quinta-feira, maio 20, 2004

A Semana Das Gafes

Esta semana tem sido frutuosa em gafes do PSD: no Governo, na CML e por aí fora. Mas, apesar do pouco ou nenhum eco que têm na imprensa, é mais uma vez altura de sair em defesa dos pobres responsáveis, porque em meu entender têm de sofrer até ao fim: o final das respectivas legislaturas. Só assim se fará justiça pura. Irão para casa sem apelo nem agravo. E sem glória.

BENVINDO a Lisboa
Ora aqui está uma gafe defensável. Primeiro não é a primeira vez que os inúmeros cartazes do xô Lopes têm erros de português. Eu já vi um colocado à entrada do Parque Mayer (esse grande projecto que em três meses estava resolvido), no qual a palavra público aparecia sem acento (publico).
Ora as pessoas também são mazinhas! Toda a gente sabe que o motivo dos constantes erros ortográficos reside no facto dos publicitários do xô Lopes serem um grupo de brasileiros, que veio para Portugal especialmente para lhe fazer a campanha eleitoral na corrida à CML. Ora, como é sabido, quando um partido não está no poder, não tem meios financeiros e não raras as vezes fazem-se acordos de continuidade em caso de vitória. Isso até obriga a que toda a gente faça um trabalho baseado na confiança de bons resultados! Perverso? Talvez, mas mais vale isso que ficar a dever... Portanto é natural que, mesmo tendo corrector de texto em português de Portugal (isso não acontecia antes como expliquei no exemplo do Parque Mayer), se cometam uns errosinhos quando se escreve só com maiúsculas, como foi o caso deste BENVINDO. Ao mesmo tempo a Microsoft deveria rever este aspecto do Windows.... Olha curioso. As palavras "Microsoft" e "Windows" não são consideradas erros (de português obviamente) pelo meu corrector. Pois, quando lhes interessa...

As raparigas brasileiras
O Zé Manel Trauliteiro e primeiro de todos os ministros (exerçam ou não o cargo) foi ao Vaticano assinar a nova concordata com o xô Papa. Só este facto tão importante daria uma nova crónica pela relevância histórica, mas como me estou cagando para as benesses a dar à igreja e me preocupam mais as benesses a dar aos cidadãos, católicos inclusive, não perco mais um segundo com esse assunto.
A conferência de imprensa teve uma gracinha. Zé Manel, na sua personagem divertida e bem disposta (aquela, quando tenta ser como Guterres), confidenciou um momento do encontro privado com o Papa. O Sumo Pontífice perguntou-lhe pela família e Zé Manel lá falou da esposa (resta saber se é casado pela igreja) e dos três filhos, todos rapazes, provavelmente a estudar, ou prontos a, na Suíça. O descendente de São Pedro, disse rindo o nosso descendente do MRPP, inquiriu-o sobre a não existência de raparigas. Aqui apareceu mais uma pequena eventual gafe (também suscitada pela língua de Camões). Zé opinou que o facto do Papa ter utilizado a palavra "raparigas" revela um "conhecimento da língua portuguesa, porque os brasileiros não a utilizam regularmente" e riu.
Das três uma: ou desconhece que os brasileiros utilizam "raparigas" com mais frequência do que os estudos de opinião revelam, ou desconhece o seu verdadeiro significado. De fora fica a hipótese irónica de uma pessoa com responsabilidades papais sugerir que eventuais filhas, só por serem do Zé Manel, serem logo "raparigas brasileiras".

