sexta-feira, maio 18, 2007

Bento, o Pio

O tom de Bento Rodrigues, jornalista da SIC, que acompanha diariamente o caso do desaparecimento de Madeleine, diz tudo. É um teatrinho gratuito, uma vergonha para ele, para a classe e para a causa que a polícia tem entre mãos.
É também o exemplo acabado da falsidade, da mentira, do aproveitamento que os canais e os órgãos de comunicação social estão a fazer do caso.
Na verdade, a preocupação central é, neste momento, desenvolver conteúdos de informação.

Este é o exemplo mais brutal que me ocorre: há dois dias atrás, todas as televisões, rádios e jornais, davam conta de um cidadão russo que estava a ser procurado. Afirmaram com todas as palavras que tinha antecedentes criminais, ligados ao abuso sexual de menores. O escândalo deu-se ontem: nenhuma reportagem falou mais desse pormaior. Ou seja, referiam o nome do cidadão, mostravam a sua imagem e ninguém, repito nenhum desses vergonhosos palermas, rectificou o passado criminoso da testemunha. Bastava um simples: “não conseguimos confirmar as notícias avançadas sobre o passado criminal da pessoa tal e tal”.

Finalmente o homem lá apareceu, na Sky News, profundamente revoltado. Relembro que, pelo menos neste canal, nada sobre o seu passado foi referido. Não tem antecedentes criminais, declarando que basta verificar o processo do seu visto de residência.

É uma merda! Estes palhaços que mandam actualmente na democracia, fodem-na com todo o à-vontade. E o povo, na política, nos casos de justiça e na boleca, acredita e vai atrás.

Já vejo uma Opinião Pública, ou uma sondagem, em que o povo considera o pobre russo culpado.

É a democracia que está em causa. Qualquer indivíduo é inocente e é a culpa que tem que ser provada num estado de direito. Em Portugal, o homem russo que se lixe. Toda a sua vida que vá para o cano. E Bento, o Pio, vai continuar com aquele tom de desgraça, quando a sua preocupação central é a novela que tenta alimentar, sem nenhum capítulo novo. Não é a verdadeira desgraça, essa está escondida por detrás da sua inflexão shakespeareana.

Lembro-me das palavras de António Guterres, à saída da prisão, onde visitava um amigo, quando inquirido e depois de insistir que não queria prestar declarações:
“Vocês não vêem a figura que estão a fazer”. Descansa-me saber que, na altura, as televisões ainda conseguiram passar estas declarações.