segunda-feira, maio 02, 2005

O Fim do Futebol

O futebol já não é bem o que era. Mudou. Para pior.

A três jornadas do fim do campeonato, os adeptos plenos de ignorância arrastam-se atrás de um discurso criado e promovido na comunicação social: os árbitros ficarão sempre com o ónus do que quer que venha a acontecer em termos de classificação final e no que ao vencedor diz respeito. E está certa esta visão? Têm os árbitros influência directa nos jogos? E de forma premeditada, como se anuncia?
Eu penso sinceramente que não! A culpa, essa, é dos pobres dirigentes, treinadores e jogadores, que não conseguem impor as suas estratégias e capacidades.

Nos anos oitenta, quando comecei a frequentar o Estádio da Luz e por assim dizer, comecei a ter contacto directo e consciente com o jogo, não se falava de árbitros. Bem sei que na década anterior houve a história do Inocêncio Calabote, mas porque me contaram. E também sei que se diz que o Benfica era beneficiado a torto e a direito ou pelo menos é esse o argumento dos nossos adversários. Para mim o que fica é a magnífica equipa que tínhamos, onde pontificavam Chalana, Néne, Humberto e companhia.

Nos anos noventa assistiu-se a uma mudança: o Porto (originado na final de 1987) arrebatou títulos e passou a dominar o futebol. Dizem os seus adversários que levados ao colo pelos árbitros.

É interessante ver a ignorância socialmente transversal do adepto: desde o taxista ao marketeer, todos acham que o Benfica é prejudicado. Os do Sporting também pensam isso em relação ao seu clube e os do Porto também.

É claro que depois do apito dourado nada será como dantes. Ou melhor dito: para os árbitros. Porque enquanto Jacinto Paixão está afastado da actividade, Pinto da Costa e Valentim Loureiro apareceram juntos este fim de semana para verem, ao vivo, o Porto/Marítimo. Faz lembrar aquela história do Francisco Silva, árbitro algarvio, que foi condenado por corrupção, sem que nunca se tenha encontrado ou investigado o corruptor.

Agora a moda pegou no estrangeiro. Mourinho, por via de ser o mais mediático treinador do Mundo, atirou-se às canelas de Anders Frisk. O treinador reconhece no seu livro que pressiona os árbitros dando indicações aos jogadores para o fazerem directamente. Ora o árbitro Sueco recebeu ameaças provenientes de adeptos do Chelsea (estranho como conseguiram os seus contactos) e o treinador português, em vez de lamentar o facto, ameaçou processar um responsável da UEFA. Resultado: um dos melhores árbitros do mundo, naturalmente assustado com a mafia, abandonou a actividade e a moda (do lado do dirigismo) pegou.
No final dos quartos de final da Liga dos Campeões, o presidente do Lyon afirmou que a sua equipa foi eliminada pelo árbitro. Nada mais nada menos que Markus Merk, outro dos melhores do mundo.
Michel Platini, candidato a presidente da FIFA (levará com a respectiva réguada de Beckenbauer), disse em França que há um árbitro português que merece uma estátua nas Antas: trata-se do árbitro português mais bem cotado no grupo de Elite da FIFA, Olegário Benquerença.
E portanto das três, uma: ou todos os jogos do mundo são apitados por Collina, o que seria impossível ou os dirigentes e a comunicação social (que lhes pertence directa ou indirectamente) mudam a atitude (também impossível), ou os adeptos mudam a sua forma de ver o jogo.

Já nem falo dos outros problemas do futebol: a existência de claques e não ser um jogo misto. Porque isso ofende todos, mas são inevitabilidades, na minha opinião.

Farto-me de rir com o silêncio sepulcral da nação benfiquista em relação ao jogo com o Belenenses e à forma como ganhámos. É preciso ser, colectivamente, muito estúpido para não reconhecer algo verdadeiramente transversal a todas as modalidades do mundo: onde houver um árbitro, haverá erro. Assim como dos jogadores, treinadores e dirigentes. Mas a todos dá mais jeito condenar aquele que não exerce domínio na comunicação social. Embora, como está provado na NBA, NFL, NHL, Fórmula 1 e todas as restantes grandes industrias desportivas, esse enfoque na arbitragem deva ser esquecido, porque o que importa é salvaguardar o negócio, parece que contraditoriamente no futebol se deva pôr em causa a dignidade e honestidade, daqueles que são os mais sérios agentes da cadeia.
Tal como o conhecemos, este é o fim do futebol e uma nova era se aproxima. Uma era onde a arbitragem não interessa para nada. Ao Benfica, por exemplo, bastaria ter ganho ao Rio Ave para ser campeão. Ganhar ao Rio Ave é mais difícil que culpar o árbitro. E isso é que é extraordinário.

