Tanta coisa, tanta coisa e afinal até gosto dos Anjos (work in progress)
1- Speaking with the Angel (edição original de Nick Hornby, Penguin Books 2000; "Conversa com o anjo" edição teorema_ outras estórias, Maio de 2001, tradução de Miranda das Neves) é a mais recente leitura que fiz do autor de Fever Pitch, High Fidelity e About a Boy.Trata-se da reunião de doze pequenos contos, escritos por outros tantos escritores, imaginamos nós sempre, amigos do editor. Pelo menos conhecidos.
Não queria percorrer exaustivamente cada conto, para poderem desfrutar do prazer individual da leitura, mas uma referência aos que mais gostei:
- PQM, de Robert Harris (nascido: 1957 em Notthingam, autor de Fatherland e outros): a partir da declaração ao parlamento de um primeiro ministro envolvido numa panóplia de confusões hilariantes que se tornaram públicas e o embaraçaram, bem como à nação (RU). Crítica social Q.B. à mediatização presente nas sociedades modernas, em estilo ligeiro, ritmo rápido e imaginação abundante, perceptível nas inúmeras situações vividas pelo protagonista.
- Últimos desejos, de Giles Smith (nascido: 1962 em Colchester, autor de Lost in Music e outros): a ilusão de uma cozinheira ao serviço dos prisioneiros do Corredor da Morte. Uma ideia excelente para questionar ligeiramente a Pena Capital, mas mais profundamente uma proposta para desanuviar a angústia da nossa (dela) morte.
- O Departamento do nada, de Colin Firth (nascido: 1960 em Grayshott, actor britânico que trabalhou em vários filmes como Bridget Jones's Diary e The impotance of being Earnest, entre outros): de novo a morte (!). Uma criança comum com dificuldades de integração social e familiar tem a avó como contadora de histórias mágicas e confortantes. Os seus medos de infância, a relação com os pais, irmão e os outros miúdos fazem-no imaginar que o mundo envolvente é o Departamento do Nada, do qual só se sai no quarto da avó combalida... Salvo pelo antes temível cangalheiro da localidade... Escrito como se fosse o pensamento da criança, não a escrita bem entendido, o Departamento é um exercício inspirador.
- Mamilocristo, de Nick Hornby (nascido: 1957 em Maidenhead, obras citadas no início do presente): falarei mais detalhadamente desta short no ponto 2. Nota importante: quem não leu o livro deve prosseguir a leitura, mas saltar o ponto dois e passar ao três...
- Depois de me ter atirado ao rio e antes de me ter afogado, de Dave Eggers (nascido: Sabe-se lá quando e onde, autor de A Heartbreaking Work of Staggering Genius e outros): um conto delicioso contado "na primeira pessoa"... por um cão. Nunca me tinha ocorrido a forma como os cães olham para o mundo e para o seu dia-a-dia, embora tenha vontade de filmar o POV do Jaqué... Narrativa com ritmo fantástico, não fosse o protagonista "um cão veloz" e "um foguete". Deliciosos comentários dos esquilos às corridas e brincadeiras caninas. Interessante a ideia que o tempo da morte, não é afinal um momento.
- Lucky Bitch, de Helen Fielding (nascida: Sabe-se lá quando em Yorkshire, autora de Bridget Jones's Diary e outros): pensamentos divertidos de uma senhora caída na casa de banho da sua casa. A negação da 3ª idade e suas consequentes limitações. As mulheres conhecem-se bem e às suas mães, nem falar...
- Culpa Católica (sabes que a adoras), de Irvine Welsh (nascido: 1958 em Leith, Escócia, autor de Trainspotting e outros; recomendo vivamente o site: www.irvinewelsh.net ): Joe, um homofóbico inveterado começa a ter sonhos homossexuais. Na realidade está morto e sem o perceber imediatamente está condenado a comer gajos por tempo indeterminado. Que mais dizer? O autor é uma super estrela ponto.
- Caminhando Contra o Vento, de John O'Farrell (nascido: 19?? em Algures_ presumivelmente em Maidenhead, autor de The Best a Man Can Get e outros): nem simpatizei muito com o estilo, nem com o desenrolar desta última short. Mas a ideia de um homem que luta para que viver da sua profissão (mimo) deve, moralmente, estar aqui... Um pouco a minha história. Um pouco a de todos?
A tradução pareceu-me algo descuidada. Mesmo sem ter lido/comparado com o inglês original, percebi umas irregularidades como "os All Saints" (referência à girl band inglesa), por exemplo.
A capa portuguesa é inacreditavelmente estúpida! Um anjinho retirado de um qualquer quadro renascentista (ainda por cima só vem mencionado o nome do autor desta proeza e nenhuma referência à obra surripiada). Recomendo que vejam as capas das edições inglesa e americana em http://hem.passagen.se/lmw/department_of_nothing2.html e percebam a ideia de infância/urbanidade proposta pelos editores estrangeiros, desenvolvidas de forma diferente. Hello! Planeta Terra? Hello! O livro não é sobre os anjinhos! Nem foi escrito no séc. XIV! Hello! Não é Shakespeare, ou John Ford! Para além de que o nome de John O'Farrell está mal escrito...
Ando há dois dias na net à procura das datas e locais de nascimento dos autores mencionados. A única coisa que encontro são opções de compra de telemóveis, acessórios para automóveis e sexo, seguros de vida e viagens ao paraíso.
Acabou a identidade.
Uma última dica. Em http://shop.conservatives.com/author.jsp?ID=171 podem comprar o livro The Best a Man Can Get sobre os dezoito anos que um apoiante do Labour Party passa sem ver o seu partido no poder...
Perceberam? É o site do Conservative Party e inclusive apresenta o autor (John O'Farrell) como candidato do Labour a Maidenhead, em 2001. Aliás, foi nesta localidade que passou a infância com o seu amigo Nick Hornby. Não são cabeças feitas, são muito bem feitas.
(continua)
"(...) Felizmente, não tenho que me justificar perante si, porque tudo o que fez foi comprar um livro que quer ler, um livro que contém uma dúzia de novos contos de alguns dos seus escritores preferidos, e a sua doação foi, espero gratuita. (...) Pode lê-la (esta introdução), mas não me importo se não o fizer. Vai tirar lucro do seu investimento, de uma maneira ou de outra.(...)"
"(...) (Por exemplo, a proposta desesperada e imprudente da Inglaterra para a Taça do Mundo de 2006 foi apoiada pelo dinheiro da Lotaria, enquanto a TreeHouse * não.) (...)"
Nick Hornby, in "Introdução", CONVERSA COM O ANJO, págs. 11, 12 e 15
*NHB- TreeHouse é uma instituição de caridade "pequena", que gere um escola para crianças autistas profundos e um dos seus alunos é Danny Hornby, filho do autor.
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