quinta-feira, abril 26, 2007

Só se perderam as que não lhes acertaram

Ontem, desfilei na Avenida da Liberdade. Como vinha do Rossio, subi a Avenida até encontrar as primeiras pessoas conhecidas, logo após passar o Tivoli. Juntei-me aos meus amigos da JS. Assim, percorri o início do desfile em sentido contrário, pelo que pude observar a ordem de desfile das organizações, aliás, habitual.

Acrescem alguns factos que me foram reportados pelo “negociador” da JS nas reuniões de preparação das comemorações.

O que tenho para vos dizer entristece-me. Profundamente. Tenho uma amiga que costuma dizer que o 25 de Abril é o dia mais importante do seu calendário anual, superando o aniversário, o Natal, etc. Não vou tão longe. Mas, efectivamente, depois do meu aniversário e o dos mais próximos, o 25 de Abril é o dia socialmente mais importante, que gosto de celebrar, no qual não abdico de ostentar o cravo, de relembrar os heróis do antes e do próprio dia.
Relembro também Soares e as reguadas, hoje indiscutivelmente acertadas, que posteriormente deu nos comunas e nas organizações do espectro da extrema-esquerda, a quem acertadamente uma vez chamou “a esquerda envergonhada”.

O discurso do Representante da Juventude
Apesar dos festejos serem da responsabilidade da Associação 25 de Abril, a JCP detém o controlo absoluto da organização dos mesmos. Há três anos consecutivos que nomeia quem quer para representar a Juventude no discurso que decorre no final do desfile, no Rossio.
Este ano, num golpe de grande imaginação e inquestionável sentido de oportunidade política, a Juventude Socialista acertou com Ricardo Araújo Pereira que fosse ele o representante da Juventude a discursar.
É evidente que RAP não pode ser conotado com o PS, nem com a Jota. É um ex-militante da JCP, penso que terá apoiado o Bloco numa eleição e julgo que pertenceu à comissão de honra de Mário Soares. Não tenho a certeza. Ele é, actualmente e correndo o risco de estar a especular, um frentista. Um homem de esquerda, transversal, independente, unitário e activo, no sentido que não esconde o seu pensamento político.
Estas características reforçam a boa ideia da JS. Para além da recente polémica dos cartazes, Ricardo, calava completamente a ideia, porventura certa, que é preciso virar as celebrações para a juventude e para outras franjas da sociedade portuguesa.
O Bloco de Esquerda apoiou a ideia, mas a JCP refutou intransigentemente a inclusão do comediante, apresentando outros nomes alternativos, que foram recusados e portanto, não houve discurso da Juventude. A atitude da JCP, sejamos claros: foi pidesca! Lápis azul a Ricardo Araújo Pereira, foi o que fizeram.
Como se pode simpatizar com aquela gente? Como pode, alguém de esquerda, ponderado e democrata votar no mesmo partido que tem um líder tão simpático quanto a censura vergonhosa que faz aos seus pares e aos seus próprios camaradas? Odete Santos, João Amaral, Carlos Brito, Edgar Correia e Luís Sá, sem nunca deixarem de ser comunistas, não têm razão?

O Desfile
À cabeça a organização faz um “quadrado” a uma chaimite, que não é mais que uma forma de impedir a pluralidade nesse sector. São dezenas de bandeiras da JCP, gritos da JCP, empurrões da JCP.
A seguir é a CGTP. Contra o governo marchar, marchar. Altíssimo o megafone anuncia a próxima greve geral, exige a demissão de Sócrates e o 25 de Abril? É uma miragem.
Passam vários sindicatos, todos afectos à CGTP e a primeira demonstração democrática, do desfile da Democracia, é o sector do Bloco. Animado, embora grotesco como é apanágio, é a primeira lufada de ar fresco naquele aspecto urinário, Avante e degradado.
Alguns comunistas depois, desfila a JS. São uma espécie de irresistíveis gauleses, que sabendo ao que vão, não deixam de marcar orgulhosa presença, tendo a perfeita noção de que dali não tiram proveitos, somente e correctamente se juntam a um desfile que deveria celebrar a liberdade.
Imediatamente atrás e estrategicamente colocados pela usurpada organização desfilam não mais que quinze portugueses que ostentam uma faixa a reivindicar a independência do País Basco. Não são Bascos, são, ao que me explicaram, uma organização portuguesa, ligada ao PCP, que simpatiza com o Harri Batasuna e afins…
Durante todo o desfile, os seus gritos, têm um só objectivo: ofender e provocar a JS, que não liga e desfila de cabeça erguida, perante uns aplausos aqui e ali de simpatizantes socialistas, que felizes reconhecem os seus pares.
Os gritos da ASEH (assim se parece chamar a organização radical) são:

PS e PSOE
A mesma merda é!

Sócrates e o Patrão
Que amigos eles são!

Está na hora, está na hora
Do governo ir embora!

25 de Abril? Uma miragem. De facto, estes radicais, tentam aproveitar e, pior que tudo, açambarcar, o Dia de Todos Nós, o dia em que o país se uniu para derrotar o fascismo, a ditadura, a injustiça social, a banca rota e a guerra.
Estes radicais querem fazer do 25 de Abril o dia em que, à boleia da boa estima do povo, protestam, fora de tempo e de espaço, contra aquilo que eles acham que está errado.

Epilogo
Com o renascimento desavergonhado dos fascistas, o episódio dos hammerskins, o cartaz da vergonha, a celebração no túmulo, o concurso da RTP e a conferência de imprensa, esperava-se uma união e um desfile que demonstrasse a força da democracia. A verdade, é que para os comunistas talvez valha mais um estado caótico que um estado onde jamais alcançarão o reconhecimento da maioria dos portugueses.
En passant e noutra dimensão, poderíamos responder com a nossa força ao túnel e ao discurso de desvalorização de Cavaco Silva. O PCP tudo fez para lhe dar razão. Mais uma vez!


Daí que, mesmo presumindo a inocência, não deixo de ficar muito feliz que, se se vier a provar hooliganismo e distúrbios violentos à custa do nosso maior património, o Dia da Liberdade e especialmente por este último motivo, a mocada que levaram lhes tenha sabido bem, que deviam ter levado mais e Só se perderam as que não lhes acertaram!


PS: Sim, choca-me profundamente que em determinada manifestação nazi se tenham exibido símbolos, saudações e palavras de ordem, que também mereciam o mesmo remédio. Embora não tenha havido vandalismo visível, traulitada nesses cabrões todos! E mais nada!