O Estado NEGAÇÃO
sexta-feira, julho 28, 2006
quarta-feira, julho 26, 2006
Job for the old boy
Manuel Alegre de Melo Duarte foi caçado. Não cometeu nenhuma ilegalidade, tão somente vieram a público as suas benesses enquanto funcionário público.
É extraordinário. Primeiro a ala esquerda do PS, inclusive quase todos aqueles que apoiaram Soares, multiplica-se em explicações e censuras ao facto, via declarações em blogues e afins. Todos querem pôr a cabeça de fora por Alegre. E compreende-se. Metade procura unir espingardas em vésperas de congresso, outra começa a lançar-lhe a escada para ser o candidato de esquerda nas presidenciais de 2010. Eu até apoio esta via...
Não obstante Manuel Alegre, segundo a Caixa Geral de Aposentações, vai receber 3.219,95 Euros de reforma por ter sido até há pouco tempo (não se sabe quando, ninguém esclarece) funcionário daquela estação.
Acontece, giro, que foi nomeado Director dos Serviços Criativo e Culturais da RDP logo após o 25 de Abril. Mas como em 1975, menos de um ano depois, foi eleito deputado e consecutivamente até aos dias de hoje, terá sido Criativo pouco menos de um ano. Conclusão: sim foi um BOY, não venham com tretas!
Alegre, imagino, com o seu jeito bem humorado, aquele sorriso estático que acompanha o aspecto permanentemente corado, presta declarações fantásticas.
Diz que optou por um terço da reforma e dois terços de ordenado. Claro, ou isso ou vice-versa, como manda a lei. A questão é depois de ter ordenado: vai receber a totalidade da reforma (6.079,00, sendo 3.219,95 da rádio).
Afirma que nem se lembrava disso, não fora carta da Caixa de Aposentações. Bolas. Mais seiscentas mocas, menos seiscentas. Viva a justiça social!
Declara que "sempre descontou". Extraordinário. De duas uma: ou é um benemérito, ou sempre descontou de uma remuneração de um trabalho que não desempenha desde 1975!
Por fim mostra-se ofendido até porque nem pediu os descontos pelo tempo que esteve exilado, porque acha que é "uma obrigação lutar contra a ditadura". Aqui, sinceramente, faltou ter feito estas afirmações enquanto colocava um ramo de flores na campa de um qualquer herói do 25 de Abril, porque mereciam o cenário preferido do poeta.
Acho que a malta do PS que o procura defender não está bem da cabeça.
ELE É QUE APARECEU COMO O SENHOR ANTI SISTEMA E O ARAUTO DOS BONS COSTUMES, CONTRA A POLÍTICA, OS POLÍTICOS E OS BOYS! AFINAL ELE É UM BOY COM SETENTA ANOS!
Ana Sara Brito, dirigente do MIC (Movimento de Intervenção Cívica) diz que ele devia doar a pensão ao movimento (imagino porquê e imagino a causa real desta polémica, faltam uns acertos não é rapaziada?). Lindo.
Depois: "não fazia ideia que ele fora funcionário da rádio, só Mário Soares é que devia saber".
Comprova-se assim que estes senhores tiveram todos razão durante a última campanha eleitoral. A culpa é do Mário Soares.
Helena Roseta, à hora do fecho desta edição, ainda não acrescentou nenhum gag.
terça-feira, julho 25, 2006
Políticos em stand by
Comecei por explicar como o Prof. Marcelo a reboque do Big Brother criou no país um clima anti António Guterres, que levaria à sua demissão e eleição dos governos Durão/Portas/Santana/Bagão/Ferreira Leite e a vergonha a que o país assistiu, com a devida participação do cinzento Sampaio.
Depois, várias vezes alertei para a proliferação do problema: Pacheco Pereira, Luís Delgado, Carrilho, Portas... Uma panóplia de comentadores/actores.
A veiculação de opinião emergente dos políticos passa-os para o outro lado. Enviesa a sua missão, transforma-os em caudilhos ao serviço das suas ambições. Circunstanciais, grandes, mais pequenas, para todas as dimensões e gostos.
