Lost
Como aprender a viver com a angústia da morte? Seguramente a resposta a essa pergunta leva milhares de cientistas em todo o mundo a desafiarem os limites do conhecimento humano para a obter.
Os psicanalistas, terapeutas em geral, terão algumas respostas. Mas este texto é o de um leigo. Daquele para o qual eles desenvolvem a sua actividade.
Viver com afecto e intelectualmente preenchido e estimulado é a única forma de ocupar esse vazio. O que mais me assusta é a preparação para a morte. Não preparar a nossa própria morte significa sofrer a dobrar, acho eu.
Em diferentes fases desse caminho final ouvi duas frases que me fazem pensar que, apesar de determinada pessoa estar muito debilitada do ponto de vista da sua percepção do mundo, ausência de lucidez, o subconsciente espirra cá para fora o profundo entendimento da morte. Quase penso que a única certeza que nos resta, depois de perdidas todas as faculdades motoras e intelectuais, é a ideia que vamos morrer.
"E é lá que vou ver a luz?", perguntaram-me a caminho do derradeiro internamento e;
"Vi uma coisa escura", disseram-me à passagem de um carro negro.
Enquanto não chega a nossa vez, a única coisa que podemos fazer aos outros é uma festa, um carinho, um beijo. Também dessa forma garantimos que assim connosco agirão.
Garantir uma boa morte prolongada, porque súbita só é má para os que ficam e óptima para os que partem, implica numa sociedade contemporânea, ter condições materiais mínimas: possibilidade de ter assistência permanente no domicílio, que deve ter condições de acesso fácil, para que o percurso de isolamento aconteça o mais lentamente possível. Em alternativa a escolha de um espaço para recolhimento (casa de repouso, lar, etc.) com integração gradual, ou seja com permanências e dormidas faseadas no pré internamento para uma melhor habituação à fase inconsciente e dependente.
Uma descansada percepção e compreensão da morte durante a vida, o que não é difícil pois muitos bons autores sobre ela escreveram em forma de romance, crítica, ensaio, estudo, etc. e muitos realizadores, compositores e artistas plásticos a desenvolveram e representaram, ajuda a estabelecer um melhor relacionamento com a ideia subconsciente que dela fica e que anteriormente falei.
Um bom acompanhamento aos que nos são próximos ajuda a viver com a morte, como se fosse a nossa, ou parte de nós e fazê-lo com o peito aberto de afecto a desculpabilizar-nos e a aceitá-la melhor.
"O amor é a única cura para a morte", terá dito Saramago na apresentação de "As Intermitências da Morte" e no quadro livre da nossa cozinha o António Lopes citou Carlos Amaral Dias, "Os amigos são o nosso air bag para a angústia da morte".
Os psicanalistas, terapeutas em geral, terão algumas respostas. Mas este texto é o de um leigo. Daquele para o qual eles desenvolvem a sua actividade.
Viver com afecto e intelectualmente preenchido e estimulado é a única forma de ocupar esse vazio. O que mais me assusta é a preparação para a morte. Não preparar a nossa própria morte significa sofrer a dobrar, acho eu.
Em diferentes fases desse caminho final ouvi duas frases que me fazem pensar que, apesar de determinada pessoa estar muito debilitada do ponto de vista da sua percepção do mundo, ausência de lucidez, o subconsciente espirra cá para fora o profundo entendimento da morte. Quase penso que a única certeza que nos resta, depois de perdidas todas as faculdades motoras e intelectuais, é a ideia que vamos morrer.
"E é lá que vou ver a luz?", perguntaram-me a caminho do derradeiro internamento e;
"Vi uma coisa escura", disseram-me à passagem de um carro negro.
Enquanto não chega a nossa vez, a única coisa que podemos fazer aos outros é uma festa, um carinho, um beijo. Também dessa forma garantimos que assim connosco agirão.
Garantir uma boa morte prolongada, porque súbita só é má para os que ficam e óptima para os que partem, implica numa sociedade contemporânea, ter condições materiais mínimas: possibilidade de ter assistência permanente no domicílio, que deve ter condições de acesso fácil, para que o percurso de isolamento aconteça o mais lentamente possível. Em alternativa a escolha de um espaço para recolhimento (casa de repouso, lar, etc.) com integração gradual, ou seja com permanências e dormidas faseadas no pré internamento para uma melhor habituação à fase inconsciente e dependente.
Uma descansada percepção e compreensão da morte durante a vida, o que não é difícil pois muitos bons autores sobre ela escreveram em forma de romance, crítica, ensaio, estudo, etc. e muitos realizadores, compositores e artistas plásticos a desenvolveram e representaram, ajuda a estabelecer um melhor relacionamento com a ideia subconsciente que dela fica e que anteriormente falei.
Um bom acompanhamento aos que nos são próximos ajuda a viver com a morte, como se fosse a nossa, ou parte de nós e fazê-lo com o peito aberto de afecto a desculpabilizar-nos e a aceitá-la melhor.
"O amor é a única cura para a morte", terá dito Saramago na apresentação de "As Intermitências da Morte" e no quadro livre da nossa cozinha o António Lopes citou Carlos Amaral Dias, "Os amigos são o nosso air bag para a angústia da morte".
1 Comments:
Não admito que ninguém manipule o meu desconhecido e humilde blog.
O comentário que apaguei sobre a inseminação artificial é um cacique bloguístico que não aceitarei no quadro do post que fiz.
Escrevo este comentário porque, sim, pela primeira vez censurei um comentário.
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