Top Five da Negação (semana 01 a 07-12-03)
5º- Confesso admiração por Felícia Cabrita e reconheço que a sua acção em todo o processo de denuncia pública dos diversos casos de pedofilia é um claro serviço público e exemplo de empenhamento jornalístico. Agora há uma coisa que não concordo: quando Felícia Cabrita aparece nos Jornais da SIC a comentar as situações A e B, torna-se o centro da notícia e não num agente, que é o que eticamente lhe é exigido. O mesmo para outros jornalistas como Carlos Fino (no mesmo contexto) e outros.
4º- O mesmo se aplica a José António Saraiva, ainda que numa situação diferente. O director do Expresso confessou a Carlos Vaz Marques no "Pessoal e... transmissível" que várias vezes interferiu na política tanto a nível partidário, como na governação do país. Sempre que solicitado, o arquitecto, opinou e lá foi dando exemplo de consequências práticas das suas ingerências na vida política. Mais: assumiu que se sente orgulhoso desse seu nível de intervenção.
Embora reconheça que a sua honestidade, nesta matéria, é uma mais valia que merece ser elogiada, acho que é precisamente por causa dessa promiscuidade que a política e o jornalismo estão nas ruas da amargura da opinião pública. Se José António Saraiva e todos os outros jornalistas poderosos querem intervir e por em prática medidas que entendem úteis para a nação, não podem exercer as funções que estão investidos e devem procurar agir no seio dos fieis depositários da causa política, precisamente os partidos. Porque é que as ideias não sufragadas dos jornalistas servem a nação? E, já agora, para além do atestado de estupidez aos dirigentes nacionais que esta revelação espelha, será que depois de postas em prática as soluções sugeridas, alguém no seio dos órgãos de comunicação social de onde provêm as porá em causa? Assim se prova que a opinião publicada é quase sempre cacicada.
3º- José Mourinho terá um final muito feio. As ruas da amargura de Oliveira, Artur Jorge e Toni, não chegam para albergar este cretino déspota. A sua conferência de imprensa em Madrid, onde falou da eliminatória do Benfica na Taça UEFA, faz desejar a pior vida profissional para este arrogante. Relembro que quando Mourinho (adorado por muitos benfiquistas) entrou para o Benfica sucedeu a Jupp Heynckes despedido após derrota fora na Taça Uefa por 2-1. Em Portugal e, após derrota na Madeira contra o Marítimo, Mourinho conduziu o Benfica a um empate a um golo, sendo portanto eliminado. A equipa? O Halmstad, do nível igual ou inferior ao do, por si referido, La Louvière. Como diria "Acaro" na peça " A Ópera do Falhado": "Não vales um chavo, meu cabrão!".
2º- A participação do ministro Pedro Roseta no "Prós e Contras" da RTP, fica para a história. O público, naturalmente instruído, foi evitando as palmas para os oponentes e as vaias para o protagonista mas não conseguiu esconder, várias vezes, a vontade de rir. A tirada da noite foi mesmo quando Pedro Roseta se dirigiu a Manuel Maria Carrilho como: "Sr. Ministro". Tudo a rir e Fátima Campos Ferreira logo acudiu o verdadeiro: "O Ministro já não é ele! Agora é você..."
1º- Quando o Bloco de Esquerda acerta o passo, confesso, a minha simpatia aproxima-se da sua irreverência e estilo. Mas é sol de pouca dura. Francisco Louçã apressa-se a recordar-me a estirpe de que são feitos. Chamou os jornalistas e um grupo fedorento de amigos e explicou que o Bloco jamais apoiará Guterres para Presidente. Assim é que se fazia política nos meus tempos de escola: sem projectos, nem sequer nomes, só mesmo contra alguém. Louçã ao seu pior estilo confessou claramente aquilo que é a verdadeira génese do Bloco: prefere a direita ao PS. Louçã disse ao país, simplesmente: Vota Cavaco! Deveria ser um pouquinho mais evoluído. Sr. Louçã: ponha os olhos no Paulinho Portas, cujo excelente resultado se deve a não ter feito um único ataque ao PSD.
