Confusão total
Será um jogo de futebol mais do que um simples jogo de futebol? Sim é um negócio de diferentes marcas, de venda de pessoas, de interesses, onde as vitórias, o sucesso, são bem remuneradas e a derrota nem é por aí além problemática, sai o treinador, que logo arranjará outro poiso, os adeptos rapidamente esquecem e se, como aconteceu com Scolari, a fasquia for colocada por baixo, até nem vem nenhum mal ao mundo, mantém-se como herói indiscutível.
Desconheço se nos outros países é assim mas em Portugal acresce uma assustadora ligação ao mundo da construção civil e às câmaras municipais, tudo misturado num perigoso cocktail de corrupção e tráfico de influências.
Mas a razão de ser da minha pergunta inicial, será um jogo de futebol mais do que um simples jogo de futebol?, não visava uma resposta na vertente puramente financeira.
O que me anda a preocupar é a permanente confusão a que os jornalistas, quase todos, seguramente uma maioria arrasadora, submetem nas suas peças, directos, artigos, entrevistas, o povo português. E não é um exclusivo nacional. O jogo Alemanha - Polónia foi ensombrado pela permanente referência aos acontecimentos de 5 de Outubro de 1939.
Em Portugal disseram-me, desculpem não leio o Público, que Prado Coelho sugeriu que os jogadores portugueses seriam os guerreiros da actualidade. Não tendo lido, não posso aferir claramente se as suas intenções estão ligadas a esta esquizofrenia dos meios de comunicação em torno simplesmente de um jogo de futebol.
No dia do jogo com Inglaterra era comparações com uma qualquer batalha histórica e de tão nervoso estar a ouvir a baboseira da jornalista da Antena 1, nem retive a que se referia.
Nem aqueles que procuram anónimos para entrevistar revelam qualquer criatividade: ele foram perguntas se queriam comer o bife, se queriam beber o chá, etc., etc. A repescagem, o trocadilho, a vergonha a quem estamos entregues. Parangonas, headlines e o desacerto continua.
Mesmo durante todo o campeonato imperou o orgulho da lusofonia. Todos estávamos a torcer por Angola e pelo Brasil. Todos não. Se em relação a Angola até nutri alguma simpatia, por ser uma equipa desfasada desta parafernália, em relação ao Brasil sempre desejei que não jogassem com Portugal, o que dado o cacicado calendário apresentado, representava a sua eliminação. E chega a ser assustador a representação de símbolos ligados ao futebol, que em nada nos honram como nação. Ele é uma santinha, a Nossa Senhora claro, com um cachecol da selecção (e aqui há a vergonhosa sugestão de Scolari que confessa que os jogadores têm de rezar antes das partidas, o que me afasta definitivamente de poder representar a selecção nacional, pelo menos com este treinador), os cãezinhos também de cachecol e aquele grupo de portugueses que se apresenta de garrafão na cabeça a fazer de chapéu, pintado de vermelho e verde. Tão sugestiva e apelativa é a imagem que logo, logo a moda pegou e anda vária rapaziada pelas ruas da Alemanha a dar motivos diferentes dos nossos aos jornalistas estrangeiros.
Acresce a esta desgraça que se torna impossível ver os jogos nos cafés. A opinião generalizada dos portugueses é que o campeonato está feito: 1º para as grandes equipas vencerem, 2º para a Alemanha vencer as grandes equipas. Agora reparem a estupidez. O argumento é que os estádios têm de encher... Como se já não tivesse tudo vendido e lotado e como se o ticketing fosse alguma fonte de rendimento comparável com as audiências televisivas, publicidade e o diabo a quatro. É que justamente, um campeonato que chega ao fim com Alemanha, Portugal, Itália e França desinteressa todos os restantes continentes e isso mesmo é verificável nas páginas da imprensa estrangeira. Sem EUA ou Austrália, Japão e ou Coreia e acima de tudo sem Brasil e ou Argentina, este campeonato é, nesta fase, Europeu.
O segundo motivo que inviabiliza estar em comunhão nos sítios públicos são os permanentes comentários racistas, especialmente aos jogadores africanos. Mas árabes e negros de outras origens são sempre alvo do comentário do estúpido português, numa falta, numa desmarcação, num remate. (Ouvi alguém gritar "Boi Preto" no Portugal - Angola, numa piada ao árbitro, que dantes era assim denominado, mas que no contexto em que foi proferida facilmente poderia ter sido mal interpretada, não soubéssemos que foi emitida pela irmã de um árbitro que brincava com os comentários que sempre vamos ouvindo nos jogos).