Os políticos que querem fazer obra não escrevem opinião de circunstância. Ele os há, como Medeiros Ferreira, que a emitem de um ponto de vista estratégico, amplo, verdadeiramente político, pensado, estudado, bem construído. A maior parte passa o tempo a enganar a fome do disparate com algo a que chamam "reflexão". Não é sincera: é gerada nos pés (porque de pontapear a eito se trata) e nasce das mãos. O pé puxa rápido para o chinelo e facilmente caem na tentação luxuriosa da mentira, do jogo nas colunas de caractéres hipócritas e ridículas. É o reality show da política.
Vêm estas palavras a propósito dos recentes disparates de dois políticos pelos quais tenho admiração: António Vitorino e Joana Amaral Dias.
O primeiro sofreu o chamado síndroma de Peter Pan. Para agradar à tutela, a RTP, paga por todos nós, decidiu aliciá-lo para comentador, como que a repôr a justiça editorial de ter o Prof. Marcelo a debitar de cátedra no prime time dos domingos. Toca a convidar Vitorino, que recusou ser ministro, ser candidato a PR, ser porta-voz de Soares e etc. A emenda é pior que o soneto, pois agudiza-se a disparidade de oportunidades a outras correntes de opinião e estilo.
As audiências recusavam-se a crescer, é preciso dizê-lo. E vai de malhar na ministra da Educação, senhora que muito prezo e que tem dignificado o cargo, a política e o governo. Combate sem tréguas os interesses instalados e provoca a ira de oposições, sindicatos e os professores oportunistas e incompetentes, que sim, também existem. Estes de surra aproveitam e amplificam-no. As audiências crescem: ele passa a ser o exemplo, até ele criticou a pobre e rica ministra. Ontem, avisava: "não correu bem no parlamento, eu que sou deputado há 20 anos sei que a gestão do timing pode estragar uma intervenção". Eu, ingénuo, pensava que eram a preparação e os argumentos, mesmo daquele que abdicou para legitimamente se dedicar ao escritório de advogados, que tão importantes e chorudos pareceres emite. A casca da banana está lá. E Vitorino sorri como se de uma vitória se tratasse! Nem tenho tido tempo para me debruçar sobre a terrível catástrofe da repetição dos exames. Ainda bem. Concordo com o seguinte princípio: se os resultados foram muito maus por causa de nada ou por causa dos exames estarem mal enunciados, repitam-se. E se só se repetem os de Física e Química e não os de Matemática é porque estes não foram tão maus. Ou se foram: trabalhem para os primeiros e melhorem a Matemática na segunda chamada. Que fique claro: um exame não é gerido com a mesma lógica de Guantanamo. Sim, sim, acho bem que se dêem abébias. Porque a rapaziada, com o mote de Vitorino, o que está a discutir é outra coisa. E o povo sabe que ainda é cedo. Ainda faltam este e mais dois mandatos. Eheheheheheheheh.
Agora a Joana, assunto melindroso dada a estima e consideração pessoal, saídas de uma missão de coragem e valor como foi a candidatura de Mário Soares, não tanto a atribulada, pouco eficaz e confusa campanha! À qual me fui opondo, aqui e ali... São outros quinhentos paus.
Voltando àquela sobre quem já escrevi que é das mais talentosas da nossa geração (porque não dizê-lo? A mais!), em quem aposto e sei que terminadas as lides académicas e focalizada no trabalho político terá muito com certeza a dar a este país. Será um caso sério esta rapariga quando decidir valer 90% de labor e 10% de talento!
Talvez por causa dos ares pouco recomendáveis da sua ciência, a psicologia, que vai não vai, por vezes enraivece o estudioso e faz salivar o próprio animal investigador (não sei como há gente a gastar recursos em psicanalistas, psicólogos e psiquiatras, quando temos o Choque Ideológico na RTPN_ aquele canal a seguir ao Panda, aquele programa com desenhos animados de expressão e reais de aparência), vai daí que ontem escreveu umas singelas palavras, no seu artigo de segunda-feira no DN, no qual afirma que Sócrates "aposentou compulsivamente dois dirigentes sindicais da PSP (...) por delito de opinião", João Jardim "com o seu costumeiro tino, incentivou a decisão de um código de vestuário obrigatório na Assembleia e para jornalistas - proibição de T-shirts e sapatilhas" e ainda um cheirinho de Rio, presidente da CM Porto, na parangona, mas não desenvolvido, a atestar que um bom primeiro parágrafo vale mais que uma ou mil fotos, teoria provável dos dois Daniel Oliveiras cá do burgo e que dadas as comprovadas competências de Joana, assegura desde logo que baralhou e deu, sem que ninguém, no caso a própria, tenha partido. Dito de uma forma mais simples: meia bola e força, finta à Carlitos, Sérgio Conceição e Ronaldo. Sem consequência.