Feed Back (13)
"Tentei ligar-te mas tinhas o telemóvel desligado. Era para te dizer que li e gostei. Acho que está com onda e humor. Beijinhos."
AS (04-12-2003, por sms)
"Esta ideia de mandares os links funciona muito melhor.
Só te sugiro é que não incluas de forma visível os nomes dos destinatários; manda em Bcc para evitar que os nomes da tua lista de contactos comecem a receber Spam (é que há muita gente que faz copy/paste destas cenas).
Continuo cada vez mais impressionado com a tua capacidade de produção.
Abraço."
JMP (03-12-2003, por e-mail)
"Bom regresso, com o sentido crítico cada vez mais apurado."
OB (02-12-2003, por e-mail)
"Caro amigo
Devo confessar que me falta tempo e oportunidade para ler, com cuidado, aquilo que vens publicando no teu espaço virtual.(...)
Quanto ao Estado da Nação, pouco tenho a acrescentar. Desde que Durão Barroso, Ferreira Leite (e a mim ninguém me tira que se trata do Cavaco travestido - já alguém os viu juntos?) e acólitos tomaram conta do país que estou capaz de aderir a qualquer alternativa de governo: desde o ultra-nacionalista russo Vladimir Jirinovski, passando pela Belle Dominique, até ao Padre Frederico.
Com um abraço."
TM (02-12-2003, por e-mail)
Todos com a broa!
E é assim. De repente. Sem ninguém perceber como aconteceu, de onde surgiu, quem está por trás. Um estado que há três dias estava numa curva descendente sem precedentes. Que mergulhava no abismo final, nas profundezas do terceiro mundo, de onde provavelmente, dirão alguns, nunca verdadeiramente saiu, apenas se disfarçava.
Um estado horrível e desesperante, que extraditava os melhores cientistas, que bloqueava, a todos os níveis, os melhores artistas. E no fundo os seus. Os seus. Que matava as suas gerações, ao longo de outras gerações.
Ninguém nunca perceberá como tudo se resolveu... De repente as televisões começaram a dar a notícia, seguiram-se os jornais e as rádios ou, provavelmente, foi vice versa, mas pouco importará. De repente foi como se Deus tivesse aparecido em forma de broa. Esse mesmo país que dias antes caminhava para a morte, lentamente claro está, inverteu toda a sua falta de auto estima, todo o seu cabisbaixo orgulho e decidiu construir a maior broa do mundo! Mais do que isso: decidiu transmiti-la com directos q.b., apoiá-la seguramente pela opinião generalizada dos cafés cheios que, entre duas aguardentes, rectificaram o assunto como muito importante e positivo. Afinal a mais genial criação é aquela que é a mais simples: uma simples grande broa colectiva. E os outros invejosos colocarão nas suas primeiras páginas: "A maior broa do mundo é Portuguesa!".
Acabou o desemprego, o pacto da estabilidade que acabara com o crescimento, a crise, os boys for all the jobs, os próprios hand jobs, a fome, a miséria, a guerra preventiva (e se o mundo for atrás ninguém terá de matar preventivamente o Sr. Bush), os partidos engatados na banca e na construção civil e nos dirigentes do futebol corrupto. A broa nacional acabou até com a ideia, que se começava a generalizar, que se calhar o Euro 2004 servirá antes de tudo para enriquecer os bolsos de uma pequena minoria que até vai conseguir bilhetes à distância de um telefonema e uma promessa de uma ida breve às putas.
Uma simples maior broa portuguesa do mundo acabou com coliseus inteiros a aplaudir indiciados em crimes de pedofilia no mesmo dia e com importantes figuras do estado que adoravam cheirar as meias usadas dos jovens prostitutos, mas que nunca foram sequer referidos, com a conivência de todos os cidadãos.
