Paulinho o incendiário (continuação)
O Paulinho acha-se o maior. Presunção e água benta, não lhe faltam. A política está cheia de hipócritas, diz-se à boca cheia, mas o pessoal reaccionário não penaliza o Paulinho... E não deixa de ser irónico que ele seja católico praticante e um seguidor acérrimo das palavras do Papa. Acham-lhe graça, por causa daquelas atitudes em que finge ter coragem. O Paulinho é também um verdadeiro macho latino da política portuguesa contemporânea!1- Recebeu os restos mortais de Maggiolo Gouveia, com honras de estado e presença afirmativa e sumptuosa. Acontece que, como a história veio a provar, esse tenente-coronel estava errado. A sua causa foi contra a vontade do povo de Timor. Foi por culpa de equivocados como Maggiolo Gouveia, que o povo timorense sofreu a bem sofrer, durante mais de duas décadas.
É simples atribuir razão histórica. Por exemplo, não lembra a nenhum ministro alemão receber restos mortais de oficiais nazis, mortos fora de portas, com pompa e circunstância! Eles estavam do lado errado. Não tinham razão. Muito menos colocar os serviços do Gabinete do Ministro a publicitarem o currículo do militar, enviando-o para toda a comunicação social. Para o fazerem existir?
Ora é evidente que aos familiares resta a dignidade pessoal e inquestionável de recuperar o corpo do seu ente querido e ao Estado facilitar essa operação em nome não só da assunção dos seus próprios erros (do Estado), mas também dos que estão vivos e aos quais nenhuma responsabilidade deve ser atribuída. Mas nenhum Estado democrático pode ser envolvido nas trapalhices reaccionárias de um ditadorzeco de meia tigela. Paulinho chegou à cerimónia fúnebre e desatou a traquear: "(...) O Sr. tenente-coronel Maggiolo Gouveia soube conjugar o verbo ficar, em vez do verbo abandonar(...)" numa alusão aos militares portugueses, que sem meios (humanos e materiais) nem cadeia de comando esclarecida, partiram para Ataúro a 8 de Dezembro de 1975, um dia depois do início da ocupação. Uma das dúvidas que tenho sobre Paulinho é se ele prestou (como eu e muita rapaziada de gerações e gerações de portugueses) serviço militar obrigatório (SMO). O seu currículo fornecido pelo governo, não esclarece (www.potugal.gov.pt), portanto ficamos a imaginar mais uma hipocrisiasita, mas tudo bem. Outra é saber porque é que Portugal, anos mais tarde e civilizacionalmente estabelecido, não declarou guerra à Indonésia, bárbara e ilegal ocupadora de um território internacionalmente reconhecido como português? Simplesmente porque a nossa tropa é uma jovial cambada de rapaziada que alimenta os cargos oficiais superiores, que é (em cerca de 80%) inoperante em caso de um conflito actual e cuja a falência é mais um daqueles mega falhanços atribuíveis aos responsáveis do Portugal pós Abril! (Aproveito para dizer que ter feito o SMO foi uma das experiências mais aterradoras que vivi_ um dia conto-vos alguns episódios, que sustentam a ridícula e tenebrosa tropa que temos).
2- Sabe-se agora que o Paulinho também não gosta da tropa. O Expresso notabilizou (revista "Única" de 30 de Agosto de 2003) o que já circulava na blogosfera. No artigo "Quando eu tinha 12 anos" (podem ler na integra em www.contra-a-corrente.bolgspot.com , escrito para a revista "K", no.1, Outubro de 1990) escreve: "(...) Daí para a frente, passei a desconfiar dos militares.(...) façam lá o que fizerem as fardas oficiais, quero-os longe.(...)". Enigmático este "façam lá ao que fizerem as fardas oficiais"...
Em qualquer Estado Afirmação nunca este senhor poderia comandar os militares. Dir-me-ão: "Bem ele era jornalista, não sabia o que lhe viria a acontecer, agora já não pensa assim, evoluiu, etc., etc., etc.". Mas precisamente eu, por exemplo, nunca serei Ministro da Defesa! Posso dizer o que me apetecer sobre a instituição militar, que nunca chegarei a esse cargo. Como eu, muitos portugueses. Os que desempenharão essas funções têm de estar obrigatoriamente reféns do que já escreveram ou disseram. É por isso que há ministros e há arruaceiros. Eu sou dos segundos, Paulinho é dos dois.
3- O Zé Manel anda à rasca! O seu grupo de governantes é o pior a seguir a Marcello Caetano. Paulinho queimou muitos dos amigos da maioria dos seus colegas ministros. E há os outros que não o são, por protesto contra a presença de Paulinho no elenco. Onde estão Dias Loureiro, o António qualquer coisa que é uma referência no PSD e um economista brilhante, Duarte Lima e outros? Não há pão para malucos, ou se há Paulinho não há palhaço! Esta chamada coligação contra-natura é equivalente ao António Guterres ter feito uma coligação com o Carvalhas e prolongá-la para a Europa. Ou com Louçã, ainda menos coerente, mais idêntico à actual situação.
Estende-se a muitos políticos (e jornalistas) esta verdadeira promiscuidade de estarem nos dois lados da barricada e esse é o mais nefasto factor de empobrecimento desta área, a seguir às nebulosas regras de candidaturas permitidas: um cidadão é candidato a presidente de Câmara. Nas eleições a seguir candidata-se a deputado pelo seu ciclo eleitoral, fazendo valer o prestígio adquirido no sufrágio anterior, mas sabendo que nunca cumprirá o mandato na Assembleia da República, sendo substituído pelo 1º suplente e assim por diante. Isto no caso de ter vencido em autárquicas, porque se for vereador preferirá o cargo de deputado. Acontece (como no distrito de Coimbra) que todos os candidatos elegíveis nas listas do PSD, nas últimas eleições legislativas, eram precisamente os vários Presidentes de Câmara, com excepção do cabeça de lista Manuel Dias Loureiro. E nos cartazes lá estava ele todo contente, ladeado pelos presidentes das Câmaras PSD.
Faz lembrar o célebre: "Eu fico". Se os dois maiores partidos entenderem fazer uma real reforma do sistema político, não podem estar só preocupados com o financiamento ilegal que todos praticam. É necessário estabelecerem regras claras que não permitam que em três eleições seguidas Paulinho tenha sido: cabeça de lista do CDS-PP à Europa, candidato a Presidente da CML e candidato a Primeiro Ministro. Democracia ou Oligarquia?
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