As Olimpíadas de Cirrosia
Lino Fergusson, em Atenas - A participação da selecção nacional de Cirrosia, nos Jogos Olímpicos de Atenas é motivo de orgulho para todos os cirrosos, uma vez que se tratou da maior representação de sempre e, ao mesmo tempo, a delegação que melhores resultados obteve para o nosso país. Considerado, por muitos, um país de terceiro mundo, fica a prova provada que quando queremos podemos chegar mais longe, mais rápido e mais alto.
Efectivamente, dos 42 atletas que representaram a nossa bandeira, 38 chegaram vivos e só se verificou um ferido grave, apesar de pequenas mazelas recuperáveis (pelo menos para as próximas olimpíadas) verificadas em 26. Dos restantes 11, 9 não completaram as suas provas, por este ou aquele motivo, e 2 chegaram ao fim, obtendo um recorde nacional e um recorde pessoal.
A pior situação verificou-se na natação. Dos 4 representantes, nos vários estilos e distâncias (um dos problemas dos Jogos foi a complexidade das provas), 3 morreram afogados. O presidente da Federação de Natação já anunciou a sua demissão, declarando à Folha de Cirrosia: "Nós acreditámos que eles sabiam nadar! Eram pescadores muito experientes e nada fazia prever que se fossem abaixo na parte fora de pé. Se calhar convinha rever esse aspecto técnico, uma vez que se uma pessoa pensa que está a dois metros de chão firme, naturalmente tem tendência para a precipitação e desata a esbracejar." Quisemos aprofundar, entre aspas, a situação, mas a resposta foi esclarecedora: "Andam horas e horas na faina e nada e chegam aqui e fazem uma figura destas. Para a próxima calçam as botas até à coxa que se lixam."
Foi precisamente um problema de indumentária que estragou um resultado histórico e jamais alcançado por um cirroso. Cardoso Nascimento competiu na primeira eliminatória dos 100 metros bruços e venceu. Após reunião, o júri desclassificou-o. Apesar do regulamento ser omisso, Nascimento fez a prova de barbatanas e isso pesou na decisão dos responsáveis. O atleta não se conforma: "Desafio qualquer um a nadar comigo comó prego! Ninguém me ganha, ninguém!" De relembrar que Nascimento é bicampeão nacional de nadar por baixo de água, modalidade não olímpica.
O outro óbito verificou-se na vela, classe 470, embora desta feita presumível. Acontece que o recordista nacional de corridas de piroga a remo desapareceu durante a segunda eliminatória e ainda não foi encontrado. A prova decorreu em pleno mar alto e há mais de quinze dias. Apesar de Silva Engasgo ter casado com a ex-mulher do campeão nacional de boxe, nada indicia que possa ter fugido. Inclusivamente pergunta-se como. Se não havia remos, nem um só e quando dispararam o tiro de largada a embarcação de Engasgo partiu na direcção oposta às outras, como poderia manusear o barco até bom porto? O presidente do Clube Nacional de Vela relembra, no entanto, que por um lado os ventos de Atenas são péssimos para a modalidade, por outro vai dar todo o apoio à eventual viúva.
Na luta greco-romana Cirrosia também teve uma representação digna. Paulo Mascar chegou inclusivamente a bater aos pontos o seu congénere de Chipre, país com tradição na modalidade. Afiambrou-lhe 3 dentadas, 2 pontapés e 2 cotoveladas levando o cipriota a esvair-se compulsivamente em sangue. O pai e treinador de Mascar protestou junto das instâncias: "Não se pode isto, não se pode aquilo, mas um tipo escorrer 10 litros de sangue para se exibir, está tudo bem. É apurado!" A grande proeza do nosso atleta não foi no entanto a sua prova. No final aviou 3 juízes ex-praticantes, 2 seguranças e 4 polícias. Só o agarraram com disparos de calmantes. "Dose para cavalo", revelou o veterinário.
Presença mais discreta foi a da equipa feminina de halterofilismo, das mais recentes modalidades dos Jogos. As 3 representantes foram instadas, pela junta médica, a fazer exames mais completos e mais criteriosos que os praticados no nosso país. Das 3, 2 exibiram um pendular e gigante pénis, que deitou por terra as aspirações nacionais. A terceira, Magda Suspiro, borrou-se de medo no primeiro arremesso, consequência da inspecção e desistiu.
