Sentimento Fixe 2
Dr. David Gipp, president of United Tribes Technical College.Hard Rock Cafe, 26 de Agosto de 2008, Denver, CO.
Sentimento Fixe
28 de Agosto de 2008Comício de aceitação do (agora) Presidente Barack Obama, Invesco Field, Denver, CO
“(…) O que nos tem impedido de fazer face a esses desafios não é a ausência de políticas sãs e planos sensatos. O que nos travou foi a falta de liderança, a pequenez da nossa política, a facilidade com que nos distraímos com o que é mesquinho e trivial, a nossa fuga às decisões difíceis, a nossa preferência por marcarmos pontos fáceis, em vez de arregaçarmos as mangas para a construção de consensos viáveis para a resolução dos grandes problemas. (…)”
Barack Hussein Obama
Esta miúda irrequieta
A Joana Amaral Dias foi excluída dos órgãos dirigentes do Bloco. Certo?
Eu entreguei-lhe, por SMS,”um abraço solidário”.
Ela agradeceu a todos os que lhe manifestaram “a sua solidariedade”, num dos raros artigos que escreveu no seu blogue de sempre. Facto?
Igualmente enumerou os blogues, não o caso deste, que ciberneticamente, o fizeram.
Agora, cara Joana é altura da guerra! Ready?
O que é que, por obra e graça do espírito santo, te levou a trocar palavras de fidelidade com o padreco (o Louçã, ainda vai concordar com a Igreja, se tal for tacticamente útil)? O que é que andas aí a fazer? Vão obrigar-te a apoiar o Manuel Alegre, como aliás quase concordaste (falando da convergência, sem seres, claro, capaz de proferir o nome) e ainda não expulsa das tuas funções? Olha lá. Esse teu talento brilhante, é possível ter retorno?
Já agora, se concordares. É possível seres realmente de esquerda? A verdadeira. Em nome do povo do nosso país, para começar.
PS: Uma nota mais séria. A Joana é dos políticos mais comprometidos com a União das Esquerdas. Este pontapé à traição que lhe deram, visa justamente quebrar um dos seus agentes. A dita "esquerda", mais uma vez, não teve assiduidade.
O outro estímulo
O senado e o congresso aprovaram o plano de estímulo à economia do Presidente Obama. Dennis Kucinich, representante do Ohio ao Congresso e Presidente da Subcomissão de Política Interna, manifestou já a intenção de fazer audiências ao anterior “Baillout”, que injectou 700 biliões de dólares na banca. Um dos motivos: só este ano a banca americana vai gastar 400 milhões de dólares em “naming” de estádios de desporto.
1ª Ideia: Dennis Kucinich é o meu preferido às primárias democratas de 2016. Será muito difícil escolher um candidato que detém o maior respeito da esquerda do partido democrata e à esquerda do mesmo. Mas veremos os ciclos económicos mundiais nos próximos anos. Não foi por isso que não esteve com Barack Obama, nunca abandonando o seu partido e discursando no DNC, em Agosto passado (farpa para alegristas e rosistas deste país).
O Plano de Estímulo de Obama foi celebrado na Florida, num evento cujo anfitrião foi o Governador Charlie Crist.
2ª Ideia: Charlie Crist é, em meu entender, o “front runner” dos republicanos em 2012. Quiçá, inteligentemente, não se resguardará para 2016.
Ontem, o decano Senador Democrata do Vermont, Patrick Leahy, Presidente do Comité Judiciário do Senado, propôs a criação de uma comissão de “Verdade e Reconciliação”, a exemplo do que aconteceu na África do Sul pós Apartheid. A ideia é trazer a público e à justiça as atrocidades cometidas pelos responsáveis norte-americanos durante a era Bush.
A única matéria que une alguns democratas e a esquerda radical americana, comandada por Ralph Nader, é a ideia do apuramento da verdade em relação à barbárie protagonizada por Bush, Cheney e Rove, o homem que comandava o aparelho e o ideólogo da máquina de morte e tortura.
3ª Ideia: Em Agosto passado em Denver assisti a uma conferência de Dennis Kucinich, no Hotel Sheraton, organizada pelos Árabes do Partido Democrata. Entre outras propostas, fixei a de perseguir judicialmente a administração anterior, perante a evidência do chumbo do “impeachment” tentado por alguns democratas e chumbado por outros e pelos republicanos, durante o exercício da administração Bush. Nos próximos anos, não teremos dúvidas: será uma das mais importantes missões dos americanos e da humanidade. Julgar e, eventualmente, condenar os responsáveis pela morte de mais de um milhão de pessoas, conforme informou, Kucinich.
Confrontado com a proposta de Leahy, na conferência de imprensa de ontem, o Presidente Obama preferiu dizer que olha com mais enfoque para o futuro que para o passado, que a sua administração não patrocinará quaisquer actos de tortura e que não conhece a proposta, mas quando conhecer, lhe dará resposta. Isto é muito mais que a anterior reacção de Nancy Pelosi e outros chefes, em relação ao problema.
Entretenimento Ideológico
1. Ainda sobre a ficção
Passada cerca de uma década sobre o Big Brother, durante a qual José Eduardo Moniz reclamou, catapultado pelo “sucesso do pontapé de Marco”, a criação de uma indústria de ficção, podemos agora fazer um curto balanço.
