terça-feira, junho 14, 2005

Ão

Arrastão
O arrastão demonstra, mais que a segurança (insegurança) que o país (não) vive, o caminho de coma profundo que nos caracteriza.
É uma calamidade nacional, vista e projectada nos órgãos de comunicação social (OCS) como um evento de Verão, género Festival, ou Open Air de terceira.
Um acontecimento desta envergadura merece e também por via da projecção mediática internacional que alcançou, uma resposta sem precedentes das autoridades competentes. O arrastão demonstrou massivamente o que todos temos, directa ou indirectamente, sentido pessoalmente e especialmente nas grandes urbes: o aumento da pequena criminalidade, aquela que é a mais difícil de contabilizar. Eu fui recentemente vítima e a minha mais que tudo também.
O presidente de Cascais (Sr. António Capucho) revelou o seu lado Alberto João Jardim, ou se quiserem o porquê de ser uma face diferente da mesma moeda. Veio logo em directo para o Telejornal, motivado pela campanha que se aproxima e pelo facto de nunca ter sido entrevistado ao vivo desde que foi empossado, exigir à tutela a presença de mais efectivos nas praias do seu concelho. Imaginei logo a desgraça que seria, caso, no flamejado dia do mega assalto, estivessem presentes cem ou mais agentes da autoridade.
Não sou um especialista em matéria de segurança, mas o bom senso, ao contrário do alarmismo do Sr. Capucho, recomenda que criar situações de massacre não são a melhor forma de lidar com estas situações. A prevenção é a melhor conselheira. E como não foi possível evitar na origem, tenho a convicção que o silêncio do Ministro António Costa, demonstra que as forças de segurança, nomeadamente as secretas, preparam uma contra ofensiva sem precedentes, que levará à detenção dos lideres e coordenadores do arrastão (alguns OCS, especialmente a SIC, revelam que não houve chefes, o que é uma clara demonstração ou de desconhecimento da forma como funcionam os grupos, com especial enfoque para os marginais, ou de colaboração com as mencionadas forças secretas). Os chefes, sub-chefes e cabos da operação terrorista vão ser detidos e esta será a primeira forma de atacar futuros acontecimentos.
Uma outra maneira de contra atacar é mudar a legislação. Recordo bem que quando entrei no estádio de Alvalade para o Portugal-Holanda do último Euro, um grupo de anormais fardados me ameaçaram e quase chegaram a vias de facto por causa de um cartaz que ostentava contra o recém empossado primeiro-ministro Santana, embora não o nomeasse. Falaram-me de uma lei que proibia frases provocatórias, que pusessem em causa a imagem do país. É pois agora altura desses cobardes que tinham ordens directas para atacar a liberdade de expressão, exigirem junto do legislador, medidas de excepção que combatam sem contemplações aqueles que prejudicam uma das maiores formas de subsistência do país: o turismo.

Nomeação 1
O senhor Sérgio Figueiredo, homem experiente e conhecedor dos negócios da pátria, continua a dar espectáculo. É caso para dizer que Figueiredo dá o mote, a TVI, RTP e Expresso tocam a rebote. É extraordinário como estabelece uma relação entre os nomeados pelo governo Sócrates e os de Santana, cujo principal argumento foi o de ser uma continuidade de Durão, que como se vê em igual período nomeou mais que o actual governo. Figueiredo pretende ocupar o lugar deixado vago por seu ilustre clone Luís Delgado, pelo flanco esquerdo do adversário comum, o PS.
Claro que é importante um bom acompanhamento à direita. Porque quando se verifica que exceptuando os nomeados para gabinetes políticos, sobram cerca de meia centena de gestores, número histórico, jamais conseguido por nenhum governo da democracia, verifica-se que a tudo não passa de atirar areia para os olhos da opinião pública.

O que está em causa é a admiração que Figueiredo nutre por António Mexia (em que ele aposta para sucessor de Mendes) e pelo PCP. É por isso que os seus critérios editoriais são marcados pela necessidade de ofuscar aquilo que é determinante sobre esta matéria: Como estavam as situações laborais dos administradores cessantes? Como é habitual, prontos a abdicar por não terem confiança política ou agarrados por contractos miraculosos, que lhes deram indemnizações e prémios chorudos? Havia contratos de milhões (prestação de serviços, obras, aluguer de tudo e mais alguma coisa) assinados à última da hora, ou houve o decoro habitual de não os fazer, à beira de eleições ou mesmo depois destas?
Estas são respostas que teremos em breve, estou certo. Para tal é importante o actual poder estar disposto a divulgar, sem complacência, tudo o que tem encontrado, que acredito ser inédito e de uma amplitude jamais vista em Portugal.

