Blasted!
Ontem, ouvi o xôr Sousa Tavares expressar a opinião, um pouco ébria e, acima de tudo, frívola, de alguém que, de vez em quanto, pica a cnn, numa noite mais sombria, dizendo que a Sra. Clinton é mais consistente, mais "presidenciável" e mais capaz, embora reconhecendo que ela perde claramente, em todos os estudos de opinião, de todas as tendências políticas, com McCain e Obama, vence.
No debate de ontem, na NBC, em Ohio, Obama, deu uma verdadeira chapelada na concorrente. Venceu nas estatísticas, nos comentadores e, perante todos os que, com o mínimo de bom-senso, o tenham visto com isenção!
Obama deu uma chapelada. Neste estado, Clinton estava 20% à frente, há dois meses. Ainda ontem liderava por 7%, numas sondagens e empatava noutras... No Texas, Obama lidera ligeiramente em todos os estudos.
Se Clinton não vencer claramente os dois estados, diz adeus à fantasia. Na minha opinião já não consiguirá nenhum. As últimas sondagens dão Obama a vencer por 20% na totalidade do território.
Yes We Can!
TVI 15 anos
Ao contrário, não acho que seja para celebrar. Serviria quanto muito, para pensar no estado do meio e do mercado.
Nem tudo é negativo. João Maia Abreu, director de informação da TVI, conseguiu equilibrar uma redacção que em matéria de independência política devia muito. Moniz teve essa visão e colocou um jovem director com bom senso no comando da informação da estação, numa jogada de antecipação ao novo accionista Prisa.
Não é tudo, é uma pequena parte. Mas se fosse sempre assim… Parabéns TVI.
Pela boca morreu a “peixa”
Ontem, decorreu mais um debate entre os candidatos democratas à Casa Branca. E preciso esclarecer dois pontos:
Sigo e apoio o senador do Illinois desde Novembro de 2004, após a derrota de John Kerry, com um post neste blogue que o nomeava: “Barack Obama – Future Hope of America”.
O lamentável editorial do DN de ontem, que dava conta de uma total unanimidade da esquerda portuguesa em torno de Obama, não é verdade. Nem entre muitas pessoas que tenho falado, mas também publicamente, José Medeiros Ferreira, Luís Nazaré e Vital Moreira, entre outros, têm manifestado simpatia por Clinton.
O editorial só é tenebroso porque um jornal decide adjectivar uma tendência política da esquerda portuguesa. Porquê? Para que é que isso importa a um jornal? Porque é que alguém a quem cumpre reportar, informar e difundir opinião coloca todos no mesmo cesto? Por ter uma orientação política de direita?
Barack Obama tem tido uma campanha fantástica. Partindo de uma posição muito inferior em relação à Senadora de Nova Iorque, 20% abaixo, como costuma dizer, impôs-lhe pesadas e consecutivas derrotas, superando o establishment do Partido, o clã Clinton, todo empenhado neste combate e a mulher mais conhecida da América.
Obama não para. E mesmo a comunicação social próxima dos Clinton, CNN à cabeça, começa a demonstrar fraqueza, com a maioria dos jornais, em diversos estados, a apoiarem o afro-americano.
As suas diferenças são claras: Obama é verdadeiramente inspirador, Clinton é plástica. Ele promete mudança, esperança e união dos americanos, ela oferece mais uma década, a quarta, comandada por duas famílias: os Bush e os Clinton.
Ambos defendem uma reforma no Serviço Nacional de Saúde, tornando-o universal, embora Obama pretenda que seja obrigatório, apenas, que os pais inscrevam as crianças e Clinton que seja totalmente obrigatório. Naturalmente que estas obrigatoriedades são para a aquisição de seguro de saúde, daí que se questione o factor de possibilidade “universal”.
Obama sempre condenou publicamente a guerra, Clinton suportou a decisão de Bush, votando-a favoravelmente. Ambos defendem a retirada dos EUA.
Surpreendam-se agora: Obama defende que se tem que encontrar com os inimigos (terroristas para alguns) sem condições prévias, embora com uma agenda que inclua os direitos humanos e a liberdade de imprensa. Tal como Mário Soares defendeu, numa matéria muito polémica em Portugal, tendo sido acusado de senilidade por meia dúzia de senis, o político mais talentoso do mundo insiste que se encontrará com os líderes de Cuba e Irão. Cita, nesta temática, John Kennedy: “Não devemos negociar com medo, mas não devemos ter medo de negociar”.
Em relação a Cuba e aí o debate de ontem teve uma novidade, Obama defende o imediato levantamento do embargo em duas matérias: medicamentos para as crianças doentes e possibilidade dos cidadãos americanos de origem cubana poderem visitar as suas famílias.
Ainda em matéria de diferenças, nos planos para a educação, Obama tem um plano para financiar o acesso à Universidade, com 4000 dólares para cada beneficiário, em troca de trabalho comunitário.
Finalmente, nas políticas para o restabelecimento da economia as duas candidaturas têm uma diferença importante: Obama considera determinante para a recuperar da recessão, uma Green Economy, ou seja, defende o investimento claro nas energias alternativas, como forma de reter os biliões de dólares gastos em petróleo, defender o desenvolvimento sustentado e criar milhões de postos de trabalho.
Clinton, no debate de ontem, esteve no pior momento da noite e no melhor, estando assim provada a estabilidade de Obama, que teria de ser claramente derrotado, para terminar o chamado momentum (na verdade esta expressão do spinning de Hillary, procura limitar no tempo a vitoriosa caminhada do seu adversário). No pior momento, cometeu uma desagradável gafe, considerando o slogan de Obama, Change We can believe in, num Change We can zirok, numa alusão a que os discursos de Obama são copiados de Deval Patrick, governador de Massachusetts. Obama explicou a palermice da afirmação, uma vez que o governador é seu colaborador nesta campanha e portanto utiliza frases dele, como de outros estrategas. Clinton foi apupada. Na verdade atacou-o na questão em que Obama marca cada vez mais pontos, a sua extraordinária capacidade de mobilizar e convencer os americanos.
