sexta-feira, julho 15, 2005

CSI Criança

Uma vez mais no Expresso (09-07-2005) li uma boa notícia para os pais e população em geral, que se preocupam com o futuro das nossas crianças.

Na página 8 do Guia (incluído por sua vez na revista Única) está algo que pode mudar o nosso país. É uma crónica que tem como temática os Mais Novos, como consta do enunciado e como título Agentes à solta no pavilhão, devidamente assinado por Cristina Pombo.

A ideia não podia ser melhor: as crianças (que uma caixa explica compreendidas entre os 9 e os 14) são convidadas a investigar um crime, em pleno Pavilhão do Conhecimento e Ciência Viva, todas as sextas-feiras, a partir das 19.30h, por 35? com jantar incluído. O texto promete uma boa investigação de um homicídio, com recolha de provas, uma esquadra para triagem, um laboratório e inclusive um crachá da Polícia Judiciária.

É uma boa ideia e sugere uma profunda análise do ponto de vista do marketing.

1) Para o pavilhão do Conhecimento e Ciência Viva a lógica é evidente: sendo este um país onde as crianças não estão muito viradas para a chatice da ciência, nada melhor que ir ao encontro dos temas que a malta, compreenda-se entre os 9 e os 14 anos, gosta e tem interesse. Qual é o miúdo, hoje em dia, que não gosta de analisar uma perfuração de uma bala de 9mm no crâneo ou de dissecar um cadáver?
2) Para a Polícia Judiciária as vantagens são espectaculares: estabelece uma relação afectiva com os cidadãos, concretamente as crianças, embora os pais também fiquem contentes por não aturarem as pestes. Além disso esta iniciativa desvia eventuais futuros prevaricadores porque ficam a conhecer os métodos científicos da Judite. Os de meio calibre, porque os verdadeiros futuros psicopatas não pensem que são revelados todos os métodos de investigação. Muitos segredos são mantidos, não vá aparecer um serial killer em potência que mais tarde venha a perverter o sistema.
3) Para as crianças: como mais tarde se vão aperceber não há nada como poder fantasiar, em vez de viver. A agressividade é controlada e não haverá tanta necessidade de recorrer a AK's 47, Shotguns e pistolas automáticas. Os tiroteios e massacres nos refeitórios passam a escassear, porque o final é desmistificado neste exercício.
4) Para os jornalistas esta é uma boa forma de assegurar o seu trabalho em gerações vindouras. Onde houver um crimezinho vai sempre haver um jornalista com um bloco excitado e pronto a receber alegorias, especialmente passionais. A fotografia que ilustra a peça é também bem conseguida: uma criança recolhe provas junto de uma silhueta de cadáver (para aquelas crianças que esquecem rápido ao que vão). O ângulo da foto deixa a dúvida que me assola o espírito: será que a vítima era uma criança? Isso era bem esgalhado e revelava a imaginação plena dos promotores desta bem enquadrada iniciativa.