quarta-feira, dezembro 21, 2005

Sobre o debate: a questão política.


O empate técnico (com ligeira vantagem de Soares, abaixo da margem de erro) atribuído pelos portugueses, na sondagem relâmpago da Eurosondagem, encerra uma nova esperança para os que apoiam Mário Soares, uma vez que como se sabe, Cavaco leva uma ampla vantagem junto do eleitorado, que no entanto, não lhe deu qualquer hipótese, ainda que tendenciosa, de ter vencido.

Independentemente do que se possa achar das prestações, uma coisa parece ser clara: Soares candidata-se para ser Presidente tal como esse papel político está definido e Cavaco candidata-se para ser algo mais que Presidente da República. É assim natural que esteja à frente nas intenções de voto: provavelmente os eleitores acham em grande medida que dada a situação em que o país se encontra, é preciso um abanão, é preciso uma magistratura com as mãos na massa, o que ele hoje esclareceu como uma "magistratura activa". Isso está errado e prova que Soares tem razão política para denunciar o embuste. Acresce que Cavaco nunca se pronunciou sobre a alteração aos poderes e intervenção presidencial, o que cria na sociedade uma espécie de mudança de regras durante o jogo, algo que Sampaio sempre alertou para que se evitasse, do ponto de vista legislativo.
Há menos de um ano Portugal vivia com o pior governo da história da nossa democracia. Votámos numa clara vitória de José Sócrates e do PS. O que esperavam os portugueses neste curto período? O mesmo que esperam agora de Cavaco: uma varinha mágica. Pois desenganem-se já! Nem Sócrates vai resolver os graves problemas do país numa legislatura, nem Cavaco vai ajudar, pelo contrário, com a sua personalidade omnipotente só poderá acrescentar a "tal crise política".
É ou não evidente que mesmo antes das eleições ocorrerem, Cavaco procura condicionar a acção do Governo? Como seria com a legitimação do voto popular?

Este debate foi verdadeiramente importante. Agora ninguém se poderá queixar. Soares quer ser Presidente da República e Cavaco quer mais qualquer coisa. Decidam o que decidirem, os portugueses farão uma escolha sobre a qual depois não se poderão queixar, nem imputar aos políticos, os errantes de serviço. No momento do voto poderemos dizer quem realmente queremos para representante, escolher uma personalidade que seja o espelho do que achamos que, colectivamente, somos, ou gostávamos de ser.

Uma frase perdeu-se no barulho das luzes televisivas da realização: "O senhor não lê livros, lê os dossiers". A verdade e a sua versão sintética.