sexta-feira, julho 09, 2004

Meu Caro Ferro Rodrigues

Escrevo-te estas palavras porque sinto finalmente que chegou a tua hora: a hora de Portugal!

Quando, há cerca de três anos, assumiste de forma corajosa e dedicada o cargo de Secretário-Geral do PS, alguns pensaram, inclusive entre os teus pares (por isso te estenderam a passadeira), que serias um líder a prazo e que provavelmente não chegarias a candidato, quanto mais a Primeiro-ministro.
Alguma comunicação social, que hoje o povo cheira à distância, vinculou essa ideia através, principalmente, de alguns comentadores que vêem o que lhes convém, como se tivessem palas.
Por outro lado foste o mais perseguido, injuriado e injustiçado líder de um partido político desde o 25 de Abril. Viste um amigo e no. 2 da tua equipa envolvido no mais repugnante escândalo da moderna sociedade portuguesa, as tuas alegadas conversas pessoais escarrapachadas na imprensa tablóide, mais ou menos disfarçada e finalmente a perca de um companheiro e ilustre estadista que a todos, independentemente do quadrante político, comoveu.
A este verdadeiro filme de terror respondeste com a força da tua personalidade e das tuas convicções, na busca de um Portugal mais justo, mais dinâmico e mais positivo. Poderás ter cometido vários erros (só há uma espécie de pessoas que nunca se engana) mas nunca caíste na pior das tentações: a de te vitimizares. Nunca te deixaste vencer pelas contrariedades, ao invés lutaste e venceste: como se a adversidade te desse ainda mais força.

Na primeira campanha que protagonizaste, brilhante na forma, criativa e esteticamente correcta, conseguiste um honroso resultado que só a ti se deve e pelo qual o partido te estará eternamente grato, uma vez que ninguém conseguiria, ainda assim confrontado com toda a mensagem demagógica e hoje reconhecidamente para português ver do choque fiscal e afins.
A segunda, menos conseguida do ponto de vista da forma, confusa, fraca graficamente e acima de tudo ruidosa na diversidade das mensagens, tocou, nos conteúdos, os pontos fracos da governação e os fortes da alternativa. Alcançaste a maior vitória de sempre do PS e a consequente maior derrota da direita unida.
Internamente aliaste tendências duma maneira geral e na especificidade surgiram alguns focos de tensão, normais nos partidos democráticos, que deverás sempre procurar pacificar, como é missão do líder, sem olhar a afectos pessoais mas aos valores da razão e da consistência política. Sobretudo entregar as missões certas aos perfis adequados: revendo especialmente as matérias da comunicação externa, de modo a criar uma harmonia entre o que pretendes e o que dizem que pretendes.

No mundo, na Europa e no país assistimos ao crescimento de duas formas de fazer política, aparentemente ambíguas, mas comuns no populismo demagógico. Por um lado aqueles senhores perfeitamente vestidos, com o cabelinho recortado a fingir o seu bom comportamento e com o moderno nó da gravata a anunciar o discurso fluído, sem uma ideia, um projecto ou uma solução, mas uma panóplia de trocadilhos a piscar o olho ao afortunado director jornalístico, nomeado pelo administrador saído do congresso dos empresários saudosistas de outros tempos.
Por outro lado aqueles senhores em manga de camisa que gritam aos seus acólitos que saiam à rua, para partirem as montras das lojas ou denunciarem os moderados como colaboracionistas da direita, porque na verdade a preferem. Também frequentam os lugares da moda, bebem whisky velho e fumam charutos, mais para apoiar Cuba que por qualquer tique caviar. Também são amigos dos directores referidos.
É a este conjunto de aspectos que o senso comum chama carisma, é com isto que serás confrontado nos próximos meses, os mais importantes do teu percurso político, mas não é disso que o país precisa.

O país precisa de um chefe que tenha ideias e projectos claros. Alguém que consiga apresentar uma equipa de primeira linha para os concretizar, porque os suplentes por mais que se esforcem não chegam_ vimos isso nos últimos anos de governação.
Um projecto que defenda o rigor das contas do Estado como princípio da actividade governativa, mas não como um fim obsessivo, fechado em si mesmo.
Uma ideia clara para Portugal naquilo que são os aspectos mais importantes no comboio da modernidade: o ambiente, a cultura, a ciência e a educação, nos seus vários níveis.
Um país que diminua a distância entre os desfavorecidos e os outros, em que os primeiros tenham acesso aos cuidados de saúde, aos bens de subsistência e à real igualdade de direitos e acima de tudo de oportunidades.

É por tudo isto, meu caro Ferro Rodrigues, que acho que esta é a tua hora! Identificamo-nos contigo porque, tal como cada um de muitos de nós, também tu sofreste ao longo dos dois anos mais longos da história da democracia. Por isso sabemos que temos de dar a volta e por isso apostamos em ti para comandar a inversão deste Estado.
Não nos desiludas, mãos à obra e bom trabalho!

Força Ferro!
Força PS!
(E agora sim: com uma força que ninguém pode parar):
Força Portugal!