quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Piss Christ


Atrasei-me um pouco a escrever sobre esta matéria e causa dessa distracção é que já meia blogosfera (até Pacheco, o pró-guerra o mencionou) relaciona a questão dos cartoons de Maomé com Piss Christ, 1987, a polémica fotografia de Andres Serrano, para a qual o fotógrafo colocou um crucifixo num copo com a sua própria urina. Talvez nem tivesse havido polémica, não fora o título e a explicação da "técnica" que usou para chegar ao objecto.

O mundo assiste à revolta dos muçulmanos por causa dos cartoons publicados num jornal conservador dinamarquês.

Para mim trata-se tão somente de uma questão de avaliação do objecto de um ponto de vista: podem os cartoons ser considerados arte? Do meu ponto de vista não.
Os cartoonistas desenvolvem a actividade com premissas diferentes das dos artistas. Pretendem fazer humor, sátira e/ou crítica. Estes elementos podem ser encontrados nas obras artísticas mas a estas é inerente a criação, a inovação técnica e formal e a expressão de outras emoções, definidas pelo autor, sem compromisso prévio de tipo, nem a soldo de um jornal, galeria, estado, ou outros. A liberdade artística passa pelo descomprometimento inerente à condição do próprio artista. É evidente que os cartoonistas podem utilizar técnicas artísticas, os pintores podem fazer cartoons e os cartoonistas podem desenvolver artes plásticas. Mas os cartoons são, quanto muito, formas populares de representação e portanto a sua avaliação não pode ser feita com base nos parâmetros com que se define a liberdade artística.

Dito isto há uma outra questão que é a liberdade de expressão. E este é um ponto ao qual sou sensível: podem os humoristas brincar com tudo e com todos, salvaguardados pela necessidade técnica de construir situações sem restrições religiosas e outras igualmente sensíveis? Mário Soares, por exemplo, promoveu, ainda Presidente da República, uma exposição de caricaturas e cartoons de que "foi vítima" (e se ele tem inspirado essa rapaziada) ao longo da sua magistratura. É um bom exemplo.
Se por um lado a concertada reacção, porque já ninguém acredita na sua espontaneidade, dos povos árabes é um sinal do vergonhoso estado em que se encontram os seus valores (esclarecer que nenhum estado de direito pode aceitar a forma violenta e fundamentalista como alguns manifestantes se estão a portar), por outro é bom entender que o 4º poder tem de ter, à luz do mundo global em que vivemos, alguma regulação e que a exemplo do que faz na matéria politicamente editorial, sobre a qual toma partido, escolhe quem quer eleger e influencia sem freio a opinião pública e também nas matérias de política externa emite estratégias a defender esta ou aquela solução como foi o caso do director do Público, José Manuel Fernandes, acérrimo defensor da guerra de Bush, seria útil que os valores diplomáticos, o bom-senso e um certo cuidado com o tempo e o contexto fossem critérios considerados.
Por terem sido encomendados vários cartoons a vários desenhadores, sobre a mesma temática, desconfio sinceramente que se possa defender a liberdade de expressão.

E se os muçulmanos queimaram bandeiras e se manifestaram de forma violenta e incompreensível, embora tenham razão no que à provocação diz respeito, já os ocidentais exibiram o seu fundamentalismo de outras formas.
O autor Andres Serrano é subsidiado pelo National Endowment for the Arts. Sim amigos pouco esclarecidos: nos Estados Unidos a arte é fortemente financiada pelo Estado. Lá e nos grandes países do mundo. O que distingue Portugal é que aqui as formas de expressão popular são patrocinadas ao abrigo da confusão intelectual entre arte e produtos comerciais. Por exemplo "Coisa Ruim", recente filme de Tiago Guedes e Frederico Serra, é financiado pelo ICAM, lado a lado com o denominado cinema de autor, ou seja o verdadeiramente artístico, o que não se pretende que seja rentável nas bilheteiras e nos circuitos comerciais. Dizia-me um amigo meu que não obstante o recente sucesso de afluência de espectadores de "O Crime do Padre Amaro", do também meu amigo Carlos Coelho da Silva, que é bom que se diga não foi subsidiado por qualquer dinheiro público (e assim é que deve ser), mais tarde que cedo o público português se fartará de ver ficção de segunda, preferindo a genuína, americana e tecnicamente exemplar.
Acontece que no rescaldo da exibição de Piss Christ, o radical senador republicano Alfonse M. D'Amato, lançou uma cruzada sem precedentes contra o fundo de apoio às artes. Para quem não sabe o xôr (como diria o xôr professor Marcelo) D'Amato é não só um fundamentalista religioso ligado aos todos poderosos Evangelistas, um acérrimo defensor da Guerra e um dos maiores angariadores de financiamento do Partido. Aqui podem ler a sua exposição inquisidora ao senado, a 18 de Maio de 1989.
Já em 1995 os republicanos, então maioritários, conseguiram reduzir o apoio público do NEA de 171 milhões de dólares, para 99.5, como podem detalhadamente ler aqui.

