terça-feira, setembro 07, 2004

Afinal é o Sandro

Deco deu uma entrevista reveladora à revista de São Paulo "Isto É". Primeiro esclareceu que esteve quase para desistir da selecção nacional, por causa da "pressão psicológica", mas acabou por permanecer por causa do compromisso que tinha com Scolari. Depois explicou que o actual seleccionador teve influência directa na sua transferência, tendo inclusivamente "contactado o seu amigo (de Scolari) Sandro, actual director do Barcelona".

Eu nunca duvidei. Está escrito por declaração do próprio Deco!

A pior parte vem depois. O jogador que sempre quis representar o seu país (Brasil) declara que 80% dos portugueses o queriam na selecção de Portugal e que toda a polémica surgiu por causa do poder que o Benfica tem nas estruturas! E os benfiquistas, como eu, sabem bem que poder o nosso clube tem!
Esta parte (das sondagens de conveniência) exige um esclarecimento. Ó xôr Deco: o senhor engane uns saloios, uma rapaziada distraída, quem o xôr quiser. Agora: 90% dos portugueses sabem que v. Exa. não vale uma perna do Rui, 85% compreendem que o seu futebol não adiantou nada ao da selecção, pelo contrário retirou capacidade ofensiva e 80% já perceberam que com os jogos que tem feito será brevemente suplente de Tiago (claro que isto é exagero, porque também o pior jogador português do Euro, Pauleta, foi promovido por isso mesmo a capitão. Ou não estamos 100% de acordo?).

Será que, com Deco e os seus pares, voltou a selecção como entidade secundária e de espírito antagónico em relação ao que Figo, Rui Costa, Baía, João, Couto e Queiroz implementaram?
Porque, depois de toda a vergonha da reforma compulsiva de Baía, Rui Costa e Figo (por um lado pelo espírito destrutivo dos portugueses, por outro potenciado pela obscuridade das negociatas de um Scolari com um olho, em terra de cegos) não será que vamos voltar ao espírito do Euro 1984 e do México 1986? Com os recentes casos de Postiga, Tiago e de todos os sub 21 em Atenas, assim como o precedente dos jogadores do FC Porto dispensados em véspera da final da Liga dos Campeões, se percebe que em 2006 também a selecção nacional, para além do conjunto do futebol português, vai recuar 20 anos. Relembro que Figo explicou que, independentemente dos compromissos dos clubes que representou, a sua prioridade sempre foi a selecção.

Três reflexões finais:
1. Os, ainda alguns, otários que são contra os nossos meninos de ouro, afinal aqueles que recriaram um espírito de selecção inexistente desde 66, embora com melhores resultados (duas fases finais de Europeus, uma de Mundial e uma organização) e igual sinergia com os portugueses, reconhecem algo que me parece unânime: Figo, Rui Costa, João Pinto, Baía, Couto e companhia, prestaram um serviço inigualável à selecção nacional portuguesa de futebol.
2. Estou ansioso por ver a prestação de Paulo Sousa na qualidade de assessor de Madaíl (que me recuso a qualificar enquanto se apresentar publicamente naquelas condições. Até eu tenho capacidade de censura!).
3. Embora não ache que se devesse exigir mais do que o resultado alcançado no Euro 2004, ainda me pergunto, contra toda a corrente de opinião, o que é que alcançámos com Deco, que não conseguimos com o Príncipe? A vitória contra a Grécia?

Deus, para a mesma corrente comum, escreveu direito por linhas tortas. A Grécia foi finalista e ganhou. Temos de ser honestos: a estratégia que montaram resultou em toda a linha. A nossa falhou nos dois momentos cruciais.