Pela boca morreu a “peixa”
Ontem, decorreu mais um debate entre os candidatos democratas à Casa Branca. E preciso esclarecer dois pontos:
Sigo e apoio o senador do Illinois desde Novembro de 2004, após a derrota de John Kerry, com um post neste blogue que o nomeava: “Barack Obama – Future Hope of America”.
O lamentável editorial do DN de ontem, que dava conta de uma total unanimidade da esquerda portuguesa em torno de Obama, não é verdade. Nem entre muitas pessoas que tenho falado, mas também publicamente, José Medeiros Ferreira, Luís Nazaré e Vital Moreira, entre outros, têm manifestado simpatia por Clinton.
O editorial só é tenebroso porque um jornal decide adjectivar uma tendência política da esquerda portuguesa. Porquê? Para que é que isso importa a um jornal? Porque é que alguém a quem cumpre reportar, informar e difundir opinião coloca todos no mesmo cesto? Por ter uma orientação política de direita?
Barack Obama tem tido uma campanha fantástica. Partindo de uma posição muito inferior em relação à Senadora de Nova Iorque, 20% abaixo, como costuma dizer, impôs-lhe pesadas e consecutivas derrotas, superando o establishment do Partido, o clã Clinton, todo empenhado neste combate e a mulher mais conhecida da América.
Obama não para. E mesmo a comunicação social próxima dos Clinton, CNN à cabeça, começa a demonstrar fraqueza, com a maioria dos jornais, em diversos estados, a apoiarem o afro-americano.
As suas diferenças são claras: Obama é verdadeiramente inspirador, Clinton é plástica. Ele promete mudança, esperança e união dos americanos, ela oferece mais uma década, a quarta, comandada por duas famílias: os Bush e os Clinton.
Ambos defendem uma reforma no Serviço Nacional de Saúde, tornando-o universal, embora Obama pretenda que seja obrigatório, apenas, que os pais inscrevam as crianças e Clinton que seja totalmente obrigatório. Naturalmente que estas obrigatoriedades são para a aquisição de seguro de saúde, daí que se questione o factor de possibilidade “universal”.
Obama sempre condenou publicamente a guerra, Clinton suportou a decisão de Bush, votando-a favoravelmente. Ambos defendem a retirada dos EUA.
Surpreendam-se agora: Obama defende que se tem que encontrar com os inimigos (terroristas para alguns) sem condições prévias, embora com uma agenda que inclua os direitos humanos e a liberdade de imprensa. Tal como Mário Soares defendeu, numa matéria muito polémica em Portugal, tendo sido acusado de senilidade por meia dúzia de senis, o político mais talentoso do mundo insiste que se encontrará com os líderes de Cuba e Irão. Cita, nesta temática, John Kennedy: “Não devemos negociar com medo, mas não devemos ter medo de negociar”.
Em relação a Cuba e aí o debate de ontem teve uma novidade, Obama defende o imediato levantamento do embargo em duas matérias: medicamentos para as crianças doentes e possibilidade dos cidadãos americanos de origem cubana poderem visitar as suas famílias.
Ainda em matéria de diferenças, nos planos para a educação, Obama tem um plano para financiar o acesso à Universidade, com 4000 dólares para cada beneficiário, em troca de trabalho comunitário.
Finalmente, nas políticas para o restabelecimento da economia as duas candidaturas têm uma diferença importante: Obama considera determinante para a recuperar da recessão, uma Green Economy, ou seja, defende o investimento claro nas energias alternativas, como forma de reter os biliões de dólares gastos em petróleo, defender o desenvolvimento sustentado e criar milhões de postos de trabalho.
Clinton, no debate de ontem, esteve no pior momento da noite e no melhor, estando assim provada a estabilidade de Obama, que teria de ser claramente derrotado, para terminar o chamado momentum (na verdade esta expressão do spinning de Hillary, procura limitar no tempo a vitoriosa caminhada do seu adversário). No pior momento, cometeu uma desagradável gafe, considerando o slogan de Obama, Change We can believe in, num Change We can zirok, numa alusão a que os discursos de Obama são copiados de Deval Patrick, governador de Massachusetts. Obama explicou a palermice da afirmação, uma vez que o governador é seu colaborador nesta campanha e portanto utiliza frases dele, como de outros estrategas. Clinton foi apupada. Na verdade atacou-o na questão em que Obama marca cada vez mais pontos, a sua extraordinária capacidade de mobilizar e convencer os americanos.
