceiro mundo, como o nosso. Os familiares e as vítimas da doença fatal lutam contra o sofrimento e contra o sistema que procura a todo o vapor afastá-las o mais possível.

O cancro no pulmão é um pouco como aquele desafio infantil: se soubesses que o mundo acabava amanhã, que farias?
É a doença com maior taxa de mortalidade: 98% se tiver metástases e 50% se ainda estiver circunscrito ao pulmão. A questão é que quase não tem sintomas, nem caroços, nem tosse, nem dores de cabeça, nada. Na maior parte dos casos manifesta-se precisamente quando a sua propagação começa a incomodar outros órgãos, ou ossos.

Por irónico que possa parecer, seria bom se a América despertasse para esta problemática. Podia ser que a Europa também viesse a perceber o drama e o sofrimento na sua maior dimensão.

Uma cientista na área da oncologia disse-me que daqui a dez anos o cancro do pulmão, já não vai matar ninguém, simplesmente ficará alojado de forma perpétua, mas não nociva. Assim esperamos. Até lá resta-nos sofrer com os doentes e suas famílias uma dor sem cura e sem piedade.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Os loucos, as pastilhas e os presos

Na plataforma, uma senhora dos seus cinquenta e muitos, cabelos grisalhos apanhados e vestida de camisa e calças de ganga, foca-me por detrás dos óculos com aros dos anos setenta. Quando entro no metro, sento-me à sua frente de costas para ela. Começa aos gritos para o cavalheiro do lado, que nunca cheguei a ver.
"Aquele senhor é do teatro. É do teatro aquele senhor." À segunda o homem desiste e concorda. Ela continua: "Fez aquele programa, que não me lembro o nome. Está mais homem. É ele, é mesmo ele. É aquele rapaz do teatro. Gosto muito de o ver trabalhar. Não lhe vou perguntar o nome". Desde a Baixa-Chiado até à Praça de Espanha não parou e acho que abordou uma ou outra senhora. Podia ter achado que eu era o Nuno Graciano, o filho da Teresa Guilherme. Mas esta não! Esta resolveu explanar a sua loucura e ofender-me doutra maneira. Aos gritos nas minhas costas.
Só os mais malucos que eu me abordam. Os outros correspondem à descrição da minha atitude.

Na fobia de aumentarmos a nossa esperança de vida, adquirimos produtos ao engano. Nas caixas de pastilhas que o pessoal adquire, a fachada promete que as dragueias não contêm açúcar. No verso são esclarecidos os ingredientes. Edulcorantes (maltitol, sorbitol, manitol, acesulfame k e aspártamo), aromatizantes, espessante (goma arábica), emulsionante (leciticina de soja), corante (E171), óleo vegetal e agente de revestimento (cera de carnaúba). Uma nota final adverte que o seu consumo excessivo pode ter efeitos laxativos.
Bolas! Ainda bem que não têm açúcar.

Nos tais fóruns de televisão uma senhora lança uma ideia: porque não pôr os presos a fazer vigilância? Salienta que muitos estão presos por crimes menos graves. Pois claro. Mas ela não se lembrou dos militares que se arrastam nos quartéis, ou os escuteiros que fazem necessidades nas tendas uns dos outros por mera brincadeira, nos intervalos das missas dominicais.
O país está a arder porque os presos em vez de estarem nas prisões deviam andar por aí à solta nas matas.

terça-feira, agosto 09, 2005

segunda-feira, agosto 08, 2005

Vieira vai demitir-se



A contratação de Ronald Koeman é a única coisa positiva com que a actual direcção presenteou os benfiquistas. Parece-me um bom treinador, que privilegia o passe certo, meio caminho para a boa consistência de uma equipa. É um up-grade em relação a Trap.

