quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Voto SIM

A sossegada discussão à volta do referendo sobre a Interrupção Voluntária de Gravidez até às dez semanas, não tem aquecido nem arrefecido.
O motivo é a desorganização dos movimentos e partidos que não se souberam federar. Sim poderia haver várias tendências, mas uma só campanha, centralizada, coordenada e com objectivos pragmáticos. É uma estupidez esta panóplia de movimentos que só servem para dar protagonismo a meia dúzia de caciques em detrimento da causa.

O meu entendimento pessoal é difícil de explicar face à minha decisão de votar SIM. Na verdade, sou contra a liberalização do consumo de estupefacientes, por exemplo, entendendo que levaria ao aumento do consumo e dificultaria as missões da prevenção e tratamento. Também me custa ver que esta discussão cria ruído no objectivo central de suportar e executar políticas socias de acompanhamento, esclarecimento do planeamento familiar e inclusão e protecção social.

Na verdade o que está em causa é precisamente a última bandeira do Não, tão propagandeada no blog do Professor Marcelo. Dada a legítima hesitação de António Guterres nesta matéria, o país viu-se confrontado com a solução do referendo. E isso foi um erro fatal. Sim, não deveria ter havido referendo, não, não se poderia alterar a lei sem novo referendo. Imbróglio que se deve e satisfaz o Professor Marcelo, naquela lógica risonha e cínica, "fui eu quem lançou esta confusão".

Daí que perante este contexto a minha escolha se torne pessoal. É pouco suportada por argumentos técnicos e políticos. Eu vou votar SIM num simples gesto de solidariedade com as mulheres. É meu entendimento que perante a realidade horrível de fazer um aborto é sua última decisão, tomada na solidão profunda. Sem apoio, sem ajuda. É assim na maior parte dos casos. Mas também porque uma vez decidido, se torna diabólico que não seja um acto médico, com condições de saúde e higiéne, o que faz com que a actual situação, que não esqueçamos, não é um cenário: é real que milhares de mulheres recorrem em desespero à IVG, seja inumana.

Vou dar o meu voto de compreensão, de solidariedade e de ínfima ajuda, àquelas mulheres que na última decisão que quereriam tomar, não têm ninguém que, ao menos, lhes dê um abraço. O meu voto é um abraço sentido.

PS 1- A indecisão do PSD sobre esta matéria leva a uma divisão acentuada do seu eleitorado fixo. Se se mantiver a tendência de 1998, quando o PS "deu liberdade de voto", o SIM sairá vencedor.
PS2- É bom saber, dada a pouco esclarecedora/eficaz campanha, o que está em causa. É isto e só isto, tudo o mais é poluição:
"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?".