Porquê Benfas, porquê?
"Pró ano é que é! Se mantivermos a equipa, pró ano ninguém nos agarra!" Podem achar que esta foi uma frase que ouvi a época passada, mas não. Ouvi-a depois do jogo com o Boavista, este domingo (17-08-03, 0-0).O Benfica está na pior fase desportiva, financeira, directiva e futebolística de toda a sua história! Em ano de centenário é altura de me opor aos Benfiquistas que continuam a estragar o clube, essencialmente uma boa parte dos votantes. E porque são estúpidos!
Vieira- o futuro presidente.
Um grupo de sócios, oriundos de várias correntes de pensamento e de diversas maneiras de estar no Benfica uniu-se com um único objectivo: derrotar João Vale e Azevedo. Em boa hora o fizeram, ultrapassando todos os interesses, colocando acima de tudo o seu benfiquismo, esquecendo até (como se viria a comprovar) a necessidade de ter um Projecto para o Benfica. Era preciso avançar e avançar a todo o custo, para terminar uma péssima gestão a todos os níveis, especialmente aquela a que sempre me opus_ a Desportiva! Lembro-me da série de disparates que se cometeram, da armada inglesa, à dispensa de João Vieira Pinto, do rasgar contratos (independentemente da razão para tal ou não, qualquer direcção deve gerir as heranças ou então fundar outro clube) ao estilo pouco democrático verificado, eventualmente exercido internamente, numa lógica do "quero, posso e mando" que por ignorância profunda do seu protagonista nos levou às piores classificações e resultados desportivos da história do Glorioso.
Desse grupo não fazia parte Luís Filipe Vieira (LFV), um furacão que invadiu o Benfica e cujo único contributo será a quase destruição do clube por via da delapidação patrimonial absoluta, inédita, que passará às gerações futuras um Benfica detentor de nada: os terrenos já foram todos, os jogadores não lhe pertencem, os contratos diversos de exploração de marca (televisão, patrocínio desportivo e merchandising) comprometidos para períodos até dez anos! (Ainda me lembro de se discutirem as regras de contratação por parte de Direcções, que não deveriam ultrapassar o período de Exercício, até por motivos éticos_ quem vem a seguir fica sem margem nenhuma, uma vez que tem de honrar os contratos e o dinheiro já foi gasto).
Vieira, após uma actividade profissional oculta (terá sido espião??), veio do Alverca, clube que durante a sua gestão passou de satélite do Benfica (daí que vários jogadores tenham lá sido colocados com o objectivo de ganharem experiência competitiva) a um clube autónomo que herdou, vá-se lá saber como, esse património de jogadores e passou a servir de ponto de passagem de alguns para o FC Porto, com a conivência (pelo menos, porque do resto ninguém tem provas) de Vieira, que passou, por exemplo, Deco para o rival das Antas, hoje unanimemente considerado o maestro dos sucessos transatos. Vieira era (ainda é?) sócio dos três grandes, numa nítida perspectiva de poder negociar com todos, sabe-se lá o que é que o futuro nos reserva, quem sabe até se ligado ao dirigismo desportivo, numa porta que eventualmente se venha a abrir. Abriu-se.
Vilarinho desesperado com o que acabava de encontrar e com total ausência de um projecto consistente e mobilizador, conhece Vieira, através de Bibi (tudo malta muito aconselhável, grandes nomes do Benfica, que não me envergonham nada, especialmente por desempenharem papéis relevantes), ironias do destino. LFV não se candidatou a nenhum cargo, passou a exercer funções profissionais no clube (para todos os efeitos um funcionário do Benfica, por via dos legitimamente eleitos) e pôs em prática o seu plano maquiavélico, que tinha três grandes linhas de orientação:
1º_ Dotar o Benfica de jogadores de renome nacional (outra visão da espinha dorsal) e internacional. Esta foi a sua única medida mais e menos positiva_ como em tudo se correm riscos, a presente estratégia trouxe factores positivos e negativos e só com o passar dos anos poderemos aferir se efectivamente algo de bom nos aconteceu.
LFV fez um acordo tácito com José Veiga que permitiu a contratação de Simão, Nuno Gomes, Pedro Mantorras e Tiago (que entretanto já mudou de empresário), que enobrecem a nação benfiquista, uma vez que se tratam indiscutivelmente de jogadores de grande classe e promissor futuro.