A grande alegria de termos sido campeões, encerra em si uma questão que poderá ser determinante no futuro próximo do clube. A entrada directa na Liga dos Campeões arrisca a delapidação do último capital que resta ao Benfica. Efectivamente, depois dos jogadores e do património, resta ao clube o seu inegável prestígio internacional. E espero estar enganado, mas temo seis humilhações nos confrontos internacionais. Repare estimado leitor, leu bem: não serão seis derrotas. Serão seis cabazadas! A acontecer (só ainda não começou porque Chelsea e Juventus foram simpáticos) nada restará a Luís Filipe Vieira senão a demissão, perante a contestação generalizada que sofrerá.

A questão de Beto, por exemplo. O que resta de fanáticos benfiquistas está em delírio com este jogador. É uma pura ilusão. Já aconteceu com centenas de jogadores e mesmo este ano Karyaka foi alvo do mesmo equívoco. Beto é lento, falha muitos passes e o pior é que não tem formação táctica: coloca-se muito mal. Tem tudo para vir a ser dos mais assobiados da história do clube. Acontece que veio melhor fisicamente que os restantes colegas. Isso até é positivo, cheira-me a que tenha passado todo o período de férias a dar no duro, mas não chegará. Beto (tal como Assis, Karyaka e a maioria do plantel do Benfica) servem para disputar jogos nacionais, de segunda. Nem sequer para os grandes desafios.

A notícia da penhora dos passes de alguns jogadores para pagar o estádio revela bem o estado em que o clube se encontra. É que isso nem é o mais importante: são jogadores de segunda, altamente sobrevalorizados. Grave é a penhora das receitas de bilheteira desta e próxima época, bem como os direitos televisivos de 2011 a 2013. Nem Vale e Azevedo foi tão longe.

Veiga é neste momento a anedota do país, que rejubila com a sua falta absoluta de importância no mundo do futebol. Pior só mesmo o FC Porto, que despedirá Adreense ao fim de um mês. Mas a sua estrutura encontrará soluções mais facilmente que a nossa: debilitada e ridícula.

Damásio caiu em desgraça por três motivos: falta de capacidade de investimento, más opções desportivas e comprometimento de receitas futuras. Já vi este filme.

quinta-feira, agosto 04, 2005

Soares é fixe!


Em 1986 eu tinha 14 anos. Até então não me lembro de ter qualquer pensamento, ou posição política. Recordo que o meu pai sempre se considerou um social-democrata, que admirava Sá Carneiro, mas que não se terá entusiasmado com a candidatura de Freitas do Amaral. Já a minha mãe sempre foi de esquerda, embora nessa altura tenha votado em Maria de Lurdes Pintassilgo na primeira volta e obviamente Soares na segunda. O resto da família e os amigos de então também não falavam sequer em questões políticas.
Não terá sido, portanto, por influência directa dos meus pais que recordo que andava com autocolantes de Salgado Zenha na primeira volta dessas eleições, que adorava passar por murais pintados com slogans de incentivo à sua candidatura e que passei várias vezes pelo Camões e espreitava os cabeçalhos dos jornais para ver o andamento da campanha.
Não sabia nada sobre os antecedentes daqueles homens. Desconhecia o passado comum e divergente de Soares e Zenha, considerava preconceituosamente, reconheço agora, Freitas um fascista e nem sequer sei bem porque elegia Zenha, mas teria a ver simplesmente com simpatia, porque não relembro nenhuma matéria política significativa. Desconhecia o passado pré e pós 25 de Abril de Soares e portanto estava por assim dizer completamente às escuras sobre os candidatos, sobre as funções a que se propunham e sobre a democracia em geral.
Cresci sempre com duas únicas ideias, talvez dogmas familiares, nesta área: o facto da minha avó materna votar sempre, sempre no PS e o meu pai anunciar Humberto Delgado como o maior herói da resistência ao regime de Salazar.
Por isso é justo reconhecer que as eleições de 1986 tiveram o condão de despertar paixões, simpatias e interesse pela causa política em geral. Foram o momento mais importante da democracia portuguesa (sem contar naturalmente com a transição). As eleições de 1986 trouxeram a discussão para a rua, para os velhos e para as crianças, para os ricos, os pobres, os operários, os técnicos e para um país que à beira de eleger um Presidente civil, acabaria de vez com o trauma pós revolucionário que tanta divergência causou.
Na segunda volta recordo andar feliz com um auto-colante que dizia: para derrotar Freitas, é preciso votar Soares. Ingenuamente pensava que era para ser usado por todos os que não se identificavam com Freitas e só anos mais tarde descobri que era um golpe de marketing do PCP, no qual justificava o seu voto. Para derrotar Freitas. Foi talvez o último bom golpe de marketing daquela rapaziada que nunca mais se desenvolveu nessa e noutras matérias.
Mas dito isto, não se pode concluir que eu seja propriamente isento: desde que posso exercer o direito de voto apenas por duas vezes não coloquei a cruz nos PS, ou candidatos apoiados por. Numas presidenciais em que não era preciso e por outra vez farto da sobranceria de determinada autarca.

