O sistema interno
Não sendo motivo nenhum de regozijo, a verdade é que o Sporting é o primeiro clube português afastado da Champions. Os outros estão perante o mesmo problema, especialmente o Benfica. Mas, o Sporting já está efectivamente afastado da mais importante competição de clubes.
Há vários anos que se assiste a um discurso problemático, que é transversal aos clubes portugueses. Pensemos, por ora, no Sporting.
Efectivamente há uma tendência para o discurso da vítima quando as coisas não correm bem. Vide Vale e Azevedo, Veiga e outros. No Sporting é permanente. A ideia de Dias da Cunha de haver um "sistema" e acima de tudo o eco que ainda tem nos adeptos é um exemplo extraordinário vindo daqueles que sempre colaboraram com Pinto da Costa, Valentim e seus muchachos. Cunha foi dos seus principais aliados e a massa associativa acredita no tal sistema e acredita na condução contínua do clube.
Existe hoje uma massa pensante (uma espécie de maioria silenciosa) que não se revê nesta estratégia do Sporting. Uma coisa é falar em "sistema", outra é colaborar com ele, uma coisa é ter uma equipa formada com a prata da casa, outra é assegurar que, sem maturação, vencerá tudo e todos. Uma é dizer que se fará um estádio independentemente do Euro 2004, outra é vendê-lo, com excepção das cadeiras e do relvado, porque não está no seu "core business" a administração de espaços comerciais.
Uma é ter uma Academia pomposa, outra é ela ter custos incomportáveis, que acabará por ser obviamente entregue às entidades do Estado. Aliás, desde Paulo Futre que o Sporting prima por formar grandes e muitos jogadores. O Benfica, pelo contrário desde Rui Costa, com uma excepção: Manuel Fernandes. Nem uma, nem outra situação advêm de ter ou não paredes, vários relvados, piscinas, pessoal, consumíveis, hotelaria, restauração, segurança e etc. Tratam-se de políticas e estratégias objectivas, cujos frutos revertem para a gestão corrente (mesmo assim receita extraordinária) e não para o funcionamento desses espaços. É para mim evidente que todos os clubes grandes entregarão esses centros de estágio. Alguém acredita que a venda de Nani reverterá para o custo da Academia, mesmo não tendo sido lá formado? Ou algum dos próximos?
Acresce a isto que o discurso de tasca, aquele que vê o Sporting como o Calimero do futebol português, leva hoje a uma menos valia da sua massa crítica. Todos eram contra a entrada de Paulo Bento, todos foram a favor da saída de Peseiro, quase todos assobiaram de Figo a Barbosa. Porque o sportinguista comum acha que é vítima de terceiros e não da sua própria ignorância, o tal factor racional que falta muitas vezes ao adepto, mas que pode muito bem fazer a diferença na exigência que tem de ter em relação à gestão de um clube. No passado jogo com o Braga é um fartote intenso observar o modo como o "sportinguista típico" e a maioria presente dos adversários viam as decisões, quase totalmente acertadas do árbitro. Cada um, sempre ao contrário da decisão justa, a favor do seu interesse emocional. E mesmo aqueles que acreditam que não foi pénalti (quando o juiz marca, é sempre pénalti) contrastam com os que acham que o lance de mão dentro da área, era (quando não marca, não é).
Este é o princípio que leva ao esquecimento que Tello não vê amarelo quando faz mão intencional à entrada da área e três minutos depois o árbitro não o mostra ao adversário que comete falta idêntica, porque "seria o segundo".
É evidente que esta ignorância emocional é favorável ao adepto adversário. Quantas vezes se pensa: "espero que percam, nem que seja com a mão", ou, "dêem cacetada porque os outros também estão a dar!", diz o fervoroso que não gosta realmente, não sabe e não percebe o futebol.
No Benfica, por exemplo, a ideia desde Vale e Azevedo é, também por osmose. Para Pinto da Costa, Pinto da Costa e meio, esquecendo-nos que só temos mesmo meio.
Mesmo para o portista, que acho globalmente o mais fundamentalista e estupidamente radical, não olhar para dentro, significa, por exemplo, que a venda de uma equipa campeã da Europa e a permanente apresentação de prejuízos, só obriga à permanência dos mesmos, sem direito a visão estratégica diferenciada e contínua perpetuação de uma lógica de benefício muito discutível. É o clube que sai a ganhar, ou serão alguns dos seus dirigentes?
O Sporting foi eliminado da Champions e lutará com os outros clubes pelo título nacional. Os adeptos acharão que o "sistema", com o qual sempre colaboraram, de Veiga a Pinto da Costa, de Valentim a Pinto de Sousa, os vai acabar por prejudicar. Isso é pena. Porque aquilo que se inveja é a capacidade de colocar jogadores formados como titulares, a cara, a camisola e a alma do seu clube. Isso não traz resultados imediatos. Pensem se Ronaldo e Quaresma fossem quadros activos do Sporting, onde estariam hoje. Provavelmente destacados na primeira liga, provavelmente nos oitavos da Champions. E para o ano? Depois de um previsível (opinião pessoal) fracasso na Liga, a eventual (opinião pessoal) venda de Moutinho e Nani, como será a próxima época? Já sei, na opinião do tasqueiro fundamentalista. O "sistema", o árbitro, o Veiga, o Pinto da Costa, o pobre Ricardo e o no limite o, "from hero to zero", Paulo Bento.