Ao mesmo tempo: este acordo de exclusividade, afastou Jorge Mendes (de Quaresma, Ronaldo e Postiga) e outros empresários, o que numa lógica de mercado do futebol actual é profundamente discutível e;
Obrigou o Benfica a comprar uma série de trutas como JM Pinto, Zahovic, Drulovic, Peixe, Fernando Aguiar, Éder, Cabral e muitos outros que se encontram na lista de dispensas, ou emprestados, ou à espera de colocação, ou etc., etc., às custas do Benfica, em quantias de dinheiro incalculáveis, das transferências, dos salários, de parte dos salários e por aí fora! Como resultado, agora percebem os benfiquistas, o plantel ficou desequilibrado, fragilizado e o mais fraquinho dos três grandes.
À partida para a presente época esperava-se (inclusive o treinador esperava) que LFV equilibrasse a equipa, contratando os tão esperados reforços, que nunca vieram, à excepção de Alex, por sua vez preterido por João Pereira (bem vindo!), por sua vez nunca utilizado na pré época, lançado às feras logo num jogo oficial, mas a essa parte já lá irei.
2º_ Construir um estádio novo. Acho piada porque me opus. Antes de mais porque me opus ao regabofe de estádios novos como cidadão e primeiro devemos ser cidadãos e só depois adeptos de clubes e é por essa inversão que qualquer ladrãozeco pode chegar a presidente de um clube... Lembro-me de ir à catedral e terem andado a descarnar fios e caiar paredes, para que parecesse que o estádio estava podre! Tenho amigos que acham que o anterior governo esbanjou muito guito e apoiaram o estádio novo como única alternativa possível. Espero que compreendam porque é que Guterres avançou para os estádios: o futebol manda no país e, infelizmente, não há nada a fazer!
O Benfica tinha na altura um passivo de 18 milhões de contos, perdia (agora ninguém faz ideia) 1,5 milhões de contos por ano com o futebol e este investimento rondou mais ou menos 25 milhões de contos, sendo a participação do estado na ordem dos 8 milhões. Explicaram-me alguns economistas que só investindo se pode encaixar receita, mas como não é a minha área eu nunca entendi como é que um estádio novo gera receita per si. Ou seja, achei eu na minha ignorância (e disse-o na Assembleia Geral em que se decidia a construção ou não, vitória do sim, com 95%) que para gerar receita a única hipótese era o Benfica nos próximos dez anos (já passou um) vencer seis a sete campeonatos e passar pelo menos cinco vezes à segunda fase de grupos, da liga dos campeões! Ironia das ironias nem uma época inteira passou e já não há crédito para ir à banca buscar dinheiro para jogadores... Claro! Os project's finance estão esgotados no estádio! Que ficará às moscas: relembro que o Benfica tem batido todos os seus recordes de afluência aos jogos, pela negativa. Aliás pergunto: como está a decorrer a tão proclamada venda de lugares, que permitiria encaixes de milhões? Quantos lugares já foram vendidos? Quais as campanhas de marketing previstas para?
3º_ Afastar todos aqueles que se opusessem ou simplesmente quisessem clarificar os processos de Vieira. Assim, mais uma situação incompreensível, quadros superiores de benfiquistas, que se candidataram aos mais diversos cargos dos órgãos sociais, oriundos da política (diferentes partidos), da banca, da gestão e de outras áreas da sociedade civil, viram a sua coragem de emprestar solidez e confiança ao clube (porque esse era o ponto quando Vilarinho concorreu), destruída... por um funcionário. LFV aprontou-se a despedir membros dos órgãos sociais do Benfica pelo jornal, estilo muito próprio, que ninguém pode censurar mas que não serve para ser presidente do SLB.
Mas LFV, que goza de um "prestígio" assustador nos militantes benfiquistas, será facilmente presidente. Não sei se gozará de tanto na opinião da massa associativa no seu todo. Mas nos votantes mais ou menos fixos, parte com quarenta por cento de vantagem em relação a Luís Tadeu (segundo) e Jaime Antunes (terceiro) de acordo com uma sondagem do jornal Record. Esta oposição cometerá um grande erro se não se apresentar numa só lista: a de dividir e fraccionar aqueles que estão descontentes com LFV. Corre atrás da partidarização lançada por Vilarinho, quando declarou que os órgãos sociais tinham decidido apoiar o PSD. Luís Tadeu lidera um movimento de esquerda e Jaime Antunes de direita. Embora o venham a negar, basta ver o perfil dos seus correligionários em cada um das listas e perceber claramente esta divisão, salvaguardando os independentes de uma e outra lista, que obviamente existem.