Nada do que vos digo justifica a situação de Fernando Gomes. Com a sua experiência e capacidade, não tinha necessidade nenhuma de se expor desta maneira. Recusar o convite do Ministro da Economia era um gesto de elevação que o defendia deste ataque cerrado de que tem sido vítima. E estou certo que não precisa de nenhum cargo numa administração para trabalhar de forma digna e utilitária.

Nomeação 2
As nomeações de José Manuel Barroso e António Guterres colocam Portugal no plano dos grandes poderes decisórios do mundo. Mas foram alcançadas de forma muito diferente.
Por um lado o comissário europeu que revelou sempre uma boa capacidade para os assuntos internacionais, nunca se posicionou para tal missão. Fugiu directamente, quando um conjunto de circunstâncias nacionais e internacionais se conjugaram, para que fosse nomeado. Não foi por assim dizer a consequência de um percurso lógico, nem uma candidatura clara, mas uma coincidência de caciques que fizeram dele a personalidade que menos problemas trazia às chefias europeias e ao Grupo Popular, embora segunda escolha do Luxemburguês e outros que recusaram abandonar as responsabilidades nacionais que tinham/têm.
O seu cargo é puramente político e o seu sucesso depende da capacidade de não confrontar os poderes estabelecidos, salvaguardando os interesses de quem o empossou. Curioso como fica incólume, nos OCS, ao fracasso da missão europeia em França, na Holanda e noutros países da EU.
António Guterres passou por um período de nojo, após um desempenho governativo que considero positivo, mas que admito possa ter avaliações diferentes, especialmente pela forma como abdicou. A verdade é que desde que foi eleito e ainda em período de graça, afirmou que estaria vocacionado para desempenhar funções internacionais, na área dos direitos e igualdade dos cidadãos.
Candidatou-se em concurso público, com normas e critérios de avaliação conhecidas e em competição com outras grandes personalidades da diplomacia mundial. E isso fez com que, ao contrário de José Manuel Barroso, tenha sido uma primeira escolha.
A única experiência internacional que detinha, provinha da presidência da IS, ao contrário de outros que passearam pelos negócios estrangeiros e pelas academias universitárias de conveniência, para auto promoção, como que numa campanha eleitoral internacional ao seu umbigo.
A sua missão é digna e humanitária e a sua acção pode fazer diferença.
Dia 20 de Junho (Dia Mundial do Refugiado) estará no Uganda, na primeira aparição do no Comissário das Nações Unidas para os Refugiados.

Exibição
Luis Felipe Scolari voltou a demonstrar aos portugueses porque continua no comando da selecção nacional. Com aquele estilo marketeiro que temos importado das terras de Vera Cruz, trazido por Einhart da Paz e Roberto Marinho, o seleccionador aproveitou a apresentação da equipa de Portugal para o campeonato dos sem abrigo para anunciar a sua vontade de permanecer no cargo após o mundial de 2006. Afirmou que depende dos resultados, especificamente da qualificação.
Esta opinião manifestada em plena acção de solidariedade não ficou por aqui, porque o prazer profundo de enganar todos é ambicioso e megalómano.
Afirmou que quando vai ao Brasil, sete ou dez dias, logo fica com saudades do nosso Portugal, porque agora os seus amigos e residência, estão e é cá. No fundo, uma nova dimensão da sua estratégia. Agora já gosta de nós. Obrigado Sr. Scolari. Mas há um problema.
É que aqueles senhores que lhe apontavam os microfones e eram muitos o que anuncia que sabiam ao que iam, estão completamente martelados e instruídos. Perante tal demonstração de afecto nenhum lhe pôde fazer a pergunta que a qualquer jornalista digno se impõe.

Saber se, perante tal demonstração de patriotismo espontâneo, tenciona naturalizar-se português, a exemplo de Deco e Derlei.