Notícia em vão de escada
Não tem direito a parangona, passa despercebida, sem glória nem alento.
Olegário Benquerença está na lista de prováveis árbitros para o Europeu 2008. É uma notícia nada surpreendente se considerarmos que é o único árbitro português de elite da FIFA, que vinha arbitrando alguns jogos de importância nos últimos anos e que nesta edição da Champions já apitou cinco jogos.
É claro que o Estado Negação não é isento neste comentário. Muito pelo contrário se regozija com tal cenário que, em grande medida, deverá também depender do rápido e eficaz decorrer do processo do futebol dourado.
Pensemos um pouco nas últimas notícias que vieram a público, especialmente no Expresso, que insinuam que as classificações dos árbitros seriam a penalização para os que nunca se meteram com frutas, chocolatinhos e cafés com leite. Aqueles que, sobretudo, nem sequer deram azo a uma abordagem, a uma conversa, a qualquer espécie de contacto extra aquilo que está convencionado pela ética, a moral e a legislação desportiva.
Já várias vezes foi aqui mencionado o papel da comunicação social no âmbito deste processo. Relembramos a posição activa, por exemplo, da Rádio Renascença que não atribui nota ao árbitro português que se encontra no topo da esfera europeia e mundial. Mas não é o único órgão colaboracionista.
O que importa verdadeiramente é pensar nas classificações internas de Olegário Benquerença nas últimas três épocas. Em 2003/2004 ficou classificado em 11º lugar e em 2004/2005
em 13º.
Como é público desapareceram elementos que poderiam ajudar a investigar esta questão.De acordo com o Regulamento da Arbitragem da FPF, Capítulo III, secção IV, sub-secção I, artigo 69º, alínea 2 "Não serão indicados como candidatos para Árbitro internacional, os Árbitros que obtenham classificação inferior ao décimo lugar, inclusive, nas duas últimas classificações."
No entanto, o artigo 70º esclarece, na alínea 1 que "O Plenário do Conselho de Arbitragem da F.P.F. manterá a indicação para "Internacional" dos Árbitros Internacionais que fiquem classificados até ao décimo segundo lugar da classificação da Primeira Categoria, desde que estes obtenham, nessa época, uma pontuação média igual ou superior a oitenta por cento da máxima pontuação possível, nas actuações em jogos das competições oficiais para que sejam nomeados pelas instâncias internacionais." e na 2, "Os Árbitros Internacionais que obtenham em duas épocas consecutivas classificações inferiores ao décimo segundo lugar, perdem a categoria de Internacional." o que não é o caso e portanto é o artigo 70º que garante a possibilidade de Portugal poder vir a estar representado ao mais alto nível nas competições internacionais.
Em 2005/06, Olegário, ficou em 5º lugar.
O português desconfiado deveria pensar sobre a incongruência do tipo de observação nacional em oposição à rigorosa explanação internacional a que os árbitros estão sujeitos e que é motivo de tanto elogio por essas tascas fora.
As envergonhadas referências estão
aqui e
aqui.
Espelhos
Sabia que desde o romantismo o ideal artístico passou a ser a procura sublime da inovação, renovação, originalidade, da antecipação das ideias e da vida. Artista Deus, portanto.
Fiquei estarrecido por aprender que os países não são formados por circunstâncias geográficas, políticas ou de casualidade monárquica. Os países são feitos pelas palavras compostas e escritas. São os livros que fazem os países.
E a cultura popular? Que espaço lhe está reservado? Ela sim é o reflexo dos povos, ao contrário das artes e das letras: a antecipação.
Isto para dizer que começo a ficar seriamente preocupado com o estado actual da Inglaterra. Hoje o país está parado a discutir... O Big Brother! E não por qualquer motivo de saloiada legítima. Não. Por causa de racismo entre os participantes. O Big Brother dá origem a discussões nacionais sobre o racismo? Chiça!
