segunda-feira, agosto 14, 2006

Está na hora!

Está a chegar ao fim aquilo que os do costume denominam por "ciclo político". Trata-se do ciclo político autárquico que começou nas eleições de 2001, que levaram à demissão de Guterres, entalado entre a falta de maioria e as consequentes negociatas a que estava obrigado, que conduziram à desvalorização na opinião pública, eleição do pior governo desde 04/74, o de Durão/Portas/Santana.

Nessa altura venceram: Santana (Lisboa), Seara (Sintra), Capucho (Cascais), Encarnação (Coimbra), Rio (Porto) e Vitorino (Faro). De todas estas mudanças talvez só a grande injustiça que o povo de Lisboa fez a João Soares merece algum reparo. Soares filho foi o melhor presidente que a edilidade conheceu, embora não tenha sido despiciendo a sua arrogância eleitoral e ter demonstrado o que fez e não o que iria fazer, erro tácito evidente. Ainda assim a eleição de Santana trouxe consigo o caos em que a cidade se encontra e pior que tudo levou-o a primeiro-ministro com o assumido desempenho que ficará para a história.

Vitorino já perdeu Faro para Apolinário. Capucho que beneficiou de uma opinião pública com dúvidas sobre a gestão de Judas e confundindo posteriormente este com Lamego, tem aproveitado. Mas as recentes notícias da Torre da Marina e do Estoril Sol começam a transportá-lo para a velha questão da conspurcada relação dos autarcas com os empreiteiros. Ou não pretende candidatar-se e então toca a ir para a janela metralhar tudo o que passa, ou acha que está afastado o síndroma de Judas, ou já não consegue resistir mais aos interesses. A verdade é que afinal Capucho se prepara para envergonhar a gestão PSD em Cascais depois de tudo o que disse do seu antecessor. João Proença tem vontade, Umberto Pacheco também, mas acho extemporâneo. Paulo Campos seria vencedor de caras, mas duvido que se disponha. Pode ser que Maria de Belém venha a ser uma boa escolha.

Santana anda por aí, não diria nos corredores, mas nas catacumbas e Carmona começa a mostrar a estirpe de que é feito, um hipócrita invertebrado, um cínico, um tipo que vai aos debates e espera que os adversários não tenham a última intervenção para utilizar argumentos baixos, como fez a Carrilho, repetiu com Mário Lino, num debate que perdeu aos pontos sobre o Novo Aeroporto. Chama os jornalistas para inaugurar jardins, os seguranças impedem-nos de lhe colocar questões polémicas e refugia-se em cima de uma bicicleta que "casualmente passou por ali". Pena não terem sido uns patins. Defendeu a megalomania de Santana na questão do Parque Mayer (diga-se na verdade que não tinha outra alternativa política), fez-se o Casino e do Parque nada. Voltará a prometê-lo na próxima campanha. E depois todas as matérias que a oposição tem levantado, com especial enfoque para José Sá Fernandes, que poderá ter uma palavra a dizer numa candidatura de esquerda, ele que representa o mesmo Bloco que com a deserção de Portas da coligação de 2001, deu a câmara de mão beijada à direita, então de Santana, Feist e imagine-se Nuno da Câmara Pereira. O Bloco terá de ser confrontado com a dúvida instalada sobre quem prefere para dirigir os destinos da capital. Será que chegou a vez de Mega Ferreira? Será que vai anular a sua ambição de gestor por um cargo mais político? Ou será que António Costa, com o partido inteirnho na mão, percebe que Sócrates fará 3 mandatos e avança? Outra soluções serão mais problemáticas, mais difíceis.

Rio fez do site oficial da CM Porto um blog político e obrigou as instituições apoiadas pela Câmara a um voto de silêncio sobre a sua gestão o que será o princípio do seu fim. Assim tenha a esquerda um candidato à altura e neste momento eu aconselharia finalmente Elisa Ferreira, sempre afastada por outras questões que não a reconhecida competência. Sócrates terá dificuldade em aceitar, mas fará um esforço, pois tem revelado fair play suficiente.

Encarnação manterá Coimbra sem dificuldade, a não ser que finalmente Fausto Correia decidisse sair de Bruxelas, decisão não previsível, até porque comporta risco. Ainda não é o seu timming.

E finalmente Sintra. Este será o caso mais interessante. Seara manifestou esta semana ao Expresso que não será candidato em 2009 e abandonará a política. Este anúncio de candidatura à presidência do SL Benfica é uma má notícia para os adeptos. Porque é que este tipo tem sempre tendência para me chatear, nos precisos territórios que adoptei? É claro que Seara não deixará a política. Ambicioso como é, com o terreno preparado ao longo destes anos, vencerá as eleições no glorioso e depois voltará. Estaremos cá para o relembrar das suas declarações.
Não obstante reconheça-se que o homem tem faro. Mesmo que se candidatasse penso que, com a estratégia adequada, sairia derrotado em Sintra. O seu perfil, mediático, populista, interesseiro, serve claramente uma boa táctica eleitoral para os adversários. Credibilidade seria a resposta. E o marasmo profundo que se vive em Sintra pode ser combatido com uma refrescada dinâmica. Projecto é a resposta. Portanto, do ponto de vista operacional, estão lançados os dados para uma campanha vitoriosa da Esquerda. Assim exista um candidato aglutinador, consistente e eficaz. Quem? Esse é o problema.