No final Clinton teve também o seu momento mais feliz: falou sobre ter estado num hospital de vítimas americanas da guerra (very tipical e muito hipócrita, mas pega) e de pensar que no final deste combate os dois ficarão bem, com o apoio da família e dos amigos, mas não sabe se o povo americano conseguirá recuperar. A lamechice de Clinton, tal como a de New Hampshire, valeu-lhe a única ovação, ela que precisava de uma noite inteira de aclamações. Na verdade, soube-se a seguir, Clinton imitou palavra por palavra, declarações de John Edwards em Dezembro de 2007. Pela boca…
Estão assim em confronto duas gerações políticas, duas formas distintas de fazer política. A antiga e a moderna. Claro que a mudança de Obama ficará aquém daquilo que nós, os da esquerda moderna europeia, desejariam. Mas os EUA não conseguem, não querem mais. Valerá um verdadeiro espírito reformador e é esse em que aposto.
Três curiosidades finais: Obama utiliza frequentemente a expressão “cool” (porreiro). Por exemplo, quando explicou que ser primo de Cheney não é uma boa notícia (embora verdadeira), porque quando imaginamos um primo, pensamos em alguém “cool” e não no ultra conservador.Dá-lhe charme e aproxima-o do eleitorado jovem.
Confessou John King, provavelmente o jornalista político mais interessante no momento, que antes do debate, Obama e Clinton, falaram animadamente dos homens dos serviços secretos que os protegem. As suas alturas gigantes, a vantagem de poderem comprar botas de cowboy no Texas, etc. É a segunda vez que Obama comenta os seus serviços de protecção de forma jocosa: a primeira foi em Nova Iorque, quando contou que os sempre calados agentes começaram a sussurar a presença de Bob de Niro no comício. Estas brincadeiras inocentes, podem ser um bom sinal para uma América em profunda polémica devido ao transporte e tortura de presos políticos. É uma forma interessante de se demarcar de determinada prática.
Última: aceitam-se apostas sobre quem será o candidato a vice de Obama, caso, como se espera, vença as primárias. Edwards será difícil, não entra no partido democrata profundo, portanto é a escolha no 3. Entra na esquerda e pode equilibrar a tendência que Obama revela para o centro, a única forma de ganhar as presidenciais.
Hillary seria a melhor escolha para captar o caudal democrata. Mas a sua escolha (e aceitação) manchariam uma campanha que defende a mudança. Escolha número 4.
Assim, tendo como base a necessidade de confortar o partido, a escolha deverá ser: Ted Kennedy. Pois é. A minha aposta é o irmão Kennedy.
Mas cuidado: Howard Dean está à espreita… Escolha número 2.
Oligarquia consolidada ou a mudança em que podemos acreditar
A próxima terça-feira nos Estados Unidos será o momento eleitoral mais importante desde o fim da guerra fria.
Republicanos e democratas vão escolher uma grande maioria de delegados às respectivas convenções, portanto, na realidade escolher os seus respectivos candidatos. Do lado republicano duas evidências: McCain vencerá a luta interna e perderá a batalha nacional. A estratégia passa agora por ressuscitar Ronald Reagen, elogiando-o, fazendo dele a referência política, aquele em que todos os pré-candidatos republicanos se revêem e que todos mencionam e citam. A lógica é sui generis: criticar Bush por omissão, elogiando paralelamente o presidente dos anos 80.
Assim, na prática, na próxima super terça-feira, caberá ao eleitorado democrata escolher o próximo presidente dos EUA.
E existem duas hipóteses: Obama ou Clinton.
A mulher do ex-presidente partiu com larga vantagem nas sondagens em relação ao Senador do Illinois. A campanha tem no entanto revelado uma manifesta recuperação de Obama, que já bateu Clinton em dois estados, Iowa e South Carolina. A senadora venceu Michigan e Florida (Estados castigados por não respeitarem o calendário da direcção do partido, logo não elegendo candidatos) e New Hampshire (elegendo apenas 11 delegados contra 12 de Obama, resultado do método eleitoral por cidade) e Nevada (empate em número de delegados: 14).
A dinâmica de vitória eleitoral está claramente do lado de Barack Obama. Acresce a infeliz intromissão de Bill Clinton que, antes das eleições na Carolina do Sul, acusou Obama de estar a fazer uma campanha de “conto de fadas” e colocou o enfoque nas questões étnicas. O resultado foi desastroso para a sua mulher, duramente penalizada nas urnas.
Depois de John Kerry e Ted Kennedy apoiarem a candidatura de Obama, apoio muito necessário para o interior do partido, falta agora saber se o desistente, mas acarinhado, John Edwards se manifesta a favor de alguém (Obama?).
Neste quadro é essencial perceber que desde 1989, portanto há vinte anos, que duas famílias alternam o mais alto cargo dos EUA e o mais poderoso do mundo. Desde 1989, em que o pai Bush foi eleito, que se mantém uma desesperante alternância. Uma oligarquia que faz lembrar as ditaduras familiares dos países do médio oriente.
Não que ser filho ou esposo de alguém deva ser impeditivo do exercício de qualquer actividade. A questão é o radicalismo a que se pode chegar: se for eleita na próxima terça-feira Hillary Clinton levará a que os destinos da poderosa América venham a ser comandados apenas por duas famílias por mais de trinta anos (até 2019), sem contar os 10 anos em que o pai Bush foi vice-presidente de Reagan. Não é muito democrático, pois não?