Enfim. Os exemplos de fundamentalismo não param. E talvez o extremo tenha sido o brutal assassinato de Theo Van Gogh, controverso cineasta holandês que expôs em "Submission" a violência exercida contra as mulheres em determinadas sociedades Islâmicas. Curioso como perante tão extremo exemplo, porque aqui se sacrificou uma vida humana, os ocidentais, excepto o ferido povo holandês, não se revoltaram, censurando publica e veementemente o ocorrido, aparecendo agora chocados com a reacção de alguns radicais.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

P: O que foi isto?


R: Fundamentalismo.
s. m., Relig.,
aceitação e defesa de um conjunto de princípios de natureza religiosa tradicionais e ortodoxos tidos por verdades fundamentais e indispensáveis a uma consciência religiosa (individual ou colectiva).

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

O meu amigo Pedro


Podem passar quinze anos que as pessoas não mudam. E até setenta. Nós hoje ficámos mais tempo juntos, os três, sem fazer nada, simplesmente a empatar a nossa despedida. E depois fiquei mais duas horas a falar com o Pedro, atrasado, com imenso que fazer, especialmente hesitante se deveria comprar haveres no supermercado para mais um conviva...

Eu sempre pensei que quando nos voltássemos a encontrar teríamos a mesma intensidade, o mesmo afecto, a mesma honestidade. É aquela coisa que só se faz com um grande amigo. Começa-se a falar logo directo à conclusão das matérias, é esse o ponto de partida das nossas conversas. Porque para além de meu amigo, o Pedro é muito inteligente e isso faz com que se perca menos tempo com o percurso.

Sendo de uma profundidade entusiasmante e inspiradora, o Pedro falou-me até da superficialidade. O meu ego sai muito favorecido das nossas conversas e fico cheio de vontade de voltar a acreditar. Gostava de lhe retribuir, não é isso gostar de alguém?, e se calhar, em menor, escala também acontece.

A minha vida mudou radicalmente quando conheci o Pedro (e o Paulo, claro). E como dois anjos, regressaram no preciso momento em que estou de novo à beira de mudar.
E apesar de termos falado de quase tudo o que é possível falar, acho que só falámos mesmo de amor. Não chegámos a nenhuma conclusão porque, claro está, isso estragava a conversa que vamos ter daqui a quinze anos.

Ainda estávamos os três quando passámos cinco minutos à procura de um número de telemóvel escondido nas costas de uma pauta. É com estas pequenas partidas que o nosso subconsciente nos recorda a alegria de viver. E até porque pedimos ao Paulo que nos deixasse abrir a pasta mágica dos sonhos em cima de uma mota, para provocar um incidente. O Paulo, não se desmanchando, vestiu imediatamente o hábito e qual professor e mestre indicou o espaço propriamente colocado pela civilização para abrir as malas dos sonhos, das fantasias e das máscaras.
Por seu lado o Pedro, acho eu, levou demasiado a sério a parte das máscaras e repreendeu-se a si próprio sem razão nenhuma.
O que eu acho que o Paulo percebeu e bem é que nós só quisemos provocar o tal incidente porque sabemos que ele não nos deixaria. Se alguma pequena coisa mudou é que nós agora também podemos ser recíprocos e às vezes também não o deixar fazer qualquer coisinha que ele não queira realmente fazer.

Eu, por andar metido com os imortais, ganho uma áurea especial que faz de mim um semideus. E isso já me chega.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

A democratização do Golfe

O Presidente Jorge Sampaio continua o seu séquito para terminar o mandato de forma a lembrar-nos quem é, de onde vem, para onde vai. Desta vez foi ao Belas Clube de Campo apadrinhar um torneio de Golfe que doravante se chamará "Taça Jorge Sampaio". E foi ao limite daquilo que um Presidente pode ir, no que à imaginação e criatividade diz respeito: propôs a "DEMOCRATIZAÇÃO DO GOLFE": Assim sem mais. Não foi a popularização da prática de golfe, não foi a promoção com vista ao aumento do mercado interno, não foi a angariação de mais gente para alimentar mais e mais campos de golfe. Jorge Sampaio deu até o exemplo dos países nórdicos, onde o povo comum pratica a modalidade. A notícia foi amplamente divulgada em todos os órgãos portugueses, mas em meu entender não se discutiu suficientemente esta matéria à posteriori. Resolvi pensar sobre a democratização do golfe e não só. Que outras áreas podem ser democratizadas? A que é que é preciso associar o nosso espírito filantrópico e solidário? Eis algumas respostas...