Independentemente de o Benfica passar ou não à liga europeia, dos reforços ou da humilhação de os ver fugir, LFV ganhará tranquilamente as eleições, por causa do mesmo único sentimento que perpetuou a ditadura de Salazar por décadas: os outros podem ainda ser piores. Mesmo com a oposição do treinador da equipa de futebol, os benfiquistas vão preferir ficar com os dois, o que, já se vê, será impossível!
Camacho- mais um para o cemitério
A seguir a Toni (o campeão de 93/94, não o situacionista baralhado da penúltima época), Jose Antonio Camacho (JAC) foi o melhor treinador do Benfica na última década. Mas não vai acabar esta época como treinador do SLB!
Camacho entrou no Benfica de forma brilhante: comparou-nos ao Real Madrid (o que nos tempos que correm é um elogio e no passado seria uma ofensa) imprimiu um estilo dinâmico e empreendedor à equipa e conquistou os adeptos de forma unânime, a exemplo do que aconteceu com todos os seus antecessores, exceptuando Artur Jorge: Ainda recordo confiança do universo benfiquista à volta de Autuori, Manuel José, Souness, Heynkes e Jesualdo. Nunca gostei de nenhum deles, embora reconheça alguns méritos a Heynkes, até à altura que dispensou João Vieira Pinto, o meu craque preferido de sempre, a seguir a Fernando Albino Chalana (Nota: Nunca vi jogar a pantera, mas reconheço que é o maior por motivos que até ultrapassam o futebol).
Mas JAC começou a esticar-se de forma, que temo, irreversível. Em vésperas do jogo com a Lazio, o seu empresário disse à comunicação social que "se JAC soubesse que era assim, nunca teria assinado". Isto é um profundo erro estratégico: Se efectivamente mentiram a JAC, este deveria aguardar o desfecho da eliminatória com os romanos, para tornar público o teor da sua contratação e não anunciar a falta de cumprimento da palavra, nem referir que lhe faltam 4 jogadores, porque o seu objectivo primeiro é transmitir total confiança aos jogadores que dispõe_ este foi o pior aspecto do Benfica no jogo com a Lazio: a falta de auto confiança. JAC falhou totalmente essa missão nos aspectos internos e externos da gestão desse aspecto preponderante (reparem por exemplo o jogo do FC Porto com o Braga: não jogaram um caracol, mas sentiam sempre que iam ganhar o jogo e ganharam!). O seu segundo objectivo seria ganhar poder negocial, através da qualificação.
Durante o defeso já JAC tinha falhado redondamente: criou um tabu (à espera do Real? eu acredito que sim, obviamente) que comprometeu seriamente toda a preparação da equipa para a meta a que se propunha. Em vez de preparar a pré época com o know how que possui (JAC já fez preparações para campeonatos do Mundo e Europa), andou a ganhar tempo. Como resultado o Benfica preparou-se para jogar a Liga dos Campeões com dois jogos (!) eficazes (Panathinaikos e Sporting) e quatro jogos completamente ridículos (Belenenses, Boavista, Leixões e Moreirense) para não falar dos juniores do Nyon e do jogo cancelado! Isto revela, uma vez mais, que nem JAC consegue inverter a tendência amadora que impera no clube em que se anunciam grandes contratos de cedência de imagem únicos no Mundo, mas não se consegue colocar o clube a participar em torneios internacionais, que correspondam aos pergaminhos do Benfica (como por exemplo o World's Championships, nos EUA; o torneio de Amsterdão, Holanda, etc.) e que permitiriam uma preparação coerente com o objectivo Liga dos Campeões.
JAC finalmente, neste emaranhado de confusões, começou a meter os pés pelas mãos com os jogadores. A imperdoável dispensa de Ednilson (haverá aqui mão de empresários?), a utilização de Fernando "Thomas" Aguiar na equipa titular (Santo Deus), a não utilização de João Pereira na pré época (até para testar e rotinar, porque a estreia do miúdo correu muito bem, mas se calhar teria corrido excelentemente) e a mais grave de todas: gestão do caso Roger. Aqui JAC assinou a sua sentença de morte.