No atletismo, apesar do azar, Cirrosia conseguiu resultados louváveis. Inicialmente as coisas correram mal para a nossa maior esperança, Chelas Catinga, uma vez que desistiu da prova dos 5 mil metros: "Eu avisei o pessoal. Dar 3 ou 4 voltas à pista ainda é como o outro, agora isto tudo não contem comigo!" A verdade é que concluiu a prova da maratona com um novo recorde pessoal: 4 dias úteis e 17 horas. "Era a única maneira beber uma aguazita. O treinador andava furioso."
Pedro Lucena no salto em comprimento teve uma prestação atribulada. Quando se preparava para fazer o terceiro e último ensaio válido (nos anteriores explicaram-lhe que não podia saltar do início da areia, mas antes da marca) foi perfurado por uma lança do atleta russo Krazimir Rustov. Foi comprovado, pelo vídeo, que todo o estádio tentou avisar Lucena do mau timming da sua prestação, em imagens onde se via tudo aos gritos a fugir da zona de alcance. Está em estado grave mas não inspira cuidados muito caros à nação uma vez que o seguro dos gregos paga isso e muito mais.
Judite Calhau, recordista de escarreta em comprimento (15m e 64cm), não conseguiu uma única tentativa de arremesso do peso, levando o aparelho a embater frequentemente na rede. (Medida que deveria ser utilizada no dardo, para evitar perfurações intestinais e do baço de todo em todo desnecessárias).
Mário Venceslau foi eliminado dos 110m barreiras: "A culpa não é minha! Eu ouvia o tiro, corria e fui desclassificado por falsas partidas, os Srs. americanos corriam e estava tudo bem. Assim também eu! Inclusivamente um dos americanos disse-me para tentar correr antes dos tiros para ganhar vantagem e foi o que fiz. A eles não lhes diziam nada."
Joana Barroso, quinhentos metros com guia, foi remetida para daqui a dois meses nos para olímpicos e Nasser Al Almeida, tiro com arma de guerra, ficou detido no aeroporto devido ao excesso de explosivos que trazia na bagagem, para além da ambição de conquistar uma medalha.
O novo recorde nacional foi para Evaristo Peúga no concurso de saltos para a água. Conseguiu saltar de pés da prancha de 10 metros, sendo de frisar que a falésia onde treina dista apenas 6m da linha de água. Confiante pelo resultado obtido, procurou impressionar os juízes fazendo uma bomba ao segundo salto. Perdeu a consciência e foi hospitalizado.
Reinaldo Doce teve um dia para esquecer na prova de saltos, mas equestre. A mula Hipólita recusou-se a sair dos estábulos provocando uma reacção esquisita nos jurados e no público. Todos se agarraram à boca com força enquanto esbugalhavam os olhos e sem respirar. Estranhos estes gregos, muito estranhos. A mula não foi lá nem com uma cana com uma cenoura na ponta, estratégia que costuma resultar nos campeonatos internos.
O badmington olímpico é jogado com uma pena toda tecnológica, em vez do tradicional coração de pato bravo, pelo que a prestação de Irene Papas ficou pela primeira ronda de negociações, não tendo efectuado nenhum jogo.
Nota negativa só mesmo para os nossos três voluntários, uma vez que nenhum deles chegou ao dia da abertura. Ao senhor Caetano a situação não podia ter corrido pior. Fartava-se de traquejar nos ensaios e enquanto foi ao ar livre o pessoal evoluído, da Suécia e da Bélgica, aguentava, apesar de causar algum desconforto, não tanto pelo cheiro, mas pela desconcentração que provocava. Quando a situação chegou aos balneários é que foram elas. Os voluntários dos países desenvolvidos fizeram uma exposição ao COI e conseguiram despedir o nosso compatriota com justa causa, portanto sem direito a indemnização.
O Sr. Albino fez um único ensaio e desistiu por iniciativa própria. "Então se eu na tropa não acertava o passo quanto mais levanta a mão esquerda vira para a direita. Não. Não tenho jeito."
