domingo, dezembro 18, 2005

O verdadeiro Alegre

É hoje clara a opção que os portugueses têm: eleger Cavaco à primeira volta ou impedir que isso aconteça, votando (obrigatoriamente) em qualquer candidato da esquerda.
Neste caso, Soares disputará uma 2ª volta histórica com o candidato da direita, não só porque a distância para os companheiros é substancial, como o seu talento é reconhecido e verificável no contexto do seu percurso e também porque segurará garantidamente o eleitorado do PS, ferido e a perceber as duas vinganças de que está a ser alvo.
Pergunta: no limite em que no encontramos, o que gostaria mais o eleitor de esquerda? Que Soares não se tivesse lançado nesta aventura ou que Cavaco perdesse surpreendentemente, contra todas as lógicas pré estabelecidas a este combate?

Manuel Alegre, sejamos claros, tem-se demonstrado igual a si mesmo. Conta-me quem o conhece que é profundamente arrogante, que trata quase todos os seus colegas de bancada como inferiores, tal é a redoma intelectual em que se imagina.
Manuel Alegre relega o partido a que sempre pertenceu, de que é dirigente, ao qual se candidatou a Secretário Geral há menos de um ano, procurando agora uma profunda divisão no partido, contra José Sócrates e os actuais dirigentes do PS.
Manuel Alegre é o detentor único da verdade e dos valores. Quando as sondagens o davam à frente, procurava galvanizar as suas hostes. O resultado é o que se vê, ninguém comparece, ninguém se entusiasma, ninguém se atravessa. Quando as sondagens o dão atrás, estão marteladas.
Há um segredo que ainda não foi (nem o será até ao fim desta epopeia) contado: se Soares não tem avançado, estava em curso uma verdadeira crise política no PS, com uma cisão terrível que teria como consequência uma provável implosão da actual estrutura. O PS não seguiria Alegre, como nunca seguirá Gama ou outros lideres de facção limítrofe (por isso o partido consegue um equilíbrio vital para a sua existência).
Pergunta: não será isso uma atitude contra os partidos e os seus funcionamentos? Não será isso pouco democrático, dada a importância vital dos partidos no nosso regime, não obstante os profundos problemas dos seus actuais funcionamentos?
Pergunta: se a ideia tem pegado, como seria de futuro? Um militante candidatava-se a Secretário Geral e se perdesse, se não convencer os seus pares, apresentava outros candidatos (primeiro-ministro, presidente de câmara e etc.), se não concordasse com as escolhas dos órgãos legitimamente eleitos?

Manuel Alegre ofende-me quando fala contra uma das medidas mais importantes tomadas após o 25 de Abril.: o fim serviço militar obrigatório. Porque muitos jovens portugueses foram obrigados a combater contra sua vontade natural e; como fiz o SMO, testemunhei todos os maus tratos físicos e abusos à integridade psicológica do ser humano, que são descritos e transcritos e que, posso dizer com conhecimento de causa, são verdadeiros.
Manuel Alegre, como pescador e caçador (no âmbito das actividades desportivas e não de sobrevivência) e apreciador de touradas, revela que é uma boçal criatura, mascarada de intelectual burguês.
Manuel Alegre traiu o seu mestre e mentor político de sempre, Mário Soares. Usa esse argumento contra Soares e Sócrates, porque sabe que é estrategicamente impossível aos outros exporem os factos.
Mesmo sobre a sua obra literária, que nestas ocasiões é tão empolada e independentemente do gosto contemplativo de cada leitor (indiscutível e inalienável), seria bom ouvir a opinião consistente dos literatos académicos do nosso país.
Manuel Alegre cita os artigos dos seu entrevistadores, para justificar posições políticas e citou Sophia de Mello Breyner no próprio debate moderado por seu filho.
Pergunta: isto não é ser profundamente hipócrita?

Manuel Alegre vai falhar esta sua candidatura, enganando algumas pessoa que estão de certeza de boa fé, no seu legítimo apoio. Mas o seu futuro político não ficará impoluto. Manuel Alegre pagará bem cara esta vergonhosa situação. E mesmo que o PS não o possa excluir (por motivos éticos e de damage control), o mínimo é que ele próprio o faça.
De uma coisa nunca mais se vai livrar: estragou toda a sua vida política activa. Passou de militante referência a persona non grata.
Passe à prática, Manuel Alegre. Demonstre que é possível a participação política a nível nacional, fora dos partidos. Ou vai continuar a mamar à conta do PS, como fez até agora?