Obrigado Mário!
Não, as eleições de ontem não marcam uma viragem no ciclo político. Na verdade mantêm uma propensão do povo português. A maioria dos nossos artistas, cientistas, desportistas e proeminentes figuras é desterrada para exílios além fronteiras, à procura de reais possibilidades de vida profissionalmente saudável, sendo exemplos exponenciais António Guterres, José Saramago, Luís Figo, Emanuel Nunes e muitos outros.
Ao infligir uma pesada derrota a Mário Soares, sim porque esse foi o facto político da noite, o mais comentado e aquele de que toda a imprensa portuguesa e estrangeira hoje fala, o povo português teve mais uma vez um lapso de ingratidão e de uma certa estupidez.
Bem sei que o que será veiculado, aquilo que transpirará dos ciclos políticos e dos comentadores do costume é a ideia que os resultados eleitorais são para respeitar, o voto do povo é soberano e nada mais a acrescentar. Pois que essa ideia advém de um imediatismo contaminador a partir do qual a verdade tem de ser rápida e perceptível. Um pouco aquilo de que foi vítima Miguel Sousa Tavares quando tentava esclarecer que sendo a vitória de Cavaco o mais fraco resultado de um presidente eleito, não teria a força presidencial que um score de 60%, por exemplo.
Para mim que fique claro: nem o facto de se ter metido nesta aventura, nem o resultado que obteve, diminuem Mário Soares. Pelo contrário, engrandecem-no. Com a sua idade fez a campanha mais empenhada e desgastante e pode dizer-se: não obstante terem sido cometidos erros de abordagem (excesso de focalização no adversário, blindagem das semi estruturas do PS a movimentos independentes e outros circunstancialmente não alinhados), fez a campanha mais activa e mais próxima do maior número de portugueses, de todos os candidatos.
Que fique claro: não tenho respeito nenhum pelo voto, pelo voto de ontem, dos portugueses. Aceito-o tranquilamente e sem rancor, que são coisas diferentes. Ao mesmo tempo acho que Mário Soares tem motivos para dormir descansado: a democracia com que sonhou, existe. Ele é o pai da democracia, nunca quis ser o seu dono e portanto a história, mais uma vez, deu-lhe razão. Nada mais saudável que escolherem quem querem e quem acham que nos representa melhor em determinadas circunstâncias. A história política e o carácter de Cavaco é o espelho do actual povo português. Castigador, carrancudo e distante, mas disponível para ir a jogo e de forma empenhada na medida da sua humildade intelectual.
A campanha de Mário Soares foi comovente. Não só pelo seu empenho pessoal, mas também por ter trazido figuras de alto calibre para o palco político, aspecto muito importante, como expliquei anteriormente, no quadro da inevitável modernização dos partidos políticos. Reparei que nem uma palavra se disse sobre o facto político das últimas eleições legislativas. Reportagens, artigos de opinião, títulos, parangonas, enfim o lixo habitual, colocaram o teleponto no centro do debate político. Aos 81 anos Mário Soares fez dois, três discursos diários, durante dois meses, falando três quartos de hora sem uma nota que fosse. Totalmente de improviso. Esteve sempre presente em feiras, empresas, praças, espectáculos, comícios, jantares, debates, entrevistas e tudo o mais. Quis fazer a festa da democracia, uma campanha à antiga, procurando e conseguindo mobilizar os portugueses para o debate e participação política. (Por exemplo: não tenho dúvidas que muitos portugueses são contra que o estado pague aos partidos e candidatos dinheiro para as suas campanhas. Eu acho que o estado paga muito pouco e isso é um dos problemas centrais do nosso sistema. Não obstante, os partidos também gastam mal).
Foi um enorme prazer ter visto Mário Soares a fazer política activa. Por isso, obrigado Mário. Eu e os 700 e tal mil portugueses a quem resta algum reconhecimento, ficámos seguramente comovidos, na noite de ontem, perante o disparate comum e a sua grandeza.
Dito isto, é altura de virar a página. Para mim também. Todos os meus amigos se questionam porque me entusiasma tanto a política. Eu também me interrogo. Acho que sou mesmo daqueles que se motiva pelo PS, como pelo Benfica. Não, não é assim muito racional. E não sou militante porque nunca calhou, embora me sinta como tal.
Eu não gostei da forma como foi gerida esta campanha por parte dos seus responsáveis nacionais, regionais e de juventude. Mário Soares merecia mais.
Também não gosto da forma como alguns responsáveis olham para os adeptos humildes de bandeira, como é o meu caso e blindam o partido e as campanhas a contributos, ideias e sugestões. Eles sabem tudo e depois é a vergonha que se vê.
Achei que José Sócrates se deveria ter demitido do cargo de Secretário Geral do PS, provocando um congresso e obrigando o partido a esclarecer-se. Notei algumas ausências ontem (eu também não estive, porque estava de rastos, tenho crédito e não sou importante) no Áltis. Alberto Martins, João Cravinho, Maria de Belém, Vera Jardim, Manuel Maria Carrilho e claro, não consigo deixar de notar a ausência de Manuel Alegre, no dia mais difícil da vida do PS. Ou essa personagem não foi criada por Mário Soares e sustentada toda a vida pelo PS?