O ski alpino também precisa de uma democratização. Em primeiro lugar porque também nos países nórdicos, pobres e ricos, pessoas claro está, o praticam igual e regularmente. Uns com os kispos mais fashion de último grito, outros com fatos de macaco coloridos dos idos 80, verdadeiras rainhas da noite, emprestados e corroídos com o passar dos anos (uma das medidas para esta acção será a recolha de fatos de ski em desuso para serem distribuídos pelas famílias portuguesas que, sem posses, se queiram dedicar às modalidades na neve). Nesta área há um problema cultural que é preciso inverter: o tuga está habituado a quanto muito ir à Serra da Estrela fazer o tradicional sku e talvez inicialmente não entenda bem que se pode deslizar na neve em pé. Mas também para muitos de nós os tacos de golfe servem para dar umas traulitadas num companheiro de tasca num eventual desaguisado e não para colocar pacientemente uma bola num buraco a quilómetros de distância. Também para muitos de nós, humanos, a ideia de andar verticalmente seria inconcebível há umas centenas de milhares de anos atrás.
Toda a malta pode, se assim quiser, fazer ski. Se não tem posses para ir a Chamonix, vai a Soldeu/Pas de la Casa. Se não pode ir a Aspen vai a Morzine/Avoriaz e por aí fora. Há um velho pensamento que me persegue. Os ricos sabem gastar utilmente o seu dinheiro, os remediados não. Bastaria que um chefe de família não comesse e não desse aos seus filhos refeições diárias substituindo-as por almoços de três em três dias e jantares duas vezes por semana, para ter dinheiro suficiente para: comprar o conjunto de tacos de golfe ao fim de um ano, em alternativa passar uma semana de férias no Algarve com acesso ao campo de golfe em dois anos (o que sem tacos seria complicado) ou ir à Serra Nevada com o agregado familiar, forfait, meia pensão e aluguer de skis e bastões em três anos de esforço de contenção alimentar.

O modo de vida da rapaziada da Quinta da Marinha também precisa de uma democratização. E sobre esta matéria sejamos claros, sejamos muito claros: se todos vivêssemos com a qualidade de vida dos habitantes daquele território não haveria pobreza!
Em segundo lugar todos tínhamos estudado na Suíça, todos fazíamos golfe e todos praticávamos ski. Éramos todos, a bem dizer, democratas.
Se não houvesse pobres seria como se não houvesse muçulmanos e assim poder-se-ia brincar com a desgraça alheia e com Maomé, sem receios e sem o olhar retorcido do querido leitor.

Outros povos necessitam da nossa compreensão e solidariedade, como é o caso muito específico e pouco cuidado, dos povos oprimidos do Principado do Mónaco. Deve ser chato toda aquela condensação de abastados por metro quadrado, de notícias sobre a família principal, de iates, de mansões, de fortuna e de caprichos. O Presidente faz tenção de ir a Timor Lorosae (não sei se vai também democratizar o golfe em terras de Xanana), mas deveria incluir uma visita aos povos oprimidos do Mónaco só para promover mais uma democratizaçãozita.
Todas as pessoas que vivem em mansões com mais de um hectare de área habitável precisam de afecto e gestos de amizade porque vivem geralmente muito sós e têm dificuldades que nem nos passa pela cabeça. Andam mais quilómetros dentro de casa (indoor) que qualquer outro ser vivo, deitam pão fora com um beijinho no corpo de cristo e não são reconhecidos como toxicodependentes , apesar do Prozac e do Xanax e outros barbitúricos que terminam em sílabas com codas ramificadas (piada linguistica). Na realidade há o agarrado (heroinómanos arrumadores), o toxicodependente (classes médias que incluem heroína, cocaína e speed ball) e a Senhora Condessa que está com uma ligeira indisposição.

Em plena crise suscitada pela discussão sobre a liberdade de expressão há também a necessária democratização dos cidadãos que exercem directa ou indirectamente a tortura física, psicológica ou política.
Relacionado com esta matéria o nosso ainda presidente é um mestre numa área pouco democratizada que é o equívoco. Sobre a intervenção no Iraque não permitiu que as orgulhosas tropas de Portas avançassem. É um pai ao contrário: em vez de dizer "comes o bife" disse aos portugueses "pelo menos comes as batatas fritas" e pimba avançou a GNR, sem uma palavra do comandante supremo, que afinal até se pronuncia sobre cartoonistas e jornais do Reino da Dinamarca.
Claro que Bush, Blair, Aznar, Berlusconi e Durão prometeram uma guerra higiénica, limpa, onde só se atacaram alvos militares. E é também evidente que os danos colaterais que sa fodam! Mas as torturas verificadas, fotografadas, filmadas e incontestadas, desde que encaradas com o sorriso do presidente americano e uma verificável consternação do presidente português projectada na democratização do Golfe, de uma certa forma deixa-nos muito mais descansados.
A solidariedade para com os torturadores é uma democratização emergente e necessária no âmbito até quiça da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Pois que um tipo que dá umas descargas de voltagem num cabrão de um árabe, ou um militar armado até aos dentes que espanca um puto agitador (claro que árabe também) merecem o nosso respeito e consideração. Claro que José Manuel Fernandes e Pacheco Pereira, os maiores defensores da guerra junto da opinião pública o poderiam explicar melhor se não tivessem calados que nem dois filhos de um Deus maior como é o nosso, mas há eventualmente algo comum ao sujeito que tortura e ao que se cala depois de o ter legitimado.
Nas fotografias na prisão de Abu Ghraib verifica-se que a rapaziada estava divertida na prática de tão bonita e poética actividade de violentar prisioneiros, inocentes ou culpados (vale o mesmo para o caso). Não é que no recente vídeo que demonstra um "alegado" espancamento de um grupo de soldados britânicos estacionados no Sudoeste Iraquiano, também se ouve o divertimento do cameraman de conveniência? Por mais que uma tortura possa parecer chocante a verdade é que deve ser agradável praticá-la, pelo menos divertida é.