Nem aqueles que fingem, ou são mesmo ingénuos, por tal falta de genuinidade, deixarão de cair no ridículo daquilo que alguma ou muitas vezes pensaram.
Há vários anos que se assiste a um discurso problemático, que é transversal aos clubes portugueses. Pensemos, por ora, no Sporting.
Efectivamente há uma tendência para o discurso da vítima quando as coisas não correm bem. Vide Vale e Azevedo, Veiga e outros. No Sporting é permanente. A ideia de Dias da Cunha de haver um "sistema" e acima de tudo o eco que ainda tem nos adeptos é um exemplo extraordinário vindo daqueles que sempre colaboraram com Pinto da Costa, Valentim e seus muchachos. Cunha foi dos seus principais aliados e a massa associativa acredita no tal sistema e acredita na condução contínua do clube.
Existe hoje uma massa pensante (uma espécie de maioria silenciosa) que não se revê nesta estratégia do Sporting. Uma coisa é falar em "sistema", outra é colaborar com ele, uma coisa é ter uma equipa formada com a prata da casa, outra é assegurar que, sem maturação, vencerá tudo e todos. Uma é dizer que se fará um estádio independentemente do Euro 2004, outra é vendê-lo, com excepção das cadeiras e do relvado, porque não está no seu "core business" a administração de espaços comerciais.
Uma é ter uma Academia pomposa, outra é ela ter custos incomportáveis, que acabará por ser obviamente entregue às entidades do Estado. Aliás, desde Paulo Futre que o Sporting prima por formar grandes e muitos jogadores. O Benfica, pelo contrário desde Rui Costa, com uma excepção: Manuel Fernandes. Nem uma, nem outra situação advêm de ter ou não paredes, vários relvados, piscinas, pessoal, consumíveis, hotelaria, restauração, segurança e etc. Tratam-se de políticas e estratégias objectivas, cujos frutos revertem para a gestão corrente (mesmo assim receita extraordinária) e não para o funcionamento desses espaços. É para mim evidente que todos os clubes grandes entregarão esses centros de estágio. Alguém acredita que a venda de Nani reverterá para o custo da Academia, mesmo não tendo sido lá formado? Ou algum dos próximos?
Acresce a isto que o discurso de tasca, aquele que vê o Sporting como o Calimero do futebol português, leva hoje a uma menos valia da sua massa crítica. Todos eram contra a entrada de Paulo Bento, todos foram a favor da saída de Peseiro, quase todos assobiaram de Figo a Barbosa. Porque o sportinguista comum acha que é vítima de terceiros e não da sua própria ignorância, o tal factor racional que falta muitas vezes ao adepto, mas que pode muito bem fazer a diferença na exigência que tem de ter em relação à gestão de um clube. No passado jogo com o Braga é um fartote intenso observar o modo como o "sportinguista típico" e a maioria presente dos adversários viam as decisões, quase totalmente acertadas do árbitro. Cada um, sempre ao contrário da decisão justa, a favor do seu interesse emocional. E mesmo aqueles que acreditam que não foi pénalti (quando o juiz marca, é sempre pénalti) contrastam com os que acham que o lance de mão dentro da área, era (quando não marca, não é).
Este é o princípio que leva ao esquecimento que Tello não vê amarelo quando faz mão intencional à entrada da área e três minutos depois o árbitro não o mostra ao adversário que comete falta idêntica, porque "seria o segundo".
É evidente que esta ignorância emocional é favorável ao adepto adversário. Quantas vezes se pensa: "espero que percam, nem que seja com a mão", ou, "dêem cacetada porque os outros também estão a dar!", diz o fervoroso que não gosta realmente, não sabe e não percebe o futebol.
No Benfica, por exemplo, a ideia desde Vale e Azevedo é, também por osmose. Para Pinto da Costa, Pinto da Costa e meio, esquecendo-nos que só temos mesmo meio.
Mesmo para o portista, que acho globalmente o mais fundamentalista e estupidamente radical, não olhar para dentro, significa, por exemplo, que a venda de uma equipa campeã da Europa e a permanente apresentação de prejuízos, só obriga à permanência dos mesmos, sem direito a visão estratégica diferenciada e contínua perpetuação de uma lógica de benefício muito discutível. É o clube que sai a ganhar, ou serão alguns dos seus dirigentes?
O Sporting foi eliminado da Champions e lutará com os outros clubes pelo título nacional. Os adeptos acharão que o "sistema", com o qual sempre colaboraram, de Veiga a Pinto da Costa, de Valentim a Pinto de Sousa, os vai acabar por prejudicar. Isso é pena. Porque aquilo que se inveja é a capacidade de colocar jogadores formados como titulares, a cara, a camisola e a alma do seu clube. Isso não traz resultados imediatos. Pensem se Ronaldo e Quaresma fossem quadros activos do Sporting, onde estariam hoje. Provavelmente destacados na primeira liga, provavelmente nos oitavos da Champions. E para o ano? Depois de um previsível (opinião pessoal) fracasso na Liga, a eventual (opinião pessoal) venda de Moutinho e Nani, como será a próxima época? Já sei, na opinião do tasqueiro fundamentalista. O "sistema", o árbitro, o Veiga, o Pinto da Costa, o pobre Ricardo e o no limite o, "from hero to zero", Paulo Bento.
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