Jornalismo Negação
(Algumas notas sobre a cobertura da Cimeira UE-África)
A cimeira promovida pela presidência portuguesa foi um sucesso. Diga-se, em abono da verdade, que o jornalismo português em geral, editores, repórteres e meios, deram uma justa cobertura ao acontecimento. Havia nos portugueses uma desconfiança sobre esta cimeira. O custo e o benefício foram discutidos em “Antenas Abertas”, espaços dedicados à simulação da democracia.
Nunca ninguém contestou que Sócrates se encontrasse, ainda que bipartidariamente, com George Bush, por exemplo. Já em relação à recepção colectiva de déspotas de países em sofrimento, a ideia generalizada parecia diferente.
No entanto, Sócrates acaba de o dizer no discurso de encerramento, só o facto de haver um encontro, é já um resultado em si mesmo.
O empenhamento de Portugal é extraordinário. A última cimeira tinha sido em 2000, no Egipto, com o patrocínio da então presidência portuguesa. E desta vez o conclave estava inscrito numa estratégia: o programa do actual governo manifesta desde logo a intenção prioritária de o realizar.
O engenho do governo português também não é despiciendo. Não só na plena adesão dos líderes europeus e africanos, com a excepção inglesa que confirma a regra, mas também a tónica humanista e progressista que da reunião emana e finalmente colocada nos protagonistas certos: os presidentes da União Africana e do Concelho Africano e Europeu.
Não deixaram de ser discutidos os assuntos determinantes: direitos do homem, bom governo, aquecimento global, globalização, progresso e economia justa.
Como foi dito a cobertura generalizada foi respeitosa. Parece que também os órgãos de comunicação social vestiram por umas horas o hábito da responsabilidade e do rigor. Mesmo as duas excepções que se seguem, também confirmam esta ideia.
Ontem, dia da abertura, ninguém obrigava a RTP a transmitir o evento. Poderia ter seguido a sua lógica de entretenimento, ninguém levaria a mal. Acontece que enquanto José Sócrates abria a reunião, a RTP não transmitia nenhuma série, nenhum reality musical, nenhum debate de info-entretenimento. A RTP1 transmitia em directo uma missa.
Ontem, nos espaços informativos da tarde, a SIC Notícias conseguiu por três ou quatro vezes, relegar o assunto para 2º plano do alinhamento. O assunto que ganhou a cena era o do costume: a amplificação de uma parangona jornalística de um jornal de comédia e cacique. O pobre jornalista, tido hoje como referência desde o dia que entrevistou um primeiro-ministro a cavalo numa mota, falava como se tivesse conhecimento das conclusões de um estudo ainda não concluído.
Hoje, incumbido de cobrir uma das salas da Cimeira, não evitou o gracejar do colega que o apresenta em antena: “E agora vindo de Alcochete…”
A cimeira promovida pela presidência portuguesa foi um sucesso. Diga-se, em abono da verdade, que o jornalismo português em geral, editores, repórteres e meios, deram uma justa cobertura ao acontecimento. Havia nos portugueses uma desconfiança sobre esta cimeira. O custo e o benefício foram discutidos em “Antenas Abertas”, espaços dedicados à simulação da democracia.
Nunca ninguém contestou que Sócrates se encontrasse, ainda que bipartidariamente, com George Bush, por exemplo. Já em relação à recepção colectiva de déspotas de países em sofrimento, a ideia generalizada parecia diferente.
No entanto, Sócrates acaba de o dizer no discurso de encerramento, só o facto de haver um encontro, é já um resultado em si mesmo.
O empenhamento de Portugal é extraordinário. A última cimeira tinha sido em 2000, no Egipto, com o patrocínio da então presidência portuguesa. E desta vez o conclave estava inscrito numa estratégia: o programa do actual governo manifesta desde logo a intenção prioritária de o realizar.
O engenho do governo português também não é despiciendo. Não só na plena adesão dos líderes europeus e africanos, com a excepção inglesa que confirma a regra, mas também a tónica humanista e progressista que da reunião emana e finalmente colocada nos protagonistas certos: os presidentes da União Africana e do Concelho Africano e Europeu.
Não deixaram de ser discutidos os assuntos determinantes: direitos do homem, bom governo, aquecimento global, globalização, progresso e economia justa.
Como foi dito a cobertura generalizada foi respeitosa. Parece que também os órgãos de comunicação social vestiram por umas horas o hábito da responsabilidade e do rigor. Mesmo as duas excepções que se seguem, também confirmam esta ideia.
Ontem, dia da abertura, ninguém obrigava a RTP a transmitir o evento. Poderia ter seguido a sua lógica de entretenimento, ninguém levaria a mal. Acontece que enquanto José Sócrates abria a reunião, a RTP não transmitia nenhuma série, nenhum reality musical, nenhum debate de info-entretenimento. A RTP1 transmitia em directo uma missa.
Ontem, nos espaços informativos da tarde, a SIC Notícias conseguiu por três ou quatro vezes, relegar o assunto para 2º plano do alinhamento. O assunto que ganhou a cena era o do costume: a amplificação de uma parangona jornalística de um jornal de comédia e cacique. O pobre jornalista, tido hoje como referência desde o dia que entrevistou um primeiro-ministro a cavalo numa mota, falava como se tivesse conhecimento das conclusões de um estudo ainda não concluído.
Hoje, incumbido de cobrir uma das salas da Cimeira, não evitou o gracejar do colega que o apresenta em antena: “E agora vindo de Alcochete…”
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