Agora é a parte em que eu próprio estou confuso. Como é que se vai da promoção da democratização do Golfe à defesa da democratização da tortura? Será que eu estou a sugerir que Sampaio ao defender o Golfe é apreciador de tortura humana, mesmo sendo-o assumidamente da tortura animal? Não, de certeza que não, mas a verdade é que a voz de um Presidente, deve ser inequívoca e não pode deixar qualquer confusão no espírito de ninguém sobre as suas causas reais, as motivações que verdadeiramente valem, a noção de missão. Antes queria uma palavra sua que condenasse a tortura que mil reportagens sociais na revista Caras.

E depois há a democratização do espírito pato bravo. Com um país paisagística e arquitectonicamente arruinado como o nosso, nada mais ecológico que desatar a contraplanar, relvar e regar a nossa paisagem, com a construção de campos de Golfe a granel. Mesmo que encerre uma contradição estratégica. Ora se o Algarve cresceu da forma como nos é apresentada a periferia de Lisboa, Reboleira, Cacém e afins, não é evidente que ao serem edificados empreendimentos de baixa categoria, o turista tipo é aquele que menos interessa? Pois não será que em vinte anos o turista, que hoje é classe média e média alta, passará a baixa e aí virão os porcos, sujos, hooligans, que não são alvo de nenhum país que pretende ter no turismo um sector chave para o seu desenvolvimento?
Onde está a concepção ambiental do território? Que variedade de propostas de qualidade ecológica, rural e/ou ambiental está a ser equacionada? Não será que os praticantes/turistas preferem campos verdadeiramente atractivos e desportivamente desafiantes a campos a eito, sem enquadramento de referência? Os campos de golfe são como as piscinas municipais?

Por fim há um território nacional onde a democratização do golfe será implementada de forma muito diferente. Justamente Jorge Sampaio conseguiu estar dez anos calado, não sobre o tal território, mas sobre a democratização nesse arquipélago que é a Madeira de Alberto João. Aí, terá de se aplicar outro conceito, onde sim proliferem os praticantes, mas não se utilizem expressões pouco convenientes. No fundo convém respeitar a ditadura estabelecida, mesmo com carros que explodem em vésperas de eleição. Afinal só estoiraram automóveis de tipos da oposição que falam em democratização e merdas dessas. Mas não a do Golfe, que é a que conta.

Para um rapaz que foi criado no Pendão, localidade da suburbana Queluz e que faz fronteira com Belas, esta ideia de democratizar era bem diferente. Nós não éramos burgueses e portanto defendíamos e praticávamos a democratização das fisgas, dos carrinhos de rolamento e especialmente a democratização de imprensa de especialidade. A todos os miúdos da vizinhança era garantido o acesso às Ginas e Tânias, afinal o primeiro contacto de muitos de nós com algo literário, que não os livros escolares. Sim, porque pornógrafo que se preze gosta é da história.
Outras causas defendemos, também como Sampaio, durante anos a fio, sem conseguirmos a sua democratização. O caso do Peão é um exemplo, por causa do Pilão, peão com biqueira d'aço, ou seja cujo prego na ponta era mais sobressaído e que tinha propensão, entre outras coisas, para destruir o humilde peão com a ponta do prego chamemo-lhe "normal".
Mas o caso que pode servir filosoficamente de exemplo para os portugueses que queiram reflectir sobre a implementação da democratização do Golfe, ou melhor, tudo o que não fazer para que uma democratização falhe, é o chamado caso Bilas.
A democratização do Guelas falhou. E falhou redondamente. Os motivos são hoje claros: a ganância e a batota, arrasaram um desporto que tinha tudo para ser devidamente democratizado. Para já era barato. Mesmo aqueles mais favorecidos que tinham sacos de rede cheios de coloridos Berlindes, não gastavam tanto como se gasta por exemplo... olhem com os tacos de Golfe. Depois havia os Abafadores, Guelas maiores e os Berlindes igualmente em vidro, mas com o banho de prata que o transforma em espelho, as chamadas Esferas. Para abafar outros Berlindes as regras dependiam. Ou se ganhava aos três buracos, ou se batia três vezes com um Abafador ou com as Esferas. Sempre se tinha era de ser mais velho que o oponente.
Aqui tenho uma grande dúvida que procurei solucionar sem sucesso, uma vez que ninguém se lembra. Talvez alguns amigos me queiram esclarecer nos comentários. Os buracos, ao contrário do mui apreciado Golfe, não tinham números. Eram como pessoas, tinham nome. Chamavam-se "primeira", "meia-cova" e "cova" os nomes dos buracos do jogo do Guelas?
Ao contrário do Golfe, no Bilas não se escolhia o instrumento por ser adequado à distância ou ao tipo de terreno como se faz com os tacos. Os Guelas eram escolhidos por fezada, havendo malta que usava determinado Berlinde várias vezes seguidas vencedor. O tradicional Pirolito era amuleto de alguns e a Estrela (Guelas complexo com uma estrelinha dentro, qual barco dentro de uma garrafa) de outros.