A eventual disputa entre Soares e Cavaco teria essa qualidade especial: a de colocar as eleições na prioridade dos portugueses, atraindo novos e eleitores desistentes. Mas temo que assim não seja...

Uma divertida audição de um dos múltiplos fóruns que os órgãos de comunicação social promovem para encher horários, confirma algo que a minha intuição me segredava. Os que apoiam Cavaco vão fazer o discurso de ódio a Soares, ao contrário dos que apoiam este, que optam por elogiar a figura e sua importância histórica.
A base de apoio da direita levará a discussão para a problemática da candidatura de Soares (idade, ter sido presidente, ódio) abrindo o flanco para uma campanha de afirmação e de união. Isso não é novo e por contraditório que aparente tem sido sempre a vantagem de Soares: aproveitar a negação dos seus adversários.
Este tipo de racíocinio espontâneo do povinho será claramente a raiz das duas campanhas, porque é também o espelho evidente das duas personalidades em confronto. Por isso Mário Soares vencerá, apesar de serem as eleições mais difíceis que alguma vez disputou.

Todos a quem é dada voz em representação do reviralho, salientam a questão da idade avançada de Mário Soares. Mais um argumento que, ao contrário do que imaginam, só trará a simpatia do povo. Era o que faltava que um cidadão com mais de 35 anos, em pleno exercício das suas faculdades psíquicas e mentais não se pudesse candidatar. Giro, giro é ouvir de 15 em 15 dias o Marcelo dizer que é comentador político há mais de vinte cinco anos. E agora acha que é preciso dar voz a outros. No caso dele eu também acho. Chega de hipocrisia!
E também cómico foi ouvir este mesmo argumento da boca de Sousa Tavares. É que o senhor não deve ter TV Cabo. Sim, refiro-me ao Canal Memória, onde ocasionalmente aparece a fazer entrevistas, 20 e tal anos mais novo, na RTP, cujo vice-director de informação era José Eduardo Moniz, futuro ex-director da TVI, futuro director da SIC.
Há trinta anos que, na TV, são os mesmos. E no futebol? Movimentos de renovação com Pinto da Costa e Valentim Loureiro? E nas artes? E na vida académica?

Já não imaginava poder voltar a ver Soares em campanha e neste tipo de campanha. É um prazer, uma alegria incontida, eu que me satisfazia a vê-lo e ouvi-lo mensalmente na SIC N.
Mas infelizmente não acredito a esta distância que Cavaco vá a jogo. Vai fazer todas as contas e vai perceber que ninguém lhe pode garantir a 100% uma vitória, nem ele próprio, o que fará com que não arrisque um milímetro. É pena se Cavaco não aceitar esta disputa.

Em relação às declarações de Helena Roseta, uma simples constatação: não vale a pena tanta exposição íntima, tanta declaração pública de paixão e amor, daquela que afinal se diz a rainha da moral e da ética.
A comunicação social é que já começa com os caciques do costume, dada a ampla cobertura que dá ao seu artigo cor-de-rosa. Porque há uma verdade inegável: há mais gente zangada com Cavaco só no PPD, que com Soares em toda a esquerda. Mas até estes caciques que se preparam em alta escala serão favoráveis a Mário Soares.