Ao contrário, a cultura popular americana começa a demonstrar sinais de recuperação. Economicamente dir-se-ia lenta, mas sustentada e por vários exemplos consecutivos.
É assim com enorme regozijo que Sacha Baron Cohen venceu um globo de ouro. É óbvio que a atribuição é da imprensa estrangeira creditada em LA, o que quer que isso represente, mas com certeza ele nem seria candidato se a nomenclatura não quisesse. Veremos o que vai acontecer nos óscares, mas dificilmente não o poderão nomear. E aí a academia, outra vez em representação sabe-se lá do quê, terá muitos problemas se não lhe der a hipótese de discursar. Há a saída evidente. Deixá-lo fazer um pequeno gag. Mas não chega.
Ao mesmo tempo Barack Obama criou ontem a sua “Presidential Exploratory Comittee”, uma antecâmara da candidatura que apresentará a 10 de Fevereiro.
(Nota pouco humilde: desde 4 de Novembro de 2004, dois dias após a derrota para o mundo que foi a eleição de Bush, que defendo e em várias ocasiões a candidatura do senador do Illinois.
Terei sido o primeiro português?)
Seria o melhor candidato. Na verdade Hillary leva vantagem e arrecada mais dinheiro para a campanha, o primeiro factor a ter em conta para o eleitor das primárias. E é difícil uma mulher apresentar-se quanto mais com um negro. Qualquer um deles terá de apresentar, para seu vice, um branco suficientemente cinzento e conservador para fazer crer aos eleitores que não é demasiado arriscada a candidatura democrata. Uma mulher e um negro juntos? Difícil, demasiado difícil.
Assim torço por Obama. Vai ser complexa, a sua nomeação, mas não impossível.
A Balança
1. Senso comum.
O estado de direito democrático funda-se nas eleições, na aplicação da justiça e na moral, ou seja, na luta interminável pela equidade de oportunidades sociais, para a educação e de acesso à saúde.
A justiça vive uma terrível crise. A maior de todas. Sempre que entramos num tribunal sentimos logo a principal causa da injustiça, qualquer que seja o veredicto, a que estaremos sujeitos: o tempo. Independemente do desfecho, a morosidade dos processos levará sempre a que o tempo despendido, o dinheiro gasto e a não reposição rápida da normalidade jurídica, prejudiquem quem tem razão.
Os casos públicos e aqueles a que temos pessoalmente acesso, confirmam esta tese. A crise na justiça é de tal ordem que neste momento será possível pôr em causa se vivemos ou não em democracia. Não, a justiça não está cega. A balança é que não funciona, está sempre a ser arranjada, lubrificada, substituída, mas ainda assim ninguém consegue fazer com que trabalhe. Vejamos dois casos públicos.
2. Paulo Pedroso.
Esqueçamos por agora, embora seja o aspecto mais importante, o seu envolvimento em todo o processo. Esqueçamos como foi atingido, por quem e com que intenção. Afinal nem foi constituído arguido o que, à luz do tribunal, significa que é inocente.
Pensemos sobre a sua prisão preventiva. Num gesto de dignidade política, Paulo Pedroso, apresentou a suspensão do mandato de deputado, levantando assim a imunidade parlamentar e subjugando-se à justiça como qualquer cidadão. O primeiro comentário é evidente: sabendo o que sabemos hoje, a imunidade parlamentar é um instrumento fundamental para salvaguardar as instituições, devendo competir ao aparelho político e ao indivíduo envolvido a sua gestão, que é o mesmo que dizer que aqueles que não tiverem a capacidade de bem a gerir deverão ser corrigidos pela Assembleia da República e não por qualquer outro órgão de soberania. Paulo Pedroso, ao levantar a sua impunidade, não fez nada que não lhe fosse exigido. Mas que é raro em Portugal, isso ninguém duvida. Será que o povo português tem a mesma exigência para com o apuramento total da verdade que ele teve em relação à situação? As parangonas dos jornais dizem-nos que não, desfasadas podem estar do sentimento global, mas ainda assim duvido. Atrás de uma confusão generalizada lançada contra Paulo Pedroso, Ferro Rodrigues e o PS, o país aplaudiu as terríveis circunstâncias da sua detenção. Agora é incapaz de condenar a inverdade de que foi alvo.
