quarta-feira, novembro 30, 2005

Estas coisas boas que o Soares nos dá

Independentemente do que quer que venha a acontecer este documento já ninguém nos tira. É refrescante e delicioso ter Soares em campanha. Um tratado de política e estratégia inigualável! São estas coisas boas que Soares nos dá!

Houve um grande empolamento, cacique mesmo, sobre as audiências dos debates da TVI. Na sua esperteza saloia Marcelo Rebelo de Sousa à cabeça de um leque alargado de paineleiros, tentou extrapolar sobre o rating de cada candidato na entrevista da TVI. Como que deram a entender que quem teve mais gente a ver estava a mobilizar mais eleitorado. Portanto na lógica de Marcelo e Cia., Soares perdeu o concurso das audiências. Acho mesmo que este tipo de opinião tem mais impacto na opinião pública que aquilo que se pensa.
Mas, para os menos especialistas é bom esclarecer.

1º- A questão da fidelização. Quem trabalha com audiências sabe que a continuidade de um programa é essencial para os objectivos de audiência. Mesmo o futebol é exemplo. Todos se recordam que os Jogos da Liga transmitidos pela TVI no ano passado foram sempre transmitidos ao Sábado à mesma hora. Hoje, fidelizado, o público já dispensa essa estratégia. Ora Soares foi o primeiro entrevistado e há um dado irrefutável, que nem Marcelo nem o Público quiseram notar: o convidado seguinte teve sempre mais audiência que o anterior. Ninguém, por mais que deseje, imagina que Louçã terá mais votos que Soares.

2º- A promoção. Pode ser uma opinião enquinada por alguém que não vê muita televisão, muito menos a TVI. Mas pareceu-me que, apesar do esforço conseguido pela moderadora para ser isenta com todos os candidatos (eles devem pensar que não valerá a pena exporem-se nesta, vão guardar os dentes para Sócrates, se ainda lá estiverem, esperemos que não), só vi auto-promoção à entrevista a Cavaco.

3º- O factor Sport Tv. Este é talvez o mais importante e complexo. Ora a medição de audiências televisivas em Portugal é feita através de um aparelho que regista o que uma amostra fixa de telespectadores vê ao longo do dia. No fundo trata-se de um barómetro mais fidedigno no resultado directo que um questionário, por exemplo. Além disso é uma espécie de Dogma. As agências, clientes e meio regem-se por estes dados que de qualquer forma são estrategicamente incompletos. Por exemplo: o célebre Bar da Tv da SIC teve níveis aceitáveis de audiência, mas será que no médio prazo os seus efeitos não terão sido nefastos para a imagem da estação? Ou, por outro lado, a série "Desperate House Wifes" cujo horário ajuda às fracas audiências que regista, não será uma catalisadora de imagem positiva para a mesma estação? Pode dizer-se que o mercado funciona a partir destes número e não há nada a fazer.
Por outro lado seria interessante realizar uma sondagem comparativa. Ou seja, utilizar as técnicas de estudos de opinião num universo científico não fixo e mais amplo e verificar se os dados batem certo com os da audiometria. Desconheço que tal estudo tenha sido feito até hoje.
Porque a estação que justamente se queixa é a Sport Tv. Os seus dados de audiência são fraquíssimos em relação ao impacto que o futebol tem na nossa sociedade. É claro que isto é um negócio e que o mercado é curto, tapa-se os pés, destapa-se a cabeça. Mas é fácil verificar que quando há um jogo importante as pessoas se juntam nos cafés e mesmo nas casas daqueles que possuem o canal descodificado. Ora como se regista essa audiência num universo fixo de espectadores residenciais?
A resposta encontrada pelos caciques é que a entrevista a Shakira tirou audiência a Mário Soares, tentando fazer esquecer que o Benfica jogou com o Villarreal, num jogo decisivo para as aspirações encarnadas na histórica competição da qual estava, há anos, afastado: a Champions.

Vá lá que a RTP1 está a promover a sua acção de hoje: Judite de Sousa entrevista Mário Soares, às 21.00h. Será seguramente um momento imperdível. Mas claro, como terá mais audiência que a entrevista de ontem, já não será assunto.
Hoje: mais uma coisa boa que Soares nos dá.

3 Comments:

At 11:25 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Caro HB.

Só vi os primeiros 3 minutos da entrevista o que chegou para me aperceber que:

Mário Soares está em excelente forma... física.

Se estamos em Novembro e a entrevistadora diz que o Sr. faz anos no próximo mês, então Mário Soares faz anos em Dezembro. Não percebi aquela interpelação do Sr.

Das duas uma: ou estava nervoso, o que para o seu historial e experiência não me parece normal, ou então não está na melhor forma psíquica.

Honestamente, apesar de muitos defeitos, que também reconheço a outros candidatos, não quero ter um Presidente da República como a Igreja Católica teve o Papa (João Paulo II) nos últimos anos do seu pontificado.

Aquele abraço.

GL

 
At 6:29 da tarde, Blogger HB said...

Mas meu amigo: mesmo serve para o actual Papa que tem 79 anos (como alás é dito na entrevista). A única coisa que me repugnava no Papa anterior era o seu estado e não a sua idade sobre isso me manifestei.

Estavamos no primeiro dia de Novembro, daí a confusão. Eu por acaso até demoro mais tempo a "mudar de mês". Nunca te aconteceu?

Mas sobre o seu estado mental o melhor é veres a enrevista toda e tirares conclusões.

Grande abraço amigo cavaquista!

 
At 7:40 da tarde, Blogger HB said...

Aliás, Constança enganou-se logo aos 30 segundos, 85 com 81...

 

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