E sobre as duas personalidades e nas matérias que realmente interessam para uma delas exercer a presidência há diferenças de fundo.
Sobre a aventura falcónica americana no combate ao terrorismo todos sabemos bem a posição de Mário Soares. De Cavaco nem uma palavra.
Sobre o novo referendo à interrupção voluntária de gravidez, todos sabemos o pensamento de Mário Soares. De Cavaco apenas imaginamos.
Sobre a magistratura de influência que marca o estilo de Mário Soares, todos ansiamos e desejamos.
Sobre a possibilidade de um golpe de estado constitucional, com o Ministério das Finanças a ser comandado a partir de Belém e a reposição das políticas da Manuela Ferreira Leite que levaram o país a esta profunda crise e sob orientação ideológica do seu mestre, todos devemos também mostrar um certo manguito em forma de cruz.

Soares é fixe!

segunda-feira, agosto 01, 2005

OTA


Por dois motivos diferentes, embora com origem no mesmo quadrante político, a Opinião Publicada, parece aceitar a Rede de Alta Velocidade (RAVE), na mesma medida que recusa o novo aeroporto na OTA.

Ao contrário, não tenho dúvidas sobre a necessidade de construção do novo aeroporto da OTA, enquanto em relação à RAVE julgo só poder fazer sentido se se atingirem os níveis de velocidade máxima e se for consubstanciada a possibilidade de transporte de mercadorias.

Do ponto de vista político é essencialmente um falso problema de origem emocional. Por um lado Marques Mendes aposta no aparente afecto que os candidatos (de todos os partidos) acham que a população tem pela Portela. A sobrevivência política de Mendes depende dos resultados em Lisboa e no Porto, ao contrário de todos os outros lideres partidários.

Do ponto de vista da matéria económica, este espernear compulsivo dos suspeitos do costume, vislumbra que algo terá saído da esfera das suas influências. Parece que o PSD queria fazer a OTA, como anunciou vezes sem conta, exclusivamente se definisse as regras do jogo. Isto não lhes fica bem, mas enfim.

Quem viveu, estudou e trabalhou, toda a vida em Lisboa sabe que sempre se ouviram as queixas de segurança que assustam todos nós. O aeroporto alimentou sempre as fobias dos lisboetas na mesma medida que a possibilidade de um grande terramoto. Sempre se ouviu a perigosidade que os pilotos atribuem à localização do actual aeroporto, especialmente na aterragem. Para além disso e independentemente do factor risco acrescido, ninguém poderá deixar de concordar que é diferente a existência de um acidente no meio de uma grande urbe, em relação a um descampado perto de uma vila.

Mas porque podemos sair à rua e cair-nos um vaso na cabeça, como alguns profetas da desgraça gostam de lembrar, há um outro efeito contemporâneo, ainda mais nefasto, porque é contínuo e não extraordinário.

Luísa Schmidt, conceituada analista ambiental, esclarece na revista Única (Expresso, 23-07-2005) que um estudo recente da Universidade Nova revela que Lisboa é a capital dos países da união europeia com maiores índices de poluição. Eu não conheço o referido estudo, mas é notado que as causas para tal calamidade se devem à emissão de combustíveis. Gostaria de saber quanto dessas emissões se deve à aceleração e desaceleração de milhares de aviões, cujos motores carburam combustíveis altamente nocivos e mesmo em cima das nossas cabeças.

Achei piada a ver o senhor actual chefe da Quercos, numa apresentação pública do anterior governo PSD, em plena campanha para as últimas legislativas, que como se vê, com ou sem co-inceneração, foi inútil. Já acho estranho nem uma palavra sobre esta matéria de saúde pública ambiental. E já agora uma pergunta: para que serve a legislação sobre emissão de ruído? Se quiserem cedo o meu escritório para que se possa medir o ruído causado e a frequência diária do mesmo.