Estamos, como esclareci, a falar da sua detenção preventiva.
Acontece que ao deputado foi determinada a medida máxima de coacção (prisão preventiva) com base na escuta de uma conversa telefónica realizada com Ferro Rodrigues a 6 de Abril de 2003. Essa conversa é transcrita em seis páginas. E os motivos da detenção são as últimas cinco linhas. Durante quase seis páginas falam do Governo PSD e questões internas do PS. Na (considerada) substância, as últimas cinco linhas da transcrição, Paulo Pedroso, avisa Ferro Rodrigues que devemos estar em alerta amarelo por causa do embaixador R.
Quando confrontado na primeira inquirição sobre o embaixador R, Paulo Pedroso vacilou, não se lembrando a quem se referia. Posteriormente recordou.
A guerra ainda não tinha começado no Iraque. Os russos opunham-se à aventura americana e azar dos azares no dia da referida escuta telefónica, os americanos atacaram (ao abrigo dos ataques esporádicos que levaram a cabo no Iraque, desde a guerra de 1991 e que visavam a manutenção da área restrita de actuação iraquiana) uma coluna diplomática russa, onde se encontrava um embaixador. O Ministério Público sustentou a sua versão com base em três argumentos:
a) O ataque à coluna diplomática aconteceu muito tempo antes da conversa. Como veio a ser provado, CNN e Washington Post e no dia seguinte em vários jornais portugueses, aconteceu nesse mesmo dia (6-4-2003) às nove da manhã, hora de Lisboa;
b) O MP defendeu que não estava envolvido qualquer embaixador. Outra inverdade. O embaixador Vladimir Titorenko saiu miraculosamente ileso deste atentado (uma bala passou entre ele e o condutor da viatura);
c) Este assunto era irrelevante para a vida portuguesa. Ao contrário ficou provado que a comunicação social (televisões inclusive) deu ampla cobertura a este assunto, o que é perceptível, uma vez que se desconhecia como reagiria Putin ao “erro” americano. Paulo Pedroso era o porta-voz do PS.
Hoje percebe-se como um episódio que afinal não deu em nenhuma reacção russa é perfeitamente despiciendo para uma pessoa que encontra em inquirição sobre o seu alegado envolvimento no processo mais mediático do país.
O que não se percebe é como é que um país inteiro deseja que o MP faça um trabalho eficaz e competente e este não consegue sequer investigar um acontecimento internacional que está escarrapachado em todos os arquivos jornalísticos e na Internet. Parece mesmo uma litigância baseada na adaptação da realidade a uma convicção prévia e estabelecida sobre Paulo Pedroso. Fosse eu especialista em direito e classificaria a fé desta litigância.
Paulo Pedroso era, à data dos factos, um dos mais importantes dirigentes do PS. Pertencia, embora todos com origens e objectivos diferentes, a um restrito grupo de “jovens” socialistas, que ninguém duvide, constituem o quadro de futuros lideres, dirigentes e ministros. António José Seguro, Jamila Madeira, Paulo Campos, Ana Catarina Mendes, Fernando Medina e outros, asseguram um futuro consistente para o partido português com melhores quadros políticos. Acresce que, embora divergente da minha identificação estrita, Pedroso assegurava a continuidade da ala esquerda do PS, cujos últimos lideres e inerente confluência com o centro do partido (não confundir com o espectro) os levam sempre a ter uma palavra a dizer, hoje como daqui a uns anos. Sampaio, Costa e Alegre ocupam um espaço que seria (será?) naturalmente de Pedroso. As implicações neste processo são impressionantes para Paulo Pedroso. E nem os 600 mil Euros que exige ao Estado português podem repor a interrupção que o seu percurso político sofreu. O tempo, a verdade e o crescimento intelectual do povo poderão permitir que volte à ribalta. Com a inteligência, força e a capacidade de sempre, é o que se deseja, agora que os factos começam a ser conhecidos.
