segunda-feira, dezembro 17, 2007

Partidos e comunicação antidemocráticos

Os pequenos partidos, com menos de 5 mil militantes, protestam com a resolução de aplicação da lei, pelo Tribunal Constitucional.
Estão no seu direito.

Mas eu concordo que se acabe, formalmente, com eles. Eles não fazem parte da democracia. Porque o “Governo do Povo” pode e deve aceitar ideias minoritárias, mas não pode aceitar que meia dúzia de pessoas queiram adquirir na secretaria uma representatividade que o povo não lhes reconhece. Muito poucas pessoas votam, quanto mais serem militantes, no MPT, no PPM ou no PRN.
Não obstante, o seu direito de se unirem para eleições, eventualmente, mantendo as siglas, as propostas e os ideais, não estão em causa, inclusive quando recentemente se viram alegados movimentos de cidadãos, concorrerem a eleições. Esses movimentos são constituídos maioritariamente por pessoas de outros partidos e minoritariamente por independentes.


Outra falta de espírito democrático vem por vezes à conversa, quando se fala de José Sócrates e do governo. Nunca, como hoje, se viram tantas parangonas sobre a quebra de todos os recordes referentes às adesões a graves, manifestações de trabalhadores e afins. Todos artigos e entrevistas a Carvalho da Silva o enunciam como o homem que maior sucesso de adesão conseguiu desde o 25 de Abril.
O ridículo é frequentemente alcançado: quando visitou a sua escola foi recebido por uma multidão furiosa. Alguém acreditou naquele “movimento espontâneo”? Um mês depois, José Sócrates foi recebido em Bragança (o distrito mais laranja de Portugal, onde o PS nunca venceu em qualquer eleição, local, nacional ou presidencial) com uma multidão entusiasmada, a aplaudi-lo e aclamá-lo. Tratava-se do lançamento da A4, a primeira auto-estrada que ligará Bragança. Notícias? Linhas? Pequena caixa? Zero.
‘Bora lá falar de democracia.

quarta-feira, dezembro 12, 2007


Nem no parlamento...

… Os comunas dão descanso a José Sócrates. Acontece que o protesto de hoje, a que se associaram Ilda Figueiredo e Miguel Portas, sai logicamente pela culatra.

Fica assim exposto o formato de manifestações com que José Sócrates se debate internamente.

domingo, dezembro 09, 2007

Jornalismo Negação

(Algumas notas sobre a cobertura da Cimeira UE-África)

A cimeira promovida pela presidência portuguesa foi um sucesso. Diga-se, em abono da verdade, que o jornalismo português em geral, editores, repórteres e meios, deram uma justa cobertura ao acontecimento. Havia nos portugueses uma desconfiança sobre esta cimeira. O custo e o benefício foram discutidos em “Antenas Abertas”, espaços dedicados à simulação da democracia.

Nunca ninguém contestou que Sócrates se encontrasse, ainda que bipartidariamente, com George Bush, por exemplo. Já em relação à recepção colectiva de déspotas de países em sofrimento, a ideia generalizada parecia diferente.
No entanto, Sócrates acaba de o dizer no discurso de encerramento, só o facto de haver um encontro, é já um resultado em si mesmo.

O empenhamento de Portugal é extraordinário. A última cimeira tinha sido em 2000, no Egipto, com o patrocínio da então presidência portuguesa. E desta vez o conclave estava inscrito numa estratégia: o programa do actual governo manifesta desde logo a intenção prioritária de o realizar.

O engenho do governo português também não é despiciendo. Não só na plena adesão dos líderes europeus e africanos, com a excepção inglesa que confirma a regra, mas também a tónica humanista e progressista que da reunião emana e finalmente colocada nos protagonistas certos: os presidentes da União Africana e do Concelho Africano e Europeu.
Não deixaram de ser discutidos os assuntos determinantes: direitos do homem, bom governo, aquecimento global, globalização, progresso e economia justa.

Como foi dito a cobertura generalizada foi respeitosa. Parece que também os órgãos de comunicação social vestiram por umas horas o hábito da responsabilidade e do rigor. Mesmo as duas excepções que se seguem, também confirmam esta ideia.

Ontem, dia da abertura, ninguém obrigava a RTP a transmitir o evento. Poderia ter seguido a sua lógica de entretenimento, ninguém levaria a mal. Acontece que enquanto José Sócrates abria a reunião, a RTP não transmitia nenhuma série, nenhum reality musical, nenhum debate de info-entretenimento. A RTP1 transmitia em directo uma missa.
Ontem, nos espaços informativos da tarde, a SIC Notícias conseguiu por três ou quatro vezes, relegar o assunto para 2º plano do alinhamento. O assunto que ganhou a cena era o do costume: a amplificação de uma parangona jornalística de um jornal de comédia e cacique. O pobre jornalista, tido hoje como referência desde o dia que entrevistou um primeiro-ministro a cavalo numa mota, falava como se tivesse conhecimento das conclusões de um estudo ainda não concluído.
Hoje, incumbido de cobrir uma das salas da Cimeira, não evitou o gracejar do colega que o apresenta em antena: “E agora vindo de Alcochete…”

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Luto

Faleceu o compositor Karlheinz Stockhausen.

A música e o mundo perdem-no. Ficamos sem ele.

Numa incrível ironia, relembrou-me o português que melhor o conheceu, Pedro Amaral, Stockhausen faleceu no mesmo dia que Mozart.

Os meus sentimentos.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Momento Tragicómico

A intervenção de Francisco Louçã, ontem, no parlamento foi dos momentos mais cómicos da democracia portuguesa. Reunia a Comissão Parlamentar de Obras Públicas com a presença do ministro.

Louçã denuncia uma parangona jornalística como uma conclusão/afirmação do Relatório do Tribunal de Contas. É-lhe explicado que os números não são assim: são 9 milhões de Euros em ajustes directos e não 2,5 mil milhões como foi publicitado.

Louçã nem queria acreditar. E na verdade, não ouviu mais nada. Passou o resto do tempo à procura da alegada afirmação do Tribunal de Contas. Deverá ter sido a primeira vez que leu o relatório. Embasbacado, percebeu finalmente que o que ele pensava que estava lá, não passava de uma brincadeira de um jornal.

Uma mentira repetida muitas vezes torna-se numa verdadeira gafe política. Podia ter pedido desculpa. Pode vir a pedir. Não faz mal. O programa “Eixo do Mal” não vai deixar passar esta questão em branco. Já estou a ver Daniel Oliveira a ridicularizar o padre Francisco por fazer política suja, baixa e sem escrúpulos.

O que difere um deputado da nação de um jornalista de cacique? Pelos vistos nada. Nada.