quinta-feira, abril 01, 2004

Exclusivo

1 - No passado sábado (27-03-2004) a Casa Museu João Soares organizou, no distrito de Leiria (o evento marcado para a Casa Museu nas Cortes acabou por ser realizado na Ortigosa para poder acolher os cerca de 600 participantes), uma conferência promovida por Mário Soares, com a intervenção de António Guterres, na qualidade de Secretário Geral da Internacional Socialista, sobre a Globalização e os Novos Conflitos emergentes do terrorismo e da guerra.

Primeiro a forma: António Guterres deu uma verdadeira lição de como discursar sem recorrer a nenhum auxiliar de memória, nem um papelinho com os tópicos... O Ex. Primeiro Ministro falou de política externa, durante uma hora, com uma impressionante capacidade de esquematização de ideias e de sequência de propostas, que fazem dele um orador único neste país.
Quanto ao conteúdo, Guterres explanou a temática de uma globalização injusta e criadora de assimetrias, cada vez mais clivadas e originárias dos actuais conflitos. Prosseguiu depois com uma tónica anti-políticas unilaterais, dando como exemplo a posição surda de Bush que considerou ter partido para a guerra por "inspiração edipiana, tentado fazer o que o pai não conseguira", derrubar Sadam Hussein.
Propôs novas formas de inter governação à escala mundial, a partir da ONU, com a devida restruturação da Organização, avançando com ideias, por exemplo, de acrescentar a possibilidade dos países com direito de veto, poderem votar simplesmente contra sem com isso estarem e inviabilizar propostas (posição não consagrada) e o alargamento do Conselho Permanente de Segurança a mais países, devendo Portugal apoiar, neste âmbito, a candidatura do Brasil. Delineou uma estratégia muito interessante que assenta em quatro grandes pilares da moderna condução da humanidade: a economia, as finanças, o ambiente e as questões sociais. Da minha parte acrescento duas alíneas que consagrem a cultura e educação por um lado e a saúde por outro.
Ficou por perceber como pretende Guterres avançar com estas propostas. A partir da IS, com Blair e seus muchachos? Não parece muito viável...
De qualquer forma esta verdadeira lição de política externa do Professor Guterres há-de ter deixado Mário Soares muito contente, uma vez que as posições do orador se aproximam muito das defendidas, há muito, pelo mestre de cerimónias...

2 - Não escondo a expectativa acrescida que tinha para esta conferência. Apresento a dois anos de distância um exclusivo: de acordo com fonte próxima do PS (escusam de puxar pela cabeça, a respectiva não estava entre os convivas), António Guterres não pretende ser candidato à Presidência da República, por motivos pessoais.
Em primeiro lugar concordo com a ideia de ser cedo para os pré candidatos se apresentarem. Não obstante, julgo que a sociedade deve discutir o tema sem tabus, uma vez que, se não forem os próprios, em nada se coloca em causa a posição do actual Presidente e se avaliam os prós e contras dos posicionados. Vamos, afinal, escolher o Presidente para os próximos dez anos e nesse sentido esta eleição é atípica, em relação às reconduções.
Esta notícia exclusiva do Estado, não é uma boa nova. Pelo contrário, estou convicto que António Guterres seria o candidato natural da esquerda e o mais bem posicionado para derrotar Cavaco Silva, sobre o qual, aliás, não percebo qual é a dúvida dos comentadores, uma vez que será de certeza candidato.
Há um dado que é seguro: grande parte do aparelho e mesmo as influências nacionais e internacionais do partido procurarão demover António Guterres de não se candidatar. Será que o Engenheiro cede e se apresenta corajosamente a escrutínio, ou fecha-se em copas e adia Belém por dez anos? A ver vamos... Pela amostra, as tropas estão prontinhas para avançar. Em caso negativo quem poderá avançar? Ouvi dizer que se prepara uma vaga de fundo para Eduardo Ferro Rodrigues. Isto vai ser bom!