3. Pinto da Costa.
É até ao momento inocente e assim será até ao fim do(s) julgamento(s). Por mais que nos custe a presunção de inocência é um factor determinante para que se possa fazer e aplicar a justiça. Portanto não façamos confusão: apesar dos fortes indícios, da permanente denúncia pública a que está sujeito e de ser arguido no processo do futebol dourado, Pinto da Costa não é, por agora, um criminoso. E depois há que distinguir os processos na sua componente civil e criminal.
Li o livro de Carolina Salgado. Luís, meu fiel amigo do Restaurante, passarinhou com ele. Pedi-lho. Pertencia à cozinheira Isabel, portista ferrenha. Portanto, o livro “Eu, Carolina” que li é de uma adepta do Futebol Clube do Porto.
Li-o em duas horas e confesso que o meu primeiro instinto foi o de tirar notas literárias, para poder testemunhar a fraqueza de estilo e de narrativa. Rápido me arrependi. Porque literariamente ele não se distingue das aventuras romanescas de Margarida Rebelo Pinto ou das crónicas de Leonor Pinhão. É a mesma charada cangalheira, o mesmo virtuosismo nauseante, a mesma pornografia em jeito de sucessão de palavras, de frases e de capítulos. Não é importante.
O que verdadeiramente ressalta é o relato de uma vivência de duas pessoas iludidas uma com a outra e as duas com o mundo e gravemente debilitadas nos seus afectos. Não é só Carolina que vive a ilusão dos afectos, também Jorge Nuno é um homem sem ponto de partida nem porto de abrigo. O melhor exemplo são os relatos da quantidade de animais domésticos que foram coleccionando, transformando a sua casa e o seu quarto num verdadeiro canil e gatil com bichos adquiridos, seus filhotes e mais bichos adquiridos. Sempre pensei que quem não sabe o verdadeiro papel (sítio e relacional) dos animais não se sabe relacionar com os humanos.
Por isso comove mas não surpreende a forma abrupta como Jorge Nuno terminou a sua relação marital de 6 anos e a maneira como ambos a vivem actualmente. No ódio, na vingança, na perseguição, no medo.
E apesar de ambas as figuras serem semelhantes, fruto das circunstâncias, da pura verdade, ou de algo que não poderemos nunca determinar, Carolina apresenta-se arrependida de muitos acontecimentos, inclusive o de Ricardo Bexiga, que considera o momento de quebra de confiança no casal, sempre iludida, como se alguma vez tivesse havido.
Não sabendo o que vai determinar o julgamento, nem que papel vai desempenhar o livro de Carolina, ou se quiserem o seu testemunho, para o simples leitor não restam dúvidas. Justamente pelos motivos inicialmente expostos. Eu, Carolina, Margarida ou Leonor, não têm fantasia. Não existem personagens. A suas figuras reais, embora profundamente irrealistas, não vivem o nostos, nunca saem do mesmo sítio, é sempre onde estão e onde acabam. Não pensam, não escondem, não intuem e não nos deixam nada para descobrir. Não têm segredos e os textos são sobre isso mesmo, os segredos que não o são. O máximo onde vão é a Casinos, o máximo que fazem é amor e o pior são as noites de amor depois de um baile num casino. Nenhum leitor, por mais fodido que fique, porque ler, ler é outra coisa, não tem dúvidas que o que está perante si é a pura realidade sobre um universo obscuro onde deambulam figuras sem carácter. Um universo contudo não existente. Pode estar desfocada aqui ou ali, pode estar disfarçada por um cigarro que se acende, nunca deixará de ser a verdade factual. Porque não existe nenhuma retórica, nem estilo.
