segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Retratos de campanha: Castelo Branco

Uma ida a Castelo Branco directamente para o comício do PS. Ainda a tempo de espreitar o do PPD.

Impunha-se a um militante independente estar presente no arranque da campanha que, esperemos, leve o PS à tão necessária maioria absoluta.
A primeira impressão é que o espaço não era ambicioso. Um elemento próximo da campanha afiançou-nos que tinha capacidade para 5 mil pessoas, o Ex. Quartel de Cavalaria (junto à RTP local). Acredito, mas achámos pequeno a fazer fé pela boa mobilização de simpatizantes e militantes.
António Guterres esteve ao seu nível: talentoso, brilhante, inteligente, embora naturalmente contido como é preciso, nesta fase. José Sócrates aparece na campanha mais solto, mais dinâmico e mais afectivo como é também estrategicamente recomendável.
Quanto à máquina do PS uma consideração: funciona, nota-se que está oleada e bem preparada, mas penso que falta qualquer coisa. Ou seja, é necessário que os condimentos destes eventos (vídeo, música, speaker) funcionem de uma forma mais integrada de modo a aquecer os apoiantes, que estão receptivos. Parece o milésimo espectáculo que esta equipa faz e é. É preciso um clic de espontaneidade para corresponder aos anseios dos muitos que vão aparecer na estrada, à procura de apoiar o PS e José Sócrates, sem receios. Além disso, não se começa a desmontar o palco com a comunicação social e parte dos simpatizantes, ainda presentes. E da minha parte eu incluiria uma banda dirigida à juventude. (Sei que este é um aspecto muito discutido nos ciclos das organizações de campanha, dos diversos partidos. Por um lado isso tem custos, por outro, houve tempos em que essa estratégia deixou inteligentemente de ser adoptada, para se utilizar bandas de animação como foi o caso dos Gang, com António Guterres em 1995. Agora utiliza-se simplesmente a noção que o mais importante é a comunicação e os comunicadores. Mas olhando para a avançada média etária presente, julgo ser da maior pertinência ter uma banda âncora que chame a juventude e aqueça o ambiente. Exemplo: Gomo, Fingertips, The Gift, etc. O melhor seria Os Humanos, o tema Mudar de Vida serviria de mote a toda a campanha).
Hoje lá estaremos em Santarém, para apoiar o Jorge Lacão, a Idália Moniz e toda a malta escalabitana

Terminado o comício, o General propôs uma espreitadela ao reduto do adversário. Toca a guardar os cachecóis e entrar no Pavilhão Municipal de Castelo Branco, a tempo de ouvir parte do discurso de Morais Sarmento.
A primeira impressão revelou um evento muito mais profissional (fruto dos resquícios do poder) e com muita juventude a puxar de forma eficaz, apoiada pelo sistema audiovisual bem montado, pelos presentes. O número de afluência foi ela por ela.
Do discurso do futuro Ex. Ministro nem uma ideia. Um ataque cerrado a José Sócrates, que na opinião do General, representa uma marcação de espaço interno, uma verdadeira candidatura a Presidente do PSD. Parecia o líder da oposição a interpolar o primeiro-ministro. É pois natural que, no pós 20 de Fevereiro, Marques Mendes venha a ter concorrência.
(Um acontecimento extraordinário fez-nos abandonar o recinto. Mesmo atrás da porta de acesso ao recinto, onde nos encontrávamos, um homem caiu fulminado no chão. Alguns militantes aproximaram-se imediatamente pelo que segurei num braço do General e puxei-o: "Temos de sair imediatamente". Acontece que enquanto nos dirigíamos para a porta de saída verificámos o que aparentava ser uma certa inoperância, uma vez que ninguém procurava um médico. O General voltou atrás e começou a coordenar as operações, questionando alguém, que parecia da segurança, sobre a actuação. Eu dizia que eles deveriam ir ao microfone solicitar a presença de um médico junto à vítima, ao que nos respondiam que estava tudo controlado. Claro que o General começou aos berros com a rapaziada... Instantes depois apareceu uma ambulância do INEM, com todo o equipamento de reanimação e que parecia ser a que acompanha o primeiro-ministro, logo secundada por uma ambulância normal, com capacidade de transporte. Ficámos descansados e percebemos que a atitude tranquila do staff representava profissionalismo e que efectivamente os primeiros socorros foram rápida e eficazmente activados. O senhor até recuperou a consciência sendo depois evacuado. Assustámo-nos, afinal injustificamdamente, fruto de uma vontade de ajudar acrescida da sugestão com que classificamos a competência dos laranjinhas, mas verdade seja dita, neste caso (mais faltava que assim não fosse) tudo correu bem).
Cá fora espreitámos o magnífico buffet, composto de 4 ou 5 porcos inteiros na brasa, vinho, cerveja, águas e sumos, tudo à descrição e percebemos três coisas: o motivo principal de tão boa mobilização, a ébria alegria nas hostes e o eventual motivo que levou o senhor a cair desamparado e inconsciente. Também não é por dá cá aquela palha que se consegue mobilizar o Alberto João para um comício. Têm de se garantir certos condimentos.

Na verdade pode dizer-se que a imagem que salta do arranque da campanha é a de um empate. E neste caso é justo, fruto do empenhamento de Morais Sarmento e do seu envolvimento na luta interna pela liderança do PPD. Quero ver como será possível aguentarem a fasquia de mobilização, presenças pseudo- notáveis e ânimo, com o decorrer da campanha.





Onde não houve empate nenhum foi no debate entre José Sócrates e Santana Lopes. Com a cómica excepção de Luís Delgado, os comentadores dos vários órgãos ligados a diversos meios, atribuíram, em grande maioria, uma vitória clara ao secretário-geral do PS. Em menor quantidade (motivada pela qualidade proveniente) quanto muito o empate.
Pois eis senão quando dois dos principais jornais diários resolveram fazer capa com a vitória do ainda primeiro-ministro. Percebem-se as motivações editoriais de Miguel Coutinho, discípulo de Delgado e a reconquista de espaço no centro direita do neo-con José Manuel Fernandes, que depois da malha que deu em Santana tem de voltar a agradar ao seu (e ao de Cavaco Silva) eleitorado. Uma vez que Santana já está K.O. um ou outro beijinho de morte, mal não farão, até ajudam a tornar decente a queda fatídica.
Exemplo disso são as recentes declarações de Marcelo. Por muito mau que considere ser para o país, afirmou que vai votar no PPD, ladeado por aquela malta extraordinária da TVI: dois pivots de informação do Jornal Nacional, apadrinharam a conferência de imprensa.
Este conjunto, ocasional embora bem sincronizado, de intenções de voto, esclarecem desde já tudo o que se vai passar a partir do instante que o PS tomar posse. Marcelo na RTP, Coutinho no DN (pelo menos até à venda, depois dependerá do grupo comprador) e Fernandes no Público (enquanto Belmiro continuar a enterrar guito) farão juz de mandatários maiores da campanha de Cavaco a Belém.
Verdadeira teoria da conspiração? Talvez, mas seria bom que o povo abrisse a pestana e julgasse por si mesmo.