O Caneco é Nosso!
Num volte face do outro mundo o Benfas venceu a Taça de Portugal ao FC Porto, acrescido de ser o bi-campeão e finalista da Liga dos Campeões, Champions para os amigos. Assim dos três objectivos secundários desta época desportiva (UEFA, qualificação para a Champions e Taça) o glorioso consegue dois!Há demérito dos adversários: o Sporting perdeu nove pontos em três jogos, os últimos dos quais contra nós e Mourinho tão elogiado por esse mundo fora, levou um baile de estratégia no jogo de ontem no Jamor, não tendo sobre este assunto lido uma única palavra e imagino se fosse ao contrário... Caso o Porto ganhasse, o técnico tinha dado uma verdadeira lição de estratégia a Camacho. Mas há sobretudo muito mérito do treinador e dos jogadores do Benfica que souberam estar à altura da camisola, numa altura fundamental para o clube, que arriscando fazer uma época horrível, acabou por fazer uma época bastante positiva.
Infelizmente nem tudo são rosas... Aqui vão os casos e os protagonistas.
Camacho
Sou, como tenho escrito no Estado, um adepto muito crítico em relação ao Espanhol (e o único!). Curiosamente comecei a embirrar com ele no anterior tabu (verão de 2003). Camacho não se decidiu a tempo (por causa da hipótese Real Madrid?) e eu achei que quando finalmente viu gorada a saída para Madrid, foi cobarde por ter feito exigências acertadas, que lhe foram garantidas e nunca cumpridas: o técnico não teve coragem para tirar as ilações devidas, uma vez que para a carreira dele era fundamental estar num grande clube, com a projecção do Benfica e durante um período considerável, demonstrando assim capacidade de levar os projectos a bom porto, depois da má imagem que deixou como treinador do Real, durante dezoito dias. Como consequência o Benfica fez a mais amadora preparação de pré época desde os tempos de Pal Cernai. Como consequência não conseguiu o apuramento para a Champions, diante de uma Lazio no mínimo mediana. Fez um péssimo início de Super Liga, oferecendo o título de mão beijada e pior de tudo: ao longo da temporada dispensou ou concordou com as cedências temporárias ou definitivas de Ednilson, Bruno Aguiar e Anderson, ficando com uma única opção para o meio campo defensivo. De seu nome Fernando Aguiar, de apelido Robocop. Faz-me lembrar os tempos de Vale e Azevedo que contratou Machairidis, que hoje milita na III Divisão grega!
Em Milão, esperou pelo terceiro golo do Inter para mexer na equipa e, assim, é o único responsável pela eliminação sem glória da Taça Uefa. Finalmente demonstra dificuldades no capítulo disciplinar: as chamuças e noitadas sucedem-se e em momentos inimagináveis.
Reconheço-lhe também virtudes: tem um discurso exemplar, não perdendo tempo com questões da treta como arbitragem e afins, encostou Zahovic, lançou jovens de valor e formados no clube (João Pereira e Manuel Fernandes, para mim Nené) e acertou nas contratações de Inverno (Luizão e Fyssas). Conseguiu motivar o balneário neste final extraordinário, colocando uma tónica de ambição e espírito de conquista, que só espero que não seja a excepção, mas a regra da mentalidade benfiquista, na próxima época. Só Miguel não gostou da dinâmica introduzida pelo espanhol no final da temporada. Acima de tudo, Camacho, desenhou estratégias e tácticas inovadoras e surpreendentes, tendo culminado com uma verdadeira lição a Mourinho, colocando o Benfica a defender num perfeito 4-3-3 com Miguel a encostar a Petit e Tiago e Simão a Nuno Gomi e Sokota. Assim, o FC Porto caiu numa teia bem montada, onde Pedro Mendes e Maniche não tiveram boleca nos pés para dar a inversão e Deco, embora com mais qualquer coisa, também não resultou em pleno. Acresce a isto que Mc Carthy devia estar com a chamuça e o treinador do Porto demorou a mexer, tendo inclusivamente colocado Maciel em vez da opção óbvia e lógica: Carlos Alberto.
Camacho teve tranquilidade e mexeu no momento certo: estávamos quase a levar a segunda batata e antes do final antecipado meteu Aguiar e Giovanni, para os acertados Armando e especialmente Sokota, porque o nosso Nuninho jamais! Terá sido a lição de Milão?