Eu Carolina, Margarida ou Leonor, desconhecem a sinédoque, a alegoria, a metáfora, a alusão e a metomínia: este último desconhecimento está na origem daquilo que pode ser a fantasia de um leitor mais criativo, o equívoco. Carolina sempre entendeu que a ida repetida de Pinto da Costa ao bar de alterne, significava uma aproximação, o início de um grande amor, que a deixava nervosa e a tremer. De forma simples: o sinal foi confundido com o significado.
Questões do Eu e as suas múltiplas aplicações e reflexões à parte, sempre poderíamos acabar por concluir que o título confronta o autor, afinal, com a inexistência, teríamos de dissecar a inexplicabilidade em Dostoiévski, estabeleçamos agora uma outra figura: a comparação.
Será que a justiça através do MP utilizou as mesmas valências nos dois casos expostos? Será que, em relação a Pinto da Costa, embora inocente até prova em contrário, não existem já dados e indícios de risco de fuga, de manipulação de prova, de contacto permanente com outros arguidos?
Porque continua em funções? Porque não se afasta por autodeterminação? Porque não é detido? Porque não lhe é aplicada a pena máxima de coacção, prisão preventiva?
Na resposta a estas questões está a total irresponsabilidade dos agentes, a falta de exigência dos pares, a fraqueza e abismo de um estado, que relembro, somos todos nós.
O adepto de futebol é, também ele, responsável. É ele que no limite é atingido. Porque, quem não gosta não tem dúvidas que há implicações que envolvem a grande maioria das cúpulas do futebol. Quem gosta pensa por clubite e não deseja que se apure a verdade. Os benfiquistas acham os seus dirigentes inocentes, assim como os sportinguistas e os portistas, etc. Mas todos esquecem que sem verdade não conseguem acreditar no próprio jogo que origina a sua paixão. E não querem a verdade. E não querem o jogo. A inexistência, lembram-se?
Porque não é detido Pinto da Costa? Quem vive afinal com impunidade?
Estado de Graça
Esta denominação envolve confusão. Parece sempre que são os órgãos de comunicação social a definir quando e como termina o estado de graça de determinado governo. Assim foi em Novembro passado com uma parafernália de notícias que davam conta do fim do referido. O resto é sempre igual. Os comentadores do costume, chefiados pelos lideres das diferentes facções, Delgado, Pacheco e Marcelo, vêm logo a terreiro sustentar o fim. O resultado do passado terminus foi o que se viu: o povo a dar ampla razão a José Sócrates, demonstrando-o em sucessivas e diferentes sondagens e esclarecendo, até pela descida do PCP, que não está para aturar interesses corporativos da função pública, aquela que está estabelecida, que goza das melhores condições e que é, provavelmente, a mais incompetente. Porque a função pública que vive em trabalho precário, essa, não se manifesta porque não lhe é dada voz pelos quadros mais antigos.
Realmente é caso para dizer que uma coisa é o que diz a comunicação social, outra é o que pensam os portugueses.
Daí que a semana passada tenha sido a verdadeira semana horribilis de José Sócrates. Sem efeitos directos na comunicação social, quatro matérias servem para desgastar a classe política em geral e a governação em concreto. São factores corrosivos de grande potência, uma espécie de tumores silenciosos cujas repercussões atingem o âmago da orientação de um país até porque têm características não imediatas, mas a médio e longo prazo.
Paulo Macedo
A escandalosa remuneração do Director-geral de Impostos cria várias dúvidas. Será aquele senhor o único quadro competente capaz de cumprir aquela missão? Será que para contratar um técnico competente é necessário contornar a lei para o remunerar principescamente? Onde está a noção de serviço público? O que pensarão outros quadros também brilhantes gestores (como Mário Lino, alguns Secretários de Estado, Manuel Pinho, o próprio José Sócrates), ou pelo menos reconhecidos como tal nas empresas onde exerceram funções?
O episódio da missa foi a gota de água. Um gesto de campanha moralista que só aumenta a agonia desta situação que simplesmente lança o total descrédito sobre a alta gestão do estado.
