quarta-feira, setembro 22, 2004

Curtas

Paraolímpicos
A existência de jogos Paraolímpicos é uma vergonha! Denigre a essência do espírito olímpico e dá lugar a uma das mais aberrantes situações de descriminação social da humanidade.

Os Jogos Olímpicos deveriam ser destinados a todos os atletas, independentemente das suas características físicas. Admito que fosse necessário fazer concursos em separado, devido à especificidade técnica dos próprios e dos parceiros adjacentes (júris). Seria fácil enquadrar temporalmente os concursos facilitando essa diferença: enquanto decorria o atletismo para atletas paraolímpicos, acontecia a ginástica dos outros e etc. (A nomeação paraolímpica deveria ser mantida de modo a distinguir diferentes abordagens atléticas).

As vantagens seriam inúmeras: não só se daria maior visibilidade aos que têm menos, como se fariam os desfiles de abertura e encerramento em conjunto, atribuindo glória idêntica a todos. A comitiva, portuguesa por exemplo, era recebida na totalidade, pelas altas individualidades, os órgãos de informação não tinham desculpa para descriminarem, o que efectivamente acontece e a soma das medalhas seria naturalmente em conjunto.
O Comité Olímpico de cada país e o internacional cuidavam, com o know-how que se lhes reconhece, das competições. Por exemplo, no site do COP não encontrei nenhuma referência aos Paraolímpicos, porque provavelmente dependem de outra instituição.






Debate
Ontem na SICN, aconteceu o único debate entre os três candidatos a Secretário-geral do PS. A RTP2 e a RTPN passaram entrevistas a João Soares e Manuel Alegre, previamente gravadas, por mera coincidência.

O debate da SICN saldou-se por uma vitória clara de José Sócrates que, como explicou posteriormente António José Teixeira, conseguiu isolar-se, remetendo os adversários internos para o mesmo sector eleitoral, o que eles nem procuraram rebater, uma vez que estão confortáveis com essa posição, mas é um profundo erro estratégico.

Aliás nunca conseguirei entender o motivo que levou Manuel Alegre a candidatar-se: tornou-se o padrasto dos Sampaistas, depois da demissão de Ferro. Deveria ter, desde a primeira hora, apoiado J. Soares, uma vez que doutrinária e estrategicamente, nada os separa. Apenas e tão só um conjunto de aparelhistas (Cravinho, Alberto Martins, Catarina Mendes, Vera Jardim, Carrilho, Santos Silva, etc.) que dão a ideia de o ter empurrado, sem coragem de nenhum avançar, esperando naturalmente a derrota e assim evitando queimar futuros voos. Não entendo como é que um homem com o passado de Alegre foi nisto...

Sócrates apresenta um candidato a Primeiro-ministro, ele próprio, um candidato a presidente, Guterres e o melhor quadro do PS para Presidente da Assembleia da República, no quadro de uma nova maioria e na lógica da alternância do cargo. Esse quadro é António Campos (embora haja quem defenda a possibilidade de ser presidenciável, na ausência de Guterres).

A parte do debate que correu menos bem a Sócrates foi a questão da despenalização das mulheres que recorrem à interrupção voluntária de gravidez, embora eu considere que os seus argumentos fazem todo o sentido. Mas essa matéria serve para Alegre e J. Soares acenarem as bandeiras da esquerda unida, que colhe votos no eleitorado interno do PS, especialmente nos mais velhos e saudosistas.
De resto, Sócrates, melhor preparado no conteúdo e especialista na forma, não se deixou cilindrar pelos dramatismos de Alegre, recorrendo ele próprio a essa estratégia, na questão do queijo limiano, obrigando J. Soares a denunciar Elisa Ferreira e quase a pedir desculpa caso as insinuações não fossem correctas. Colocou sempre a tónica no actual governo e Primeiro-ministro o que o transportou para uma figura de challenger, com visão futura em relação ao combate do próximo ano e meio. Sócrates demonstrou que é o melhor candidato a Primeiro-ministro pelo PS e isso foi e será decisivo na decisão dos militantes. Espero que tenha a oportunidade de se rodear dos melhores e possa afastar certos caciques que envergonham os partidos, neste caso o PS.

João Soares ficou em segundo e teve uma prestação muito boa, tendo em conta a fraca dinâmica da sua campanha, muito mal trabalhada em termos de mobilização e visibilidade da mesma. Apareceu esclarecido, virado para o país e com ideias originais, como a de colocar a problemática do SNS na tónica certa, o ambulatório. Teve a frase da noite "temos de respeitar o Manuel Alegre" e o melhor encerramento dos três: um discurso fluído e convicto, olhando câmara e com uma metáfora aligeirada na qual comparou o combate a Portas e Santana ao Casal Ventoso. Brilhante! Protagonizou ainda o argumento político da noite quando perguntou a José Sócrates se achava que Guterres, ou qualquer outro, conseguiria ser presidente sem os votos de toda a esquerda. Parabéns. Como alguém já sugeriu, este é o João Soares que gostamos e que tanto precisámos nas últimas autárquicas, não o cinzento a transbordar arrogância que então se apresentou. Que me desculpem se estiver enganado, mas este argumento tem um cunho genético muito demarcado. Cheira a Soares...

3 Comments:

At 10:53 da tarde, Blogger Mario Garcia said...

Meu Caro Humberto,

Só o Luís Delgado elogiou mais a prestação do Sócrates no debate da SIC-Notícias do que tu. Cuidado...

Já agora, porque razão não aceitou o Magnífico um debate a três em canal aberto, ou os debates a dois na SIC-Notícias?

 
At 7:48 da tarde, Blogger HB said...

Para quê?

 
At 5:27 da tarde, Blogger HB said...

No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, edição para a língua portuguesa no Brasil, aparece a palavra paraolimpíada (para(a) + olimpíada) grafada sem hífen, e com a seguinte nota sobre o prefixo (par(a)): «O V.O. [Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras] regista para mais de mil palavras, muitas das quais verdadeiros subcompostos com este prefixo e com a observação de que se liga sempre ao elemento seguinte, duplicando a consoante ou eliminando o h inicial.».

Em suma, "paralímpico" não aparece em nenhum dicionário de referência, que resultaria da ligação do prefixo [para-] + (o)límpico (com a aférese do o- de olímpico), facto pouco provável. Poderia aventar a palavra "parolímpico" >(par(a)-) + olímpico, com formação idêntica à palavra parestatal constituída pela ligação da abreviatura do prefixo (par(a)-) + o adjectivo estatal.

in Ciberdúvidas.com

Obrigado Pinho.

 

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