4 Comments:

At 7:10 da tarde, Blogger Mario Garcia said...

Silêncio da Nação Benfiquista?

É o quarto jogo que jogamos contra equipas que 'estacionam o autocarro' à frente da baliza e em q o melhor jogador em campo é o seu guarda-redes!

O Porto ganha com um golo irregular, falhando um penalty q não existiu.
Ao Sporting anularam aquele golo limpo ao Beira-Mar.

Mas só se fala do penalty do Benfica, formalmente igual ao q foi marcado ao Ricardo Rocha (não se lembram? até disseram q o RR tinha era q jogar com os braços quietinhos...)

Eu não sei quem está a ser levado ao colo para o título. Mas as pressões sobre os árbitros são muitas e é natural q eles tenham medo de errar.

O q verifico é q se erram contra o Benfica, é normal, acontece (qts lances, mais duvidosos q o pseudo-penalty para o Belenenses, não vimos já nos jogos do Benfica?).

Como isto vai, o sistema prevalecerá, e o FCP será campeão sem jogar a ponta de um corno.

Espero q estejamos esclarecidos qt ao silêncio da Nação Benfiquista...

 
At 3:13 da tarde, Anonymous Anónimo said...

"Numa abordagem mais abrangente à questão da arbitragem na SuperLiga, Luís Filipe Vieira deu a conhecer uma iniciativa que levará os clubes a sentarem-se à mesa dentro de alguns dias. «Tem-se especulado muito sobre a arbitragem e, nesse aspecto, Benfica e Sporting preparam-se, com todos os clubes da Liga, para uma reunião que terá lugar no dia 10 de Maio. O futebol merece outra atitude, não de hipocrisia mas sim de verdade, por isso espero que os dirigentes tenham a coragem de se assumir nessa reunião», concretizou, a propósito de um movimento que há muito vem sendo preparado."

Manuel Sá, in A Bola

 
At 10:24 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Nem sei por onde começar...
Há uma coisa que não posso deixar de comentar, considerando que agora é comentário recorrente. Vi num cartoon que o Estoril tinha estacionado o dito autocarro à frente da baliza do Benfica. Mas dessa vez foi uma carrinha de 9 lugares Eheheheh!

O texto do HB é, como sempre, cheio de observações que escapam à maioria das pessoas. Parabéns. Há ali coisas muito bem apanhadas. Tão bem, que se comprovaram ontem na 2ª mão da meia-final da Liga dos Campeões. Afinal o clima de suspeição alastra-se à UEFA o que faz com que o Benfica-Sporting não possa ser apitado por um árbitro estrangeiro. A menos que seja o Sr. Collina, o único que nunca se engana, mas que em Itália é tão contestado como são os nossos cá.

Quanto à atitude do ilustre Sr. Vieira, só tenho uma coisa a dizer: esse homem faz-me rir. Eu sei que ninguém deve ser penalizado por ser bimbo. Mas nem é disso que estamos a falar.

E agora não me apetece falar mais sobre futebol. É tudo muito mau. Tenho pena.

OB

 
At 3:03 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Futebol Internacional
UEFA volta a «atacar» Mourinho
As críticas de José Mourinho sobre a validade do golo que qualificou o Liverpool para a final da Liga dos Campeões em detrimento do Chelsea voltaram a merecer forte repreensão por parte da UEFA, mais precisamente através do vice-presidente do Comité de Arbitragem do organismo.




«É inacreditável que não tenha cabeça para aprender com os seus erros do passado e que lhe valeu suspensão de dois jogos e uma multa», afirmou Lars-Ake Bjorck, referindo-se aos alegados actos do técnico português aquando do jogo com o Barcelona nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões.

Na altura, as críticas de José Mourinho terão mesmo levado ao abandono do árbitro Anders Frisk, alegando que sofrera ameaças de morte por parte de adeptos do Chelsea, muito por causa das críticas do técnico português.

«Espero, do fundo do coração, que o árbitro assistente que validou o golo do Liverpool não receba tratamento idêntico ao de Anders Frisk», salienta o do vice-presidente do Comité de Arbitragem da UEFA, explicando ainda que o organismo está pronto para dar uma resposta imediata caso receba um relatório com as acusações de Mourinho.
In A Bola, 06-05-2005

 

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