No final Clinton teve também o seu momento mais feliz: falou sobre ter estado num hospital de vítimas americanas da guerra (very tipical e muito hipócrita, mas pega) e de pensar que no final deste combate os dois ficarão bem, com o apoio da família e dos amigos, mas não sabe se o povo americano conseguirá recuperar. A lamechice de Clinton, tal como a de New Hampshire, valeu-lhe a única ovação, ela que precisava de uma noite inteira de aclamações. Na verdade, soube-se a seguir, Clinton imitou palavra por palavra, declarações de John Edwards em Dezembro de 2007. Pela boca…
Estão assim em confronto duas gerações políticas, duas formas distintas de fazer política. A antiga e a moderna. Claro que a mudança de Obama ficará aquém daquilo que nós, os da esquerda moderna europeia, desejariam. Mas os EUA não conseguem, não querem mais. Valerá um verdadeiro espírito reformador e é esse em que aposto.
Três curiosidades finais: Obama utiliza frequentemente a expressão “cool” (porreiro). Por exemplo, quando explicou que ser primo de Cheney não é uma boa notícia (embora verdadeira), porque quando imaginamos um primo, pensamos em alguém “cool” e não no ultra conservador.Dá-lhe charme e aproxima-o do eleitorado jovem.
Confessou John King, provavelmente o jornalista político mais interessante no momento, que antes do debate, Obama e Clinton, falaram animadamente dos homens dos serviços secretos que os protegem. As suas alturas gigantes, a vantagem de poderem comprar botas de cowboy no Texas, etc. É a segunda vez que Obama comenta os seus serviços de protecção de forma jocosa: a primeira foi em Nova Iorque, quando contou que os sempre calados agentes começaram a sussurar a presença de Bob de Niro no comício. Estas brincadeiras inocentes, podem ser um bom sinal para uma América em profunda polémica devido ao transporte e tortura de presos políticos. É uma forma interessante de se demarcar de determinada prática.
Última: aceitam-se apostas sobre quem será o candidato a vice de Obama, caso, como se espera, vença as primárias. Edwards será difícil, não entra no partido democrata profundo, portanto é a escolha no 3. Entra na esquerda e pode equilibrar a tendência que Obama revela para o centro, a única forma de ganhar as presidenciais.
Hillary seria a melhor escolha para captar o caudal democrata. Mas a sua escolha (e aceitação) manchariam uma campanha que defende a mudança. Escolha número 4.
Assim, tendo como base a necessidade de confortar o partido, a escolha deverá ser: Ted Kennedy. Pois é. A minha aposta é o irmão Kennedy.
Mas cuidado: Howard Dean está à espreita… Escolha número 2.
Sigo e apoio o senador do Illinois desde Novembro de 2004, após a derrota de John Kerry, com um post neste blogue que o nomeava: “Barack Obama – Future Hope of America”.
O lamentável editorial do DN de ontem, que dava conta de uma total unanimidade da esquerda portuguesa em torno de Obama, não é verdade. Nem entre muitas pessoas que tenho falado, mas também publicamente, José Medeiros Ferreira, Luís Nazaré e Vital Moreira, entre outros, têm manifestado simpatia por Clinton.
O editorial só é tenebroso porque um jornal decide adjectivar uma tendência política da esquerda portuguesa. Porquê? Para que é que isso importa a um jornal? Porque é que alguém a quem cumpre reportar, informar e difundir opinião coloca todos no mesmo cesto? Por ter uma orientação política de direita?
Barack Obama tem tido uma campanha fantástica. Partindo de uma posição muito inferior em relação à Senadora de Nova Iorque, 20% abaixo, como costuma dizer, impôs-lhe pesadas e consecutivas derrotas, superando o establishment do Partido, o clã Clinton, todo empenhado neste combate e a mulher mais conhecida da América.
Obama não para. E mesmo a comunicação social próxima dos Clinton, CNN à cabeça, começa a demonstrar fraqueza, com a maioria dos jornais, em diversos estados, a apoiarem o afro-americano.
As suas diferenças são claras: Obama é verdadeiramente inspirador, Clinton é plástica. Ele promete mudança, esperança e união dos americanos, ela oferece mais uma década, a quarta, comandada por duas famílias: os Bush e os Clinton.
Ambos defendem uma reforma no Serviço Nacional de Saúde, tornando-o universal, embora Obama pretenda que seja obrigatório, apenas, que os pais inscrevam as crianças e Clinton que seja totalmente obrigatório. Naturalmente que estas obrigatoriedades são para a aquisição de seguro de saúde, daí que se questione o factor de possibilidade “universal”.
Obama sempre condenou publicamente a guerra, Clinton suportou a decisão de Bush, votando-a favoravelmente. Ambos defendem a retirada dos EUA.
