terça-feira, outubro 31, 2006

Senilidade

Mário Soares apresentou ontem o seu livro "Um Debate Ibérico no contexto Europeu e Mundial", que escreveu a meias com Frederico Mayor Zaragoza.
Foi um momento comovente ver Mário Soares a dirigir as curtas palavras que proferiu. "(...) Sou um combatente, acho que vou morrer assim(...)", afirmou ternamente.

Joana Amaral Dias começou por apresentar o livro, manifestando-se "habituada a sentar-me à sua esquerda e (...) estou aqui porque nas passadas eleições presidenciais comprometemo-nos a fazer um debate de gerações". Levava a lição bem estudada e foi irreverente: condição sine qua non que explica bem a relação que tem com Soares. Foi astuta ao elogiar e simultaneamente declarar as partes do livro que lhe são divergentes.
Freitas do Amaral foi, também, brilhante. Integrou o livro no quadro da sua própria experiência, inclusive como Presidente da Assembleia Geral da ONU. Aí anunciou surpreendente e pela primeira vez que quando exercia funções chamou os cinco representantes do Concelho Permanente para os inquirir sobre a dificuldade de fazer a, por eles, anunciada e adiada reforma. Todos, individualmente, lhe responderam um taxativo: "não haverá reforma!": Vivêssemos nós uma sociedade séria e focalizada e este testemunho seguramente abriria telejornais por esse mundo fora.
Propôs uma inteligente inversão do título: "Um debate europeu e Mundial no contexto Ibérico", justificado pela sua leitura e dimensão dos autores.
Terminou com uma brilhante ideia. Criar uma organização de Grandes Nomes Mundiais, que de forma ordinária e extraordinária, emitam opinião sobre as questões internacionais marcantes. Esta espécie de consciência crítica da obsoleta ONU, seria constituída por prémios Nobel, chefes de Estado e figuras de grande importância (Ex.: Butros Butros-Gali, Nelson Mandela, Mikhail Gorbachev, Joschka Fischer, entre outros, num grupo inicial de "cerca de 25", onde naturalmente incluiu Soares e Frederico Mayor). É uma ideia genial e não tenho dúvidas que será implementada, resta saber daqui a quanto tempo.


Enquanto decorria esta apresentação, no outro lado da cidade, no Atrium Saldanha, diz quem viu um aparato policial estrondoso. Aparentava indício de ataque bombista, embora as pessoas não fossem impedidas de entrar no centro comercial. Acontece que estava lá o Presidente da República, Cavaco Silva, aparentemente para ir ao cinema.
Esta fobia securitária não é exclusiva de Cavaco. Todos se lembram da forma como Santana andava rodeado de uma exagerada panóplia de forças policiais. Esta fobia daquele que desempenha o mais alto cargo da nação, revela bem o tipo de relação que alguns mantém com o povo que os elegeu. Basta ver Sócrates a passear sozinho nas Amoreiras e a forma como Soares sempre lidou com a situação. O célebre "Ó xô Guarda, vá-se embora, vá p'rá Porra!" é um inesquecível exemplo.
Afinal a SENILIDADE. Quando, um dia, Cavaco olhar para o lado e não vir a comitiva de polícia a seu lado, vai realizar que está tão só como sempre esteve. Mesmo quando enchia as ruas de polícia para ir ao cinema.