segunda-feira, maio 21, 2007

As minhas últimas palavras sobre essa gente

Helena Roseta saiu do PS e apresenta-se como candidata independente à Câmara Municipal de Lisboa.

Não só está no seu pleno direito como é positivo: em democracia, todas as candidaturas são bem-vindas.

Mas dito isto há alguns aspectos que urge reflectir. É notório que a sociedade não está bem atenta a este fenómeno, começado por Manuel Alegre, que se denomina independente e anti-partidário. É hoje um facto, depois da votação alcançada por Alegre e pelas actuais intenções de voto em Roseta, que algo está enviesado na percepção que as pessoas globalmente têm deste movimento.


Chamar-lhe Movimento em vez de partido é uma questão de pura comunicação. Na realidade trata-se de um ante partido, de uma câmara de preparação e afirmação de um novo partido político, hoje claramente em fase de arranque.


Os seus elementos são próximos do PS. Os seus dirigentes são/foram militantes com responsabilidades ao longo dos anos. Foram criados e viveram intensamente a vida do PS, os seus órgãos, as suas decisões, as suas estratégias. Este movimento/partido nasce de um conjunto de pessoas que não conseguiram liderar o rumo do PS, embora o tenham tentado em muitas ocasiões. De qualquer forma, a sua carreira política, os cargos de estado que ocuparam e a remuneração que auferiram, foi sempre em nome do projecto colectivo do PS.


É um pouco ofensivo que venham com a bandeira da cidadania contra o partidarismo. Efectivamente é ofensivo para as pessoas e para a própria democracia. Para além de ser perigoso. Porque as pessoas que se revêem nos partidos, sejam militantes ou independentes, também exercem a sua cidadania, participando da forma que entendem, mais ou menos empenhada, consoante o interesse pessoal de cada um. Ou seja, não é melhor cidadão aquele que está num partido do que aquele que pertence a um movimento que visa determinado objectivo. Mas o vice-versa também é evidente. E não são os partidos que andam a acusar os “independentes” de menor participação cívica.

3ºa
Aliás, os partidos não são uma sede e um conjunto de autóctones, de instituições com secretárias, computadores e impressoras que decidem o seu rumo. São conjuntos de pessoas aproximadas por determinados objectivos e que procuram, muitas vezes de forma errada, transformar ideias em projectos que sejam úteis à sociedade, ao seu desenvolvimento e à sua equidade social.

3ºb
Muitas vezes os partidos confundem a forma com o conteúdo. Ou seja, o que transparece são os problemas organizacionais, os entendimentos, os desentendimentos, a eleição das estruturas, o próprio papel das mesmas, os interesses individuais, a ânsia pelos cargos, etc. Isso não é o que conta. O importante é o que conseguem estruturalmente alcançar. A capacidade dos seus líderes, as equipas que os rodeiam, os projectos, se são ou não determinantes para a sociedade e se estão objectivamente ao serviço dela.

3ºc
Mas este quadro é também um espelho da sociedade: não deixa de ser absolutamente preocupante que a agenda do arranque destas eleições tenha sido marcada por um problema de secretaria. Sim, acho que quem quer vir a gerir 1000 milhões de Euros por ano (um terço do aeroporto da OTA por cada ano que passar) tem de estar preparado para recolher as assinaturas que forem necessárias num prazo mínimo. Como se viu, foi tudo fogo de vista: as assinaturas apareceram e ninguém teve que se preocupar. Mas ficou a marca. A capacidade de colocar a questão no que menos importa. É tão negativo, que todos vimos o CDS e o BE a protestarem com os prazos, até por causa das coligações. Ambos protestam agora com a estupidez da nova data (por causa da óbvia abstenção) e nenhum entrará em coligação. Roseta, que se atrasou a entregar o protesto no Tribunal Constitucional, portanto valeu o MPT, colheu os louros deste atraso, com emoção pela cidadania, como afirmou e, ao mesmo tempo, ao reintroduzir a possibilidade Carmona, assegurará a vitória de Costa.
Dito isto, constato que para António Costa e para o PSD é absolutamente igual, que as eleições sejam a 1, a 15, ou a 29 de Maio de 2020!