Será quantidade, qualidade? Será legítimo ter havido tanto investimento numa área, sem avaliação concreta dos resultados? Há mais pessoas a ver televisão por causa da ficção? Os portugueses gostam hoje mais das novelas, dos actores e das estações de televisão? Realmente, aproximaram-se em número de pessoas e aumentaram os seus laços de simpatia? Essa indústria… Têm os actores as suas profissões asseguradas de modo digno, estável e em condições sociais equivalentes a outros portugueses? E os técnicos? E as empresas de produção audiovisual e de meios e equipamentos? Beneficiaram, melhoraram, criaram emprego, ajudaram a economia?
Afinal. Qual foi o investimento e qual é o verdadeiro retorno? Quanto se gasta anualmente por cada espectador que assiste à ficção televisiva nacional? Quanto/o que realmente se perde por cada espectador que não se identifica, mudando para a oferta anglófona do Cabo, ou desistindo de ver/ter televisão? Estamos, ou não estamos, no ciclo de perda de identificação que o cinema viveu desde a divisão do bolo concretizada pelos realizadores e produtores no rescaldo de Abril de 74?
2. A Vida Privada de Salazar
A mini-série ontem apresentada pela SIC merece alguma reflexão. É alegadamente inspirada em vários livros, inclusive nos “Amores de Salazar” da jornalista Felícia Cabrita. Nela (a série), fingem mostrar as relações íntimas de Salazar. Ninguém melhor que Nuno Santos (já tinha coordenado o “Maior Português”) para dar o aval à exibição do carácter pessoal de um político, que aliás, sempre o escondeu. Nada interessa menos aos portugueses que Salazar enrolado com Soraia. Já a tínhamos visto com um padre e de forma bem mais explícita.
O verdadeiro desafio proposto pelos autores e produtores da série, os responsáveis de programação e os administradores da Impresa, é mostrar o lado humano do terrível ditador. As suas dúvidas em relação à Guerra, a forma como é poupadinho, até a desenrolar um presente poupa o cordel e o papel, como declara a Cerejeira (meu Deus que pontapé na história) o afastamento relacional motivado por ser Presidente do Conselho e “Manuel,” o Cardeal… Como expele a beata conterrânea que a ele se queixa dos subversivos. Uma história onde não existem perseguições, presos, torturas e assassinatos. Bem vistas as coisas, a série da SIC em nada separa a origem humilde, o bom julgamento e o amor à pátria de Salazar e Barack Obama :)
A série da SIC esquece os que lutaram pela democracia, que foram torturados e assassinados e que tinham família! Um país que passou fome, cuja moeda era forte para benefício das grandes corporações, todas, todas, feitas com o regime, mas em que o povo comia com senhas de racionamento. E cujo desenvolvimento intelectual era também racionado.
Estes aspectos não são despiciendos. São realmente importantes no quadro da decisão de investir neste conjunto de tricas que disfarçam a absolvição da figura de Salazar, pela via mais conveniente. A pessoal. Desconhecida, pouco provável e, apesar de tudo, a menos importante de todas. É verificável que dos democratas não reza a história. Séries, documentários e livros de merda, demonstram, na sua maioria, duas coisas: o 25 de Abril (e o pós) e a maravilha dos early years do fascismo (agora até se diz que não houve fascismo em Portugal).
Poderia enumerar um conjunto de histórias e livros que seguiriam um rumo programático diferente. Eis, em jeito de exercício, exemplos de títulos:
O General sem Medo;
Assalto ao Santa Maria;
Assalto ao Banco da Figueira;
Fuga de Peniche;
A Vida de um exilado;
Eusébio: quase o melhor de sempre.
3. Estamos de acordo
Tenho defendido, embora pouco levado a sério, que a programação deve ter tendência ideológica. Que a minha ideia fique clara: a informação de uma estação deve ser verdadeiramente isenta. Isso não acontece em nenhuma delas. Sempre que não são rigorosos perdem pessoas, perdem audiências.
Mas as escolhas de entretenimento e ficção devem ter uma tendência clara. Essa ideologia na decisão já existe: “Nós por cá”, “Caia quem Caia”, “Prós e Contras”, “O maior português de sempre”. Chega agora à ficção e é bom que não se fique só pela esfera conservadora.
4. Da Série
Bem se vê a (ausência da) tal evolução na ficção portuguesa. Para mim é simples. Ficção bidimensional, sem drama, mal interpretado e sem realização.
Diogo Morgado tem um problema. Fala português com pronúncia inglesa. Os “d” e “t” aspirados, não o devem ser. Fecha a boca a falar, como Diogo Infante e Ricardo Carriço. Bastava a consciência da sua dicção para melhorar a sua credibilidade. Que nunca chegaria para ser escolhido para fazer Salazar.
Bastaria aos argumentistas terem lido um daqueles livritos para adolescentes que resumem e explicam a estrutura da tragédia clássica, para entenderem que não se contam histórias sem desenvolvimento dramático. Clímax, motivação, desilusão, surpresa, paixão, morte. Por exemplo.
(Nota: gastam-se centenas de milhares de euros num episódio e ninguém verifica que a cópia de emissão tem um drop de mais de 20 segundos).
Uma não surpresa
Finge o mundo estar surpreendido pela vitória escassa do partido Kadima, liderado por Tzipi Livni, a ex Ministra dos Negócios Estrangeiros.
Efectivamente as eleições aconteceram depois da demissão de Ehud Olmert, envolvido em casos de corrupção. Também ele liderava uma coligação onde o seu partido, Kadima, tinha a maioria. Daí a surpresa de nova vitória?
Não. Nada que uma guerrazita não pudesse inverter…