segunda-feira, novembro 08, 2004

Sete Rios

Inicio o percurso na estação da Avenida, correspondente à da Liberdade. Por mau cálculo entro nas portas traseiras em relação ao sentido do percurso.

Saio em Sete Rios e tenho de percorrer toda a estação, apinhada de gente, até à outra extremidade. Penso que vivo a mesma situação que experimentava, momentos antes: caminhar contra a corrente de uma massa humana infinita é o mesmo que lidar com o Serviço Nacional de Saúde.

Quando precisamos do SNS algo é profundamente invertido: ele está com um problema grave e os doentes e suas famílias têm de o ajudar.

Entro no Lucimar. A aguardente velha ajuda a compensar a falta ao ginásio. Uma, não mais: à minha volta o pessoal acredita em mim. E esclareço-me melhor.

A corrente de pessoas é, também, a corrente da vida. Se forem Sete Rios, são sete rios que teremos que nadar contra a corrente. Se fossemos gatos teríamos sete vidas. E mesmo um burro em matemática percebe que, então, à sétima morremos.
E nem é preciso inteligência, basta alguma esperteza para compreender, que não sendo nós próprios há, na morte de um próximo, algo que morre com ele em nós.

Liberdade, no sentido exacto de libertação, é o que mais desejo. Mas, por mim, estou pronto para tudo. E, ao mesmo tempo, menos para a morte.

1 Comments:

At 10:34 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Meu miúdo,
Acho que é melhor sentirmos que lutamos contra a corrente do que sentirmos que fomos apanhados por ela...
O teu texto, talvez resultado da aguardente :-), espelha de forma comovente o que cada um de nós já sentiu ou irá, certamente, sentir um dia. Lindo.
Gasolina

 

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