Apanhados nas teias do Marketing
Quando vi pela primeira vez a reportagem sobre a criança Martunis, fiquei tão sensibilizado como qualquer português. E imaginei do alto da minha fantasia que a camisola da selecção que a criança vestia era a de Rui Costa. Logo afirmei que o jogador português lhe deveria oferecer uma casa, num gesto de solidariedade que procurasse atenuar o profundo sofrimento da criança. Tenho testemunhas que esta foi a minha reacção.No dia seguinte Luís Filipe Scolari entrou em campo, com todo o seu talento e disponibilidade e garantiu apoio à criança, num gesto que emocionou e agradou aos portugueses. Os princípios de Scolari são merecedores de elogios no que à dádiva do terreno, da casa e até de fundos recolhidos em jogos da selecção de todos nós, diz respeito. Já a ideia de trazer o menino cá para assistir a um jogo (ideia copiada do célebre menino pastor da TVI que veio de helicóptero conhecer Mantorras) e envolver Ronaldo como protagonista (a criança afirmou aos jornalistas ingleses que gostava do Manchester United, nunca referindo o jogador) me pareceu repescada, já dentro daquele marketing mal cheiroso que caracteriza Scolari, o mesmo que perdeu contra as duas Grécias, apesar dos sacrifícios que fez no onze nacional e que convenceu os portugueses que a ideia das bandeiras na janela foi dele e que a forma como todos vivemos o Campeonato, também, a ele se deve.
As boas intenções não devem ser alvo de grandes publicidades. Ainda assim foi reconfortante saber que os senhores da guita (Scolari e sus muchachos) vão dar algum calor material a uma pobre e desgraçada criança, que antes de ver jogos de futebol a milhares de quilómetros de sua casa, precisa é de recomeçar a falar, chocada que está com tudo o que viveu, precisando de apoio psicoterapêutico.
Quanto à nossa querida e solidária selecção depois de Scolari, Eusébio, Figo, Ronaldo, Madaíl e companhia falarem, foi a vez de Martunis dizer de sua justiça e apanhar esta rapaziada nas malhas do marketing bafiento.
Quem, como eu, utiliza (o tal apoio psicoterapêutico) sabe que temos olho de lince para aquilo que verdadeiramente nos interessa.
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