Eu gosto da selecção nacional. Faço parte dos que cresceram com a denominada "geração de ouro". Assisti com 17 anos à vitória no campeonato do mundo de 1989 (pela televisão, numa visita de estudo à fábrica da Coca-Cola), vi todos os jogos (no estádio) da vitoriosa campanha de 1990 e a partir daí nutro admiração por aquele grupo de jogadores e por Carlos Queiroz. Acho que Humberto Coelho fez parte do processo de evolução dessa estrutura, dessa forma profissional de encarar a selecção. E depois do retrocesso de Oliveira, Scolari é não mais que a continuidade lógica desse processo. Os métodos estão hoje a todos os níveis altamente especializados e podemos dizer que Portugal é uma forte equipa em qualquer circunstância. Saltillo e outras vergonhas são hoje passado e isso deve-se em grande medida à tal "geração de ouro".
Por isso admiro Luís Figo e acho Cristiano Ronaldo um profundo equívoco. Tem feito um campeonato miserável e é levado ao colo por tudo e por todos! Acho Carvalho excelente e Maniche o jogador mais regular, mais útil à selecção. Não entendo que Deco seja indiscutível e Pauleta também. Se Nuno Gomes não está em boa forma, Deco está? São coisas que me irritam. Costinha está muito bem, Miguel também, Meira cresce a olhos vistos e faz esquecer plenamente Andrade. Valente já deu o que tinha a dar e Ricardo não passa de um erro de casmurrice. Baía ainda é o melhor. No entanto neste campeonato, ao contrário do Euro, o guarda-redes não tem tido hipóteses de comprometer. Teve mérito nos penáltis. Será que esta frase se pode dizer?
Quando estou de cachecol, boné, de bandeira às costas, a cantar o hino, a gritar pela selecção, nervoso com o desenrolar dos jogos, tal como pelo Benfica, eu não estou a apoiar uma nação, uma bandeira, um símbolo colocado na camisola. Eu não estou a torcer pela nossa língua, nem pelo povo português. Eu estou a torcer por aquele grupo de jogadores que representam o melhor do deteriorado futebol português. Eu estou a vibrar com o futebol, com o jogo, com as tácticas e com as grandes jogadas (consequentes de preferência). Eu estou a curtir o jogo e só isso. Se mudarem a bandeira e o hino não me faz diferença. Se tirarem o Luís Figo, se não puserem o Nuno Gomes e se não convocarem o Rui Costa, isso sim, isso incomoda-me. Quando na quarta-feira ganharmos à França vou festejar, vou-me juntar a todos os que o fizerem.
Porque na verdade há coisas mais importantes que o futebol e portanto não devem ser misturadas.
Desconheço se nos outros países é assim mas em Portugal acresce uma assustadora ligação ao mundo da construção civil e às câmaras municipais, tudo misturado num perigoso cocktail de corrupção e tráfico de influências.
Mas a razão de ser da minha pergunta inicial, será um jogo de futebol mais do que um simples jogo de futebol?, não visava uma resposta na vertente puramente financeira.
O que me anda a preocupar é a permanente confusão a que os jornalistas, quase todos, seguramente uma maioria arrasadora, submetem nas suas peças, directos, artigos, entrevistas, o povo português. E não é um exclusivo nacional. O jogo Alemanha - Polónia foi ensombrado pela permanente referência aos acontecimentos de 5 de Outubro de 1939.
Em Portugal disseram-me, desculpem não leio o Público, que Prado Coelho sugeriu que os jogadores portugueses seriam os guerreiros da actualidade. Não tendo lido, não posso aferir claramente se as suas intenções estão ligadas a esta esquizofrenia dos meios de comunicação em torno simplesmente de um jogo de futebol.
No dia do jogo com Inglaterra era comparações com uma qualquer batalha histórica e de tão nervoso estar a ouvir a baboseira da jornalista da Antena 1, nem retive a que se referia.
Nem aqueles que procuram anónimos para entrevistar revelam qualquer criatividade: ele foram perguntas se queriam comer o bife, se queriam beber o chá, etc., etc. A repescagem, o trocadilho, a vergonha a quem estamos entregues. Parangonas, headlines e o desacerto continua.
Mesmo durante todo o campeonato imperou o orgulho da lusofonia. Todos estávamos a torcer por Angola e pelo Brasil. Todos não. Se em relação a Angola até nutri alguma simpatia, por ser uma equipa desfasada desta parafernália, em relação ao Brasil sempre desejei que não jogassem com Portugal, o que dado o cacicado calendário apresentado, representava a sua eliminação. E chega a ser assustador a representação de símbolos ligados ao futebol, que em nada nos honram como nação. Ele é uma santinha, a Nossa Senhora claro, com um cachecol da selecção (e aqui há a vergonhosa sugestão de Scolari que confessa que os jogadores têm de rezar antes das partidas, o que me afasta definitivamente de poder representar a selecção nacional, pelo menos com este treinador), os cãezinhos também de cachecol e aquele grupo de portugueses que se apresenta de garrafão na cabeça a fazer de chapéu, pintado de vermelho e verde. Tão sugestiva e apelativa é a imagem que logo, logo a moda pegou e anda vária rapaziada pelas ruas da Alemanha a dar motivos diferentes dos nossos aos jornalistas estrangeiros.