Rodrigo de Bragança Mello trabalhava na equipa de televisão como assistente de câmara. Quando começaram a filmar os ensaios decidiu fazer umas propostas, sugerindo ideias de festas aqui da nossa terra. Foguetes, uns touritos e uns traçadinhos à entrada dos atletas foram ideias recusadas pela organização, levando à incompatibilidade a relação entre o ensaiador e o nosso representante. Pretensão e água benta.
No final o Presidente da República fez um balanço: "Parabéns aos atletas e ao povo. O desporto espelha o país que temos. Não se pode dizer que os nossos atletas, os nossos jornalistas, os nossos magistrados, ou os nossos políticos, cagaram um pé todo. O único que vomita para o ar e não se suja, é o mais alto magistrado da nação, o comandante supremo das Forças Armadas em Parvas, ainda que geridas por um paneleirote não assumido, disfarçado de conservador. E é melhor ficarmos por aqui que isto já está a descambar e não é esse o objectivo desta comunicação." Assim se faça.
Hiper Nacionalistas
Anteontem José Moreira declarou que os jogadores nacionais foram advertidos para a arma mais forte dos adversários iraquianos: eles são hiper nacionalistas. E pergunta ingenuamente, o Estado: quem consegue suportar equipas que desenvolvem o seu futebol a partir de uma táctica invencível como esta? Eles são hiper nacionalistas.
Quem avisou os nossos jogadores foi o precavido treinador, José Romão, ele próprio vítima de dois mini nacionalistas, Tiago e Hélder Postiga.
Já tinha observado que o pessoal do Iraque é de facto um pouco exagerado, no que toca ao nacionalismo. Não gostam de ser invadidos, detestam estar ocupados e odeiam os inimigos. Sinceramente um pouco de fair-play não lhes fazia nada mal.
José Moreira nem tem muita culpa disto tudo, afinal só se chibou do tipo de mentalização que é praticada na selecção nacional olímpica. É um rapaz de vinte e poucos anos, desligado das questões do intelecto, mas sugere-se que reveja essa área da sua vida. José Romão, afinal, utilizou um género muito apreciado nos comandos técnicos do futebol nacional: já Oliveira mandava Dominguez dar cabo dos Nazis, num jogo contra a Áustria e anos mais tarde assegurava que não há homossexuais no futebol.
O que descansou o Estado foram as declarações de Jorge Perestrelo, no final do jogo que relatou para a TSF. Relembrou que quando os africanos começaram a ganhar as medalhas quase todas, no fundo e meio fundo, o mundo ficou surpreendido. Perestrelo, que não é estúpido que nem uma porta, explicou que os africanos (seus patrícios) eram treinados da seguinte forma: iam para a mata e depois soltavam-se os leões. E então concluiu que para correrem assim os iraquianos se tinham fartado de fugir das balas, método provável de treino.
Nem sobre as declarações de Moreira (apesar de serem da autoria de Romão), nem sobre as de Perestrelo, se ouviu ou ouvirá uma palavra. Estava mesmo a precisar de alguma inspiração. Desculpem a expressão, mas tem de ser. F*-x$
Comunicação
Ainda pensei adjectivar o título, mas julgue o caro estadista por si próprio. Nos últimos dias fui confrontado com peças brilhantes de comunicação.
1) Luís Filipe Vieira. Um dos grandes inspiradores do presente blog avançou com uma mega campanha, com visibilidade estrondosa, na qual se revela que alguns estádios foram feitos para estar vazios, respectiva foto do Alvalade XXI e, outros para estar cheios, foto do da Luz. Em primeiro lugar a proposta da agência para além de estúpida, nada criativa e tecnicamente ridícula traz água no bico: aglutina os adeptos adversários e projecta o seu estádio. Não admira pois que o Sporting venda mais Game Boxes que o que previa. Por algum motivo os manuais de Marketing e Comunicação rejeitam as campanhas comparativas.