O problema da democratização do Guelas teve origem no histórico galmaruço. Toda a gente, quando jogava, o fazia. Quando se estava em posição de espera, denunciava-se o galmaruço adversário. Ora isto deu origem à confusão generalizada. O que é um galmaruço justo? Não há, pois não?
No Golfe, por ser um desporto ainda por democratizar, o pessoal abastado é digno. Quando se retira a bola e se volta a colocá-la na marca colocada pelo próprio player, ninguém faz batota. O problema vai ser quando o Golfe estiver democratizado. É que, pelo menos, a malta da minha criação vai toda ter tendência para ganhar uns palmos assim que tiver de recolocar a bolinha. E aí vai começar a desmocratização.


São estas profundas questões que Sua Excelência o Senhor Presidente da República colocou.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Alguém cale o homem

A única vantagem das recentes eleições presidenciais é o facto de implicar o silêncio das bordoadas do ainda Presidente.
Quando já ninguém esperava eis que desata a desenterrar a regionalização. Mas quem é que quer ver essa questão tratada? Quem tem interesse nessa fantochada ridícula e desfasada da realidade geográfica e populacional? Algum dado novo de mudança nas intenções do povo português, ao contrário da questão sobre a interrupção voluntária de gravidez, me escapa?
Hoje veio juntar-se aos coros hipócritas que censuram a reacção fundamentalista dos povos árabes â polémica sobre os cartoons. Mas alguém põe em causa que a liberdade de expressão é um valor fundamental para as democracias ocidentais e para o próprio Jorge Sampaio? O problema é a origem, o momento e a provocação gratuita de que efectivamente os muçulmanos foram alvo (aliás explicada por um facto objectivo: não se trata de um cartoon. Trata-se de uma encomenda a vários "artistas" sobre um só tema, Maomé. Não sei que raio de liberdade artística é essa. Sobre este amplo tema preparo uma exposição mais detalhada) e não a reacção concertada e pouco dignificante, aliás ampliadora do efeito por eles (muçulmanos) considerado nefasto. Acção, reacção.

É que justamente hoje, foram divulgadas imagens de uma situação de tortura repugnante e miserável. Cometida precisamente pelos arautos da liberdade, os ocidentais, contra os malfadados e satânicos, ainda que miúdos, islâmicos. Se eu desse o benefício da dúvida ao Presidente ainda diria: OK, quando falou não sabia da revelação das imagens. E agora que já sabe? Vai condenar ou ficar calado? E seus compinchas Alegre e mais não sei quem? Também vão falar de liberdade?
É que se agora não o fizerem vão dar a ideia ao povo esclarecido que simplesmente comentaram os cartoons para criticar a intervenção de Freitas do Amaral que, a meu ver bem, procurou pôr água na fervura e não mais lenha na fogueira.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Match Point (toda a história de como ganhei 183 Milhões de Euros no Jackpot do Euromilhões, com apenas 4 de investimento)

O ponto de partida do último filme de Woody Allen ajusta-se bem ao júbilo que sinto neste momento. Dizem que o dinheiro não traz felicidade, mas então expliquem-me porque estou desmesuradamente feliz, incomensuravelmente alegre, desmedidamente eufórico. O filme começa com uma bola de ténis que bate na rede e fica suspensa no ar. Se cair para o nosso lado, perdemos o ponto, somos azarados. Se cair no campo do adversário, a sorte está connosco, somos vencedores.
Pertencer a esta sociedade implica ter sorte e requer aceitar os valores de sucesso relacionados com a capacidade de arranjar e ter dinheiro de forma inteligente, sendo-o mais que os outros.

Eram seis e vinte e quatro da tarde quando decidi que também ia apostar. Tinha estado muito indeciso dado só ter uma em setenta e seis milhões de hipóteses de conseguir concretizar este projecto. Resolvi, em boa hora, reduzir esse número para algo mais realista: apostando duas vezes, teria francas hipóteses uma vez que a relação passaria a uma para cerca de trinta e oito e meio milhões.
Nestas coisas convém contar um pouco com a fé. Mesmo um ateu convicto, fundamentalista posso dizer, tem motivos para evocar a fé, para acreditar que algo sobrenatural pode interferir no momento de fazer sair as bolas e entregar de mão beijada os cento e oitenta e três milhões de carapaus de bigode. Pode ser Deus, pode ser o Padre Cruz, pode ser Buda e até pode ser Maomé, com ou sem bombas na carola. Em circunstâncias tão especiais, um ateu não discrimina nenhum interventor. Naquele momento, no preciso momento em que decidi apostar, evoquei a fé, acreditei piamente que ia vencer. Em toda a minha vida só voltei a ter essa sensação mais uma vez. Quando os meus quatro pobres Euros se juntaram aos cinquenta e quatro milhões dos outros portugueses.

