domingo, outubro 15, 2006

A ameaça Bush

Bush cumpre um final de mandato que lança questões perigosas para o futuro da humanidade.

Por um lado, é evidente que, ao entender que é vaga a noção de dignidade humana, de acordo com a Convenção de Genebra, o aproxima mais de Lhusama Bin Laden e de Hitler, como curiosamente mostravam os cartazes da extrema esquerda no arranque da desastrosa aventura do Iraque e que pareciam exagerados, do que de ser um democrata respeitador do Estado de Direito. Ironia das ironias, é o único argumento que resta aos defensores daquela guerra: caídos por terra o das Armas de Destruição Massiva e o das ligações à al-Qaeda, sobra o destronar de um ditador e o implementar uma Democracia, o que também não é verdade à luz da guerra civil que todos os oponentes previram.
Por outro, é inerência justamente do cargo de Presidente dos Estados Unidos a defesa intransigente dos valores da dignidade humana, do respeito pela cidadania, do combate à tortura, à exclusão e à violência. É também evidente que o seu discurso antagónico tem eco em alguns retrógrados intelectualmente pobres coitados que persistem na sua defesa: do Presidente e das decisões belicistas da sua Administração. Curioso verificar que os conservadores que procuram impor a democracia, o fazem recorrendo aos métodos desumanos, criminosos e nazis dos próprios não ocidentais terroristas.
Um terceiro aspecto não será quanto a mim despiciendo: será justamente neste campo de batalha que se jogará a próxima disputa eleitoral para a Casa Branca. Hillary Clinton e Condoleezza Rice terão de explicar muito bem aos eleitores a sua posição sobre a matéria e aí uma delas está claramente implicada neste retrocesso de 50 anos da civilidade americana.

Não sei como pode um país tão poderoso e tão estimulante (nas artes, nas ciências, nas indústrias) descer tão baixo. Afinal Bush foi (re)legitimado nas últimas eleições pelo seu povo, que agora, por mais arrependido e decepcionado que se mostre em sondagens e estudos de opinião, é também co-responsável pela histórica via do massacre e ficará, tal como o povo alemão, noutra escala, evidentemente ligado a este período de decepção macabra da sua... Própria dignidade. Afinal existe a dignidade humana, mas também a dignidade colectiva e do juízo final sobre esta já não se safam.

Daily Show de 26-09-2006