Falta de responsabilidade 1
A Ministra de Estado e das Finanças Ferreira Leite "esqueceu-se" de referir na sua declaração de IRS, de 2002, os benefícios referentes à venda de uma casa particular. Até aqui tudo normal, porque errar é humano e toda a malta se "esquece", aqui ou ali, de enumerar os seus ganhos, até porque pode ser financeiramente inconveniente (para o cidadão) em determinada altura pagar valor y e uns meses ou anos depois ser mais vantajoso. Revela capacidade de gestão e justifica o cargo que ocupa. Acima de tudo revela olho político: a declaração é referente ao exercício orçamental de 2001 e esta ocultação prejudica a receita do Estado, logo aumenta o déficit dos Governos PS.
O que para o Estado Negação é incompreensível é a situação de Dias Ferreira, irmão da ministra e apanhado na mesma situação. Como é possível que um homem que foi Director da SAD do Sporting e é advogado de alto gabarito neste país, cometa um erro destes? Como é possível que tenha gerido um Clube de futebol, quando nem a sua vida consegue ter em ordem? É com esta displicência que trata os processos dos seus clientes?
O Estado não tem dúvidas: Dias Ferreira deveria apresentar a imediata suspensão, seguida da demissão formal, do cargo de comentador do belo programa de marretas "O Dia Seguinte", que aborda todas as segundas feiras (SIC Notícias) assuntos futebolísticos de forma muito interessante! E por mais que nos custe a todos, os seus colegas paineleiros, também se deveriam demitir porque ninguém sabe o envolvimento que têm ou não no caso da declaração omissa. Isso sim, era responsabilidade.

Falta de responsabilidade 2
O próximo Director Geral dos Impostos foi requisitado ao Grupo Milenium BCP, pelo que auferirá um ordenado de Administrador e não de Director do Estado. Isto levanta um pequeno problema: a lei diz que os Sub-directores devem auferir 85% da remuneração de um director.
Acontece que o referido senhor ganhava 60 mil Euros por mês e o Ministério das Finanças garante (de acordo com a SIC, porque o DN diz que vai ganhar o mesmo) que o ordenado rondará os 25 e os 30 mil Euros. Mais mil contecos por mês, menos mil, não é agora a questão!
O grande problema é que o corte abrupto de salário lixa não só o desgraçado, como prejudica amplamente a possibilidade dos competentes subdirectores passarem dos 400 carapaus por mês a 10 mil beldroegas das antigas.
O Estado Negação apresenta uma ideia verdadeiramente inovadora, nunca executada ou sequer pensada: para não termos problemas de déficit e uma vez que a despesa, até das contas do Estado, não pára de aumentar, é fundamental que se aumentem os preços dos bens essenciais assim como os impostos e se faça uma caça à multa sem precedentes. Além disso corte-se o investimento público, que aumenta o desemprego, mas evita que se gaste tanto dinheiro em porcarias supérfluas como a escolaridade, a cultura e a saúde. Os Governos PS foram mesmo maus!

Os cabrões dos jornalistas
Há um programa que ninguém vê e que se chama "Quadratura do círculo". Trata-se da nova versão televisiva do "Flashback" da TSF e é emitido na SIC Notícias. José Pacheco Pereira, António Lobo Xavier e José Magalhães fazem juz ao brilhante título que escolheram....
No outro dia, o Estado tropeçou numa queixa de Pacheco Pereira, que denuncia uma gafe da Comunicação Social nacional e mundial. Pacheco (também trauliteiro) afirmou que a forma como a imprensa tratou a questão das torturas infligidas por uma nação democrática e semi assente no estado de direito, foi anti guerra e revela o espírito esquerdista dos jornalistas. En passant, lamentou também a alegada desautorização do Primeiro Ministro ao Ministro da Administração Interna, sobre a permanência da GNR no Iraque, afirmando que tudo foi inventada pela TSF.
Agradecemos que os senhores jornalistas tenham mais cuidado na informação que veiculam, especialmente no que às torturas e à discordância belicista no nosso Governo, diz respeito.
Pacheco tem um argumento de peso: o tempo de antena dado a estas matérias perverte completamente o princípio da isenção e rigor, que deve estar sempre presente nas redacções por esse mundo fora!
Que importância tem a tortura, violação e até assassinato de Prisioneiros de Guerra, uma vez que dispõe de informações muito valiosas para os objectivos eleitorais dos diversos membros da coligação? Sim! Quem é que precisava de umas tostas, umas exibições do pénis e umas práticas de homossexualidade forçada e violação?
O próprio Pacheco Pereira?
Ó pá! Aquilo dos choques eléctricos até era a fingir. A sério, os fios não estavam ligados...