Trifásico, ou o Mestre em cena, ou o Contador de Histórias/Palhaço
1- Até ao final do presente mês de Agosto, o espectáculo Trifásico (textos de Luísa Costa Gomes e Paulo Matos e colaboração criativa(?) de Carmen Santos) é imperdível! Todos os sábados no Wonder Bar do Casino do Estoril.Paulo Matos nasceu na vila de Tortosendo, concelho da Covilhã, em 1960 (43 anos). Mudou-se para Lisboa em 1974 (com 14 anos) para terminar o ensino secundário. Coincidindo a descoberta da Lisboa metrópole com o período revolucionário, dedicou-se a variados movimentos de dinamização política, não tanto por vocação para a mesma (mais concretamente no sentido estritamente partidário, tal como a conhecemos), mas por vontade de participação num momento de construção criativa, que marcaria Portugal até aos nossos dias. Foi por essa via que descobriu o teatro, se apaixonou (dizem que à primeira vista) e decidiu que essa seria a sua profissão.
Terminou o Conservatório Nacional de Teatro, hoje Escola Superior de Teatro e Cinema (www.estc.ipl.pt) em 1981 e foi escolhido pela direcção da altura (rezam as crónicas por ter sido o melhor aluno) para uma bolsa do Governo Francês. Esta simbólica situação marcou toda o seu percurso, uma vez que "a experiência de Paris", o tornou num agente cultural inicialmente francófono (penso que com o evoluir da sua vida essa tendência se universalizou), bilíngue (que lhe permite ler e falar correctamente e especialmente traduzir da língua francesa) e um out sider do corporativismo teatral português, ligado às companhias "lançadas" pelo próprio 25 de Abril. Ironias do destino...
"A experiência de Paris" levou Paulo Matos a frequentar a conceituada Escola Jaques Lecoq_ provavelmente o mais importante pedagogo do teatro da Europa Ocidental no séc. XX.
Apaixonado pela actividade física, Jaques Lecoq, praticou natação, ginástica (barra fixa e paralelas) e salto em altura antes mesmo de se dedicar ao teatro. A partir da sua experiência como actor e encenador e depois de leccionar no Piccolo Teatro de Milão, abre a sua própria escola em Paris, em 1956. Lecoq desenvolveu a, por si, denominada "Geometria do movimento corporal" que o conduziu à concepção da "poética do movimento de um do corpo no espaço", génese de toda a sua teoria teatral que podemos encontrar no livro "Les Corps Poétique", Actes Sud-Papiers_ 1998. (Procurei se havia tradução em português, mas não fui bem sucedido, pelo que não posso garantir. Aliás, na Internet, a pesquisa sobre Lecoq torna-se desesperante dadas as milhares de referências de actores que estudaram na escola, ou de outras escolas que lhe seguem o método). Jaques Lecoq faleceu em 1999.
Paulo Matos obtém o diploma de "Maítrise" (4º ano) de Estudos Superiores de Teatro da Faculdade de Paris III. Participa em estágios sob orientação de Ariane Mnouchkine (Encenadora do Théâtre du Soleil), Giogio Strehler (1921-1997, Encenador fundador do Piccolo Teatro de Milan_ 1947 e também Senador e Euro Deputado Italiano) e Peter Brook (Londres, 1925). Trabalha com Lluis Pasqual (Encenador Espanhol, nascido em Reus em 1951) e Philippe Hottier (Téãtre du Phénix).
Em Portugal já participou em espectáculos dirigidos por Jorge de Silva Melo, Joaquim Benite, Carlos Avilez e João Lourenço, entre outros.
Encenou autores como David Mamet, Vicente Sanches, Gildas Bourdet, Terry Johnson, etc.
Leccionou no ensino secundário e actualmente é professor de interpretação cénica na Escola Superior de Música de Lisboa.
2- Trifásico é um espectáculo de stand up comedy, ou de comédia a solo como o seu intérprete gosta propositadamente de chamar. Isto porque Paulo Matos não se limita a uma sequência de gags, mas recria todo um mundo mágico, com cenários e espaços diferentes, assim como a uma série de personagens inspiradas em figuras reais ou simplesmente inventadas.
A essência do espectáculo é o sentido da vida, desde o nascimento do universo ao do indivíduo, passando pelo contacto com extra terrestres, o nosso alter-ego, digo eu (dica da DSC), do Latim à língua portuguesa (o momento mais cómico), da psicanálise a Deus, etc., etc.
No início o actor multiplica-se em personagens saídas de um original universo, onde a sua formação em Paris é evidenciada e com o decorrer do tempo verifica-se que o texto "ganha a cena", ou seja se torna no elemento cómico, chegando a um ritmo diabólico e infernal.
É um verdadeiro teste às capacidades físicas e técnicas de um actor. Trifásico é, também, uma verdadeira lição do melhor actor português!
No passado dia 18 de Julho Paulo Matos celebrou 25 anos de carreira (termo que odeio, prefiro de percurso, ou de profissão) e por isso aqui ficam os parabéns, com votos de óptimas realizações pessoais e profissionais, especialmente no futuro Pequeno Teatro de Lisboa...
3- Para aqueles que não sabem, Paulo Matos foi meu professor de Teatro na então Escola Secundária de Benfica, hoje Escola Secundária José Gomes Ferreira.
No oitavo ano e três (dois no sétimo) após a minha estada no Passos Manuel, o Conselho Directivo decidiu não aceitar a minha matrícula, acto que poderá até nem ser muito legal, mas que veio decididamente a mudar a minha adolescência, pois o ingresso em Benfica transformou um miúdo quase marginal (nada de grandes crimes: uns furtos nas mercearias e supermercados circundantes, umas penduras no eléctrico e umas cenas de pancadaria, quase sempre relacionadas com a bola) num jovem empreendedor que chegou a Presidente da AE, apesar dos laranjinhas nos terem destronado a seguir e embora o excelente trabalho, reconhecidamente, realizado. Falarei mais tarde, pormenorizadamente de todo esse período.
Dizia eu, que no oitavo ano, frequentei o núcleo de teatro do Passos e embora não tenha então realizado qualquer espectáculo, gostei da experiência. Foi por isso que me inscrevi em Benfica, por que era das poucas escolas com opção de Teatro, a mais perto de onde morava. Grande Vaca!
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