quinta-feira, junho 21, 2007

(Palavras dirigidas na celebração do meu 35º aniversário)

Boa noite!

Este ano, decidi celebrar os 14 anos que vivi com o meu melhor amigo não humano. É esta a vantagem de fazer anos: decidir o tema da festinha!
E por isso achei que vos devia desafiar para a única ambição não artística que tenho: contribuir de forma empenhada e activa para o debate e intervenção cívica na defesa dos animais não racionais.

Explicando bem o meu pensamento: a causa mais importante da humanidade é precisamente a defesa da vida humana, as condições de saúde, alimentação e higiene condignas com o nosso estatuto racional e emocional. Essa é a mais importante missão dos homens: criar condições para que todos os indivíduos da sua espécie tenham as mesmas, ou pelo menos condignas, condições de vida.

Não obstante, a causa ambiental, a defesa do desenvolvimento sustentável de um mundo com menos emissões perigosas, com mais energias renováveis, amigas do ambiente, com prioridade à defesa das zonas verdes, as urbanas e as de grande dimensão, florestas, parques naturais e reservas ecológicas em geral é um desígnio da humanidade, que não sendo o principal, também não é, seguramente, uma missão menor. Ou seja, há muito espaço disponível nas nossas cabeças para defender, discutindo, esclarecendo e agindo, em prol de um planeta habitável, bonito e sustentável.

Aquilo que eu acho que não está hoje claro, é o facto da mensagem ambiental ser perceptível para muitos de nós, mas essa mensagem em termos globais, não incluir a defesa da vida animal. Ou seja, fala-se ambiente sem se falar da preservação das espécies animais e o seu direito à vida com dignidade.

Pensei nos motivos porque isso acontece. Porque é que discutimos e agimos em prol da reciclagem, da emissão de gazes, das alterações climáticas, da civilidade em geral e a discussão em prol da vida animal está, digamos assim, secundarizada?

Das três, uma: ou não está desintegrada da temática defesa do ambiente, é apenas a minha percepção, ou não deve estar, são questões separadas, ou há um terceiro motivo, que é aquele em que realmente acredito:
A defesa da causa dos animais está envolvida em emoção e é por isso que está afastada da consciência ambiental.
Eu acho que os argumentos em prol dos animais estão desactualizados e são essencialmente pouco racionais e muito emotivos.

E é isto precisamente que temos que inverter. Temos que apostar em argumentos objectivamente rigorosos e concretos, se queremos, como julgo ser necessário, integrar a fauna no quadro genérico da defesa do ambiente.

Efectivamente, hoje, em pleno século XXI, existem novos factores que um defensor dos animais não enfrentava em tempos idos. A defesa da necessidade da esterilização dos animais domésticos, cães e gatos, é fulcral para o controlo da natalidade que aumenta mundialmente de forma desproporcionada, a defesa do controlo da existência de pombos nas cidades é crucial para a higiene pública e para a saúde de crianças, adultos e idosos e a forma como a humanidade se começa a questionar sobre a vida dos animais que servem para nos alimentar, da sua carne, ou das substâncias que naturalmente produzem… Naturalmente não! Tenho a certeza que em dez anos as indústrias ligadas à alimentação vão mudar de forma tão revolucionária que hoje é impossível prever como. Mas estou seguro: cada vez mais pessoas vai preferir produtos biológicos e animais que foram criados em círculos familiares e circunscritos e assistir-se-á à vontade das pessoas, uma vez mais, a antecipar-se às regras estabelecidas por legislação.

Na minha opinião, a grande causa, a batalha para a inclusão da defesa dos animais na temática genérica do ambiente, é justamente a salvaguarda, a defesa das diferentes espécies animais. De todas as espécies animais. Efectivamente é bom perceber que as alterações no nosso planeta também se devem aos desequilíbrios originados no desaparecimento de milhares de espécies animais. Os princípios da homeostasia e da reostasia nunca, como hoje, estiveram tanto em causa, provavelmente desde a extinção dos dinossauros.

Homeostasia é a propriedade de um sistema aberto, de seres vivos, de regular o seu ambiente interno de modo a manter uma condição estável, mediante múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico controlados por mecanismos de regulação interrelacionados. E;

A Reostasia diz respeito às mudanças do organismo face às alterações do ambiente externo ou interno que se instalam a longo prazo.

Numa palavra: equilíbrio. A velha história: se não houver erva, não há coelhos, se não houver coelhos, não há predadores.
Portanto: o sistema actual de perturbação e ataque permanente ao ambiente cria desequilíbrios tais que não será possível sobreviver sem os outros seres: animais ou vegetais.

Em segundo lugar vem naturalmente a dignidade e o respeito pelas diversas formas de vida. Claro que há as touradas, a pesca e a caça desportiva, as que são feitas só por desporto, sem qualquer outro objectivo, o circo e tantas outras formas de torturar e massacrar animais.
Mas muitas destas formas estão dissimuladas, escondidas na sociedade. Dou dois exemplos.

Primeiro:
Quinzenalmente mais de 50 mil pessoas aplaudem uma águia, em pleno estádio, a fazer uma habilidade. É um animal selvagem, protegido internacionalmente e que não inclui nos seus instintos, animar adeptos de futebol.
Este exemplo equivale a ter um leão a correr de um lado ao outro do relvado para ir buscar um pouco de carne. E isso, acho eu, não cabe na cabeça de ninguém, pois não?


Segundo:
Será que, em campanha eleitoral, ou fora dela, não ocorre a nenhum candidato ou presidente de Câmara que o Zoo de Lisboa é algo reprovável, muito pouco higiénico em plena cidade e cuja única solução financeira é o seu encerramento? Exactamente. Por mais tentativas que se façam, das mais originais, como ter patrocinadores de jaula, a ter um rodízio mesmo à porta, numa sanguinária ideia, grotesca mesmo, que parece que os animais entram pelas traseiras… O Zoo nunca terá salvação financeira!
O que deveria ser feito é um parque, com outro tipo de condições para os animais e noutra lógica pedagógica e de gestão, não em aberto, isso seria impossível, mas que cada área tivesse condições similares ao pátio dos leões no actual zoo, embora idealmente maior.
Esse novo Parque de Lisboa asseguraria naturalmente outro retorno financeiro e custaria à autarquia e ao Estado: Zero. Isso mesmo. A exemplo de outras permutas, uma troca da zona futuramente nobre de Sete Rios pelo investimento nesse grande parque, seria uma boa medida para a cidade.

Estes são alguns exemplos da minha única ambição política na vida: contribuir para o debate em torno da inclusão da defesa dos animais na temática ambiental.
Por isso é chegada a altura de abrir os envelopes. Convido quem se identificar com esta problemática a inscrever-se como sócio da Sociedade Protectora dos Animais. É essa proposta que hoje trago aqui. Propor-vos um pacto de união, em torno desta missão. E, mais cedo que tarde, voltaremos a falar nestes assuntos...