Bem, bem. Sócrates é igualzinho a Jardim. No estilo, nas capacidades, na aparência e nos tiques ditatoriais. Ya. Sócrates usa e abusa do poder, impõe regras na Assembleia, chupa o continente até ao tutano, escreve bombas de mau cheiro no Diabo e tem caspa. Bebe poncha a eito e os seus discursos em comício são acompanhados por momentos musicais de real interesse etnográfico. Usa um microfone igual à Ana Malhoa. Cospe nos cubanos, despreza as eleições e o povo cá como lá passa-lhe cheques em branco, como nas últimas eleições autárquicas e presidenciais.
E a Joana, concentrada num artigo de fundo, político, social e moral, portanto no fundo um artigo da esquerda humanista, quase católica, desmascara algo que ninguém tinha conseguido ver: Sócrates o diabólico, o falcão, o insensível. Pobres dirigentes sindicais que assim que emitem opinião, pimba! Reforma compulsiva. O artigo acaba com uma menção: "Tudo isto na mesma semana em que morreu o pide Rosa Casaco". E não, não apresenta condolências vai logo directo à vergonhosa impunidade com que viveu este assassino. Afinal somos iguais? Somos uns Casaco ao contrário, em silêncio passivo/agressivo?
O processo instaurado aos dois agentes visa a pena máxima aplicável à função pública, a dita compulsiva. O Secretário de Estado José Magalhães diz que está a aplicar a lei, os réus acham que é delito de opinião. "Recorde-se que em causa estão declarações de António Ramos feitas em Setembro do ano passado, onde este dirigente do SPP acusava o Primeiro-ministro de não respeitar as forças de segurança e de estar a tentar virar a opinião pública contra os agentes da PSP. António Ramos acrescentou que se o anterior Primeiro-ministro tinha ido para Bruxelas, mais depressa o actual iria para o Quénia" (in RR).
"António Cartaxo, 43 anos, 20 de serviço, em Faro, não se conforma com a pena de aposentação coerciva por ter falado como sindicalista. "Foi a 11 de Novembro de 2003 quando o chefe Armando Lopes de Vila Real de Santo António foi brutalmente assassinado", ao ser atropelado por suspeitos em fuga. Nesse dia, o dirigente referiu, e ontem recordou ao JN, ter dito sobre o responsável máximo da instituição, Mário Morgado "O director nacional não serve nem para mandar nos escuteiros quanto mais na PSP" (in site do Sindicato dos Profissionais de Polícia).
Exagero nas declarações? Sim. Exagero na sanção? Sim. Mas são estes tipos pagos pelo erário público para defender os trabalhadores ou para avaliar e desancar os responsáveis e o primeiro-ministro deste país? É que se é assim nem mais imposto. Não sustento chulos!
O dirigente afirmou, em Maio: "antes de haver imigrantes brasileiros não havia assaltos nos semáforos".
Ora tomem lá pinhões e agora façam um blog do Arrastão contra esta besta. Reforma compulsiva para este senhor? Claro e já! O outro vá devagar, não se estique porque isto ainda não é um estado estritamente securitário. É mais de juizes.
E o humilde escriba chiça penico que os grama à brava, no dia do Portugal-Inglaterra, por volta das duas da matina passa pelo Camões e desatam cem gajos à cacetada a eito e com proveito. O referido abriga-se no carro e liga para a emergência, relatando a batalha campal. Do outro lado o xô Guarda com o bonito dialecto de Viseu, dispara: "mas xão xiganos, xão africanos?" E eu foda-se! Pudesse dar-lhe ca reforma e era já!