Acresce a esta desgraça que se torna impossível ver os jogos nos cafés. A opinião generalizada dos portugueses é que o campeonato está feito: 1º para as grandes equipas vencerem, 2º para a Alemanha vencer as grandes equipas. Agora reparem a estupidez. O argumento é que os estádios têm de encher... Como se já não tivesse tudo vendido e lotado e como se o ticketing fosse alguma fonte de rendimento comparável com as audiências televisivas, publicidade e o diabo a quatro. É que justamente, um campeonato que chega ao fim com Alemanha, Portugal, Itália e França desinteressa todos os restantes continentes e isso mesmo é verificável nas páginas da imprensa estrangeira. Sem EUA ou Austrália, Japão e ou Coreia e acima de tudo sem Brasil e ou Argentina, este campeonato é, nesta fase, Europeu.
O segundo motivo que inviabiliza estar em comunhão nos sítios públicos são os permanentes comentários racistas, especialmente aos jogadores africanos. Mas árabes e negros de outras origens são sempre alvo do comentário do estúpido português, numa falta, numa desmarcação, num remate. (Ouvi alguém gritar "Boi Preto" no Portugal - Angola, numa piada ao árbitro, que dantes era assim denominado, mas que no contexto em que foi proferida facilmente poderia ter sido mal interpretada, não soubéssemos que foi emitida pela irmã de um árbitro que brincava com os comentários que sempre vamos ouvindo nos jogos).
Eu gosto da selecção nacional. Faço parte dos que cresceram com a denominada "geração de ouro". Assisti com 17 anos à vitória no campeonato do mundo de 1989 (pela televisão, numa visita de estudo à fábrica da Coca-Cola), vi todos os jogos (no estádio) da vitoriosa campanha de 1990 e a partir daí nutro admiração por aquele grupo de jogadores e por Carlos Queiroz. Acho que Humberto Coelho fez parte do processo de evolução dessa estrutura, dessa forma profissional de encarar a selecção. E depois do retrocesso de Oliveira, Scolari é não mais que a continuidade lógica desse processo. Os métodos estão hoje a todos os níveis altamente especializados e podemos dizer que Portugal é uma forte equipa em qualquer circunstância. Saltillo e outras vergonhas são hoje passado e isso deve-se em grande medida à tal "geração de ouro".
Por isso admiro Luís Figo e acho Cristiano Ronaldo um profundo equívoco. Tem feito um campeonato miserável e é levado ao colo por tudo e por todos! Acho Carvalho excelente e Maniche o jogador mais regular, mais útil à selecção. Não entendo que Deco seja indiscutível e Pauleta também. Se Nuno Gomes não está em boa forma, Deco está? São coisas que me irritam. Costinha está muito bem, Miguel também, Meira cresce a olhos vistos e faz esquecer plenamente Andrade. Valente já deu o que tinha a dar e Ricardo não passa de um erro de casmurrice. Baía ainda é o melhor. No entanto neste campeonato, ao contrário do Euro, o guarda-redes não tem tido hipóteses de comprometer. Teve mérito nos penáltis. Será que esta frase se pode dizer?
Quando estou de cachecol, boné, de bandeira às costas, a cantar o hino, a gritar pela selecção, nervoso com o desenrolar dos jogos, tal como pelo Benfica, eu não estou a apoiar uma nação, uma bandeira, um símbolo colocado na camisola. Eu não estou a torcer pela nossa língua, nem pelo povo português. Eu estou a torcer por aquele grupo de jogadores que representam o melhor do deteriorado futebol português. Eu estou a vibrar com o futebol, com o jogo, com as tácticas e com as grandes jogadas (consequentes de preferência). Eu estou a curtir o jogo e só isso. Se mudarem a bandeira e o hino não me faz diferença. Se tirarem o Luís Figo, se não puserem o Nuno Gomes e se não convocarem o Rui Costa, isso sim, isso incomoda-me. Quando na quarta-feira ganharmos à França vou festejar, vou-me juntar a todos os que o fizerem.
Porque na verdade há coisas mais importantes que o futebol e portanto não devem ser misturadas.
4 Comments:
Se não é pela Nação que ficas satisfeito pela vitória. mas sim pelos jogadores, porque levas a bandeira e o cachecol para os festejos? Parece-me mais apropriado levares um cartaz com as fotografias do Figo, do Rui Costa e do Nuno Gomes
estava a ver que ninguém reagia... Está dito, está dito. E já agora o que é uma Nação?
Nação: Reunião de homens que habitam o mesmo território, têm a mesma origem e falam a mesma língua ou cujos interesses são comuns de há muito (definição encontrada no dicionário da Porto Editora)
A minha pátria é a língua portuguesa.
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