Euro notas finais
ParabénsConsiderei antes do jogo da grande final que não era exigível que a nossa selecção vencesse a partida, uma vez que a presença neste jogo era já motivo de grande alegria e a maior conquista de uma equipa representante de Portugal.
Agradeço aos nossos jogadores os momentos maravilhosos que vivi e felicito-os pela brilhante campanha realizada.
O sabichão
Afinal Scolari conseguiu terminar o Euro 2004 com 10 jogadores (a excepção é Luís Figo) titulares representados por Jorge Mendes, o amigo de Pinto da Costa e Reinaldo Teles. Chegou a Portugal com o discurso do "independente" (sempre achei esse o pior dos discursos) e fez dois anos de mentira, procurando ter os pilares (Couto, Figo e o Príncipe) do seu lado e na primeira oportunidade mandou os dois primeiros à fava, ou seja no intervalo do jogo no Dragão e no jogo logo a seguir. Quando tentou fazer o mesmo a Luís Figo (jogo com a Inglaterra) este teve a meritória atitude, que o povo odiou, mas que obrigou Scolari a repensar a sua táctica...
Foi exactamente no momento da substituição de Rui Costa por Deco que a minha ira contra Scolari se agudizou, uma vez que crucificou alguns jogadores, esquecendo que os jogadores que erraram nessa partida foram exclusivamente Paulo Ferreira e Costinha. Manteve o "indiscutível" Pauleta sempre a titular e preteriu Simão por Cristiano, que é um erro que ele próprio assumiu no célebre discurso de Sir Fergusson e a panelinha. Ronaldo que era uma eficaz "arma secreta" enquanto suplente, passou a ser um jogador a menos, marcado consecutivamente de forma irrepreensível por Cole, Bronkorst e Seitairidis. (E atenção que prevejo que Cristiano será um dos melhores do Mundo, daqui a cinco, seis anos, em competição directa com Tébez, do Boca e Carlos Alberto, do FC Porto).
Especialmente na final, mas também nos restantes jogos (com excepção da Holanda, onde foi um trinco eficaz, embora perdulário e ausente da construção atacante) ficou demonstrado que Deco não é o génio que Pinto da Costa nos quer vender. Ou por outra, vender a Laporta. Esta é a minha opinião independentemente do excelente resultado obtido, sobre o qual mais não se podia exigir, como já expliquei. Mas não me peçam que vá atrás do cacique generalizado, que visou uma clara estratégia de venda de jogadores, para os quais não existem compradores...
Vejamos alguns exemplos.
Quando Rui assumiu que faria o último jogo pela selecção a opinião publicada (com grande enfoque para a rapaziada do Correio da Manhã) considerou a destempo e o povo concordou. Quando Filipão anunciou que ficava casado com a selecção antes de disputar a final, toda a malta considerou o timming ideal...
Quando perdemos no Dragão com a Grécia a culpa foi dos jogadores velhos e Simão. Não houve mérito do adversário. Quando perdemos na Luz, nenhum Deco, Cristiano ou Pauleta foram condenados. Nem mesmo Filipão. Houve mérito da Grécia.
Agora já se conseguiram os objectivos da indústria: preterir Rui Costa, para vender Deco e assegurar que mesmo que as coisas não lhe corram bem em Barcelona, não terá rival na equipa de Portugal. Cuidado com Hugo Viana ou Tiago...
Finalmente só faltava que a estúpida visão clubista que nos impôs "génios" e merdas similares, nos obrigasse a comer e calar, porque temos que estar unidos, como se isso fosse sinónimo de termos de pensar todos da mesma maneira. Aquele género: todos achamos que Ferro não será primeiro-ministro e todos temos de concordar? Outra vez, independentemente do melhor resultado alcançado.
Três questões. Porque é que Filipão preferiu Juninho Pernambucano a Deco, há apenas dois anos atrás, apesar dos esforços do ilusionista para ser convocado pelo "seu" país? Porque é que mesmo sagrando-se campeão do mundo, foi afastado da "canarinha"? Quem concorda com a mais que evidente futura inclusão de Derlei na equipa?
Meus amigos: por pensarmos diferente não significa que não estejamos unidos no apoio incondicional à nossa selecção. Vi todos os jogos que ganhámos em 2000, vi todos os de 2004 e se tiver possibilidades lá estarei na Alemanha. Com uma diferença. Não assobio nenhum jogador da equipa, como alguns fizeram a Rui Costa, no estádio da Luz (jogo com a Inglaterra). Não me peçam que aplauda todos da mesma maneira...
