Top Five da Negação (semana 15 a 21-09-03)
TOP5º- O "24 horas" tem, nos últimos tempos, ganho protagonismo, imagine-se, junto dos seus pares órgãos de comunicação, em especial na televisão. Não raras vezes as suas notícias são referenciadas como ponto de partida para peças televisivas e afins, especialmente no denominado caso Casa Pia. São os sinais dos tempos, onde as relações empresariais parecem mandar nos critérios editoriais.
Desfolhei casualmente a edição de Sábado (20-09) e encontrei uma pérola: na página 40 uma grelha de popularidade estabelece a simpatia dos concorrentes do Big Brother (obviamente que não é referida nenhuma ficha técnica). Em quarto lugar está a porca com 5,83%. Os sete posteriores devem cuidar a sua participação, evitando comer bolotas em demasia e roncar desafogadamente.
4º- A malta acha piada ao Presidente da CM de Sintra, Fernando Seara. Ele é o Santana 2, tal a quantidade de eventos sociais, férias e casas bem decoradas que enchem esta e aquela revista cor de rosa tingida de laranja. É um bem disposto e assemelha-se ao típico do bom comentador português para o Séc. XXI: só diz banalidades. É mais um rei do senso comum. Será que o tabu à volta da sua candidatura a Presidente (ou outro cargo qualquer, porque na realidade o tabu serve, provavelmente, para conquistar a SAD ou a AG) do Benfica tem alguma dignidade? O que acharia um votante no Senhor, do Concelho de Sintra, se houvesse um só pensante? Na volta sorriria e acharia graça. Pensaria: "Votei bem. O gajo é tão bom que até vai para o Benfica". E já agora... Obra. Algum projecto, ideia ou actividade marcante?
3º- Esta aconteceu a 13-09. Esperava-se que inundasse a semana consequente com os títulos e os artigos de opinião em todos os órgãos e por aí fora. Foi o acto mais importante do, considerado por toda a opinião publicada de direita, verdadeiro líder da oposição. Ah desculpem se não perceberam. O Francisco Louçã já reentrou na actividade política. Alguém notou? Onde está o Bloco? Se o virem avisem-me porque eu só soube pelos artigos dos suspeitos do costume.
2º- O Benfica perdeu outra vez. Nada nos vale. Nunca ganhamos, quer joguemos bem, quer joguemos mal, quer tenhamos sorte, quer tenhamos azar. Pronto, somos o bobo da festa e já estamos a oito pontos (um jogo a menos) do Porto. Será que, nos últimos anos, tivemos um arranque tão mau na primeira liga? Não será exagerada a diferença pontual, disputados quatro jogos? Valha-nos o povo a aclamar o Sr. Vieira, senão não sei onde isto ia parar. É obvio que não está tudo perdido: confio que afastaremos essa equipa de prestígio e que nunca foi eliminada de uma competição europeia: o La Louvière. Venha uma vitória "importante" para desanuviar o ambiente.
1º- As reacções de todos os quadrantes políticos, ao discurso de Paulo Portas, vieram mostrar um aspecto delicioso, que mais uma vez a opinião cacicada publicada e quase toda de direita, não falou: afinal Ferro Rodrigues tinha razão. Afinal o Secretário Geral do PS foi o único que conseguiu antecipar algo que parecia estar adormecido: o radicalismo e a importância desmesurada do companheiro de Durão. Quando Ferro discursou no Algarve, todos os comentadores se apressaram a ridicularizar e desvalorizar a toada que lançou. Nem um mês volvido e lá vem a panóplia ex. MRPP & CIA. a credibilizar FR. É caso para dizer: obrigado Paulo Portas. Não só lixas o eleitorado ao centro, como comprovas a visão do líder da oposição.
NÃO VI, MAS OUVI
a) Relataram-me episódios de criminalidade no Algarve, de extrema gravidade. Casos de violação a estrangeiras (uma rapariga de 13 anos e uma múltipla violação a uma senhora de 43, perpetrada por três indivíduos que recorreram a uma droga analgésica para consumar o crime) e roubos a eito (aliás em Albufeira ainda continua activo o já famoso Homem-Aranha, que recorre à técnica de escalada para se infiltrar em apartamentos). Disseram-me que as autoridades policiais e jurídicas actuaram com celeridade e competência. Daqui provém a necessidade de uma actuação política: não sei se a criminalidade violenta está ou não a aumentar (mesmo que disponíveis esses dados são sempre complicados de analisar, uma vez que, como se sabe, entre as vítimas existe frequentemente um "pacto de silêncio"), mas convinha que se apertasse na prevenção, nomeadamente no reforço de meios para as polícias de investigação, que permita um controlo imediato e eficaz dos eventuais prevaricadores. É que, bem entendido, já perdemos o Algarve de qualidade que poderíamos ter tido, mas já agora ficávamos com o que temos, descaracterizado, mas ainda atractivo para determinadas faixas do mercado turístico europeu.
