quinta-feira, janeiro 15, 2004

O 8 e o 80

Ontem George W. Bush fez um anúncio histórico: Os EUA preparam-se para fazer evoluir o seu programa espacial, de modo a poderem ter novos veículos (os obsoletos Space Shutlle estão à tempo de mais em actividade e nunca cumpriram, nem por sombras, o número de missões para que foram projectados e construídos) que conduzirá a humanidade a realizar uma base permanente na superfície lunar. Essa base servirá de etapa para o objectivo, ontem traçado, da conquista humana de Marte, a seis meses de distância do satélite da Terra e ainda na névoa científica dessa possibilidade (colocar um ser humano em Marte) não passar disso mesmo. Portanto ainda há muitos ses, financeiros e científicos, mas o anúncio de Bush não pode deixar de merecer elogio e admiração. Merece, sobretudo, alguma reflexão.

A primeira, já escalpelizada por comentaristas mundiais e afins (os portugueses marcianos), é evidente: Bush lançou de forma original a sua campanha presidencial com vista à reeleição. A segunda, é também, clara: com a opinião pública internacional e americana farta do falconismo saloio da administração das armas e da guerra, Bush transfere os interesses dos construtores de armamento, dos quais ele e os republicanos dependem, para a conquista espacial, área naturalmente do agrado do imaginário colectivo e que beneficia financeiramente ainda mais os referidos construtores.
Mas tudo o resto só se pode elogiar. Para mim e desde que não pague um tostão, prefiro saber que os americanos se matam a trabalhar para sustentar a evolução espacial e todas os departamentos científicos inerentes, do que para matar crianças e inocentes, por esse mundo fora, de forma estrategicamente insustentável, até de acordo com o recente e polémico Dossier do War College americano.

Mas ontem, em noite de insónia/zap, reencontrei o evidente. A CNN, Sky News, BBC World e todas as outras não especializadas, nos espaços informativos (TVE, RTL, Raio Uno, TV5 e etc.), não falavam de outra coisa, sendo que nas primeiras todos os aspectos foram devidamente contextualizados e discutidos por verdadeiros especialistas, com especial enfoque para os enquadramentos político e científico.
Nas televisões portuguesas generalistas e de informação (SIC N e NTV) aquela palavrinha de circunstância, no final dos blocos informativos, em tom do género "foi batido mais um recorde do guiness", ou "no Japão abriu um cabeleireiro para cães". Merda de insónia...

Mas a operação ao Jaqué correu bem e ele está para durar. Não tanto que assista (ou pelo menos oiça, que é o que faz, especialmente se reconhecer a vozinha do dono) à aterragem em Marte (2030?). E nós? Quais?