Falhou na conferência de imprensa (aquela ideia do Tchau e já cá estou outra vez é mesmo karma) independentemente de ter ou não razão: do ponto de vista da comunicação é um erro lamentável porque é a mais vinculada de um técnico que acaba de vencer com Glória. Essa ideia era muito mais importante. Agora só espero que o tabu não se prolongue mais que duas semanas, senão já sabemos que início de época nos espera. Mudo de opinião (a humildade é a arma dos campeões...) e acho que Vieira é obrigado a segurar Camacho.
O árbitro
Lucílio Batista tem azar nos jogos entre Benfica e FC Porto. Nas Antas, esta época, fez uma exibição muito longe da sua qualidade e no Jamor a mesma coisa. É lógico que em ambos os casos o Benfica terá alguma razão de queixa, mas isso para mim não interessa. Mesmo que tivéssemos perdido, borrifo-me completamente para as questões paralelas às essenciais. Comparando todos os erros do árbitro e, por exemplo, o disparate de Petit, nos protestos que levaram ao seu amarelo, até fico doente! Que amadorismo.
O FC Porto
Demasiado triste e apático, dir-se-ia mesmo com falta de ambição. Mourinho meteu os pés por todo o lado. Primeiro Nuno não tem rodagem suficiente para estar à altura e prova disso é o segundo golo (Simão, benfiquista desde pequeno) no qual não estará isento de ingenuidade. Depois o pior de todos os erros: a colocação geográfica de Costinha, encostado aos centrais em situação defensiva, criou espaço de manobra para o Benfica, nomeadamente no desdobramento entre os quatro elementos do meio campo. Senão era Tiago solto era Petit, senão era Petit, era Simão, ou Miguel. Sobrava sempre um jogador livre ainda por cima porque os laterais apoiavam esta movimentação, dada a ausência de extremos adversários. Só Deco e Derlei raramente, entenderam esta situação. Depois as mencionadas alterações mal operadas. Afinal Nossa Senhora de Fátima só ajudou César... Mourinho desta vez ficou nas covas!
A vergonha
Os acontecimentos de violência ocorridos antes do jogo metem-me nojo. Acima de tudo há uma ideia que reflecte todo o meu pensamento sobre o assunto (em termos genéricos): Os actuais dirigentes participam com cumplicidade e activamente nas constantes escaramuças verificadas ao longo de jogos e jogos. O motivo: podem utilizar esses energúmenos (os membros das claques) nas mais diversas situações e dou exemplos. No Benfica têm servido para criar onda à volta de determinadas candidaturas e tirar dinâmica a outras, nem é tanto pelos votos, porque a maior parte deles nem o exercem. No Porto para brigar com a Câmara Municipal e no Guimarães para pressionar o Conselho de Justiça e afins... Os exemplos não param e podia enumerar muitos mais.
A troco disso dão-se benesses: bilhetes mais baratos, sectores reservados e permissão de entrada de tarjas e bandeiras com inscrições ofensivas, provatórias e contra o espírito desportivo de aceitar e respeitar o adversário, acrescido de um péssimo exemplo para a juventude e para a imagem global do futebol, logo contrário à divulgação e promoção da indústria.
Temo que um dia ocorrerá uma grande tragédia e só aí os clubes irão proibir as claques que têm outro grande defeito: são iguais ao speaker. Cortam a onda global da massa associativa presente no estádio. Relembro que, nos quatro maiores jogos que vi na vida, não se deu pela claque, porque era o estádio todo a puxar a uma só voz: Anderlecht (ainda não havia Diabos), Steaua, Marselha e Brasil (final do mundial). (O outro grande jogo foi com a Inglaterra em Eindhoven, em 2000, mas não estávamos em casa, pelo contrário).
O facto
Ganhámos! A 24ª é nossa. Viva o Benfica!
PS- Baía e João Pinto, sem surpresas, ficaram de fora do Euro. É uma vergonha e vamos pagar bem caro. Uma pena também porque vou lá estar. O primeiro é titular em qualquer parte e o segundo (será que alguém consegue acreditar que não tem valor?) se estivesse em baixo de forma deveria ir pelo historial e importância que tem no grupo (como o exemplo de Paulo Sousa no último Mundial), nesta geração de jogadores. E Zidane? E Beckham? Estão em boa forma?
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