A um espírito pouco desenvolvido intelectualmente, onde a criatividade perdia terreno para a canastrice e a imaginação para a realidade pornográfica da vida, da guerra e do exame à pila em directo, seguiu-se a frenética aparição da broa, onde o estado desatou todo a rir compulsivamente, sem saber de onde lhe vem essa vontade que começa a fazer doer os maxilares. Onde quer que vão, os portugueses riem a bandeiras despregadas, no metro, nas filas do túnel do Marquês, no preenchimento do IRS, no pagamento das portagens, da gasolina e imagine-se do leite e do pão. Tudo quanto mais se paga e menos se ganha e que pagam os que pagam sempre, dá vontade de rir. Os únicos prejudicados foram os homens da noite: tiveram de duplicar as doses de essências ministradas nas bebidas alcoólicas, porque o pessoal, com a broa, passou a ter dores de cabeça.
Claro está que quem se lembrou de estragar dose tão significativa de condimentos (porque naturalmente o tempo de execução do panídeo fará que a extremidade inicial entre em putrefacção e por aí fora) e para mais em tempo de crise e quem decidiu dar cobertura a este evento e porque não quem o apoia (uma boa parte dos concidadãos) deverá ser medalhado. Nem que seja com molho de cabrito assado no forno, mas uma medalhinha ninguém pode recusar.
E que outras ideias podem servir para enaltecer o sentido patriótico de uma nação? Que outros grandes feitos podem provocar a reposição da auto estima colectiva? O Estado Negação deixa as suas sugestões:
1- Produção do maior traque colectivo. Dia 25 de Dezembro às duas da tarde (hora de Portugal Continental) peide-se! Vamos ouvir a flatulência de um país. Se todos nos conseguirmos traquejar ao mesmo tempo, o ruído produzido ecoará na Lua. Aproveite o dia de Natal e saúde os nossos emigrantes espalhados por esse mundo fora. Dia 25 Portugal fará história. (atenção: o pessoal acostumado a esta prática deverá suster iniciativas individualistas para a hora aprazada e o pessoal com dificuldades em fazê-lo em público deverá procurar estar sozinho, mas não falhar a participação).
2- O maior orgasmo do planeta. Dia 24 à noite, depois das prendas começar a ter relações sexuais. A ideia é que toda a malta se venha às três da matina. Os mais inibidos deverão fazer um esforço para se soltar. As mulheres com vaginismo deverão recorrer ao sexo anal e os solitários à masturbação. Os casais com filhos deverão ter alguns cuidados, mas também não será o primeiro e último descuido... Os homens com ejaculação precoce deverão usar a técnica do cordel.
3- A maior detenção da história. No dia 31 de Dezembro a partir das 16.00H cometa um crime. Aconselha-se vivamente o pequeno e o médio furto. Game nos estabelecimentos ainda abertos e parta as janelas do pequeno comércio, fechado e reunido com a família, na ideia de que a época natalícia trouxe algum ânimo, mas a rezar aos santinhos para que o próximo ano duplique as vendas ou a falência será inevitável! Aceitam-se homicídios justificados: o patrão, a sogra e os clichés do costume. A ideia é estragar a noite de ano novo às autoridades. Se toda a gente aderir, por volta da meia noite será o caos nas esquadras deste país. Milhares de pessoas serão detidas e levadas para ginásios e outros espaços cedidos por associações humanitárias. No dia 31 participe na maior detenção da história da humanidade.
4- Tiroteio 2004. No dia 1 de Janeiro de 2004, Portugal organiza uma mega acção de boas vindas ao Euro. Todos os cidadãos deverão estar munidos de armas, pelo que o abastecimento ilegal é obrigatório. (Eu por exemplo safo-me bem aqui nas traseiras do meu bairro, pelo que falarei já amanhã com o Sr. Lello). No primeiro dia do ano desate aos tiros. Simplesmente imagine que é o seu último dia na terra, dirija-se à janela e desate aos tiros contra tudo o que mexer: cães, gatos e sobretudo pessoas. Apela-se a que as escolas aderentes interrompam as férias por um dia para possibilitar aos alunos um tiroteio de escola (este formato é muito apreciado e garante a cobertura mediática internacional). Quem quiser aderir, deve-se abster de participar nos festejos da véspera, a não ser que consiga gamar a arma ao polícia, o que na esquadra é tarefa, convenhamos, difícil.
Se não nos virmos antes, Boas Festas.