Dias depois, passeio o meu cão no bairro e um senhor impede-me de cortar a fita colocada pelo empreiteiro das obras de melhoramento do Edifício Gemini, obrigando idosos, crianças (a pé ou de bicicleta) e cães que passeiam donos a caminharem 10/15 metros pela rua, sítio experimental de racings diversos. O xô segurança, não identificado nem educado, marca a lei texana e na esquadra o guarda de serviço chuta para canto: não têm nada com isso, vá-me queixar à Guarda Municipal, esses sim responsáveis por seguranças de empreiteiros que a PSP está cá para outro serviço, que não a intervenção na escalada de descarga de coldres de vários milímetros que cada vez mais se acentua aqui no Bairro, não podendo eu jurar a origem étnica porque evito estar perto da janela, não vá apanhar com uma reforma compulsiva perdida.
Por fim pedir à Joana e ao António que se tornem verdadeiramente úteis a este país, que bem de vós precisa! Deixem de tentar animar a silly season, senão desaparece a season de vez. Deixem de se ocupar tontamente e já agora olhem: que tal uma manifestaçãozita, aí de um milhão, contra a guerra Israelita? Ou estão à espera do Mário Soares, do Freitas do Amaral, do Jerónimo, do Louçã? Andem lá, mexam-se cum caraças.
sexta-feira, julho 14, 2006
Sublime
de Samuel Beckett
PICCOLO TEATRO DI MILANO
ENCENAÇÃO DE GIORGIO STREHLER, REPOSTA POR
CARLO BATTISTONI
Intérpretes: Giulia Lazzarini e Franco Sangermano
Tradução: Carlo Fruttero
Cenário: Ezio Frigerio
Figurinos: Luisa Spinatelli
Música: Fiorenzo Carpi
Movimentos mímicos: Marise Flach
Luzes: Gerardo Modica
Língua: italiano (legendado em português)
Duração: 1h40
NOVO TEATRO MUNICIPAL DE ALMADA - Sala Principal - ALMADA
segunda-feira, julho 10, 2006
Infeliz coincidência
No dia em que terminou o momento mediático do ano um trágico acontecimento abalou o nosso país: seis pessoas faleceram na consequência de um incêndio. É triste e lamentável.
Não obstante parece uma partida do destino: findo o mundial o voraz apetite dos directores de info entertainment vira-se agora para os fogos.
Porque se ontem se aceita a notícia, ressalvando o seu tratamento, hoje parece que os incêndios, independentemente do tamanho, origem e eficácia no combate, voltam a ter o destaque mirabolante dos anos anteriores.
Aos poucos, não daqui a muitos dias, voltaremos a ver o pivô no início dos noticiários rodeado por aqueles espectaculares fundos de chama viva e cor de laranja. E no final um clip com música comiseradora e imagens de pessoas a chorar enquanto atiram água, balde a balde, contra um gigante muro de chamas que ameaça uma pequena vivenda.
domingo, julho 09, 2006
Moral da história
Para alguma opinião saudosista venceu o mau futebol. Eu não concordo. A corrente que acha que antigamente é que futebol era futebol está, em meu entender, errada. Antes havia anti-jogo, atrasos permanentes para o guarda-redes, faltas muito maldosas, pernas frequentemente partidas, fraco despiste de infiltrações e doping, problemas sérios com as organizações dos torneios e a arbitragem na corda bamba. Hoje, o futebol é um jogo muito mais táctico, mais atlético, com maior rigor em matérias de arbitragem e de controlo de substâncias. Independentemente de quem organiza os campeonatos têm sempre profissionalismo e isenção. Esta é a visão de adepto, de quem gosta do jogo. E quem gosta de seguir o futebol aceita a teoria do meu amigo LP: não há vitórias imerecidas, resultados injustos. O futebol é objectivo e daí não se sai, ganha quem faz mais um golo que o adversário, jogue como jogue.
Uma coisa é comum ao futebol do antigamente e ao de hoje: os grandes jogadores, os que melhor jogam, os que mais cabeça têm, sobressaem. São os melhores. Ou como diria Millôr Fernandes: "Futebol é a única actividade que transfere a inteligência da cabeça para os pés."