b) Um técnico de televisão contou-me, por volta de 1998, que anos antes participara num programa da RTP, no qual o entrevistado era um jovem prostituto do Parque Eduardo VII. Disse-me que o jovem confidenciou que "não-sei-quem" era frequentador assíduo dos seus serviços e que tinha, inclusivamente, uma tara por lhe cheirar as meias sujas. Essa parte da entrevista, foi-me explicado, foi retirada da edição final por mencionar o nome de uma figura, quando o que se pretendia era o exemplo geral e não concreto. Será que "não-sei-quem" é o mesmo a quem José António Saraiva dedica o seu "Política à Portuguesa", na edição do "Expresso" de Sábado (20-09)? Andam doidinhos para o agarrar e eu vou-me fartar de rir...
c) Consta (confesso que não pude ver e prometo nunca o fazer) que Pacheco Bloguista, na qualidade de comentador da SIC, exibiu e comentou os cartazes de Santana a anunciar pavimentação. Parece que até sugeriu que a empregada da limpeza deixasse um cartaz a Santana, depois de lhe limpar o escritório (única coisa possível de arrumar naquela personagem). Isto é do melhor. O pessoal laranja anda todo espicaçado para ver quem vai disputar Belém com António Guterres. Matam-se e esfolam-se, mas não se aleijam. Mas porque será que Pacheco Bloguista teve esta ideia? De onde é que ela surgiu, assim nesta forma, com estes exemplos? Segundo fonte que nunca se cruzou com o referido berbe (termo contrário a imberbe), a redacção do Estado suspeita de cópia de um artigo aqui publicado em 22-08-03, por LP. Basta clicar em "archives" e procurar "Feed Back (5)".
PARA FECHAR
Casa Pia. Tudo pensado, tudo escrito, tudo dito. Tudo? Acho que não.
É inacreditável ver Adelino Granja e Pedro Namora defenderem a ideia que a instituição não está em causa. Que o governo nomeie uma provedora e uma comissão para tomarem conta da situação (de forma até digna diga-se).
Vamos brincar aos estados civilizados? Vamos. Em qualquer país do mundo civilizado, a dita entraria em funções com um único objectivo: FECHAR A CASA PIA.
Esta é a única saída para uma instituição que falhou em toda a sua linha de actuação. Em vez de proteger, de cuidar e mimar crianças com diversos e profundos problemas, a Casa Pia serviu de antro para os maus tratos e as torturas que se conhecem. Em vez de preparar os seus alunos para uma vida integrada e atenuar a destabilização provocada por acontecimentos traumatizantes vividos, não. A Casa Pia aprofundou traumas e prejudicou uma grande parte das suas meninas e meninos.
É óbvio que este cenário não poderá ser executado no imediato. Primeiro tem de se avaliar o perfil dos alunos, as teorias de educação (as existentes serão completamente descabidas) que melhor sirvam uma instituição com aqueles objectivos, reformular o corpo docente e auxiliar, fazer o levantamento dos bens imobiliários e a sua nova concepção e distribuição (porque não vender o património riquíssimo e construir de raiz um novo e adequado espaço/ou espaços?), mudar o nome e assim enterrar definitivamente o ónus "Casa Piano". Aqui está parte do problema. Dizia-me um jogador dos juniores do Casa Pia Atlético Clube que quando se deslocam a outros campos o público passa o tempo inteiro a gozar e ofender a equipa, com alusões a todo o processo (eles não são, na sua maioria, "casa pianos" e mesmo que fossem seria pior). Naturalmente que não se pode confundir esta brutalidade sobre a brutalidade com o todo, mas sinto que a realidade do país é assim. Goza-se e ofende-se a partir de tudo e de nada, sem excepção.
Vai ser mais um daqueles exemplos em que fica a tradição de 223 anos a valer mais que a missão, que os alunos, que os cidadãos (crianças) deste país. Comemore-se o aniversário, fortaleça-se o espírito dos orgulhosos ex. alunos e o futuro daquelas meninas e meninos que vá para as couves. Descabida, desactualizada e prejudicadora lá vai continuar a velha Casa Pia em nome do nosso conforto próprio, porque defender a mudança e o encerramento é coisa dos malucos. Ninguém até hoje pensou este cenário. Nem os políticos de todos os quadrantes. Porquê?
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