Em primeiro lugar Roger foi dos melhores elementos em campo, contra a Lazio. Em segundo Zahovic, não serve nem nunca serviu ao Benfica. Em terceiro se Roger tem problemas disciplinares fora do campo, isso resolve-se facilmente com uma boa estrutura, porque no FC Porto não existem esses problemas (excepção feita a Serginho, jogador de outra dimensão, mas também convém arranjar um bode expiatório, até pela exagerada dimensão do plantel). Em quarto lugar nunca vi, em qualquer equipa do Mundo um jogador ser dispensado por cometer um erro dentro de campo, senão meu Deus, Argel era crucificado e Zahovic após o jogo com o Boavista, a vencer 25 mil carapaus de santola e falhar dois golos de baliza aberta ia treinar com os infantis. Em quinto Roger não fez falta no lance do golo de Milhailovic: o movimento do Menino do Rio tem dois tempos. Efectivamente Roger salta com o braço levantado mas a bola toca no peito e depois ressalta casualmente para o braço (esclareço que este é um movimento técnico muito usado uma vez que os jogadores procuram fazer uma concha com o peito e o ombro para dominarem a bola, acrescido de impulsão, daí o braço naquela posição, daí a ilusão da falta. Recomendo que vejam o lance antes de pensarem sobre este comentário). Em sexto e último lugar Roger é um jogador novo e tem um grande futuro futebolístico à sua frente. Esperemos que desta vez LFV não o encaminhe para as Antas, mas temo que um dia mais tarde esse venha a ser o seu destino!
Assim, com as constantes declarações e irritações de JAC, é normal que não consiga ter a influência positiva nos jogadores, especialmente nos que mais precisam. Qualquer dia dispensamos o Simão porque não quis ser despromovido. Isto é ser pobre e mal agradecido!
Última Nota: Estratégia
O Benfica não forma um jogador de grande classe desde Rui Costa. Gasta anualmente 350 mil contos em formação. O Benfica precisa urgentemente de arranjar um conteúdo para o centro de estágio, em construção. Para tal deve procurar um sistema de formação moderno, inspirado nos exemplos do Ajax e do Auxerre (felizmente que saiu gorada a contratação do benfiquista Ricardo, senão Moreira, o único fruto da cantera do Benfica, estava no banco).
Não será possível conciliar Camacho e Vieira. Os sócios terão de escolher. Eu escolho Camacho. Por isso apoiarei Tadeu.
(Já devia ter sido pensado, mas) A equipa profissional de futebol tem de ter condições normais de trabalho de alta competição (não é andar a cancelar treinos porque os iniciados do Massamá estão a utilizar o campo, ou os juniores do Caldas), bem como códigos de conduta rígidos e determinados pelos responsáveis, definidos pelo clube. Esta é uma regra transversal, portanto a utilizar a todos os níveis.
Ao departamento de comunicação cabe responsabilidades diferentes de certas piadas ditas na sala de imprensa sobre prostituição, copos e strip tease. Compete-lhe definir uma ampla estratégia de concertação com os adeptos, promovendo o clube e as equipas, de forma a aumentar e divulgar as actividades e consequentemente a adesão do universo benfiquista. Este departamento tem de devolver o clube às massas!
O Benfica deverá ser um clube ecléctico, que manterá uma presença influente nas diversas modalidades, competindo à direcção arranjar as formas modernas de viabilização da prática das modalidades. Não se percebe como é que se faz um estádio novo, com um pavilhão e uns meses depois se propõe aos sócios acabar com as modalidades. LFV e seus pares destruíram a equipa de ciclismo e a de hóquei e nada fizeram pela de basquete e andebol, mas salvaguardaram que o Futsal vivia sem custos para o Benfica. E eu pergunto: e as outras não podem seguir-lhe o exemplo? E sem custos significa sem receitas, uma vez que cedemos o mais importante_ a marca?
PS- As referências a pessoas (jogadores, treinadores, dirigentes e etc.) são no plano estritamente profissional, salvaguardando ambos o plano pessoal dos mencionados e a minha liberdade de expressão.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home