Mas numa perspectiva mais racional é certo que a globalização do futebol trouxe consigo interesses diferentes. Marcas, vendedores de jogadores e dirigentes sem escrúpulos ensombram o futebol, não dentro do campo, mas fora. Daí a inexplicável opção por Postiga... Daí a quasi premonição da Galp no anúncio que fez... Meia dúzia de gatos pingados aguardavam, no spot publicitário, os "heróis de Berlim". Hoje essa imagem concretizou-se. Quem regressou foram os quase "heróis de Estugarda". Aí o povo português não se deixou enganar. Uma coisa é vencer, outra coisa é estar na final e outra coisa é ficar em quarto e ir para o estádio nacional ouvir o Roberto Leal. Não me interpretem mal: o quarto lugar é digno para os nossos jogadores e assenta bem nas capacidades da selecção. Mais não poderíamos aspirar, menos seria fraco. Assim está certo.
Ao ser campeã do mundo no momento em que o futebol italiano vive a maior crise de corrupção de sempre, a minha teoria ganha consistência. Ao contrário do que se diz, o chamado Calcicaos não implica só árbitros. Dirigentes dos clubes e responsáveis da federação estão implicados numa alegada manipulação de resultados desportivos. Numa atitude siciliana o ministro da Justiça italiana pediu contenção às autoridades judiciais...
Acresce que não esqueço as primeiras reportagens das conferências de imprensa do seleccionador Marcello Lippi. Chegados à Alemanha, para uma jornada que viria a ser vitoriosa, os jornalistas italianos só queriam saber se a estranha convocatória de Lippi reflectia o facto do seu filho ser representante de muitos jogadores. Ganhou, esquece-se essa dúvida e adiante.
Daí que o Apito Dourado, o Calciocaos e outros escândalos me dão confiança. Porque acredito que quem prevarica acaba por ser apanhado. E isso ao contrário de meter toda a gente no mesmo saco, "são todos uma cambada de corruptos", fortalece a confiança nos diferentes agentes, especialmente jogadores e árbitros.
Hoje houve um factor importante no Estádio Olímpico de Berlim. Joseph Blatter esteve ausente da entrega da Taça do Mundo, cabendo esse papel ao Presidente da Federação Alemã. Eles que em Fevereiro do ano passado tiveram um caso de corrupção, envolvendo um árbitro, Robert Hoyzer, que foi imediatamente suspenso de toda a actividade.
Não ponho as mãos no fogo por ninguém, mas "à mulher de César não basta ser séria" e os alemães parecem bastante profissionais e sérios na forma como encaram o jogo, visível aliás na maneira como decorreu a organização.
Não ter sido Blatter a entregar a Taça até pode ter sido uma birra de protagonismo, até pode ser um protesto do todo-poderoso presidente da FIFA pela expulsão de Zidane, mas a verdade é que para mim foi uma espécie de sinal de esperança.
Às vezes imagino que depois da evolução táctica, depois do desenvolvimento atlético a próxima revolução no futebol consistirá no afastamento da corrupção e da má moeda do fenómeno desportivo. Regulamentação legislativa, exigência da opinião pública e responsabilidade dos agentes, trarão uma nova ordem desportiva.
sexta-feira, julho 07, 2006
A sério?
Andou uma "Nação" inteira a achar que era o melhor do mundo e afinal nem o mais jovem melhor do mundo.
Não lhe mudem a atitude e teremos um novo Dani no futebol português!
quarta-feira, julho 05, 2006
Soltei o Mourinho que há em mim
terça-feira, julho 04, 2006
A táctica de Filipão
É bom saber que há reportagens de futebol para além dos trocadilhos jornalísticos portugueses...E como se previa parte da táctica de Portugal passa por Maria. Ave!
Blocrisia
Foi um semi espectáculo. Semi porque quem apareceu foi Luís Fazenda e não Francisco Louçã, o que demonstra logo a carga secundária que quiseram dar às suas vergonhosas posições. Como se houvesse um pirata e o seu papagaio.
