quinta-feira, agosto 18, 2005

O jogo de beneficência e o jantar dos tristes

Ontem Portugal jogou nos Açores um particular com o Egipto. A ideia, marketeira como de costume, era promover Pauleta, a partir da sua terrinha, para todo o país.
Cinco suplentes (Quim, Alex, Carvalho, Tiago e Postiga), um jogador à procura de clube (Viana), três utilizáveis (Andrade, Ferreira e Petit) e Figo, tudo fizeram para que o Açor marcasse. Mas nem assim. Esta vontade de o pôr no cimo da tabela dos marcadores só tem comparação com aquela altura em que João Pinto (não o Vieira, mas o agarra a taça) tinha obrigatoriamente de ultrapassar as internacionalizações de Néné. Depois de um Euro onde foi o jogador mais contestado pela opinião pública, tendo terminado o torneio sem qualquer golo, a ideia foi recolocar Pauleta no coração dos portugueses. O resultado está à vista.

Manuel Alegre participou no chamado jantar dos tristes. Logo em directo para a RTP esclareceu que não se tratava de um lançamento de candidatura, porque se o quisesse fazer tinha muitas formas. Fez-me lembrar de quando disse, todo enfatuado à porta do Largo do Rato, que se quisesse ter sido Secretário Geral do PS, há muito que teria sido.
Alegre teve 16,6% (ao contrário dos 20% que por aí se apregoam) dos votos directos dos socialistas, tendo logo um ónus de derrotado. Era vice-presidente da Assembleia da República durante o ciclo de esquerda (de Guterres), do ciclo de direita e não conseguiu ser Presidente, perdendo para Gama, agora que o país voltou a mudar. Não tem o apoio do Secretário Geral do PS (o Sec. Geral com mais legitimidade da democracia portuguesa) nem de nenhuma Federação do partido, nem uma, a de Coimbra por exemplo e acha que é um homem abandonado, triste e traído.
Ontem aquele jantar de meia dúzia de gatos pingados revelou bem a base de apoio com que parte para este combate.

Anteontem Mário Soares explicou bem as coisas. Claro que os comentadores do costume vão esquecer o essencial: aquando das eleições para líder do PS, João Soares anunciou a sua candidatura antes de Alegre (aliás, foi mesmo o primeiro dos três). Pertencem à mesma área política, mas isso não demoveu o poeta. Porquê? Porque pensou que a sua base de apoiantes seria maior que a do actual candidato a Sintra. E borrifando-se na amizade por João e Mário Soares, avançou contra João Soares que é mais novo e simbolizaria a renovação da ala esquerda e do próprio partido. Alegre tinha razão: muita gente que se revê nele, não apoiava o outro candidato do mesmo espectro.
Não me interpretem mal, agora só faltava virem acusar Soares de vingança. O que está verdadeiramente em causa, com base neste exemplo, é: depois da sua própria prática de que se pode queixar Manuel Alegre? Apesar das coisas em comum, muitas pessoas que apoiam Mário Soares não se revêem de todo em Alegre. Eu sou um deles!