quarta-feira, março 09, 2005

Novo Governo

Para aqueles que consideram o Estado um blog cacicado, aqui vai uma surpresa. Começo por apontar o maior erro deste governo: apenas duas mulheres no grupo de ministros.
Tenho discutido com várias pessoas que as quotas são um mal necessário (especialmente com o camarada Mário Garcia). Não me ocorre que se estabeleçam quotas para o Conselho de Ministros e sei que este vai ser o Governo com maior número de mulheres nas Secretarias de Estado. Ainda assim, desejava que houvessem mais ministras. Como costumo dizer a democracia portuguesa funciona um pouco como a igreja católica, é uma espécie de menina não entra e todas as correcções que possam promover a intervenção das mulheres, são poucas. Juntamente com a juventude, a descrença das mulheres no processo democrático arrasta-nos para níveis fracos de participação (visíveis na abstenção), competindo aos democratas combater este efeito, por dentro.

Tudo o resto na formação do governo é motivo de elogios e isso mesmo é verificável na opinião pública. A forma e o elenco arrasaram blogs, jornais e rádios, com a honrosa excepção da RTP, por via, por um lado, da larga cobertura ao importante congresso da sucessão de Santana, por outro, a conversão extraordinária de Sérgio Figueiredo, director do Jornal de Negócios, que se julgava poder vir a equilibrar as opiniões de José Manuel Fernandes, mas saiu o tiro pela culatra e Sérgio aparece como um feroz crítico, bem enquadrado nos critérios editoriais do pós José Rodrigues dos Santos.

O trunfo: Freitas do Amaral. Podem alguns sectores do PS contestar, mas a verdade, como me dizia José Lamego na noite da grande vitória, é que esta se devia à proposta programática apresentada aos portugueses, em detrimento da carga ideológica. Que o PS não renega. Está inerente. O PS ter na sua equipa de governação o melhor quadro português na área dos Negócios Estrangeiros é motivo de orgulho e merece um forte aplauso.

O equilíbrio: Vieira da Silva. O PS apresenta um homem de esquerda, com reconhecida capacidade técnica no Trabalho e Segurança Social. José Sócrates demonstra claramente que estas matérias nos são determinantes e que pretende uma inversão nas políticas sociais dos últimos três anos.

A esperança: Correia de Campos. Tenho profunda admiração por Correia de Campos (reminiscências do tempo em que fiz política juvenil?), o melhor político português na área mais importante para a opinião pública, ao contrário da publicada. Espero o melhor de uma saúde de terceiro mundo que tem de mudar radicalmente.

A aposta: Isabel Pires de Lima. Sem desenvolvimento cultural nenhum país pode singrar nas matérias competitivas. Isabel Pires de Lima anunciou nas Novas Fronteiras que o objectivo de conquistar um por cento do orçamento geral do estado para a cultura não seria atingível no curto prazo. Percebe-se o realismo inerente à então condição de ministeriável. Hoje como ministra sei que tudo fará para voltar a colocar a cultura na ordem do dia, invertendo também aqui a tendência dos últimos anos. Esta ministra depende muito da equipa que a acompanhar e estou certo que terá isso em conta. A cultura tem de reequilibrar o jogo de forças entre os chamados gestores e os criadores, na medida em que os primeiros ganharam terreno nos últimos anos, de forma desenfreada e exagerada.

A (boa) surpresa: Mário Lino. Considerava-se que o seu Ministério Natural seria o Ambiente, por via do seu know how e da obra feita na AdP. Mas, ao mesmo tempo, houve um único ministério que deixou boa imagem na governação Santana: António Mexia (podendo-se até discordar de muitas medidas, com especial enfoque para as portagens nas SCUTS) foi o único ministro que se safou do naufrágio. Por isso Sócrates tinha de ir buscar os melhores, entre os melhores. E vai-se assistir a uma total inversão de estilo. O exibicionismo vai dar origem à obra feita. E isso nem será, politicamente, o mais importante. É que a feliz indigitação de Mário Lino assegura competência técnica e capacidade de trabalho indiscutíveis, mas garante seriedade e honestidade, algo que José Sócrates percebeu ser fundamental na gestão das Obras Públicas. Esta variação saudável da prática recorrente pode, em meu entender, vir a ser eleitoralmente muito útil, sendo eticamente urgente.

3 Comments:

At 9:06 da tarde, Blogger Mario Garcia said...

Gosto do tom «afirmativo» do blog, nesta era neo-guterrista.

Mas falando ainda de quotas, que tal a existência de uma quota para Socialistas no Governo?

(Se calhar até há...)

 
At 12:34 da tarde, Blogger Mario Garcia said...

Já agora, parece que estás a lançar as cartas do Tarot ao novo Governo: «O Trunfo», «A Esperança», «O Equilíbrio», «A Aposta», «A Surpresa».

Continua a tua análise porque faltam outros, como «A Carroça», «A Roda da Sorte» ou «O Dependurado».

 
At 4:18 da tarde, Blogger HB said...

Apesar de não acreditar nada nessas (e mesmo outras) coisas reconheço o sentido de humor da tua observação.
Abraço.

 

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