Acharam que Xanana Gusmão ao exigir a demissão de Mari Alkatiri não estava a cumprir as suas obrigações como líder de um estado de direito democrático. Hipocritamente, tal como o fazem na política interna, esqueceram nos seus argumentos que o país estava em plena guerra civil e exigiam sem se rir que o Presidente mantivesse a postura estadista.
Perante a situação verificada, Xanana teria três hipóteses: 1ª) a militar, fomentando e aumentando a escalada de violência; 2ª) cair na armadilha, demitindo o parlamento e permitindo que Alkatiri dramatizasse e colhesse novo fôlego eleitoral, ganhando legitimidade por via do voto emocional; 3ª) a política, forçando o então primeiro-ministro a demitir-se, dramatizando para si (presidente) os factos o que chamaria a atenção e apoio da comunidade internacional e no caso que se verificou, de ser o próprio líder da Fretilin a demitir-se, a aceitação implícita das culpas.
Ontem soube-se que o Estado Timorense pretende investigar as responsabilidades de cada implicado na Guerra Civil desencadeada.
Até aceito que o Bloco se cale perante o facto do advogado de Alkatiri ser um homem de "causas": foi defensor dos skinheads que assassinaram o cabo-verdiano Alcino Monteiro, de Vale e Azevedo e é o de Carlos Silvino. José António Barreiros está para as causas erradas como José Sá Fernandes está para as certas...
Mas estranho que os arautos defensores do combate aos privilégios não se insurjam contra o facto do ex. primeiro-ministro não levantar a sua imunidade parlamentar para poder responder na justiça. Eles que tanto contestam esse regime jurídico que, estou de acordo, é próprio de países de terceiro mundo.
segunda-feira, julho 03, 2006
Confusão total
Desconheço se nos outros países é assim mas em Portugal acresce uma assustadora ligação ao mundo da construção civil e às câmaras municipais, tudo misturado num perigoso cocktail de corrupção e tráfico de influências.
Mas a razão de ser da minha pergunta inicial, será um jogo de futebol mais do que um simples jogo de futebol?, não visava uma resposta na vertente puramente financeira.
O que me anda a preocupar é a permanente confusão a que os jornalistas, quase todos, seguramente uma maioria arrasadora, submetem nas suas peças, directos, artigos, entrevistas, o povo português. E não é um exclusivo nacional. O jogo Alemanha - Polónia foi ensombrado pela permanente referência aos acontecimentos de 5 de Outubro de 1939.
Em Portugal disseram-me, desculpem não leio o Público, que Prado Coelho sugeriu que os jogadores portugueses seriam os guerreiros da actualidade. Não tendo lido, não posso aferir claramente se as suas intenções estão ligadas a esta esquizofrenia dos meios de comunicação em torno simplesmente de um jogo de futebol.
No dia do jogo com Inglaterra era comparações com uma qualquer batalha histórica e de tão nervoso estar a ouvir a baboseira da jornalista da Antena 1, nem retive a que se referia.
Nem aqueles que procuram anónimos para entrevistar revelam qualquer criatividade: ele foram perguntas se queriam comer o bife, se queriam beber o chá, etc., etc. A repescagem, o trocadilho, a vergonha a quem estamos entregues. Parangonas, headlines e o desacerto continua.
Mesmo durante todo o campeonato imperou o orgulho da lusofonia. Todos estávamos a torcer por Angola e pelo Brasil. Todos não. Se em relação a Angola até nutri alguma simpatia, por ser uma equipa desfasada desta parafernália, em relação ao Brasil sempre desejei que não jogassem com Portugal, o que dado o cacicado calendário apresentado, representava a sua eliminação. E chega a ser assustador a representação de símbolos ligados ao futebol, que em nada nos honram como nação. Ele é uma santinha, a Nossa Senhora claro, com um cachecol da selecção (e aqui há a vergonhosa sugestão de Scolari que confessa que os jogadores têm de rezar antes das partidas, o que me afasta definitivamente de poder representar a selecção nacional, pelo menos com este treinador), os cãezinhos também de cachecol e aquele grupo de portugueses que se apresenta de garrafão na cabeça a fazer de chapéu, pintado de vermelho e verde. Tão sugestiva e apelativa é a imagem que logo, logo a moda pegou e anda vária rapaziada pelas ruas da Alemanha a dar motivos diferentes dos nossos aos jornalistas estrangeiros.