Surpreendam-se agora: Obama defende que se tem que encontrar com os inimigos (terroristas para alguns) sem condições prévias, embora com uma agenda que inclua os direitos humanos e a liberdade de imprensa. Tal como Mário Soares defendeu, numa matéria muito polémica em Portugal, tendo sido acusado de senilidade por meia dúzia de senis, o político mais talentoso do mundo insiste que se encontrará com os líderes de Cuba e Irão. Cita, nesta temática, John Kennedy: “Não devemos negociar com medo, mas não devemos ter medo de negociar”.
Em relação a Cuba e aí o debate de ontem teve uma novidade, Obama defende o imediato levantamento do embargo em duas matérias: medicamentos para as crianças doentes e possibilidade dos cidadãos americanos de origem cubana poderem visitar as suas famílias.
Ainda em matéria de diferenças, nos planos para a educação, Obama tem um plano para financiar o acesso à Universidade, com 4000 dólares para cada beneficiário, em troca de trabalho comunitário.
Finalmente, nas políticas para o restabelecimento da economia as duas candidaturas têm uma diferença importante: Obama considera determinante para a recuperar da recessão, uma Green Economy, ou seja, defende o investimento claro nas energias alternativas, como forma de reter os biliões de dólares gastos em petróleo, defender o desenvolvimento sustentado e criar milhões de postos de trabalho.
Clinton, no debate de ontem, esteve no pior momento da noite e no melhor, estando assim provada a estabilidade de Obama, que teria de ser claramente derrotado, para terminar o chamado momentum (na verdade esta expressão do spinning de Hillary, procura limitar no tempo a vitoriosa caminhada do seu adversário). No pior momento, cometeu uma desagradável gafe, considerando o slogan de Obama, Change We can believe in, num Change We can zirok, numa alusão a que os discursos de Obama são copiados de Deval Patrick, governador de Massachusetts. Obama explicou a palermice da afirmação, uma vez que o governador é seu colaborador nesta campanha e portanto utiliza frases dele, como de outros estrategas. Clinton foi apupada. Na verdade atacou-o na questão em que Obama marca cada vez mais pontos, a sua extraordinária capacidade de mobilizar e convencer os americanos.
No final Clinton teve também o seu momento mais feliz: falou sobre ter estado num hospital de vítimas americanas da guerra (very tipical e muito hipócrita, mas pega) e de pensar que no final deste combate os dois ficarão bem, com o apoio da família e dos amigos, mas não sabe se o povo americano conseguirá recuperar. A lamechice de Clinton, tal como a de New Hampshire, valeu-lhe a única ovação, ela que precisava de uma noite inteira de aclamações. Na verdade, soube-se a seguir, Clinton imitou palavra por palavra, declarações de John Edwards em Dezembro de 2007. Pela boca…
Estão assim em confronto duas gerações políticas, duas formas distintas de fazer política. A antiga e a moderna. Claro que a mudança de Obama ficará aquém daquilo que nós, os da esquerda moderna europeia, desejariam. Mas os EUA não conseguem, não querem mais. Valerá um verdadeiro espírito reformador e é esse em que aposto.
Três curiosidades finais: Obama utiliza frequentemente a expressão “cool” (porreiro). Por exemplo, quando explicou que ser primo de Cheney não é uma boa notícia (embora verdadeira), porque quando imaginamos um primo, pensamos em alguém “cool” e não no ultra conservador.Dá-lhe charme e aproxima-o do eleitorado jovem.
Confessou John King, provavelmente o jornalista político mais interessante no momento, que antes do debate, Obama e Clinton, falaram animadamente dos homens dos serviços secretos que os protegem. As suas alturas gigantes, a vantagem de poderem comprar botas de cowboy no Texas, etc. É a segunda vez que Obama comenta os seus serviços de protecção de forma jocosa: a primeira foi em Nova Iorque, quando contou que os sempre calados agentes começaram a sussurar a presença de Bob de Niro no comício. Estas brincadeiras inocentes, podem ser um bom sinal para uma América em profunda polémica devido ao transporte e tortura de presos políticos. É uma forma interessante de se demarcar de determinada prática.
Última: aceitam-se apostas sobre quem será o candidato a vice de Obama, caso, como se espera, vença as primárias. Edwards será difícil, não entra no partido democrata profundo, portanto é a escolha no 3. Entra na esquerda e pode equilibrar a tendência que Obama revela para o centro, a única forma de ganhar as presidenciais.
Hillary seria a melhor escolha para captar o caudal democrata. Mas a sua escolha (e aceitação) manchariam uma campanha que defende a mudança. Escolha número 4.
Assim, tendo como base a necessidade de confortar o partido, a escolha deverá ser: Ted Kennedy. Pois é. A minha aposta é o irmão Kennedy.
Mas cuidado: Howard Dean está à espreita… Escolha número 2.
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