Por outro lado, como é que é possível que os responsáveis do SL Benfica aceitem uma campanha tão mal pensada e que os torna nos primeiros desmancha-prazeres do orgulho nacional adquirido com o Euro 2004? Naturalmente que LF Vieira já apareceu a dizer mal da massa associativa que, na opinião dele, não aderiu de forma massiva à compra de lugares. Aceitando que é um facto, existem três razões para tal: a péssima campanha, a proposta comercial e a mais importante_ pela primeira vez os adeptos viraram costas a LF Vieira, naturalmente fartos de ser enganados com promessas de títulos, de jogadores geniais que afinal são banais e das contas certas que na volta aumentam o passivo e o serviço de dívida, enquanto esvaziam os activos do clube e o seu património.
2) Luís Filipe Scolari foi de férias para Maceió, cidade da qual é embaixador do turismo. Fiquei a saber porque li uma crónica n?A Bola, seguida de um artigo de opinião, assinados por José Manuel Freitas, jornalista, que por acaso até escreveu o livro do Pauleta, mas adiante. No artigo de opinião não se esqueceu de referir o operador turístico (Air Luxor Tours) que lhe propiciou a possibilidade de reportar assunto tão importante. Fiquei em choque. Só consegui aliviar quando, no telejornal da RTP1, Paulo Catarro apresentou uma reportagem sobre o assunto, sem esquecer o operador turístico. É claro que não se tratam de órgãos ou programas cor-de-rosa, mas é como se fossem. Nunca a vida de seleccionador nacional esteve tão suportada pelos interesses financeiros, nem que seja uma viagenzita à conta da Air Luxor Tours. Já escrevi duas vezes, também dá para ir?
3) A Sociedade Ponto Verde lançou uma mega campanha no Prime Time de todas as televisões, o que é logo um erro porque não se gasta tanto dinheiro em meios (ainda que mais baratos por esta altura) em pleno Agosto, onde as audiências são muito baixinhas e portanto a relação impacto/custo é sempre desfavorável. Acresce que ao longo dos anos a Sociedade tem ficado muito aquém do investimento a que é obrigada, por lei, a fazer em campanhas didácticas, que projectem a sua missão.
Nesta campanha vários super heróis fazem actividades despiciendas: um troca um lâmpada, outro vai buscar uma bola debaixo de um carro, outro ateia um churrasco (com um grande plano de carne a ser grelhada, que é uma linguagem muito ambiental) pegando fogo a uma pessoa que é salva pelo congelamento de uma piscina, feito por outro super herói (que me desculpem os criativos se esta parte estiver mal contada, mas é o que parece). Uma voz off explica que os super heróis já não servem para nada. Depois aparece uma senhora, com aspecto de figurante de freak show televisivo, embora a querer representar uma dona de casa, que coloca algo no caixote do lixo com recipientes separados.
Num outro anúncio desta série é promovida uma campanha, que a Sociedade leva a cabo, no qual uns senhores com ar laranjinha vão bater à porta de casa do cidadão comum e se este fizer a separação dos lixos, ganha prémios. Brilhante. Eu obrigava os senhores que conceberam e os que encomendaram e aceitaram este tratado de Comunicação e Imagem, a viverem uma semana no Eco Ponto, mesmo ao pé do meu escritório, para verificarem melhor o seu target. Se aguentassem o nojo imundo de lixo sem ordem e o cheiro acumulado.
Já quando lançámos o nosso projecto, em 1999, os senhores que conceberam Os Patinhos, fizeram umas pranchas ridículas de BD (publicadas na Tv Guia), que procuravam embaraçar a nossa magnífica caminhada. Então como hoje senti um profundo orgulho por ver um projecto, que se afirma pela positiva, sobreviver e mais que isso preparar-se para dar um salto qualitativo para o qual, como sabem, muito lutei, enquanto outros cheios de lobies e/ou dinheiro esperneiam a sua inveja, vomitando burrice e esquecendo que só nos estão a ajudar por dentro e por fora.
Para além desse imenso orgulho que sinto sempre que vejo os anúncios do Ponto Verde, pergunto-me: os senhores não achavam mais consistente (e mais barato) contratarem-me como consultor? Evitavam passar as vergonhas que andam a passar, no meio e na sociedade.