quarta-feira, agosto 10, 2005

Os loucos, as pastilhas e os presos

Na plataforma, uma senhora dos seus cinquenta e muitos, cabelos grisalhos apanhados e vestida de camisa e calças de ganga, foca-me por detrás dos óculos com aros dos anos setenta. Quando entro no metro, sento-me à sua frente de costas para ela. Começa aos gritos para o cavalheiro do lado, que nunca cheguei a ver.
"Aquele senhor é do teatro. É do teatro aquele senhor." À segunda o homem desiste e concorda. Ela continua: "Fez aquele programa, que não me lembro o nome. Está mais homem. É ele, é mesmo ele. É aquele rapaz do teatro. Gosto muito de o ver trabalhar. Não lhe vou perguntar o nome". Desde a Baixa-Chiado até à Praça de Espanha não parou e acho que abordou uma ou outra senhora. Podia ter achado que eu era o Nuno Graciano, o filho da Teresa Guilherme. Mas esta não! Esta resolveu explanar a sua loucura e ofender-me doutra maneira. Aos gritos nas minhas costas.
Só os mais malucos que eu me abordam. Os outros correspondem à descrição da minha atitude.

Na fobia de aumentarmos a nossa esperança de vida, adquirimos produtos ao engano. Nas caixas de pastilhas que o pessoal adquire, a fachada promete que as dragueias não contêm açúcar. No verso são esclarecidos os ingredientes. Edulcorantes (maltitol, sorbitol, manitol, acesulfame k e aspártamo), aromatizantes, espessante (goma arábica), emulsionante (leciticina de soja), corante (E171), óleo vegetal e agente de revestimento (cera de carnaúba). Uma nota final adverte que o seu consumo excessivo pode ter efeitos laxativos.
Bolas! Ainda bem que não têm açúcar.

Nos tais fóruns de televisão uma senhora lança uma ideia: porque não pôr os presos a fazer vigilância? Salienta que muitos estão presos por crimes menos graves. Pois claro. Mas ela não se lembrou dos militares que se arrastam nos quartéis, ou os escuteiros que fazem necessidades nas tendas uns dos outros por mera brincadeira, nos intervalos das missas dominicais.
O país está a arder porque os presos em vez de estarem nas prisões deviam andar por aí à solta nas matas.

2 Comments:

At 10:28 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Apesar da falta de ligação entre os temas - excepção feita à tónica da loucura - gosto das abordagens :-)

Quanto aos presos, não deixa de ser uma boa ideia. Não deve ser por acaso que o pinhal da Mourã não é incendiado... anda lá o alemão, que matou a mulher e cumpre muitos anos de prisão, a pastar cabras!! Todos dizemos que os militares deviam dar apoio no combate aos fogos. Mas ninguém explica bem se isso é possível e como é possível. Quanto aos escuteiros... lá estás tu com as tuas teorias radicais eheheheheh

E o PS? Não há nada a dizer??

OB

 
At 6:34 da tarde, Blogger HB said...

Há sim minha querida. Foi tudo dito hoje durante uma tarde inteira no Parlamento, pelo ministro de Estado e da Administração Interna, Sr. Dr. António Costa.

 

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