Preparei-me para sair mas um e-mail reteve-me. Um amigo enviou-me um divertido power-point que não podia deixar de ver. Simplesmente adoro receber essas mensagens que podem ser poéticas, com fotografias de pôr-do-sol alaranjado e buganvílias inspiradoras e que transmitem mensagens tão profundas, tão profundas, que quando acabam nos deixam uma sensação de desconforto. É como se fosse tão explicativo que não deixa espaço nenhum para a reflexão.
Mas também podem ser cómicas, como foi o caso. O que é afinal o sentido de humor? Não sei de onde me vêm estas características ditas humanistas de ser a favor da igualdade de género, de orientação sexual, contra discriminações de qualquer espécie e feitio. Mas eu, que até contra as claques de futebol sou, não pude evitar desmanchar-me a rir quando os NoName Boys exibiram uma faixa aos Super Dragões que dizia: "Bem-vindos à capital, povo de merda".
Talvez seja isso o humor, a quebra de alguma regra, de determinada lógica. Este e-mail trazia um sinal do além. Era de tal maneira cómico que anunciava o estado emocional que me viria a encontrar horas mais tarde.
Tratava-se de uma sequência racista, machista e homofóbica. Durante quinze slides não consegui parar de rir. Para finalizar um toiro acabado de ser morto em plena arena e um balão esclarecia o pensamento do matador triunfal: "Tu já não me pões mais os cornos". Muito giro. É que eu também defendo as causas da dignidade e dos direitos dos animais. Só nunca percebi muito bem o argumento dos que não acreditam que se possam defender os direitos dos animais, quando há tanto sofrimento humano no mundo. Não consigo comparar a nossa espécie com outras, simplesmente não consigo. Acho até que são direitos diferentes, não relacionáveis, de que se trata. Adiante...
Atrasado como estava, este e-mail tinha um óbvio inconveniente: o tempo que demorou a descarregar... e depois de tanta folia, eram dezoito e quarenta e sete, acreditem ou não eu só desejava receber outra sequência comediante. Seria o mesmo que por qualquer motivo mágico a SIC decidisse pôr o Herman José em directo, para nos fazer rir com as suas piadas, ou melhor ainda com uma entrevista cómica de preferência a uma personalidade estrangeira e top of the tops, uma figura de alto calibre, de Sting para cima!
Era um final de tarde destinado a ser de fantasia pura. E foi, acreditem como eu acreditei e acredito.

Só tinha jogado uma outra vez na vida, num Jackpot anterior e isso talvez seja parte do segredo do meu sucesso. Mesmo sabendo que há menos hipóteses de ganhar, porque ao contrário do que nos diz a matemática ao explicar que o número de apostadores não interfere nas possibilidades próprias de acertar, tão só aumenta as probabilidades de vários o fazerem, estou convicto que quanto mais apostarem menos chances tenho. Aliás noto uma relação curiosa, de um certo egoísmo, entre o povo português e este jogo. A pergunta que mais se ouve não é "qual é a chave?" mas sim "houve totalistas?". Isto porque apesar dos nossos desconcertantes sonhos, sabemos racionalmente que nunca nos tocará, portanto a única forma de nos consolarmos é sabermos que também ninguém se fica a rir.
Como dizia, este foi o segredo do meu sucesso. Nunca jogar, esperar pela minha vez, interpretar os sinais (os sinais são diversos: o meu cão Jaqué ainda não deu nenhum pum hoje, a vizinha de cima já deixou cair as cuecas no quintal, o bêbado da rua é apedrejado por quatro ou cinco ciganitos, só se tiverem à volta de quatro cinco anos, senão não é um sinal, etc.), aguardar tranquilamente por aquele momento em que está escrito nas estrelas e pumba! Ir triunfante ao pote buscar o ouro.
Por exemplo, eu jogo poker online. Nunca joguei um tostão é certo, faço-o no "practice play", no fundo o simulador, igualmente viciante. Sempre que fico a zeros a banca credita-me mil dolarzitos virtuais. Já lá devo ter ido oito ou nove vezes. Esta semana contudo já tinha seis mil e tal santolas americanas, quando apanhei uma piela e decidi que ia duplicar esse número. Perdi mais de metade e já só tenho três mil carapaus, mas o sinal está à vista. Desde que se esteja atento percebe-se. É que quando saí para registar a aposta, estava sóbrio.
Aqui fica a minha ameaça à Santa Casa da Misericórdia: só jogo de cento e cinquenta milhões para cima.

Saí rapidamente carregando comigo todos os problemas parecidos com os de um jovem virgem que quer comprar preservativos. Não tinha caneta, não tinha boletim e não sabia onde jogar, apesar de estar no meu bairro. Dirigi-me ao Restaurante Lucimar e lancei a discussão entre os meus amigos/vizinhos presentes. Raio de apostadores, tresadando a crença, porque embora todos já tivessem jogado, nenhum sabia ao certo onde o fazer no próprio bairro, não vá a sorte acenar num final de tarde sombrio e frio e mais que convém jogar longe, jogar bem longe, para salvaguardar o anonimato de tal feito contra a coscuvilhice generalizada. Divididas as opiniões sobre virar à esquerda ou à direita na Rua da Beneficência (cujo nome é outro sinal) decidi virar, obviamente à esquerda (mais um sinal). Chegado à papelaria "Bélgica", às dezoito e cinquenta e três, afinal não aceitavam inscrições pelo que tive de descer a Beneficência até ao cruzamento com a Filipe da Mata e fazer meia rua até alcançar o pequeno tasco que recebia palpites. Como o resto do país, também o meu bairro funciona ao contrário: a papelaria não aceita jogo que é registado num pequeno café. Preencho o meu boletim com a mágica sequência que havia sonhado e apresento-me ao senhor que no limite é o portador da boa nova, o pastor que cumprirá o ritual da absolvição e da ressurreição de um indivíduo que ao contrário de pertencer ao mundo dos deuses é ingenuamente demasiado humano, contudo à beira de mudar radicalmente de vida. Uma vida de Rei Sol, a bem dizer.
Um último pormenor. A senhora dos seus sessenta abre a porta de uma pequena e imunda cozinha e estranha o frio que a consterna. O homem, seu eventual cônjuge, esclarece que ligou o extractor porque um cliente esteve a fumar. Por cima do plano aproximado do seu rosto, mais amplo que um grande plano e em profundidade de campo, foco uma prateleira com várias marcas de cigarros. Todo o mundo está definitivamente de pernas para o ar. Não se fuma num tasco imundo, não se fuma em sítios que vendem cigarros, os extractores fazem frio, apesar das baixas temperaturas que se verificam as pessoas ainda conseguem descobrir motivos para ter mais frio, são dezoito e cinquenta e oito e um acto pessoal consequência da ganância atroz dum ainda mortal dá quatro Euros à Santa Casa. Misericórdia, meus senhores, misericórdia.