E apesar de ter sido contra a contratação de Scolari e procurar manter alguma coerência, gostaria de referir os seus méritos, porque naturalmente também os tem! Não considero é que sejam aqueles que o seu próprio marketing veicula.
Em primeiro lugar o B-A-BA do futebol, que convém relembrar, porque sendo óbvio, foi um dos grandes falhanços da presença no mundial 2002: o profissionalismo. Ao contrário, neste Europeu, Portugal apresentou-se na máxima força, em excelente condição física, sem castigos que afastassem os jogadores dos jogos (com a excepção de quem senão Pauleta?), nem lesões. A equipa foi globalmente disciplinada dentro do campo, não tendo visto nenhum cartão vermelho.
Nos aspectos tácticos, apesar das críticas à escolha do onze e às substituições (algo que me parece consensual), Scolari retomou os dois trincos, única estratégia possível de acordo com as características próprias dos nossos jogadores.
E pronto. Até à Alemanha 2006 (se formos qualificados, única hipótese publicamente sustentada, mas cuidado que isto não é a qualificação na América do Sul) teremos de levar com ele. Pois seja. Boa Sorte Portugal.
Os heróis
Dentro dos jogadores portugueses existem quatro heróis, dois antigos e dois novos, símbolos do refrescamento sustentado, que defendo: Rui Costa, Luís Figo, Ricardo Carvalho (verdadeiro craque) e Maniche (mão à palmatória).
Figo suportou cacicados merdosos que tudo escreveram sobre ele e mais uns quantos do povinho, a quem as televisões davam diariamente antena. Que está velho, lento e tudo mais. No campo foi excelente, deslumbrante e a maior arma ofensiva da equipa, pegando-a ao colo nos momentos difíceis (normalmente quando estávamos em desvantagem) e nos outros.
Ricardo Carvalho confirma-se como um grande defesa central, dos mais eficazes que vi jogar, talvez o melhor de sempre (ainda, repito ainda, abaixo de Mozer e salientando que nunca vi jogar Humberto Coelho).
Maniche evoluiu extraordinariamente no FC Porto, sendo hoje um jogador de equipa, que corre de área a área. E ainda arranja pulmão para criar desequilíbrios nas alas em situação ofensiva.
É um especialista na guarda de honra exímia que, juntamente com o trinco tradicional (no caso Costinha), faz ao play maker. Este aprumo táctico de José Mourinho (sucessor natural de Scolari no pós 2006) não só duplica as linhas de passe curto do no. 10 (que se pode virar para trás, não encontrando disponibilidade no extremo ou no ponta de lança) como permite pressão imediata no caso de perca de bola do referido 10. Esta situação melhora os níveis de confiança do colega com responsabilidade de condução... Pena que essa especial e apreciável característica não tenha aparecido na primeira parte do jogo inaugural...
Rui Costa
O meu preferido da geração de ouro, logo a seguir a JVP, mas muito mais apreciável no carácter dentro e fora de campo. Sai pela porta grande, mas desrespeitado e compreensivelmente ofendido. Quem diria que, depois das bacuradas de Oliveira em 2002 (que o deixou no banco, preferindo Conceição, embora toda a gente ache que por troca com um trinco ou JVP) lhe voltaria a acontecer uma vergonha destas?
Mas o que fica de Rui Costa é a imagem dos seus passes, das suas fintas impressionantes, da sua visão de jogo e do seu ritmo, que ao contrário do que pensam os caciques, sempre foi pausado e incrivelmente respirado: foi aliás pela sua melhor característica, a de não desatar a correr em direcção ao nada, que foi acusado.
Ficam os melhores golos ao serviço da Selecção: o penalti em 1991 (pela importância desportiva_ eu estava lá), o chapéu à Irlanda (apuramento para o Euro 96) e o estoiro à Suécia (preparação para 2004). Fica a determinação e comportamento de um homem simples e apaixonado pelo seu país: aquele que, disse uma vez, jamais o trocaria se não tivesse oportunidade de o representar. Nunca se pôs em bicos dos pés para marcar os livres e os cantos, embora os executasse de forma brilhante.
Fica a imagem de um Euro 2004 brilhante, onde foi suplente, que entrou de forma espectacular e até decisiva, onde foi o melhor marcador da equipa (em igualdade com Maniche e Cristiano), obtendo um golo para juntar à lista anterior: jogo com a Inglaterra. Não quis sair do campo no final. Entendo. Mas deixa Rui. Vais voltar, com a camisola da tua segunda casa: O SLB. E rápido, que nós precisamos de voltar a ter o príncipe a espalhar o seu perfume.
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