Acresce a esta desgraça que se torna impossível ver os jogos nos cafés. A opinião generalizada dos portugueses é que o campeonato está feito: 1º para as grandes equipas vencerem, 2º para a Alemanha vencer as grandes equipas. Agora reparem a estupidez. O argumento é que os estádios têm de encher... Como se já não tivesse tudo vendido e lotado e como se o ticketing fosse alguma fonte de rendimento comparável com as audiências televisivas, publicidade e o diabo a quatro. É que justamente, um campeonato que chega ao fim com Alemanha, Portugal, Itália e França desinteressa todos os restantes continentes e isso mesmo é verificável nas páginas da imprensa estrangeira. Sem EUA ou Austrália, Japão e ou Coreia e acima de tudo sem Brasil e ou Argentina, este campeonato é, nesta fase, Europeu.
O segundo motivo que inviabiliza estar em comunhão nos sítios públicos são os permanentes comentários racistas, especialmente aos jogadores africanos. Mas árabes e negros de outras origens são sempre alvo do comentário do estúpido português, numa falta, numa desmarcação, num remate. (Ouvi alguém gritar "Boi Preto" no Portugal - Angola, numa piada ao árbitro, que dantes era assim denominado, mas que no contexto em que foi proferida facilmente poderia ter sido mal interpretada, não soubéssemos que foi emitida pela irmã de um árbitro que brincava com os comentários que sempre vamos ouvindo nos jogos).
Eu gosto da selecção nacional. Faço parte dos que cresceram com a denominada "geração de ouro". Assisti com 17 anos à vitória no campeonato do mundo de 1989 (pela televisão, numa visita de estudo à fábrica da Coca-Cola), vi todos os jogos (no estádio) da vitoriosa campanha de 1990 e a partir daí nutro admiração por aquele grupo de jogadores e por Carlos Queiroz. Acho que Humberto Coelho fez parte do processo de evolução dessa estrutura, dessa forma profissional de encarar a selecção. E depois do retrocesso de Oliveira, Scolari é não mais que a continuidade lógica desse processo. Os métodos estão hoje a todos os níveis altamente especializados e podemos dizer que Portugal é uma forte equipa em qualquer circunstância. Saltillo e outras vergonhas são hoje passado e isso deve-se em grande medida à tal "geração de ouro".
Por isso admiro Luís Figo e acho Cristiano Ronaldo um profundo equívoco. Tem feito um campeonato miserável e é levado ao colo por tudo e por todos! Acho Carvalho excelente e Maniche o jogador mais regular, mais útil à selecção. Não entendo que Deco seja indiscutível e Pauleta também. Se Nuno Gomes não está em boa forma, Deco está? São coisas que me irritam. Costinha está muito bem, Miguel também, Meira cresce a olhos vistos e faz esquecer plenamente Andrade. Valente já deu o que tinha a dar e Ricardo não passa de um erro de casmurrice. Baía ainda é o melhor. No entanto neste campeonato, ao contrário do Euro, o guarda-redes não tem tido hipóteses de comprometer. Teve mérito nos penáltis. Será que esta frase se pode dizer?
Quando estou de cachecol, boné, de bandeira às costas, a cantar o hino, a gritar pela selecção, nervoso com o desenrolar dos jogos, tal como pelo Benfica, eu não estou a apoiar uma nação, uma bandeira, um símbolo colocado na camisola. Eu não estou a torcer pela nossa língua, nem pelo povo português. Eu estou a torcer por aquele grupo de jogadores que representam o melhor do deteriorado futebol português. Eu estou a vibrar com o futebol, com o jogo, com as tácticas e com as grandes jogadas (consequentes de preferência). Eu estou a curtir o jogo e só isso. Se mudarem a bandeira e o hino não me faz diferença. Se tirarem o Luís Figo, se não puserem o Nuno Gomes e se não convocarem o Rui Costa, isso sim, isso incomoda-me. Quando na quarta-feira ganharmos à França vou festejar, vou-me juntar a todos os que o fizerem.
Porque na verdade há coisas mais importantes que o futebol e portanto não devem ser misturadas.