O projecto de como gastar e viver com cento e oitenta e três milhões de Euros está pensado ao pormenor e será executado minuciosamente. Sei que algum dos meus queridos amigos (ou melhor, alguns dos alguns que chegaram até aqui) já pensou sobre isso. Mas não se trata de uma mera fantasia. Aqui é a parte real dos meus pensamentos.
Um amigo meu, a quem chamamos carinhosamente General, esclareceu a sua ideia sobre como utilizar o dinheiro nestes casos. Acontece que estava desfasado uma vez que na altura partíamos de uma base de cento e vinte cindo milhões, então alguns Jackpots atrás. Ele gastaria vinte e cinco milhões e aplicava cem a prazo, o que a um juro calculado por baixo lhe garantiria dois milhões e meio/ano, ou seja à volta de quarenta mil contos por mês.
Eu quero gastar oitenta e três milhões e guardar os outros cem. Assim concretizarei os meus sonhos de investimento em várias áreas, a vida de alto luxo a que me vou dedicar e a criação de duas Fundações, dedicadas a ser um filantropo com gestão directa.
A primeira coisa que se faz é ligar a uma amiga Directora de Comunicação de um grande banco e fazer com que me abra as portas nessa mesma noite. Depois garantir que cinco milhões ficam imediatamente disponíveis para os primeiros gastos de urgência. No dia seguinte, Sábado, pegar em Eufrásia, minha esposa e levá-la em primeira classe para Roma. Aí comprar um Ferrari e mandar entregá-lo em Lisboa. Tive necessidade de fazer alguma pesquisa para esclarecer que modelo pretendo. Até agora pouco me interessavam carros e muito menos carros de largos milhares de contos. Quero este:

F 612 Scagllietti, 2005

Tem quatro lugares, é portanto um roadster familiar.

O motivo de o comprar em Itália é porque cá de certeza que não arranjava para entrega na hora. Depois ainda na cidade do Vaticano visita à Capela Sistina, não por qualquer agradecimento, mas como reconhecimento de um facto objectivo. Ambos, eu e o Papa, fomos escolhidos por intervenção divina. Também eu próprio necessito de novo guarda roupa adequado às novas funções e este é um bom sítio para começar.
Segunda-feira viagem para Milão para mais umas roupas e quarta-feira Paris. Londres na sexta e Sábado regresso a Portugal. Sempre nos melhores hotéis, sempre as lojas mais fashion. Depois é fácil.
Contratar um gestor de topo para os negócios, nomeando a minha mãe administradora financeira. Completar o primeiro ano da Faculdade, para interromper a licenciatura. Começar a construção da Mansão e da respectiva floresta envolvente. Casar em Agosto, lua-de-mel em Aspen (quinze dias) e Polinésia Francesa (outros quinze). Entregar os cinco milhões definidamente repartidos a familiares e amigos. Em Outubro, ir viver um ano para Nova Iorque. Frequentar o Actor's Studio e MBA para a Eufrásia na Columbia University. Regressar um ano depois, já com o primeiro filho (inscrevê-lo na lista de espera do Colégio Moderno) e retomar o curso de Letras. Colocar Eufrásia como Administradora da Comunicação da HB Holding e por aí fora.


A minha chave (07-08-20-23-45 e 04-05 e; 07-08-14-20-23 e 04-06) não resultou. Na realidade não acertei um só número que fosse. Em minha opinião deveria ter direito a qualquer prémio, deve haver menos pessoas a não acertar qualquer número que o contrário. Mais azar que eu só tiveram mesmo os três totalistas. Acertam e levam sessenta carapaus para casa. Eu, menos de cento e cinquenta?????
Obrigadinho, vou continuar com a minha vidinha.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Eu bem queria...

... deixar de escrever neste blog. Bem queria arranjar uma despedida simpática, mas que no fundo castigasse os que sabem e gostam da sua existência e não o frequentam e, ao mesmo tempo, homenageasse os que diariamente o fazem, salvaguardando que desistiria por pouco empenhamento dos leitores esporádicos (preguiça generalizada, excesso de oferta bloguistica, pouca e-divulgação da minha parte e eventual falta de qualidade).