Foi o próprio regime democrático que criou possibilidades plenas de candidaturas independentes. Obviamente essas candidaturas têm estruturas e é a isso que se chama partido. Organizado de uma ou outra forma, um partido é uma estrutura política organizada. O que a democracia fez, foi abrir as possibilidades de forma de organização, permitindo que os partidos não históricos, se possam organizar. Como é o caso do MIC e de outras organizações com menos impacto, normalmente regionais.


Helena Roseta tem todos os motivos para ter ambições na CML. É democraticamente legitimo que alguém que alcançou, partidariamente lá está, notoriedade, entre na corrida. Mas que não se pense que não terá de prestar contas ao eleitorado, como os outros. Que ninguém imagine que Roseta tem uma áurea qualquer que ninguém vai verificar o seu passado político.


Que papel desempenhou Roseta quando foi presidente da CM Cascais, pelo PSD? Foi positivo? Os seus pares e, acima de tudo, os eleitores de Cascais, guardam boa ou desastrosa impressão da sua presidência? Que papel desempenhou na última candidatura de João Soares à CML? Foi uma prestação positiva, ou correu-lhe pessimamente mal?


Não deixa de haver outro dado profundamente curioso sobre esta gente “independente”, cívica e cheia de bons costumes políticos. Durante anos eles foram parte daquilo a que se chama a ala esquerda do PS. Digo parte, porque a outra pertencia aos sampaistas, hoje órfãos de líder, depois do episódio Ferro. Nem eu, que nunca fui sampaista, consigo aceitar o que deu na cabeça daquele homem para nomear Santana primeiro-ministro… Mas retomando: Alegre, Roseta e seus séquitos eram parte da ala esquerda. Mas a sua penetração eleitoral está ao centro. Soares obteve mais votos à esquerda que Alegre, que cedo compreendeu que era no eleitorado flutuante que estava o segredo do seu sucesso.
Portanto, para quem tanto condena o tacticismo partidário, não deixa de ser profundamente hipócrita que reconheça que o centro é o mais vulnerável por não ser partidariamente fiel e portanto toca a mudar e adaptar o discurso de anos e anos, para agradar a franja que mais lhes serve.
Alegre e Roseta, que sempre (bem ela nem sempre, mas desde que saiu do PPD) ergueram a bandeira da esquerda, aparecem hoje com um discurso mais centrão que José Sócrates.


O único motivo para o sucesso deste discurso é a insatisfação do eleitorado. Compreende-se. Mas no futuro a história não os vai perdoar.


Já não tenho dúvidas nenhumas que está em marcha um novo PRD. Este partido surgiu pelo prestígio de Ramalho Eanes. Introduziu um discurso ao centro e anti-partidário. O resto já se sabe. Cavaco a governar 10 anos.
Sócrates fará 12 (a minha aposta) e depois o MIC entregará uma tranquila governação à direita. Provavelmente seria natural e lógico um contra ciclo, habitual em democracia. Por isso, a esta gente restará a análise que o eleitorado vai fazer sobre esta politiqueira forma de estar. Resta-nos viver com eles e esperar que as pessoas tenham bom-senso.


O bom-senso seria perceber bem o que está em causa nestas eleições. Não se trata de um voto de protesto. Esse foi dado a Carmona e foi o que se viu. Tem que se eleger um líder, uma equipa e um projecto. Os lisboetas não vão escolher quem melhor protesta. Vão eleger quem está melhor preparado para as difíceis funções que se avizinham. Eu tenho a convicção que é António Costa, o melhor para esta tarefa. Outros terão outra convicção. Discutamo-la pois! Que isso é que é democracia.

1 Comments:

At 12:10 da tarde, Blogger W. V. D. said...

Podemos também dizer que este movimento surgiu após a consciencia que a Ditadura Socrática e Soarista estava errada.
Não é de estranhar que os 3 ministros de Estado do Sr. Socrates já tenham saído.
Campos, Freitas e Costa.
Podem dizer que a saída de Costa para a C.M.L. é digna e politicamente correcta, mas normalmente os numero 2 só saiem quando obrigados.
Outra vez....

 

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