Penso que o adiamento de um esclarecimento profundo, terá repercussões a longo prazo. Isto não deveria pôr em causa o Governo, naturalmente.
Ao infligir uma pesada derrota a Mário Soares, sim porque esse foi o facto político da noite, o mais comentado e aquele de que toda a imprensa portuguesa e estrangeira hoje fala, o povo português teve mais uma vez um lapso de ingratidão e de uma certa estupidez.
Bem sei que o que será veiculado, aquilo que transpirará dos ciclos políticos e dos comentadores do costume é a ideia que os resultados eleitorais são para respeitar, o voto do povo é soberano e nada mais a acrescentar. Pois que essa ideia advém de um imediatismo contaminador a partir do qual a verdade tem de ser rápida e perceptível. Um pouco aquilo de que foi vítima Miguel Sousa Tavares quando tentava esclarecer que sendo a vitória de Cavaco o mais fraco resultado de um presidente eleito, não teria a força presidencial que um score de 60%, por exemplo.
Para mim que fique claro: nem o facto de se ter metido nesta aventura, nem o resultado que obteve, diminuem Mário Soares. Pelo contrário, engrandecem-no. Com a sua idade fez a campanha mais empenhada e desgastante e pode dizer-se: não obstante terem sido cometidos erros de abordagem (excesso de focalização no adversário, blindagem das semi estruturas do PS a movimentos independentes e outros circunstancialmente não alinhados), fez a campanha mais activa e mais próxima do maior número de portugueses, de todos os candidatos.
Que fique claro: não tenho respeito nenhum pelo voto, pelo voto de ontem, dos portugueses. Aceito-o tranquilamente e sem rancor, que são coisas diferentes. Ao mesmo tempo acho que Mário Soares tem motivos para dormir descansado: a democracia com que sonhou, existe. Ele é o pai da democracia, nunca quis ser o seu dono e portanto a história, mais uma vez, deu-lhe razão. Nada mais saudável que escolherem quem querem e quem acham que nos representa melhor em determinadas circunstâncias. A história política e o carácter de Cavaco é o espelho do actual povo português. Castigador, carrancudo e distante, mas disponível para ir a jogo e de forma empenhada na medida da sua humildade intelectual.
A campanha de Mário Soares foi comovente. Não só pelo seu empenho pessoal, mas também por ter trazido figuras de alto calibre para o palco político, aspecto muito importante, como expliquei anteriormente, no quadro da inevitável modernização dos partidos políticos. Reparei que nem uma palavra se disse sobre o facto político das últimas eleições legislativas. Reportagens, artigos de opinião, títulos, parangonas, enfim o lixo habitual, colocaram o teleponto no centro do debate político. Aos 81 anos Mário Soares fez dois, três discursos diários, durante dois meses, falando três quartos de hora sem uma nota que fosse. Totalmente de improviso. Esteve sempre presente em feiras, empresas, praças, espectáculos, comícios, jantares, debates, entrevistas e tudo o mais. Quis fazer a festa da democracia, uma campanha à antiga, procurando e conseguindo mobilizar os portugueses para o debate e participação política. (Por exemplo: não tenho dúvidas que muitos portugueses são contra que o estado pague aos partidos e candidatos dinheiro para as suas campanhas. Eu acho que o estado paga muito pouco e isso é um dos problemas centrais do nosso sistema. Não obstante, os partidos também gastam mal).
Foi um enorme prazer ter visto Mário Soares a fazer política activa. Por isso, obrigado Mário. Eu e os 700 e tal mil portugueses a quem resta algum reconhecimento, ficámos seguramente comovidos, na noite de ontem, perante o disparate comum e a sua grandeza.
Dito isto, é altura de virar a página. Para mim também. Todos os meus amigos se questionam porque me entusiasma tanto a política. Eu também me interrogo. Acho que sou mesmo daqueles que se motiva pelo PS, como pelo Benfica. Não, não é assim muito racional. E não sou militante porque nunca calhou, embora me sinta como tal.
Eu não gostei da forma como foi gerida esta campanha por parte dos seus responsáveis nacionais, regionais e de juventude. Mário Soares merecia mais.
Também não gosto da forma como alguns responsáveis olham para os adeptos humildes de bandeira, como é o meu caso e blindam o partido e as campanhas a contributos, ideias e sugestões. Eles sabem tudo e depois é a vergonha que se vê.
Achei que José Sócrates se deveria ter demitido do cargo de Secretário Geral do PS, provocando um congresso e obrigando o partido a esclarecer-se. Notei algumas ausências ontem (eu também não estive, porque estava de rastos, tenho crédito e não sou importante) no Áltis. Alberto Martins, João Cravinho, Maria de Belém, Vera Jardim, Manuel Maria Carrilho e claro, não consigo deixar de notar a ausência de Manuel Alegre, no dia mais difícil da vida do PS. Ou essa personagem não foi criada por Mário Soares e sustentada toda a vida pelo PS?
Penso que o adiamento de um esclarecimento profundo, terá repercussões a longo prazo. Isto não deveria pôr em causa o Governo, naturalmente.