Pois que tenho pensado muito no assunto. E todos os dias me ocorrem mil ideias sobre o que vos quero, meus amigos, dizer.
Acima de tudo estou de volta ao título e à motivação inicial do presente blog. A injustiça que o povo português fez a Mário Soares, a fuga para a frente com que elegeu Cavaco, a profunda derrota da esquerda, transvestida de quase vitória (como se não houvesse, em caso de passagem, um segundo resultado a escrutinar) e castigo ao PS, por via da entronização do poeta Alegre, com actualizações diárias dos contornos de malvadez da sua personalidade e dos que o directamente o rodeiam, embora acredite na boa fé de parte de parte dos seus eleitores, ao engano dos valores da falsa moral e da política pura mascarada. Para o comprovar foi a baixa médica "para descanso", não obstante a presença em jantares e comícios pós eleitorais e, como bem salientou Pedro Silva Pereira, é irónico alguém passar uma campanha inteira a dizer que "ninguém é dono dos votos" e agora os reivindique.
Depois claro está, o beco sem saída a que toda a sua atitude, esclareço politicamente reprovável, o levou. Se não voltasse para o parlamento falharia o mandato para que foi eleito, embora o tenha eticamente comprometido não tendo votado o 2º documento mais importante da Assembleia, o Orçamento de Estado (e "porque não foi preciso", frase que revela bem o espírito democrático do animal. E aqui um sub parêntesis: animal não foi empregue no sentido depreciativo com que ele encara as suas vítimas de outras espécies, nas suas celebérrimas caçadas desportivas. Este contexto, aliás, faz com que se criem mitos e boatos à volta da criatura: contaram-me que, em caso de vitória, estava tudo preparado para o receber numa "caça grossa", ou seja a animais de grande porte, a ter lugar na Guiné. Claro que não acredito, porque pergunto: o que é que tem a eleição a ver com semelhantes práticas? É preciso ganhar para se darem uns tiros em cheio em rinocerontes, elefantes, leões e etc.?). Embora tenha votado o mais importante, a génese do referido, o Programa de Governo.
Ter aceitado retomar o cargo também foi desagradável para o discurso dos últimos meses. Integrando a bancada parlamentar, que se quer disciplinada em qualquer partido, porque os deputados estão ao serviço de quem os elegeu e não da táctica política de circunstância, Alegre vai causar estragos*. Começará por votar de acordo, mas à primeira incerteza sobre a sensibilidade da opinião pública em relação a determinada matéria, votará contra. E assim o afirmará, naquele tom com que António Silva parodiava a representação dramática e que usa e abusa para gáudio e aplauso frenético dos seus correligionários.
Seguidamente repetirá a proeza, duas ou três vezes, forçando a demissão do líder Alberto Martins, seu parceiro estratégico que não se negará a colaborar. Aí o povo pensará: o PS está mesmo mal.

Helena Roseta será candidata à Câmara Municipal de Lisboa, contra o PS, porque "a política também se faz com afectividade" como gosta de dizer e terá Manuel Alegre a seu lado, a distribuir rosas e punhais ao povo, só que desta vez será difícil contar com a presença de Mafalda, sua simpática esposa.
Poucas dúvidas restam sobre quem se mexe para ser o candidato do PS: Mega Ferreira, ou alguém do seu exército. Para mim seria Pedro Silva Pereira o candidato ideal. Como as autárquicas são antes das legislativas, às quais José Sócrates tem lugar garantido e com possibilidades de vitória, talvez seja o momento de António Costa. É verdade! Juntar-se-iam três vontades e era estrategicamente útil para todos: Sócrates, Mega e o próprio Costa.

Eu bem queria deixar este Estado. Mas a verdade é que não estou ainda preparado. Quando surgiu, governava Durão Barroso e, apesar dos laivos de condescendência que fiz a alguns aspectos pessoais, o meu interesse sempre foi político, no sentido social. E o clique para continuar foi a tentativa de casamento de Teresa e Lena.
Sim porque qual é o homem que não se motiva pelo lesbianismo?










*- Não ponho em causa que em caso de grande consternação política, ética ou moral, um deputado possa votar noutro sentido em relação à orientação da direcção do seu partido, pela qual foi escolhido. Isso só não acontece no PCP e no Bloco. Mas, como foi verificado na votação da co-inceneração, essas não são geralmente as motivações tacticistas de quem emprega tal estratégia. Tomemos um exemplo: quando se tiver de legislar o projecto, financiamento ou algo relacionado com o aeroporto da OTA, imaginemos que Manuel Alegre vota contra, de acordo com as dúvidas que manifestou em campanha eleitoral embora a verdade é que sabe que a comunicação social ao invés de esclarecer, enviesou a opinião pública. Ora o Novo Aeroporto de Lisboa fez parte do programa do PS e do Programa de Governo. A quem deve Alegre a sua fidelidade? Aos votos expressos ou aos apetites de simpatia?
Sobre os votos por afinidade regional em relação ao ciclo político pelo qual se foi eleito tenho dúvidas técnicas e políticas. Não me parece que faça muito sentido, num país tão pequeno e com tão pouca gente, que os eventuais interesses de poucos se sobreponham aos da generalidade dos cidadãos. Por favor não confundir com o respeito, inclusive em forma legislativa, devido às minorias étnicas, religiosas e políticas, assim como a igualdade de género e orientação sexual, que é outra matéria.