Carrilho
Sob o signo de não ter o dom da ubiquidade, demitiu-se do cargo de vereador. É o culminar de uma série de trapalhadas e a culpa que partilha com Miguel Coelho para que o PS não seja alternativa imediata à actual gestão camarária.
Se não tem tal dom, porque foi candidato quando era deputado? Porque não evitou exercer logo, assim que foi eleito, funções de vereador? Porque deixou arrastar este processo sendo acusado de faltar permanentemente? Porque não abdicou antes de ser deputado, onde estava inserido numa lista e se demitiu de um cargo onde era cabeça de lista com toda a visibilidade e responsabilidade que isso representa?
Voos da CIA
Costumo dizer que sou contra as comissões de inquérito sobre Camarate. Simplesmente porque entendo que o caso é maior, mais discutido e mencionado que Sá Carneiro e a sua obra.
O caso da posição do governo português sobre o inquérito europeu à ilegalidade dos voos para Guantamo é a mesma coisa.
O PS, o actual Secretário-geral e todos os seus militantes e simpatizantes opuseram-se à guerra, condenando-a e manifestando a sua indignação. O que tem de ficar claro é que foi a direita portuguesa que entrou nesta aventura irresponsável e facínora.
Portanto, as demais violações da integridade humana devem ser alvo da mais elementar condenação. É que, muito estupidamente, o governo, através do ex. Ministro da Defesa e actual titular dos Negócios Estrangeiros, parece ver a coisa ao contrário.
É bom que o parlamento europeu investigue e leve a sua diplomacia às últimas consequências: envergonhar a administração dos falcões.
O que é que Portugal tem a ver com isto? Nada. Deve prestar os esclarecimentos que sejam necessários, ponto final. Não deve tomar posição antecipada, não deve embaraçar a investigação, não pode não receber qualquer missão da UE. Deve fingir-se moco. Responder e deixar o rumo natural de um processo que é puramente político. E que ainda está só no início.
Porque a perseguição jurídica a Bush será uma grande causa desta geração. E daqui a vinte anos, quem quer ter estado do lado errado?
Namoro com Cavaco
Começa a deixar a impressão que, com esta mordomia, Sócrates terá pouco espaço para apresentar o candidato natural do PS a eleições presidenciais. Sem o meu apoio, claro, Alegre tem de ir à luta.
Não tem de haver cooperação institucional nenhuma! Tem de haver coexistência. O que fará Cavaco no segundo mandato? É óbvio!
Vale para já o partido. Por exemplo, na campanha para o referendo da IGV, o SIM começava a aparecer derrotado, cinzento, a reboque da falta de vigor da esquerda quezilenta. Com a entrada do PS, em Setúbal, o SIM ganhou nova força. E, partido e Secretário-geral, não têm equívocos em relação à sua posição.
Ao mesmo tempo a direita apaga-se cada vez mais a reboque do presidente marido de uma senhora de esquerda. A vergonhosa actuação de Kátia Guerreiro em Goa é o exemplo acabado e feliz de todos aqueles que não se queriam rever numa presidência saloia que envergonha o ser português! Não se dá aquele exemplo só para pagar favores de campanha eleitoral!
Não acredito em estados de graça. Mas o melhor é não brincar com coisas sérias: aquelas que não se vêem à vista desarmada, mas que deixam mossa. Lentamente é a pior forma de perder a credibilidade que pode haver.
Ladies and gentleman: we hanged him!
A indescritível execução de Saddam Hussein mostra bem o que é George Walter Bush. Começo a pensar que o senhor, como qualquer outro déspota, tem sérios problemas de saúde mental. Não sei em que categoria técnica se insere mas, a sua alucinada tendência para a vertigem parece não ter fim. Pode o mundo todo ruir à sua volta e ele parece imóvel do trilho que imaginou. Do seu path.
Não gostei que Durão Barroso tivesse sido o primeiro líder internacional a encontrar-se com Bush após os acontecimentos no cadafalso indigno. Este encontro revela o cinismo de Barroso, o seu permanente bicos de pés, a sua petulância. E mais nojo mete que tenha mencionado Darfur, como se a sua presença não revertesse imediatamente para a "Zona Verde de Bagdad".
Para não continuar alucinado, como o seu copincha, seria bom que Durão percebesse que o povo Europeu não se revê nestes encontros. A velha Europa não está com eles!
As imagens do momento da execução de Saddam não me saem da cabeça. Como é possível que um tirano, como o foi, possa ter tido a oportunidade da mais sublime dignidade. A pergunta "isto é que é ser homem?" (traduzida por vezes como "Isto é que é a humanidade?") deveria ter sido evitada, quanto mais não fosse em nome das vítimas a quem nunca foi dada a chance de tomarem consciência da proximidade de uma morte, que, assim, é edificante.
Infelizmente a humanidade e perante a possibilidade de Saddam recriar nalguns anos a sua influência, tem formas mais correctas de lidar com estes assuntos. Como se viu com Milosevic que se suicidou nos calabouços, por não aguentar a vergonha da perca dos seus ideias palácios. Essa seria a solução adequada se aquelas bestas fossem minimamente espertas e caso se comprovasse o renascer da besta, que a meu ver não é sequer real.
Uma das missões da nossa geração será procurar julgar e condenar Bush pela sua aventura bélica. Não será fácil, mas, ele foi longe demais. E essa será uma missão possível.
Having Joy
No fim de ano, passado no Sobral, aldeia perto de Ferreira do Zêzere, apareceu-nos Joy. É um gato dócil e sedutor como qualquer outro desde que domesticado. Ao que apurámos Joy, é pertença de Joi, um vizinho pouco dado a chouriças e vinho da terra. Ambos os baptismos são copyright da rapaziada, derivados de uma tentativa de envenenamento com dolo, por nós promovida e que consistia na simples ideia de fornecer joi de laranja fora de prazo de modo a racionalizar excessos de comida e, neste caso, bebida que levamos para estes encontros fraternos.
Mesmo com três cães presentes em casa e afastados da sala comum, embora não colocados no seu devido quintal, fruto da falta de canis, Joy entrou, deitou-se na poltrona perto da lareira e aí dormiu que nem um Lord, apesar das conversas animadas, música festiva e permanentes invasões territoriais por parte dos inconsoláveis canídeos.
Fez-me pensar que se calhar somos gente acolhedora. Mesmo que ele seja um vendido, os cães uns patetas pouco argutos e nós assassinos de fraco sucesso, a verdade é que houve uma sensação de conforto e bem-estar que fez com que Joy passasse o ano connosco e não com seus donos.
Formas Proibidas
Ao que sei, para os lados da RTP, anda alguém insatisfeito com a falta de qualidade da ficção proposta à televisão do estado.
Não é esquisito dada a bitola marcada ao longo de anos.
O pior é fazer novelas.
Hoje estreia uma ainda mais grave. Adaptam-se três romances de Camilo e faz-se um só seriado. Três em um. Já nem há seriedade no ponto de partida, quanto mais à chegada.
Conversas de merda
O último "Outras Conversas" de Maria João Avillez foi emitido na SIC N no passado Domingo. Os convidados foram Ricardo Araújo Pereira, Nuno Artur Silva e Herman José.
Este esteve ao seu verdadeiro nível. O paternalismo perante Ricardo, a visão sobre a pintura (Medina versus Paula Rêgo), a desconfiança no Estado por ter sido suspeito de pedofilia, o ego sempre tão equivalente à falta de insight, intelectualidade e cultura. A permanente confiança no cagar levou-o, permanentemente, a errar o buraco.
Só para se ter uma ideia: acha a democracia uma chatice. Concorda que no Senegal se vá preso por fazer lixo e, momento da noite, concorda com a pena de morte para Saddam Hussein.
Eu, que sou contra a pena de morte, concordo com a sentença do povo português. Herman está social e popularmente morto.